Entre a Luz e a Escuridão escrita por zariesk


Capítulo 39
Especial III - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

esse cap demorou pra c%$# pra ficar pronto!
mas acho que valeu a pena! agora confiram o fim do especial!!



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A tecnologia das engrenagens, molas e outras parafernálias era o que tinha de mais avançado naquele mundo e um relógio estilo pendulo era o que se podia chamar de a invenção do século criada pela raça dos gnomos engenheiros, algo assim tão primitivo na terra era o que mais prendia a atenção de Isawa que encarava os ponteiros recém restaurados e lubrificados.

Observar o tempo passar era algo que as vezes podia ser tedioso ou tão excitante quanto possível, mas olhando os ponteiros daquele relógio Isawa não sabia dizer se gostaria que ele passasse mais rapidamente ou se simplesmente parasse de uma vez por que aquele relógio estava marcando as horas que faltavam para a maior virada da sua vida.

Alias voltando um pouco no tempo Isawa não sabia dizer com certeza qual foi o momento mais marcante de sua vida: se foi quando viu aquela fera destruir o shopping e persegui-la pela cidade, quando seus avós lhe contaram sobre sua origem extraplanar e sua descendência real, se foi o momento que se viu como algo não humana poderosa e assustadora como um demônio, o re-encontro com seus pais que aprendeu a amar no mesmo instante ou se foi a recente guerra onde ela definitivamente escolheu o rumo da sua conturbada vida.

 

- O tempo é uma coisa engraçada não é? – perguntou uma voz poderosa que ela já tinha aprendido a reconhecer – para mim ele é tão insignificante que um século passa num instante, mas para vocês um único século de vida representa quase uma existência inteira.

- Vocês nunca pedem por permissão pra entrarem nas casas dos outros? – reclamou Isawa furiosa – as vezes podemos estar fazendo coisas ou apenas não gostamos de ver alguma coisa se materializando atrás de nós!

- Realmente isso é um mal habito nosso, não estamos acostumados a pedir permissão pra nada – justificou-se Azgher – e geralmente qualquer mortal ficaria agradecido por receber a visita de um deus, alias no seu mundo as pessoas oram a deus e pedem por uma iluminação, você não faz isso?

- Nunca precisei, sempre tive uma ótima vida ao lado dos meus avós – respondeu ela – isso até você e seus servos malucos estragarem isso.

 

Aparentemente Azgher não deu importância alguma ao comentário dela, mas ele começou a vagar por aquela sala como se estivesse avaliando o local, nada de janelas para a luz entrar, a decoração em tons frios e sem vida e aquele enorme relógio pendurado na parede.

 

- Está atrasado 2 minutos e 50 segundos – comentou ele olhando os ponteiros.

- Obrigado por me avisar, certamente isso faz uma enorme diferença na minha vida – respondeu ela sarcasticamente.

- Deve ser por isso que não conseguiu dormir hoje, está ansiosa pela sua coroação?

- Você estava me espionando? Quem lhe deu esse direito? – reclamou ela zangada.

- Eu mesmo, eu vejo tudo o que acontece durante o dia – respondeu ele – embora nem tudo desperte minha atenção certamente eu estou sempre de olho em você.

 

Inesperadamente Isawa deu um soco na face coberta de Azgher, uma grande labareda explodiu jogando-a longe, sua mão estava queimada e sangrando.

 

- Você sabia que não se pode tocar em um deus impunemente – disse ele – então por que fez isso sabendo que além de se machucar eu não sentiria nada?

 

Ela nada respondeu, apenas o atacou de novo recebendo o mesmo efeito a cada golpe, aparentemente Azgher continha as chamas para não mata-la mas a cada golpe que recebia uma nova explosão e ela voando longe, e se levantou mais 5 vezes até finalmente cair no chão fraca pela feridas.

 

- Está tentando provar alguma coisa ou simplesmente enlouqueceu? – ele estava verdadeiramente confuso com a atitude dela.

- Eu precisava fazer isso – respondeu ela arfando de raiva e dor – por tudo o que você me fez passar, por tudo o que tirou de mim, por tudo o que meu povo sofreu e também porque não vou com sua cara de jeito nenhum!!

