Verdade Ou Desafio? - 9a Temporada escrita por Eica


Capítulo 24
O adeus


Notas iniciais do capítulo

Vou sentir saudade...



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Leonardo

Marco, Donatelo, Lucas e Rafael havíamos nos reunido no shopping Cianê. Nos encontramos na praça de alimentação do shopping. Pedimos cervejas e petiscos num dos restaurantes. Nos sentamos numa das mesas, enquanto o movimento tornava-se cada vez mais insuportável. Domingo é sempre assim, lotado de gente.

Depois de tomar um gole da minha cerveja, olhei para cada um de meus amigos. Marco olhava para seu celular, enquanto Lucas e Rafael faziam piadas sobre um homem esquisito sentado na outra mesa. Depois olhei para Donatelo. Apesar de ter gostado da idéia de se encontrar conosco, ele estava nitidamente triste.

Quis perguntar se alguma coisa acontecera, mas achei que devia esperar o momento certo. Rafael afastou-se de nós para comprar um picolé. Voltou uns minutos mais tarde.

– Adivinha quanto custa essa paradinha? Sete reais! Sete!

Sentou-se novamente em sua cadeira. Eu já havia terminado minha cerveja há muito tempo e não tinha intenção de comprar outra. Queria mesmo comer algo.

– Agora sei como você treina. – disse Lucas.

Olhamos para ele e depois para Rafael.

– Treino o que? – indagou Rafael.

– Essas chupadas que você dá.

Fui o primeiro a rir. Marco e Donatelo riram em seguida. Rafael corou violentamente.

– Quer dizer que o Rafa dá umas chupadas? – indaguei, secando meus olhos de tanto que ri.

– Ele adora. – confessou Lucas.

– Cala a boca, seu idiota! – protestou Rafael, verdadeiramente incomodado.

– Não se envergonhe, Rafael. – disse. – Quem não gosta de dar uma chupadinha?

– Ele me trata como um picolé. – continuou Lucas.

Rimos ainda mais.

– Já falei para calar a boca! – ordenou Rafael. – Ou da próxima vez, mordo seu pinto!

Rachamos.

Foi difícil pararmos de rir, ou melhor, foi difícil de mudar de assunto. Num momento de silêncio entre nós, olhei para as mãos de Donatelo sobre a mesa e percebi que não usava aliança.

– Como anda a vida, Dodô? – indaguei-lhe.

Ele olhou-me, surpreso.

– Ah, boa, na medida do possível.

– Você está muito cabisbaixo.

– É que... – coçou o cotovelo. – Eu andei pensando em algumas coisas.

– Vai queixar-se sobre seu casamento? – zombou Rafael.

Pisei no seu pé e mandei-lhe um olhar grave. Donatelo negou.

– Não, não vou me queixar... Mas o assunto que andei pensando tem um pouco a ver com o meu casamento.

– Tomou alguma decisão? – indagou Marco.

– Sim, quero dizer, estou pensando em tomar. Queria mesmo falar com alguém sobre isso, e por favor, não espalhem como se eu fosse fazer isso de fato.

– Nossa! O que você pensou em fazer? – indaguei, curioso.

– Em ir embora.

Não consegui captar a mensagem com a rapidez necessária. Acho que nenhum de nós conseguiu.

– Como assim, ir embora? De casa? Da cidade? – perguntei, um pouco aflito.

– Bom... Eu estou precisando de um tempo, sabe? Mas não vou conseguir tempo ficando aqui na cidade. Sabendo que ele está aqui, então...

– Como assim, cara? – indagou Rafael, confuso. – Vai mudar de cidade?

Donatelo abaixou o rosto. Fitou a mesa, enquanto provavelmente tentava encontrar as palavras certas.

– Às vezes respirar outros ares ajuda um pouco. E eu notei que preciso mesmo respirar um pouco. Eu já percebi que o Eduardo não vai voltar comigo, então preciso desse tempo para assimilar as merdas que eu fiz. Do contrário, não vou conseguir viver em paz.

– E pra onde você vai? – indaguei, não gostando de suas palavras.

