Jogos Vorazes escrita por Lívia Andrade


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora para postar esse capítulo, quando ele ficou pronto o Nyah entrou em manutenção então foi meio complicado pra postar. Pois é, chegou o fim. Espero que gostem.



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Mutações. Não existem cães tão enormes, eles foram modificados pela capital. E os olhos... Tão reais que prendem você.  Tem mais deles, todos lembram lobos enormes, mas lobos se equilibram sobre as patas traseiras? Lobos acenam para o resto do bando com a pata dianteira como se tivesse um pulso?

  Fico paralisados, há uma coleira escrito 2 no cão. Distrito 2.

 Isso não é possível, ou é? Eles podem realmente ter transformado as pessoas em cães?

  Pego minha espada, não vou deixar que os olhos de Clo... olhos do cão me confunda. Isso é truque da capital!

 Enterro minha espada no peito do enorme cão, ele urra de dor e dá uma patada em meu braço. Fico feliz de ter colocado a armadura antes, suas garras não perfuram minha pele, mas rasgam a manga da armadura.

 Os olhos verdes tão vivos firam completamente negros enquanto o cão retira a espada de dentro de si. Quando ele quebra a espada ao meio seus olhos voltam ao tom normal e a fera cai. Morta.

  Por puro reflexo saio correndo com meia dúzia de mutações atrás de mim. Consigo ver um com uma coleira de jóias marcada com o número 1, os olhos acinzentados de Glimmer.

  A capital sabe nossos pontos fracos, e ela usa contra nós. Ataca nos piores lugares. Cérebro e Coração.

  Corro desesperadamente, subir em uma árvore não é opção, com aquelas enormes patas eles quebrariam a árvore em questão de segundos. Só têm um local onde eu possa me salvar. O Chifre.

   Tropeço nas raízes das árvores e nas pequenas pedras em meu caminho, mas continuo correndo, às vezes as garras se aproximam de mim e rasgam mais minha armadura.

 Quando passo por uma enorme árvore vejo Katniss e Peeta, parados olhando em minha direção. Se eu correr na direção deles talvez os cães façam o serviço pesado por mim.  Continuo correndo, Katniss prepara a flecha e dispara, ela bate no meu peito e cai para lado. Sem me fazer nenhum arranhão. Funciona!

-Ele tem algum tipo de armadura! -grita ela a Peeta.

  Continuo correndo e passo entre os dois. Quando me viro pra trás os vejo correndo. Os cães em seu encalço.

  Logo minhas mãos tocam o metal da cauda pontuda da Cornucópia. Começo a subir, escalando com minhas mãos e meus pés. A superfície de ouro puro foi desenhada para lembra o chifre curvado que nós enchemos na colheita, então há pequenas pontas e fendas para conseguir se agarrar de maneira decente. Mas depois de um dia sob o sol da arena, o metal está quente o bastante para queimar minhas mãos.

  Deito no topo para recuperar o fôlego e vomito.

 Estou cheio de câimbras, não consigo me mover e luto para conseguir ar.

- Clove – sussurro

 Katniss, que subiu logo atrás de mim, olha pra trás para tentar entender, mas o som de aspiração e rosnados vindo dos cães não está ajudando e nem o Grito de Peeta que vem de baixo do chifre.

 Os cães estão começando a se reunir. Eles se levantam novamente para facilmente ficar de pé sobre suas patas traseiras, dando a eles um aspecto assustadoramente humano. Cada um tem uma pele grossa, alguns com o pelo liso, outros ondulados, e as cores variam de preto até o que posso descrever como loiro.

Eles colocam seus focinhos no chifre, cheirando e provando o metal, colocando as patas sobre a superfície e fazendo sons agudos com a outra. Deve ser assim como eles se comunicam, porque o bando recua como se aguardasse. Então um deles, um cão de bom tamanho com pelos loiros macios e ondulados começa a comer e pula no chifre. As patas traseiras devem ser incrivelmente poderosas, porque elas chegam a meros três metros abaixo de nós, seus lábios rosados se repuxando para um ranger de dentes.

- Katniss? – Diz Peeta já em cima do chifre

-É ela! – Grita Katniss atordoada demais com os cães para me notar.

- Quem? – Grita Peeta em resposta.

  Acho que agora ela entendeu o que tem de diferentes nesses cães.

- O que é Katniss? – Pergunta Peeta agora balançando o braço da garota.

- São eles. Todos eles. Os outros. Rue, Cara de Raposa e... Todos os outros tributos! – Exclama Katniss.

  Rue, um dos poucos nomes que eu gravei na arena tirando dos meus aliados. Era a menina de 12 anos, morreu no mesmo dia de Marvel.  E cara de Raposa...  talvez a menina do distrito 5  que lembra uma raposa pelo jeito que corre ou como se esconde. Ou até pelo cabelo ruivo que lembra uma raposa de pelo avermelhado.