 

Azgher observava aquela jovem mortal que nem duas décadas de vida tinha (o que pra ele equivale a uns dois dias) tentando se levantar apoiada numa cadeira, ele já tinha visto incontáveis mortais mas nenhum como ela, lhe intrigava como ela pensava e agia, lhe revoltava que ela tivesse escolhido Tenebra, lhe agradava saber que ela era diferente dos outros e certamente lhe irritava o modo como ela tratava os deuses como se fossem qualquer um por ai.

 

- O que você pensaria ao saber que você sempre esteve destinada a isso? – perguntou ele – tudo na sua vida já estava pré-escrito num daqueles livros do deus Thyatis que contam o futuro, não há sentido em reclamar comigo sobre o que lhe aconteceu se tudo era inevitável.

- Eu lhe respondo com outra pergunta: se tudo já está determinado e eu teria que vencer essa guerra por que você lutou de qualquer forma? – ela tinha um sorriso vitorioso nos lábios – se era inevitável que chegássemos a isso por que simplesmente não se rendeu a mim poupando sua preciosa cidade e servos?

 

Definitivamente ela só podia ser algum avatar de Tenebra disfarçada, por que somente Tenebra conseguia lhe irritar dessa forma, ela o tinha colocado contra a parede com uma pergunta e se foi de forma intencional ou não ela o tinha derrotado de forma simples, em algum lugar no cosmos Sszaas se deleitava com isso e outros deuses prestavam atenção nessa conversa.

 

- Aceitar minha derrota sem lutar seria mais vergonhoso do que perder tudo – respondeu ele.

- Mas e o que seus servos pensam sobre isso? Será que alguns deles não preferiam ter vivido ao invés de morrer pela sua causa?

- Eles já estavam dispostos a morrerem por essa causa no momento que escolheram me servir – respondeu ele – não concedemos poder a qualquer um que ora aos deuses, só a aqueles que possuem uma fé verdadeira e uma determinação inabalável, somente a aqueles que desde o inicio desejam dar suas vidas por nós.

- Isso é bem egoísta sabia? Algumas pessoas são desesperadas o bastante pra implorar ajuda a qualquer um que lhe pareça um salvador, minha mãe escolheu servir Tenebra pra mudar sua vida.

- E você? Não serviria a Tenebra para mudar sua vida? Pra conseguir o poder que precisa pra governar esse reino e proteger o seu povo como sempre diz que o fará?

- Se for pelo meu povo eu posso suportar servir aquela vadia chupadora de sangue – afirmou ela – mas certamente será uma escolha minha e não o destino me controlando!

 

Seja lá o que ela tinha de diferente em relação a todos os mortais Azgher acreditava que isso poderia ser algo bom, então de forma que para muitos seria algo inexplicável Azgher decidiu confiar na palavra dela.

 

- A algum tempo o deus Thyatis previu que em meio a escuridão a luz ficaria mais forte do que nunca e que eu mesmo derrotado me ajoelharia vitorioso perante você – explicou ele – gostaria de fazer uma aposta sobre isso?

- Uma aposta? Que tipo de aposta você está falando? –perguntou ela curiosa.

- Eu lhe darei 100 anos, nesse tempo se você conseguir fazer esse reino prosperar e se tornar um modelo que outros reinos desejem seguir com orgulho então eu me ajoelharei perante você e com minha benção permitirei que as pessoas que escolheram as trevas vivam em paz.

- E se eu não conseguir isso? O que você exigirá em troca?

- Se você não conseguir então esse reino deverá deixar de existir – disse ele sério – o reino de Houran será apagado da existência e nunca mais uma nação governada pelas trevas deverá existir, aqueles que não quiserem ou não puderem se converter deverão voltar a viver como antes: escondidos e restritos.

- Eu não posso jogar com as vidas daqueles que confiam em mim – respondeu ela – mesmo que eu confie que posso conseguir isso seria um desrespeito com todos em Houran.