Ele levantou o rosto e, sorrindo para nós, respondeu:

– Itália.

Michelangelo

Eduardo e eu alugamos uma casa no Jardim das Magnólias, o que nos deixava próximos da casa de Donatelo e da casa de Leonardo. Apesar dessa coincidência, havíamos gostado muito da casa, por isso acertamos o contrato com o dono do imóvel e logo no sábado, já levamos nossas coisas para ela.

Era uma casa térrea simplória. Novinha em folha. Só teve um único morador. Tinha dois quartos, sala, cozinha, banheiro e quintal espaçoso. Eduardo e eu escolhemos os quartos que queríamos, arrumamos nossos guarda-roupas, os armários da cozinha, ajeitamos os móveis na sala e inauguramos definitivamente a casa dando uma passada na boate do Rafael.

Ele, como sempre, recebeu-nos com muita animação.

– Onde estão seus namoradinhos? Vão festejar sozinhos? Que coisa deprimente! – zombou.

Du e eu nos olhamos. Balançamos a cabeça, sem dar atenção a ele.

– Alguém interessante passou por aqui? – indaguei.

– Aaaahmm... O Leonardo esteve aqui há pouco tempo.

– Com o namorado?

– Estava sozinho. – respondeu ele, olhando para o celular. – Começou a reclamar das notas baixas dele. Disse que o Danilo começou a ir mal na faculdade depois que começaram namorar. Acho que ele se culpa um pouco.

Rafael riu, sentando-se numa cadeira ao lado de Eduardo.

– Onde já se viu! Nem para dar notas altas ao namorado! Está dormindo com ele! É o mínimo!

– Que coisa feia de se dizer! – disse Eduardo. – O Leonardo está certo em dar as notas baixas. Se ele não está se esforçando...

– São namorados! E a culpa é dele mesmo por ficar distraindo o aluno.

– Está digitando tanto... – observei. – Está conversando com o Lucas?

– Estou. E não estou gostando das coisas que ele está me dizendo.

– O que ele está te dizendo?

– Disse que a Juliana do serviço o convidou para verem o campeonato de skates. E adivinha onde vai ser esse campeonato?

– Onde? São Paulo? Rio?

– Antes fosse no país. Vai ser no Canadá!!! Canadá! Ele ficou louco!!

Eduardo e eu ficamos impressionados.

– Nossa!

Rafael suspirou.

– Qual o problema...

– Problema? – interrompeu-me, parecendo realmente irritado. – Aquele merdinha quer levar o Lucas pra outro país e o Lucas está todo animado para ir. Mas ele não vai ir.

Fitei Eduardo.

– Quanto tempo ele vai ficar fora?

– Não me interessa. E eu já disse que ele não vai. Acabei de mandar pra ele uma mensagem no Whats. Ele não vai.

– O Lucas adora essas coisas. Por que ele não pode ir?

– Ele poderia ir se não fosse com aquela bicha do Juliano. Ele poderia ir se eu fosse com ele, mas como eu não vou...

– Se você confia no Lucas, que importa se ele vai com o Juliano? – indagou Eduardo.

Rafael riu.

– Você não está entendendo, Eduardo...

Antes que pudesse terminar a frase, viu que recebeu uma mensagem no Whats e parou para lê-la. De repente, levantou-se da cadeira.

– Desculpem, pessoal. Mas vou precisar de um tempo sozinho. Vou ter que falar muitos palavrões. Com licença.

Observamos ele se afastar.

– Xiiii... Coitado do Lucas.

– Acha mesmo que ele vai pro Canadá? – indagou-me Eduardo, incerto.

– Pra não ser controlado pelo Rafael, é bem possível que vá, ele querendo ou não.

Curtimos um pouco mais a música da boate. Rafael não voltou a aparecer. Resolvemos dançar um pouco e voltamos para casa bem tarde da noite.