- O que eles fizeram a eles?Você não acha... que esses podem ser os olhos deles de verdade? – Diz Peeta.

  E se não for só os olhos? E o cérebro? Se eu ataquei Clove... de verdade?

Os cães começam um novo assalto ao chifre. Eles se dividiram em dois grupos nos lados no chifre e estão usando aquelas traseiras poderosas para subirem.  Peeta grita e cambaleia para fora do chifre.

-Mate, Peeta! Mate! – Grita Katniss desesperadamente.

 Minha respiração está mais leve, já consigo me mover. Olho para os dois esperando a hora certa de atacar.

  Katniss consegue levantar Peeta e sua panturrilha está jorrando sangue. Ela prepara o arco e atira em um cão. Essa é a hora!

 Puxo Peeta e o seguro em uma gravata cortando seu ar. Ele arranha meu braço, inutilmente já que estou com armadura, e também tenta conter o enorme fluxo de sangue que sai de sua perna.

 Katniss aponta a flecha para minha cabeça. E eu rio.

- Atire em mim e ele cai comigo. – Digo

 Eu não posso matar Peeta sem a garantia de ter uma flecha em meu cérebro. Ela não pode atirar em mim sem matar Peeta, também. Ficamos parados como estátuas, procurando por uma saída.

Meus músculos estão tão tensos que parecem que vão se quebrar a qualquer momento. Meus dentes estão cerrados duramente. Os cães ficaram quietos e a única coisa que escuto são as batidas do meu coração.

 Me vejo na capital, passando de distrito em distrito como vencedor e pela primeira vez pensar nisso não me trás alegria. Percebo que tudo o que eu fiz foi uma farsa! A minha vida inteira querendo ser vencedor dos jogos pra chegar tão perto e ver que não é isso que ia me deixar feliz. O que eu preciso é de amor. Preciso de Clove

- Vai atira! Eu já estou morto de qualquer forma. - Digo

  Literalmente morto por dentro. A única coisa que me faz continuar é saber que posso me vingar por Clove.

   Os lábios do garoto estão ficando azuis, Katniss vai ficar pensando até que ele morra por asfixia e eu usarei seu corpo como escudo para as flechas. Quando percebo já estou dando um sorriso triunfante.

Como se fosse seu último esforço, Peeta levanta seus dedos, pingando sangue de sua perna, até meu braço. Em vez de tentar se livrar do aperto, seus dedos mudam de direção e fazem um deliberado X sobre a parte de trás de minha mão. O sorriso some dos meus lábios. Infelizmente percebo o que significa aquilo tarde demais e a flecha de Katniss se aloja em minha mão.

 Por puro reflexo liberto Peeta que bate contra mim. O chão está úmido de sangue de forma que eu desequilibro e piso em falso. Mesmo a altura não sendo muita a queda parece durar muito tempo. Agonizantes segundos.

   As mutações correm em minha direção, suas garras agora rasgam cada parte de minha pele. Ranger dos dentes, os rosnados e meus urros de dor.

 Levanto e vejo um dos cães mortos e arranco uma de suas garras para usar como arma. Consigo derrotar alguns deles, mas isso não é o suficiente. Passo horas resistindo, mas eles são muitos.  Quando a dor finalmente me vence caio no chão. Sinto o líquido quente jorrando de várias partes do meu corpo.

 Porque eu não morro logo de vez?

Um dos cães morde minha perna e me arrasta para dentro da cornucópia.

 Não sinto mais nada. Só consigo ver o sol dando lugar para a lua e assim por diante. Até os cães desaparecerem de vez.

 Antes eu tinha pelo menos meu corpo, agora só um resto de carne estraçalhada que ainda tem um coração que bate por incrível que pareça.

 Coração. O mesmo de que acelerava toda vez que Clove sorria. O que parecia parar por alguns segundos quando eu a beijava. Minha vida antes de eu a conhecer era completamente vazia, e quando a perdi ficou mais ainda.

 Vejo Katniss olhando em minha direção de cima do Chifre.

 Nunca imaginei que fosse me apaixonar por alguém principalmente por Clove. Nós podíamos estar juntos. Nós ainda podemos estar juntos, seja onde quer que ela esteja agora. Quero estar junto a essa menina de corpo frágil e mente surpreendente forte. A menina que me fez ver o amor em um lugar onde só há guerra.  E pensando nisso que eu junto forças para falar, mas apenas sai um sussurro.

-Por favor – suplico tão baixo que nem sei se a garota foi capaz de ouvir.

 E ela dispara a flecha em minha direção.

‘’Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente. ’’ - Martha Medeiros

‘’Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera. ’’ - Clarice Lispector


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Notas finais do capítulo

Quero agradecer a cada um de vocês que acompanhou a minha fanfic. Agradecer por todos os reviews, mesmo alguns dizendo que eu sou muito má por ter matado a Clove. Eu vou sentir falta de escrever essa fic, Mas tudo chega ao final né?