- Então pergunte a eles o que acham da idéia durante sua coroação – sugeriu ele – e saiba de uma coisa: thyatis previu que isso aconteceria, talvez eu tenha interpretado errado ou talvez esse destino não esteja escrito, o certo é que ele não enxerga mais do que 100 anos no futuro e portanto há uma chance de que seja você que escreverá esse futuro.

 

O deus do sol se foi enquanto aos poucos o sol lá fora também se ia aos poucos, a mente de Isawa parecia um turbilhão de emoções e idéias, ela mais do que qualquer um desejava provar que nenhum destino está escrito, Azgher lhe ofereceu a chance de provar, caberia a ela escolher aceitar ou não, mas seria isso o certo?

 

 

******************************************************

 

 

O despertar em Houran acontece logo que o ultimo raio de sol desaparece no horizonte e o manto de escuridão de Tenebra cobre o céu trazendo proteção e frescor aos filhos da noite, e assim como sempre quando o sol se vai as criaturas da noite emergem do solo, criptas ou qualquer outro lugar que as protegia durante o dia.

Mas dessa vez ao invés de cuidarem de suas vidas ou no caso da maioria suas não-vidas todos eles marcharam para Dai-Lung, era o dia mais esperado por eles e todos os habitantes da capital e arredores só queriam saber de prestigiar sua nova rainha, mas ao que parecia essa rainha não estava muito mais motivada que seu povo.

Lá estava ela admirando aquele belo vestido em tom violeta que só ficou pronto a pouco mais de 6 horas, um vestido com aberturas nas laterais e com as costas a mostra com muitos laços para ajusta-lo, as esposas de shinmon tiveram a brilhante idéia de produzir um vestido que se ajustaria ao corpo transformado dela com um simples puxar de lanços, as jóias também foram escolhidas cuidadosamente para combinarem com ela por inteiro e a coroa de jade estava sobre um travesseiro aguardando o momento certo.

Alias era essa coroa que mais lhe chamava a atenção e angustiava, aquela coroa era o símbolo que representaria o poder dela nesse reino e assim que fosse colocada sobre sua cabeça seu futuro como rainha estaria selado para sempre, ela não conseguia deixar de fitar aquela coroa que tanto era uma jóia como também era um grilhão a prendê-la.

 

- Essa coroa tem um enorme peso – disse uma agradável voz atrás dela – mas eu sei que você pode suportá-la.

 

Aquela voz e aqueles braços envolvendo-a por trás não lhe deixaram nenhum duvida de quem era, ela finalmente tinha chegado e seu coração disparado lhe dava um novo ânimo para encarar aquela noite.

 

- Mãe! Você veio! – disse ela se virando a abraçando a mãe saudosa.

- Claro que viria! Mesmo mortas eu viria de qualquer jeito! – respondeu ela sorrindo – ops! Eu estou morta mesmo! Mas quem liga pra detalhes??

 

Mas Isawa não queria saber se ali era apenas um espírito encarnado ou qualquer outra coisa, ali estava sua querida mãe que deu sua vida por ela e que lhe acompanha desde sempre, era a querida mãe que lhe confortava em seus braços como ela sempre quis durante a infância, o vazio que ela sentia não podia ser preenchido mesmo pos seus avós carinhosos.

 

- Eu estava com tanto medo de passar por isso sozinha – dizia a menina com o rosto contra o peito de Kyara – eu nunca senti tanto medo assim, nem mesmo durante a guerra!

- Lutar contra um inimigo que você conhece é muito mais simples do que enfrentar seus próprios temores – explicou ela – o que você teme não é a responsabilidade que essa coroa carrega mas sim sua própria incerteza se conseguirá lidar com essa responsabilidade.

- E como eu faço pra lidar com isso? – perguntou ela – eu não tenho nenhuma experiência nisso mas você...

- Eu também não comecei sabendo de tudo sabia? Esqueceu que eu era uma camponesa? Se eu aprendi a comandar esse reino foi durante o processo e não antes!

- Mas como você sabia o que tinha que fazer? – Isawa estava bem confusa.