Lucas

Quando cheguei em casa, imaginei que teria de enfrentar a ira de Rafael. Ele disse que voltaria mais cedo para casa, mas não voltou. Quando cheguei, ele ainda não havia vindo da boate. Menos mal. Tive tempo para me preparar. Olhei as mensagens do meu celular. Ele não havia me mandado nenhuma outra.

Tomei banho. Troquei de roupa e fiquei deitado em minha cama, mexendo no celular. Quando senti muito cansaço, acabei pegando no sono. Acordei quando ouvi ruídos dentro de casa. Sentei na cama e esperei Rafael aparecer.

– Muito serviço lá na boate? – perguntei, quando ele entrou no quarto.

Não me respondeu. Foi para o banheiro e demorou para sair de lá.

– Sabe, eu não sou obrigado a agüentar suas frescuras. – disse, quando fiquei muito aborrecido.

Ele olhou-me, com a cara fechada.

– Estou pouco me fudendo pra você.

– Que bom. – disse. – Então posso ir pro evento, já que você está pouco se fudendo...

Rafael ficou transtornado.

– Você é um traidor, Lucas! Um traidor!

– O que eu fiz de errado? – exaltei-me. – Me convidaram para ir num evento e eu aceitei! Qual o problema?

– Você nunca quer fazer as coisas comigo. Aposto que se eu te convidasse pra ir, você não iria.

Olhei-o, completamente perplexo e indignado.

– Que mentira! Eu sempre faço as coisas com você!

Rafael ficou andando de um lado a outro, completamente enfurecido.

– Se quiser, pode ir com a gente...

Ele riu de modo sarcástico.

– É claro! É claro! Como se o Juliano quisesse. Ele convidou você e não eu.

– E eu estou te convidando.

– Não me interessa ir. Não quero ir e você também não deveria ir.

– Meu Deus do céu! Por que eu não posso ir?

– PORQUE EU NÃO QUERO!

Rafael saiu do quarto batendo a porta. Bateu tão forte que achei que fosse quebrá-la. Não consegui acreditar em sua atitude. Achei que essa palhaçada com o Juliano havia terminado. Achei que não faria cena de novo. Mas que ódio!

Pela manhã, quando acordei para ir ao trabalho, vi que Rafael dormira no sofá. Não o acordei. Saí do apartamento em silêncio, tentando acalmar os nervos. Mal dormi. Ele realmente conseguia me tirar do sério.

Donatelo

Depois de almoçar na casa de meus pais, voltei para casa. Fiquei meio indeciso no que fazer. Na verdade, não tinha nada a fazer em casa. Parei na sala, depois fui para a cozinha e terminei por fitar o quintal. Às vezes tinha a necessidade de dizer a mim mesmo que eu não havia feito coisas tão graves... Que eu não havia tomado decisões tão tolas... Mas a tristeza sempre me puxava para baixo.

Talvez a ida a Florença não fosse má idéia. Não. Não era.

Após algumas reflexões, peguei o celular e liguei para Michelangelo.

Do! Tudo bem?

– Tudo. Quero dizer, um pouco. Está sozinho em casa?

Estou. O Du foi na casa da mãe dele. Ela mora perto. Ele foi a pé. Muito corajoso da parte dele ir a pé.

– Será que dá tempo de eu passar aí?

Ele riu.

– Você não mora muito longe. Pode vir. Acho que ele vai demorar um pouco.

Desliguei o celular. Entrei no carro e dirigi até a nova casa de Michelangelo. Estacionei em frente ao portão. Ele me esperava na garagem. Abriu o portão social.

– Vindo escondido? – indagou, sorrindo.

– É. – respondi, saindo do carro.

Abraçou-me.

– Vamos entrando. Você precisa conhecer a casa.

– Acho que vai ser a primeira e última vez que entro.

– Credo! Não diz isso não!

Passamos pela garagem e entramos na sala. Michelangelo mostrou-me todos os cômodos. Até os quartos. Quando entrei no quarto de Eduardo por dez segundos, senti o seu aroma refrescante e me senti tentado a jogar-me na cama.

– Faz muito tempo que ele saiu?

– Hmm... Umas duas horas mais ou menos.

Fomos até a sala.

