Verdade Ou Desafio? - 9a Temporada escrita por Eica


Capítulo 12
Amizade




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Danilo

Estou a fim do meu professor. A primeira vez em que conversamos sem ser na sala de aula foi na universidade, quando o encontrei no refeitório, lendo um livro. Eu estava indo à biblioteca, mas quando o vi precisei cumprimentá-lo...

- Professor! Boa tarde!

Ele levantou o rosto, me viu e respondeu, sorrindo:

- Boa tarde.

- O senhor sempre vem cedo?

- Hoje foi exceção.

Dei meia volta, mas tornei a me aproximar de sua mesa quando tomei coragem.

- Eu estava indo à biblioteca, mas... O senhor pode me explicar uma coisa rapidinho?

- Está com dificuldade na matéria?

- Não exatamente. Só quero entender um pouco mais essa parte de filosofia da educação.

- Oh! Venha, pode sentar. Eu te explico.

Fiquei tão feliz com aquela nossa aproximação que não dei ouvidos a nada do que ele disse e ainda tive a cara de pau de dizer que eu compreendera tudo quando me perguntara.

Entrei na Uniso no início do ano. Estou cursando “letras” há quatro meses e não imaginei que meu professor seria tão jovem e atraente. Achei que meu professor seria um homem de meia idade calvo e míope, mas não. Deus me presenteou com Leonardo Cardeli. Sexy e masculino. Até agora não sei como consegui aprender qualquer coisa das matérias que já passara sendo que só tenho olhos para ele. Apesar de gostar de estar a fim dele, isto será um grande problema para mim. O único que sabe dos meus sentimentos por ele é meu amigo, colega de classe, Hélio.

- Eu sei que ele é gay, - disse para ele, certo dia. – Já vi a tatuagem que ele tem no braço, por isso sei que não tenho a mínima chance. Ele deve namorar esse tal Eduardo.

- Nunca se sabe. Pode ser solteiro.

- Você perguntaria para ele?

- Por que eu? Não sou eu quem está a fim dele.

- Se eu perguntar, ele vai saber que eu tenho essa curiosidade e parecerá suspeito. Vamos, faz esse favor pra mim?

- E não vai parecer suspeito se eu perguntar?

- Não, você é hetero até o último fio de cabelo, já eu, tenho essa cara de gay. Vamos, Hélio. Só me faça esse favor.

- Tá, certo. – disse ele, rindo.

Numa quarta-feira, depois que todos os alunos do curso já haviam saído da classe, esperei Hélio no pátio. Quando ele chegou, arfando (deve ter corrido), disse que ele era solteiro.

- Já perguntou?

- Já. Eu disse que umas garotas da classe queriam saber. Ele sorriu quando eu disse isso e respondeu com ótimo humor, como sempre, que era solteiro.

Meu coração palpitou.

- Vai chamá-lo pra sair?

- Que isso! Se eu for rejeitado, terei de encará-lo até o dia da minha formatura. É vergonha demais.

- Então por que quis saber se ele é solteiro se não pretende convidá-lo para sair?

- Se ele não fosse meu professor eu poderia abordá-lo com mais facilidade... Onde será que ele mora?

- Não sei... Melhor pensar antes que cheguem as férias.

- As férias! Verdade! Não me lembrava disso!

- Você é o único que não se lembrou. – riu. – Que aluno não fica contando os dias esperando as férias de julho?

Nossas férias começariam em 4 de julho. Eu tinha apenas duas semanas para convidá-lo para sair. Se fracassasse e fosse rejeitado, contudo, teria de conviver com a vergonha por mais dois anos e sete meses. Não sei, mas acho que eu estava disposto a arriscar...

Nessa época de provas, me atolei nos estudos. Praticamente engoli meus livros e, no final, acho que me saí bem. Enquanto eu fazia minha prova, pensei: “Ele lerá tudo o que eu escrever, por isso tenho que fazer bem feito se quiser impressioná-lo”. No último dia de aula, quando deu dez horas e quarenta minutos, os alunos começaram a sair da classe, dando um último adeus ao professor.

- Boas férias. – disse ele, para os alunos que passavam por sua mesa.

- Até mais, professor. – disse alguns rapazes.

Colei em minha carteira, nervoso e ansioso, esperando o momento certo para chegar até o professor. O fato é que, eu demorei tanto para tomar uma atitude que acabei sendo o único aluno na classe, e ele percebeu isso.

- Não vai sair?

- Ah! É, eu vou.