- Segui meus instintos, na verdade eu fiz desse reino aquilo que eu queria que ele fosse – respondeu ela – olhando por esse ângulo eu fui bem egoísta pois não pensei nos outros, pensei naquilo que eu queria!

- Então você quer me dizer que conseguiu fazer esse reino crescer e prosperar por pura sorte? – Isawa parecia divertidamente inconformada com isso.

 

Kyara começou a gargalhar com o tom que sua filha usou, era incrível como elas se davam bem.

 

- Pessoas que compartilham do mesmo desejo tendem a se unir – respondeu ela – se o seu desejo corresponder ao desejo do povo então eles a seguirão e apoiarão até o fim!

- E se não funcionar?

- Ai eles vão embora e você vai estar livre pra voltar pra casa, isso depois que seu pai comer seu fígado por você faze-lo passar vergonha – respondeu ela simplesmente.

- Falando nele o velho veio junto com você?

- Veio sim, ele disse que ia esfolar o shinmon e voltava daqui a pouco!

 

 

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- Olha só pra isso, a pouco mais de um ano eu jamais sonharia que estaria presente na cerimônia de coroação da nova rainha negra de Houran! – comentou Daneth brindando com vinho – e ainda por cima que eu estaria num dos lugares de honra!

 

Ele virou o copo de uma vez e sorriu animado, Turok que estava sentado de frente pra ele pegou uma bebida que tinha um cheiro muito forte e bebeu também com uma única virada, mesmo ele estava se divertindo bastante.

 

- É permitido beber em serviço soldado? – perguntou uma mulher tigre que sentou-se ao lado dele na mesa.

- Esse não é um simples soldado milady – informou Daneth – ele é simplesmente o chefe da guarda real de vossa alteza!

 

A mulher tigre ficou de boca aberta com tal revelação encarando Turok com uma expressão de “não acredito”

 

- Eu ia te contar em breve – disse Turok envergonhado – é que eu estava muito ocupado com os preparativos e ....

- Como se eu me importasse! – disse ela antes de sair furiosa.

 

Turok encarou Daneth com uma cara de quem ia arrancar as tripas dele com os dentes, o bardo meio constrangido parecia ter encolhido na sua cadeira.

 

- Como eu ia saber que ela é sua namorada? Você não é de falar muito – tentou se justificar.

- Já você fala demais – rebateu o outro – eu não queria que ela ficasse deslumbrada com minha posição, mas eu ia contar logo!

- Ta bom, mas se você quiser ajuda pra reconquistar a gatinha eu ficaria feliz em me voluntária!

 

Turok o encarou com uma sobrancelha erguida, Daneth sorriu e sentou ao lado do amigo.

 

- Vai por mim, vou te ensinar os segredos pra se conquistar a garota que você deseja.

- Você me da medo – revelou o licantropo.

 

 

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- Você está ficando uma graça Karin! – elogiou Kaliope enquanto ajeitava o vestido que a jovem feiticeira usaria na cerimônia.

- Mas o vestido que fizeram pra maninha é mais bonito ainda – elogiou ela de volta.

- Agora só falta encontrar o vermelhinho pra botar uma roupa decente nele! – Nadia estava determinada a se tornar costureira oficial da realeza.

 

Enquanto isso na suíte real Fou procurava algo para vestir em meio as coisas velhas que ficavam num baú, ele não dava muita importância pra aparência mas se fosse pra agradar Isawa ele tentaria vestir algo mais que uma calça.

 

- Experimente aquele ali – disse um homem atrás dele.

 

Fou pego a peça apontada pelo homem e experimentou, era um traje real preto que lhe caia bem apesar de que era desconfortável pra suas asas, mas enquanto experimentava ele se tocou que estava acompanhado quando antes estava sozinho, se virou pra ver quem era aquele homem e apenas viu um cara todo de preto.

 

- Ficou bem em você, o que é uma pena – disse ele.

- É mesmo? E porque?

- Por que essas roupas são minhas – respondeu o homem.

 

Fou se tocou de com quem estava falando, afinal se aquela era a suíte real e as outras roupas que haviam no armário pertenciam a Kyara inevitavelmente aquele homem só podia ser uma pessoa.