– Eu queria te contar uma novidade. E espero que você não fale pro Eduardo.

Ele virou o rosto para mim, perplexo.

– Está namorando de novo?

– Não!

Ele riu. Sentamos no sofá, um ao lado do outro.

– Eu decidi viajar. Para Florença.

Ele arregalou os olhos.

– Não brinca!

– Não estou brincando. – ri, passando as mãos sobre as coxas. – Eu decidi ir pra Florença. Só falta acertar as coisas com meus parentes de lá.

– E quanto tempo vai ficar por lá?

– Não sei. Não sei.

Michelangelo levou a mão ao peito.

– Meu Deus! Me fale que você pelo menos pretende voltar.

Ri.

– Eu preciso de um tempo. Muita coisa aconteceu na minha vida em tão pouco tempo... Eu sou um idiota. Achei que tivesse amadurecido e dou mancada de novo.

– Reconhecer que errou já é amadurecimento.

Encostei a cabeça nas costas do sofá. Olhei para o teto.

– Meu coração está tão pesado...

– Aah, Do... Não queria que você fosse.

Sorri-lhe.

– Eu também não queria me afastar de vocês... Mas eu preciso superar tudo.

– Vai anular o casamento?

Ri.

– Sei lá. Não sei o que fazer quanto a isso. Só queria te avisar. Vou avisar o pessoal que as coisas estão se encaminhando...

Desencostei a cabeça das costas do sofá. Michelangelo tocou no meu braço e volveu-me um olhar carinhoso.

– A gente fica tão acostumado com nossa vida, que quando alguma coisa nova acontece, a gente não consegue lidar tão bem... Nunca pensei que algum de nós pudesse ir embora. Quero dizer, nunca pensei que um de nós pudesse alterar completamente nossas vidas. Tem certeza de que quer fazer isso?

Senti vontade de chorar, por isso demorei a responder.

– Tenho.

Michelangelo

Como Donatelo pediu, não contei a Eduardo que ele havia aparecido em casa. Fiquei muito deprimido, mas consegui mascarar com perfeição para que ele não percebesse que algo estava errado. Quis perguntar-lhe se não havia chances dos dois voltarem, mas Eduardo estava tão animado depois de receber boas notícias da mãe, que achei melhor não incomodá-lo.

B.B

Fazia cinco dias que Rafael estava sisudo. Quando Marco e eu aparecíamos na boate, encontrávamos Rafael bastante concentrado no serviço. Não fez nenhuma piada, nenhuma brincadeira, não riu, não quis nos descontrair. Parecia bastante profissional. O motivo da sua mudança de comportamento havia se espalhado entre nós rapidamente. Lucas e ele haviam brigado seriamente. Tão seriamente que Lucas saíra do apartamento e voltara para a casa dos pais.

– Pelo menos Rafael não está bebendo. – comentou Marco, da última vez em que fomos à boate. – Mas dá pra perceber que ele está muito abalado.

– É. Percebeu como seus olhos estão inchados?

Senti pena dele. E para não atormentá-lo, fingi não saber de nada. Tentei ser o mais simpático possível.

– O Lucas vai pro Canadá mesmo? – indaguei, quando Rafael se afastara.

– Vai. – informou Marco. – Acho que semana que vem.

– E o Dodô?

– Semana que vem.

Gemi.

– Ma...

Recebi um afago na nuca.

Lucas

Eu só ia ficar sete dias fora, mas quando minha mãe ajudou-me com as malas, parecia que eu ia ficar um ano inteiro no Canadá do jeito que as encheu com roupas e itens críticos.

Eu estava bastante ansioso. Faria minha primeira viagem para o Canadá. Iria ver grandes talentos no campeonato. Mas apesar de tanta animação, havia uma coisa que ainda me incomodava. Quando eu saí do apartamento de Rafael, ele me disse em alto e bom som: “Se sair, não precisa voltar.”

