Dia de caçada. Sempre a caçada, o cheiro de Katniss que está presente em cada galho, cada planta da floresta. Ou o cheiro da floresta que estava sempre em Katniss.

Mas primeiro o colégio. Os alunos olham para mim, Prim e os irmãos de Peeta. Claro que com uma certa repulsa para os parentes dele. Peeta fez algo merecedor de nojo. Ele se uniu aos que mais odiamos. Todos os anos, eles matam as nossas crianças, todas sem chance de defesa. Os carreiristas são cruéis e nojentos, porém cruéis e nojentos muito bem alimentados. Todos os distritos os odeiam com a exceção deles próprios. Pergunto-me como deve ser matar tantas crianças e depois olhar nos olhos das famílias que destruiu durante o Tour da Vitória.

Entre sussurros consigo escutar comentários dos Jogos. Katniss. Katniss. Peeta. Carreiristas. Peeta. Prefiro me concentrar no patrocínio de Catnip, e a ansiedade aumenta. Todos os anos, as cenas mais importantes se passam no horário de almoço da escola, porém esse ano as cenas mostradas são insignificantes.

Paro perto da cerca “elétrica” do Distrito 12 e vou até a floresta. Armo diferentes arapucas em diferentes locais. Em cima de árvores. Perto de pedras. Arbustos. Checo as que já posicionei e uma raposa está pendurada pelo pescoço, eviscero e guardo a carne. Minhas mãos estão sujas de sangue e decido que uma visita ao lago é precisa. Subo em algumas árvores e um ninho está abandonado. Pego os ovos e preparo uma refeição.

Ao voltar para casa, passo por um arbusto de amoras e colho algumas. Darius está patrocinando Catnip, estão faço uma nota mental de sempre fazer um preço baixo. Ele anda registrando o patrocínio dos tributos, mas acredite, o distrito 12 não é o lugar mais movimentado do mundo nesse setor. Entrar no Edifício da Justiça não é inteligente, mas combinamos um sinal para esse tipo de negócio, então ganho dinheiro e um aliado garantido para lutar em favor de Katniss.

A pele da raposa eu dou ao homem que faz roupas no distrito em troca de novas para Posy, que cresce cada vez mais. Eu adoraria apenas fazer um casaco e me manter quente no inverno, porém uma pele de raposa não é comum e nem disfarçável, caso algum pacificador me pergunte onde eu arranjei, estarei em apuros. Parte da carne dou a Greasy Sae, ganho dinheiro, gordura e arame para minhas armadilhas. A outra parte divido entre eu e Prim, até agora não faltei com a minha promessa. Ela está bem alimentada, corada e o dinheiro é o bastante para comprar remédios melhores para os pacientes do 12. Vejo que o padeiro está lá, aceno para ele e volto para casa.

Nove horas da noite. Esse é o horário de exibição e de carnificina. Posy vai se deitar, ao passo que Vick e Rory assistem junto comigo.

Quatro e meia da manhã de hoje. A visão noturna das câmeras foi desativada, provavelmente para trazer emoção ao evento seguinte. Isso quer dizer que uma morte está perto de ocorrer, e que ninguém consegue ver nada, apenas ouvir o que acontece.

Clique!

Galhos quebrando. Alguém está quebrando galhos, mas o barulho não é de passos.

Clique!

Algo está batendo na madeira.

Clique!

Uma fagulha se estende e a luz da fogueira ilumina um rosto feminino. Alguém extremamente estúpido acendeu uma fogueira. A visão noturna volta e Claudius anuncia Claire Madness, distrito 8.

O garoto do 1, que descubro se chamar Marvel Roxen é o primeiro a perceber o que está acontecendo e se voltar para aquela direção. Claire está adormecendo e os carreiristas estão atrás dela em silêncio e de forma lenta, talvez para aumentar a diversão da caçada. Peeta está com eles carregando a maior mochila, e com um archote. Cato e Marvel estão, segundo Claudius, com óculos de visão noturna. Porém Cato de vez em quando empresta os óculos para Clove, que se encanta. Risos baixinhos saem da boca da loira, Glimmer Savernees.

Eles encontram-na as cinco e dez da manhã e resolvem observá-la. Cato se aproxima de forma silenciosa, até demais para alguém do seu tamanho, e sussurra em seu ouvido:

- Bom dia. A noite foi fria, não?