Peguei minha bolsa pendurada no encosto da cadeira e fui enfiando meus cadernos e livros dentro. Também recolhi minha blusa de cima do meu colo e saí do entulhado de carteiras. Andei vagarosamente até a porta, alternando entre sorrir para o professor e fitar o chão. Ai, como sou covarde! Passei batido por ele e nem desejei boas férias. Ainda no corredor, de cabeça baixa, ouvi barulho atrás de mim. O professor devia estar fechando a porta da classe. É agora ou nunca. Ainda posso convidá-lo.

- Professor?

- Ham?

- O senhor bebe cerveja?

- Bebo.

Pela expressão, deve ter achado a pergunta estranha.

- Não quer vir comigo a um bar, ou algum lugar pra gente beber e comemorar o início das férias?

COMEMORAR? Essa foi a única palavra que meu cérebro idiota pensou?

- Não sei... Bem, se puder esperar até o dia seis...

- Estará ocupado?

- Um pouco.

- Ah, se for assim, não quero te incomodar.

- Só até o dia seis, depois minhas férias realmente começarão.

- Seis é sexta-feira?

- É, é sim. Podemos combinar alguma coisa no sábado.Você vai embora de ônibus?

- Vou.

Paramos no corredor, ele escreveu alguma coisa no seu caderno e me passou um pedaço de papel arrancado do mesmo.

- Nos falamos depois. Agora vá senão perderá o ônibus.

- Ah, certo.

Corri pelo corredor, acenei para ele uma última vez e quando cheguei no pátio, olhei para o pedaço de papel pela primeira vez para ver o que ele escrevera.

- Meu Deus!

Ele havia escrito seu número de celular. Meus olhos se iluminaram. EU TENHO O NÚMERO DO PROFESSOR!!! Quando cheguei em casa, fiquei olhando para o pedaço de papel, mais ansioso que nunca. Liguei para Hélio e contei que sairia com o professor.

Até o dia sete de julho, ainda não havia ligado para o professor para marcar o horário do encontro. Demorei muito para ligar e quando disquei o número dele, já estava imerso em nervosismo, principalmente quando ele me atendeu.

- Oi.

- Professor Leonardo?

- Danilo?

- É, sou eu. Tudo bem?

- Tudo, tudo bem.

- O senhor tinha me dado o número do seu celular pra gente marcar um dia pra sair...

- Sim, me lembro. Já quer marcar um dia?

- É, se o senhor ainda quiser sair...

- Quais dias você poderá sair?

- Hoje, amanhã, qualquer dia. Estou livre.

- Pode ser hoje?

Fiquei ainda mais nervoso.

- Pode, pode ser. Agora de tarde?

- Sim, conhece a avenida Washington Luiz? A choperia fica numa rua próxima, na professor Arthur Fonseca. O nome do lugar é Chopp Brahma Express.

- Eu não conheço, mas posso ir lá sem problemas. Qual é o endereço mesmo?

Busquei meu caderno pelo quarto e o abri assim que consegui uma caneta. Sentei na cama novamente e esperei que ele repetisse o nome da rua.

- A choperia abre depois das onze e meia, mas já que este horário é muito em cima da hora, podemos nos ver às três, tudo bem?

- Certo, a gente se vê. Até mais tarde.

- Até, tchau.

Desliguei o celular. Fitei meu caderno por um tempo. Meu coração estava totalmente agitado. Então ia acontecer mesmo. Íamos sair. Antes do nosso “encontro”, entrei na internet e procurei pelo endereço da choperia para ver como eu poderia chegar até lá. Depois tomei banho, vesti um jeans, uma camisa e uma jaqueta e saí de casa para pegar um ônibus – antes, contudo, avisei meus pais que daria uma saída. O ônibus Campolim me deixou na avenida Washington Luiz. Dela, segui para a professor Arthur Fonseca. Só a subidinha da rua que me cansou um pouco. Felizmente o clima estava ameno. Não havia nuvens no céu e parara de chover. Caminhei pela ciclovia no canteiro e depois atravessei a rua ao avistar a choperia do outro lado. Era ao lado de uma casa que ficava na esquina.

A choperia estava aberta e já tinha carros em frente a ela. Parei na calçada e examinei o lugar antes de fazer qualquer coisa. Havia uma mureta que circundava uma área coberta por um toldo, onde algumas mesas de madeira haviam sido postas para os clientes. Apenas três destas mesas do lado de fora foram ocupadas. Havia mais gente no interior da choperia. Olhei para dentro, através das paredes de vidro e da porta aberta. O professor ainda não havia chegado. Resolvi esperá-lo do lado de fora, sentando na mureta.