Era óbvio que havia terminado comigo. Estava embutido nas entrelinhas que não me queria mais em sua vida. Não entendo por que ficou tão transtornado com o convite que eu recebi. Juliano e eu éramos apenas amigos. Minha mãe disse que eu não devia esquentar com isso. Disse que quando eu voltasse para o Brasil, os ânimos de Rafael já estariam melhores. Eu duvidava um pouco.

Quando minha família, a família de Juliano e meus amigos nos acompanharam até o aeroporto de São Paulo, foi um momento bastante estranho e triste para mim. Rafael não viera. Afastei-me dos demais com Donatelo. Eduardo estava entre nós e ele era o único que não sabia que Donatelo estava de partida para Florença.

– Sexta-feira é a minha vez. – comentou Donatelo, sorrindo.

Estávamos bem afastados de todos.

– Então... Vou sentir saudade. – confessei, deixando as lágrimas rolarem.

Donatelo fungou.

– É... Eu também.

Abracei-o e quando comecei a chorar, não consegui largá-lo. Nem mesmo ele.

– Tire muitas fotos de lá e me mande. – pediu ele, enxugando os olhos, assim que nos soltamos.

– E você também. Não se esquece de manter contato com a gente.

– Claro que não vou me esquecer. Não dá pra eu esquecer de vocês. – disse ele, olhando para o pessoal. – Mesmo que eu quisesse. Vocês são minha família.

Enxuguei as lágrimas.

– Eu sei que é difícil pra você... Está sendo difícil pra mim também.

– Se cuida lá, Lucas. – disse, dando-me um tapinha carinhoso no rosto. – E vê se faz umas manobras por lá. Vai que alguém te vê. Você leva jeito pra coisa.

Fiz uma careta.

– Não sou tão talentoso assim.

Nos abraçamos de novo, quando eu percebi que Juliano acenara para mim.

– Te amo, irmão. – disse ele.

– Também, cara.

Foi difícil de dar adeus a Donatelo. Chorei muito. Chorei quando entrei no avião. É difícil se afastar de quem a gente ama. Muito difícil...

Rafael

Estava no escritório da boate, cuidando de muitas papeladas chatas quando ouvi um toque do meu celular. Pensei em atender, mas depois desisti. Continuei olhando as papeladas até que minha inquietação não me permitiu ir além.

Peguei meu celular sobre a mesa e notei que havia mensagem nova no Whats. Era de Lucas. Pensei bem, se devia ver a mensagem ou não. Demorei exatos quinze minutos para me decidir. Peguei o celular de novo e abri sua mensagem. Era um texto muito grande.

“Se cheguei a lhe dar motivos para não confiar em mim, me desculpe. Não estou indo porque quero te desafiar. Minha raiva já passou há muito tempo. Estou indo para dar a prova que você tanto queria. E a prova é a forte saudade que estou sentindo de você neste momento. Não fico falando o tempo inteiro uma certa palavra, porque ela tornou-se tão banal que poderia soar falsa. Mas já que é necessário falar neste momento, então eu falarei... Te amo.”

– Deus...! – exclamei, soluçando sem parar.

Disquei para o número do celular de Lucas no mesmo instante, mas ele não atendeu. Disquei de novo e de novo. Depois disquei para o número do Leonardo.

– O Lucas! O Lucas! – foi só o que consegui dizer, entre tantos soluços.

Ele já embarcou, Rafael. – respondeu Leonardo.

Desliguei o celular na cara do pobre Leonardo. Li e reli sua mensagem umas quinhentas vezes chorando litros e litros.

Donatelo

Sexta-feira. Minha malas estavam prontas. Meus pais iam me levar ao aeroporto e lá eu me encontraria com meus amigos. Na quinta-feira, tive uma sorte danada ao encontrar Eduardo na boate de Rafael. Estava na companhia de Michelangelo. Aproximei-me dos dois. Estavam de pé, próximos da pista de dança. Eduardo foi bastante educado comigo quando cumprimentei os dois.

– Saindo para se distrair um pouco? – indagou-me Mick.

– É.

Percebi que ele quis dizer outra coisa, mas não o disse porque Eduardo estava conosco. Observei-o rapidamente. Eduardo estava lindo como sempre.