Claire abre os olhos em um sobressalto e corre, porém Cato a segura pelos cabelos e joga contra o chão. Gritos agudos saem de sua boca e ela se arrasta, tentando se afastar. Ele apenas vai chegando mais perto, Marvel a silencia com um chute no rosto. Peeta vira o rosto discretamente enquanto Cato limpa a lança na camiseta.

Um grito. E os pássaros param de cantar. Os Carreiristas seguem caminho até uma clareira, a trinta metros de distância da garota, quando uma dúvida cresce no grupo:

- Não deveríamos escutar um canhão?

- É. Será que ela não está morta?

- Ela está morta. Eu coloquei a lança nela, ou você não viu?

- Você é um incompetente. Não sabe nem matar uma garotinha.

Uma discussão nada silenciosa começa e Cato e Marvel discutem da forma mais brutal, e ao mesmo tempo, mais boba possível. Peeta se descontrola e grita:

- Estamos perdendo tempo! Eu mesmo volto lá e mato ela.

- Vai lá, conquistador. Veja com seus próprios olhos.

Peeta pega o archote e caminha em direção a Claire. Ás vezes ele tropeça nos galhos e quando seus passos são silenciosos, Clove sussurra para Cato:

- Não é mais fácil matar ele logo?

- Não. Ele é a nossa maior chance de encontrar a garota. E ele é bom com aquela faca.

Peeta é iluminado pelos primeiros raios de luz na manhã. Ele encontra o corpo de Claire jogado, uma respiração fraca e lágrimas nos olhos.

- A sua dor vai acabar. Eu prometo.

Ela assente e mais uma lágrima cai de seus olhos. Peeta arruma a menina de forma que ela fique em seu colo, retira o cabelo de seu rosto, que está vermelho no lado em que Marvel atingiu. Ela tenta dizer algo, mas apenas pequenos gemidos são ouvidos. Ele acalma a menina, passando a mão na parte machucada do rosto e sinto um nó na garganta. A família dela está assistindo a tudo isso, a espera de uma caixa com o corpo gélido do tributo do Distrito 8. Ela cerra os dentes, seus olhos fecham e o canhão soa. Peeta volta e o assunto acaba entre os carreiristas. Eles devem voltar para a Cornucópia, já que a água está acabando, e como Katniss já deve ter encontrado água, estará segura por alguns dias.

E então ela aparece. Por entre os galhos, escondida de todos, está Katniss Everdeen, a garota em Chamas. Ela desce da árvore e sorri em direção aos carreiristas. Não um sorriso de humor. Sarcástico. Ela ouviu a conversa, e se diverte no fato de todos acharem que ela também está apaixonada.

Catnip espera os Carreiristas estarem longe, e corre para checar as armadilhas. Um coelho é o que ela consegue durante a noite. Ela deve guardar a carne e fazer uma fogueira depois, já que os Carreiristas ainda estão perto e ainda é de manhã. Mas ao invés disso, ela corre até onde Claire estava e usa o resto da fogueira para fazer o coelho, camufla a mochila com carvão e come metade do coelho.

Wade Pender, o tributo do Distrito 10 ainda não encontrou água, mas sim um arbusto de frutinhas que ele provou, não as reconheço de lugar nenhum. É o bastante de líquido que ele precisa. Com seu problema na perna, Wade pegou um galho de árvore e se move um pouco mais rápido, para longe de outros tributos. Apenas Thresh permanece em seu lugar. O esconderijo é discreto, seguro, com comida e uma pequena fonte, que julgo estar ali para os Carreiristas, já que eles sempre são beneficiados pela localização da Cornucópia. O único problema são cobras, escorpiões, etc. Mas eu duvido que esse seria um problema, já que ele ignora aos animais, portanto deve conhecer como repelir.

Quatro horas da tarde. Catnip encontra um arbusto de frutinhas vermelho-sangue, que não conheço, porém, Claudius diz serem seguras. Torço para que ela não seja tão cautelosa e prove uma, mas ela joga as frutas fora.

Seis horas da tarde. O sol está se pondo e Catnip começa a tropeçar nos próprios pés. Temo por ela, já que Haymitch não enviou água e ela já apresenta sintomas de desidratação. Olhos fundos e olheiras, boca seca e rachada. Ela sobe em uma árvore e dorme.