Eu olhei várias vezes para a hora do meu celular, mas não sei dizer quanto tempo se passou até o professor chegar e estacionar o carro mais a frente, abaixo de uma árvore. Quando saiu do carro e veio descendo a rua pela calçada, meu coração deu um salto. Ele estava lindo como sempre. Camisa social e jeans combinava muito bem com ele.

- Olá. – disse ele, sorrindo largamente.

- Oi, professor.

- Gostou do lugar?

- É, eu estava olhando... É legal. Nunca tinha vindo pra estes lados antes.

- Vamos entrando?

Só andei até a área coberta depois que o professor entrou. A choperia não era grandiosa em espaço, mas ao menos me parecia aconchegante. Conseguimos uma mesa ao lado de uma das paredes de vidro e um rapaz – um garçom, vestindo um avental vermelho – se aproximou. O professor pediu dois copos de cervejas e batatas fritas. O garçom olhou pra mim e teve a audácia de perguntar se eu era maior de dezoito anos. Disse que sim e isso pareceu satisfazê-lo. Olhei para o professor.

- Ninguém acredita quando eu digo que tenho vinte.

- É uma ótima vantagem parecer mais novo.

- E acreditam menos ainda quando eu digo que sou um garoto. O senhor deve ter percebido que eu me visto e me pareço com uma garota.

- Para ser sincero, quando o vi pela primeira vez, fiquei na dúvida.

- Sério? – indaguei, estranhamente feliz por ele ter me notado.

Mas quem é que não nota?

- Não faço de propósito, sabe? – expliquei. – Nasci com essa cara. Não tem como mudá-la. Já minhas roupas, bem, isto é outra história.

Ele apenas sorriu.

- Como o senhor conheceu este lugar?

- Posso te pedir uma coisa?

- O que?

- Quando me chama de senhor, sinto como se eu tivesse sessenta anos. – riu.

- Desculpe, é força do hábito. Chamo meus pais assim e meus avós também, então...

- Tudo bem, mas pode me chamar de Leonardo.

- Está certo.

O garçom apareceu e nos passou os copos (grandes copos) de Brahma e também colocou sobre a mesa uma cestinha com batatas fritas. O cheiro estava ótimo. Peguei o copo e bebi um pouco da cerveja. Estava super gelada.

- Sobre a sua pergunta, - disse o professor. – um conhecido meu é dono deste lugar.

- Sério?

Ele sacudiu a cabeça, em confirmação.

- Está saindo com um amigo meu.

- Saindo no sentido de amigo ou no sentido de estar interessado nele? – indaguei, de modo desajeitado.

- A segunda opção. - riu.

- Então ele é gay?

- Bi. Os dois são.

- Ah. Sobre isso, o senhor, quero dizer, você deve ter percebido que eu sou...

- Sim, percebi. E deve ser difícil pra você.

Olhei-o, admirado.

- Como sabe?

- Sei que muitos gays têm preconceito com rapazes como você por se vestir diferente. Isso me admira muito porque você imagina que, quem luta contra o preconceito não deveria manifestá-lo em hipótese alguma. Ainda mais por razões tão ridículas quanto a em questão.

- É, - disse, abaixando os olhos. – não gostam muito do meu jeito de vestir. Não uso roupas de garotas, mas estas que eu uso são um pouco agarradas e aí já pensam bobagem. Não quero me parecer com uma, apenas gosto de vestir o que eu visto.

- Eu entendo. Já sofri preconceito também.

Ergui meus olhos para ele.

- Já sofreu?

- Na adolescência, e também de alguns professores antiquados que deixam transparecer seu desdém com completo descaramento. – riu.

- Até de professores? – disse, surpreso.

- Oh! De qualquer um. Mas o pior de tudo não foi ter nem ao menos a tolerância do meu pai.

- Meus pais não estão cem por cento comigo, mas pelo menos não me expulsaram de casa. Eu fiquei com medo disso quando eu disse a eles, na verdade eu não precisei dizer. Eu era tão óbvio que nem precisei dizer nada.

Rimos.

Quando consegui coragem, indaguei, mais tarde:

- E então? Qual a história da sua tatuagem?

- Qual delas?

- A frase que você tem no braço.

- Ah. Eu fiz há muito tempo. – disse ele, olhando para a tatuagem. – Eu era apaixonado e fiz essa loucura. Doeu muito. Eu chorei, admito que chorei durante o processo.

Ri com ele.

- Se é pra sentir dor, que seja colocando um piercing, não acha? Dói menos.

- Você também tem um piercing? - indaguei, contente por termos outra coisa em comum.

- Sim, um só.