– Já viu o Rafael? – indagou-me Mick. – Está super ansioso pra volta do Lucas.

– É, daqui a pouco vou dar uma volta por aí pra ver se acho ele.

Olhei insistentemente para Eduardo, querendo dizer-lhe algumas palavras. Mesmo na escuridão da boate, ele percebeu meu olhar.

– Continue assim, tá? – falei.

– Ham?

– Você é maravilhoso. Continue assim.

Ele pareceu confuso.

– Sorria bastante. Não pare de sorrir.

Olhei para Mick e, tocando-lhe rapidamente no ombro, afastei-me dos dois.

Lembranças à parte, senti que havia me despedido adequadamente dele. Cheguei ao aeroporto, sentindo ainda um grande peso no coração. Ia sentir muita saudade de meus amigos. Leonardo, B.B, Marco, Rafael e Michelangelo foram ao aeroporto para um último adeus. Conversamos bastante, recordamos momentos muito alegres... Basicamente todos que passamos juntos. Enquanto aguardávamos meu avião chegar, aconteceu uma coisa que eu não previra.

Alguém me avisara que Eduardo estava no aeroporto. E logo o avistei, aproximando-se de nós, junto de sua mãe.

– Quem contou pra ele...

– Todos nós. – respondeu Michelangelo, deixando-me boquiaberto.

Levantei-me de minha cadeira quando ele finalmente chegou até nós. Cumprimentou meus pais, acenou para o pessoal e depois olhou para mim.

– Você me decepciona, sabia? – disse ele, parecendo bravo. – Ia ir embora sem dizer pra mim? Não acredito que ia fazer isso.

– Eduardo...

Peguei educadamente seu braço e afastei-o de perto do pessoal.

– Eduardo...

– Não, não quero ouvir. Eu disse pra você, não disse? Eu disse que éramos amigos antes de tudo. E pensei que como sempre fomos amigos, iria me contar.

– É que... As circunstâncias... Eu achei que não devia dizer.

– Sorte minha que eles me contaram. Ia ficar muito triste com você. Todo mundo ia se despedir de você e eu... Quando iria ficar sabendo que você foi embora? Um mês depois?

– Você... Nós... Me desculpe.

Não consegui argumentar. Sem esperar, ele abraçou-me delicadamente. Coloquei as mãos em suas costas.

– Hoje já é um dia muito difícil pra mim. Você está piorando, sabia? – ri, tentando descontrair.

Depois do longo abraço, ele levantou os olhos azuis para mim.

– Vou sempre querer o seu melhor e se acha que ir vai ser melhor para você, então você deve ir. – disse ele, sorrindo.

Começamos a verter lágrimas. Inevitável. Eu estava muito abalado.

– Você nunca partiu meu coração, Do, só está partindo agora.

– Não diga isso... – pedi, chorando.

– Só falo isso porque estou triste. – confessou ele, passando a mão no olho esquerdo.

Enxugou os olhos repetidas vezes. Eu também.

– Eu sei que estou deixando muita gente triste. Eu também estou triste. Mas...

– Tudo bem. Você sabe que tem muitos amigos aqui.

– Sei...

Caminhamos de volta até eles. Eduardo ficou do lado de sua mãe. Fiquei mais alguns minutos na companhia de todos até que minha hora chegou. Abracei meus familiares. Depois abracei meus amigos, que não quiseram me largar.

– Vou perder o avião desse jeito... – gracejei.

– Que ótimo! É bom que perca, assim não tem que viajar. – disse Rafael.

Todos estavam com muitas lágrimas nos olhos. Abracei Leonardo, Bruno, Michelangelo, Marco, Eduardo... Todos eles. E comecei a me afastar. Minhas pernas estavam fracas. Estava muito triste, já sentindo saudade de todos. Quando os vi pela última vez, Rafael fez-me um sinal. Com lágrimas nos olhos e sorriso nos lábios, bateu os dedos no peito, na região do coração.

Virei o rosto e segui adiante, sentindo meu coração se partir a cada passo que dava.

...


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