Ela corria pela floresta, ofegante. Suas pernas já estavam quase sem forças para aguentar a garota.

- Continue correndo. Não desista. Está tudo acabando - dizia para si mesma.

Ninguém sabia seu nome. As crianças do cinco sempre a chamaram de Foxface e depois de tanto tempo, ela não ligava mais para o apelido. Foxface significa Cara de Raposa. Raposas são animais inteligentes. Ou seja, ela era inteligente. E isso é um tremendo elogio, pelo menos ao ponto de vista da ruiva.

Ela desviou de um tronco em sua frente. Conseguia ouvir o garoto do 2, Cato, correndo atrás dela. “Parece um touro correndo, de tanto barulho que faz” pensou, dando uma leve risada. Apenas os dois tinham sobrado.

Foxface estava atrás da abertura do chifre da Cornucópia. Suas mãos suadas seguravam a faca. Ela tinha apenas uma chance. Ouviu barulho de passos, dando uma rápida olhada. A garota do 12 estava lá para pegar sua mochila. Quando ela se virou para ver se havia mais alguém com ela, Foxface usou sua única chance. Saiu do chifre, mirou e jogou a faca. A lâmina fincou nas costas de Katniss, fazendo-a cair no chão. Foxface ouviu outros passos. Olhou para o lado, vendo a garota do 2, Clove, parada, olhando para o corpo de Katniss. Com rapidez, a morena correu em direção da Garota Quente, sentando em cima da mesma e cortando seu pescoço com a faca de Foxface.

Então, virou a cabeça, visualizando a ruiva. Foxface não esperou: saiu correndo, ouvindo o zunido da faca passando em seu lado. Ao se apoiar ao lado de uma árvore, fora do alcance de Clove, virou a cabeça, vendo o garoto do 11 pegar uma pedra e batê-la na cabeça da morena. Foxface ouviu dois tiros de canhão. Ela não podia esperar muito, logo Cato estaria ali. Correu para dentro da floresta, tentando se lembrar do caminho até a caverna onde os do 12 estavam. Tinha passado muitos dias andando por ai, até encontrar o esconderijo.

Quando avistou a caverna, tirou outra faca de sua jaqueta. Entrou silenciosamente, parando ao lado do garoto. Ele era bonito, com os cabelos loiros, mas os cortes na face estragavam a aparência. Ela posicionou a lamina em baixo do queixo dele e puxou. Ouviu outro tiro de canhão.

Foxface saiu de seus devaneios quando ouviu latidos de cães. Apressou o passo, quase desmoronando. Saiu da floreta, avistando a Cornucópia. Pegou suas duas ultimas facas e as enfiou no metal, subindo pelo chifre. Ao chegar ao topo, ficou alerta, esperando pelo garoto do 2.

- Saia da onde estiver escondida – ele gritou.

“Ou ele é muito burro, ou só faz isso para irritar” ela pensou pegando a última faca que ainda tinha em sua mão.

Foxface não aguentava mais aquele jogo, suas pernas doíam, ela já havia tido tantas alucinações que nem sabia mais o que era real, sua vontade era ir para casa, ouvir sua mãe cantar e dormir depois de contar uma história para sua irmã.

Cato olhava para os lados procurando pela ruiva, mas ele não a encontrava. Ele sabia que ela estava viva ou aqueles jogos já teriam terminado, ele bufou irritado;

Ele parecia perdido até ouvir um tipo de rosnado, ele correu para escalar a Cornucópia. A superfície de ouro puro foi desenhada para lembrar o chifre curvado que todos enchem na colheita, então há pequenas pontas e fendas para conseguir se agarrar de maneira decente. Mas depois de um dia sob o sol da arena, o metal está quente o bastante para queimar as mãos.

Foxface está deitada no topo do chifre, sete metros acima do chão, seu olhar rapidamente passa para Cato.

- Oh... Pensei que teria que correr atrás de você, que pena... Acabou minha diversão – ela disse sorridente.

Cato não prestava atenção atrás dela, ele olhava alguma coisa do outro lado e o olhar de Foxface rapidamente o seguiu.

Na mesma hora que ela olha o primeiro mutante que chega ao metal, ela rapidamente corta um pedaço do mutante que esta perto dela, mas ela tinha que cuidar para Cato não matá-la.

Conforme eles iam atacando os mutantes eles pareciam se afastar, os cães estão começando a se reunir. Enquanto eles se juntam, eles se levantam novamente para facilmente ficar de pé sobre suas patas traseiras, dando a eles um aspecto assustadoramente humano. Cada um tem uma pele grossa, alguns com o pelo liso, outros ondulados, e as cores variam de preto até o loiro.

Cato olhou aterrorizado para um dos cães e seu grito de dor assustou Foxface.

Eles colocam seus focinhos no chifre, cheirando e provando o metal, colocando as patas sobre a superfície e fazendo sons agudos com a outra, o bando recua como se aguardasse.

Cato ainda olhava para um dos cães, então Foxface pegou sua faca e jogou diretamente na cabeça de Cato, ele caiu de cima da Cornucópia diretamente na boca de uma dos cães.

O som do canhão fez Foxface pular, ela havia vencido? Ela sorriu ao constatar isso.

(...)

Os distritos passavam com um flash para Foxface, ela havia vencido, estava indo para casa... Ninguém conseguiu pega-la. Ela deveria estar feliz agora.

Ela olhou para o distrito 5 e sorriu, ela estava em casa finalmente.

- Pegue-me se puderem – ela sussurrou antes de sorrir para todos aqueles que a esperavam.

Ela havia provado que era a mais rápida, esperta e que ninguém poderia pega-la e isso a fez à vencedora.

Ela caminhou a passos largos entre as pessoas, procurava pela sua casa, sua família, mas nada encontrava.

- Onde estão? – ela sussurrou para si mesma.

Ela corria entre as pessoas, mas nervosa a cada passo que dava, parecia que quanto mais corria mais longe sua casa ficava.

Ela avistou sua irmã e a abraçou deixando as lágrimas que segurou durante todo o jogo escorrer por seu rosto.

- Você ganhou – sua irmã gritou sorrindo.

- Por você pequena – Foxface sussurrou.

- Agora você nunca mais vai sair daqui, né? – sua irmã parecia tão preocupada, aquilo assustou Foxface.

Ela sorriu antes de responder.

- Nunca mais.