Não demonstrei em minha expressão facial, mas fiquei bastante surpreso e curioso em saber onde ficava seu piercing. Bem, enquanto bebíamos cerveja e comíamos as batatas, continuamos conversando. Nossos gostos musicais eram totalmente o oposto, mas de resto, acho que não divergíamos muito. Ele era educado e engraçado como imaginei que fosse, e cheiroso também. Admirei-me comigo mesmo por ter pensamentos eróticos em vários momentos enquanto conversávamos. Tentei controlar minha mente maliciosa e acho que fui eficiente.

- Dei graças quando comecei a lecionar na universidade. – disse ele, quando perguntei se ele preferia o ensino médio ou a universidade. – Há muito desrespeito e falta de atenção por parte dos alunos do ensino médio. Quando eu era professor substituto, por exemplo, os alunos faziam baderna na classe, desorganizavam as carteiras e fingiam que eu não existia. Era ruim, sim, mas pelo menos consegui o carinho de muitos com o passar do tempo. Não são todos, mas os jovens do ensino médio são tremendamente grosseiros. Uma vez eu soube que um professor de uma mesma escola onde eu ensinava, havia apanhado e também agredido um aluno por causa de desrespeito. Soube que ele foi afastado da escola. Felizmente nunca tive problemas assim.

- Se eu não conseguir trabalho como professor, procurarei um que me permita traduzir textos em inglês.

- É uma boa também. Um ex-aluno meu, que eu vi já faz algum tempo, conseguiu um trabalho numa editora exatamente para fazer isso. Ele gostava muito de literatura, eu diria até que era fascinado e era um rapaz muito inteligente. Se você se esforçar desde o princípio, não há nada que não possa fazer.

- Mas ainda falta muito pra eu me formar. Vou ter que esperar mais de dois anos.

- Você conseguiu bolsa?

- É, consegui. Meus pais não têm condição de pagar as mensalidades.

- Trabalha durante a semana?

- Eu tinha um trabalho de meio período, mas depois parei. Agora não sei o que vou fazer.

- Se ainda tiver interesse em trabalhar, pode falar pra mim que eu tenho muitos contatos.

- Ah, certo, obrigado.

Os minutos foram passando, a cestinha de batatas fritas esvaziou-se, tomamos novos copos de cerveja e continuamos nos conhecendo melhor até que, por volta das seis da tarde, saímos da choperia e paramos na calçada.

- Precisa de carona?

- Não, eu, um amigo meu virá me buscar.

- Mesmo?

- É, não se preocupe.

- Bem, então nos vemos depois.

- Ah, tchau.

Ele me estendeu a mão para dar adeus, eu dei minha mão para ele, mas como era de meu costume cumprimentar e me despedir com um beijo no rosto, acabei levantando o rosto para beijar o dele. O professor teve que se inclinar e quando tocamos nossas bochechas, senti meu rosto queimar e percebi o mico que estava pagando.

Afastou-se de mim acenando e sorrindo, até chegar ao carro e partir. Eu olhei um pouco para a rua e depois a desci pela calçada, praguejando.

- Que mico! Meu Deus! Não acredito que fiz isso!

Atravessei a esquina e continuei descendo a rua, imaginando onde teria um ponto de ônibus por perto.

Fiquei preocupado com o mico que paguei, mas ao mesmo tempo estava feliz por tê-lo conhecido e ter me aproximado dele de uma maneira que nunca achei que seria possível. O professor não está namorando. Será que tenho chance?

Rafael

-Você tem um gosto musical aceitável, sabia? – disse a Lucas, enquanto caminhávamos pela Washington Luiz rumo ao ponto de ônibus que ficava próximo ao Walmart.

Era sábado. Tínhamos ido ao shopping e depois descemos toda a avenida, parando no Habib’s por um tempo para comer mais alguma coisa. Eu estava fuçando seu mp4 e ouvindo algumas músicas que ele colocara no aparelho.

- Falta muito rock pesado aqui, amigo. Você ainda tem que se lembrar das suas origens.

- Por que diz isso se foi você quem colocou a maioria das músicas aí?

Chegando ao ponto, aguardamos a chegada do ônibus. Continuei ouvindo as músicas do seu mp4. Olhei a rua, os carros passando, enchi o saco de Lucas algumas vezes e olhei para o povo sentado na casinha do ônibus. Havia uma garota muito bonita logo à frente, de braços cruzados, olhando para a rua. Loirinha, cabelos curtos, baixinha... Que fofura! Chamei a atenção de Lucas para este detalhe inusitado na calçada.

- Vamos apostar. Acha que tenho chance?

Ele olhou para mim e riu.

- Não, não acho, mas não custa nada tentar, né?

Quando o ônibus chegou, quatro pessoas que estavam no ponto subiram no busão, incluindo aquela garota bonita. Lucas e eu sentamos no banco logo atrás do dela. Demorei alguns minutos para chamar sua atenção, e quando o fiz, toquei em seu ombro e ela virou o rosto para mim.

- Escuta, em qual estúdio você colocou esse piercing? – indaguei, olhando para seu piercing que ficava abaixo do lábio.

- Na Tattoo Clinic no centro da cidade.

Meu queixo caiu ao ouvir sua voz masculina. ERA UM GAROTO??

Quando ELE virou o rosto para frente, encostei as costas no banco e olhei para Lucas. Dirigi-lhe minha expressão de espanto e pelo jeito ele também ficou espantado porque me olhou da mesma maneira.

Danilo

Enquanto olhava para a rua através da janela do ônibus, ouvi a conversa dos dois rapazes atrás de mim porque me era impossível não ouvir, já que estavam no banco de trás.

- Puta merda! Esquecemos de passar na choperia, cara. – disse aquele que me perguntara sobre o piercing.

- Você não disse que queria ir pra lá.

- É que o Samurai aparece lá depois das seis e eu queria ver se ele me dava cerveja de graça. – riu.

- Você é um exemplo pra humanidade, Rafael.

- O Samurai é gente boa, por isso ele me dá cerveja de graça, assim como o irmão dele. Esses japoneses são tão legais. Te contei que o Mick está saindo com ele?

A partir daí a conversa começou a me interessar, pois algo ali me parecia estranhamente familiar.

- Vamos passar na casa do Du. Estou a fim de jantar lá.

- Liga antes e pergunte se podemos.

- Desde quando você é tão educado?

- Não me lembrava que você era tão folgado, Rafael.

- Hei, eu só digo isso porque eles me convidam pra ir lá. O Donatelo principalmente porque assim ele terá uma babá pra cuidar da filha dele enquanto ele fica roncando no sofá.

- Mas coitado dele, ele trabalha muito. Precisa de uma ajudinha.

- A sorte dele é que eu gosto muito da Sofia, senão mandava ele tomar no cu. Eu queria é passar na casa do Lê, mas não sei quando ele vai voltar pra casa. Disse que ia se encontrar com sei lá quem, nova paquera, não sei. Ele não me disse. Mas é bom que ele saia mesmo, finalmente. Já estava de saco cheio daquele papo deprê dele.

- Não acho que estava deprê.

- Não?? Isso porque você não teve que agüentar a conversinha pós-fim do namoro. O Leonardo precisa de um namorado com urgência.

- Hei, não vai planejar nada. Você sempre se mete e dá em merda.

- Que?? Quando foi que eu me intrometi?

- Quer que eu cite mesmo?

Quando o que cochicharam me bastou, virei o corpo e olhei para um deles, para aquele que estava sentado no banco ao lado do corredor.

- Com licença, mas... Vocês conhecem Leonardo? Um cara alto, loiro, olhos azuis, professor de inglês...

- Bem, nós conhecemos um cara com esses atributos, mas aí depende. Esse Leonardo que você conhece é gay?

- É.

- Então com certeza é o nosso amigo.

- São amigos dele?

- Oooh. E você?

- Aluno. Eu estudo letras na Uniso. Me encontrei com ele agora de tarde.

- Aaaaaah, você é a paquera dele então?

- Eu não diria ‘paquera’. – respondi, corando.

- Qual seu nome? Eu sou Rafael. Este é Lucas.

- Danilo.

- Caracas! – disse Rafael. – Leonardo se envolvendo com um aluno... Isso é história pra espalhar, não acha não, Lucas?

- Não estamos nos envolvendo, só saímos pra tomar cerveja.

- Você é gay também?

- Sou.

- Está interessado no Lê? Nós achamos, pelo menos eu acho, que ele precisa voltar a namorar. Então se você quiser...

- Viu? – disse Lucas, olhando para Rafael. – Está se metendo. Não se mete.

- Só ia perguntar pra ele se está interessado em fazer amizade com a gente.

De repente, Rafael levantou do banco e veio se sentar do meu lado.

- Podemos ser amigos, que acha? Eu adoro fazer novas amizades e também ajudar quem precisa no sentido amoroso da palavra.

Olhei de um para outro. Lucas aproximou seu rosto do meu e disse:

- Não liga pro Rafael não. Ele não bate bem da cabeça.

- Beleza, você se tornou, oficialmente, a partir de agora, nosso amigo. – disse Rafael, pegando na minha mão e me cumprimentando. – Em qual bairro você mora?


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