 

- Acho que ainda não fomos apresentados senhor Zariesk – disse Fou tremendo – eu sou o...

- O meu lanche das 9 horas, prazer em conhecê-lo!

 

A ultima coisa que Fou viu foi a forma gigante de Zariesk surgir a sua frente e sua fileira de dentes lhe cercando.

E o grito de desespero dele ecôo pelos corredores do palácio chamando a atenção de todo mundo, imediatamente Isawa correu para o lugar de onde veio o grito e ao abrir a porta viu o seu pai tentando mastigar algo.

 

- Droga! É difícil mastigas sendo puro osso! – reclamou o esqueleto gigante.

- Querido, não fale com boca cheia, já lhe ensinei boas maneiras – pediu Kyara se divertindo com a cena.

- Cuspa o meu namorado agora mesmo! – ordenou Isawa batendo o pé no chão.

 

O grande dragão deu uma ultima dentada e depois cuspiu o jovem meio dragão, o rapaz ainda bem atordoado e cheio de marcas de dentes pelo corpo.

 

- Sabe como fiquei feliz em sentir um cheiro diferente na minha cama e encontrar um desconhecido mexendo nas minhas roupas? – perguntou Zariesk voltando a forma humana.

- Quanto ao cheiro eu realmente peço desculpas – justificou-se Isawa envergonhada – desde que me mudei pra cá eu fiquei tão a vontade nesse quarto que acabei por dormir aqui, mas sobre suas roupas eu mandei fazerem um traje pra ele!

- Calma querido, por que você não vai passear um pouco com nossa filha pra matar a saudade? – pediu Kyara gentilmente – vocês podem por a conversa em dia enquanto eu tenho uma boa conversa com nosso pretendente a genro não é? Afinal ainda não tivemos a chance de conversar com ele.

 

Zariesk gargalhou maldosamente e depois começou a empurrar Isawa pra fora do quarto.

 

- Certo minha querida, você fica ai enquanto eu vou dar uns conselhos pra pirralha.

- Hei!! Mas por que não conversamos juntos?? – perguntou Isawa desesperada.

- De fato, poderíamos ter uma conversa em família – sugeriu Fou nervoso.

- Relaxa filha, sua mãe não vai matá-lo ou coisa assim! – disse Zariesk para tranqüiliza-la – vamos logo de uma vez!

 

Ele a botou nos ombros e saiu do quarto, Isawa ficou olhando enquanto era levada pra fora e sua mãe acenando com a mão.

 

- Agora meu rapaz, eu adoraria conhece-lo melhor – disse Kyara enquanto fechava a porta do quarto – que tal me falar sobre como vocês se conheceram?

 

 

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Os preparativos para a cerimônia prosseguiam a todo vapor, em frente ao grande portão de entrada do palácio foi montado uma espécie de palanque para acomodar o trono e de onde Isawa faria um discurso para o povo que já se amontoava esperando dar meia noite, uma das grandes atrações seria a aparição de Tenebra para coroar Isawa, e a própria coroa já repousava sobre um altar vigiada por 4 demônios.

 

- Então ela ficou assim? – perguntou Zariesk observando a lamina quebrada da espada feita com seus ossos.

- Eu sinto muito, se eu fosse mais forte isso não teria acontecido – disse ela pesarosa.

Zariesk impiedosamente deu um cascudo nela que lhe fez segurar lagrimas de dor e um galo crescer em sua cabeça.

- Tem toda razão fracote! – reclamou ele enquanto examinava a lamina quebrada – mas para sua sorte a lamina voltará a crescer de novo.

- Bem que eu achei estranho aquele papo de “minha filha” e “vamos conversar” – reclamou ela coçando a cabeça – você só queria me afastar da mamãe pra ela trucidar o Fou não era??

- Você me conhece muito bem não é? – perguntou ele rindo – mas chega disso, já pensou no que vai fazer depois que aquela coroa estiver na sua cabeça?

- Isso me da mais dor de cabeça do que seu cascudo – confessou ela – na terra eu já achava o governo uma coisa complicada, mas aqui é mil vezes pior! Eu não sei se posso ser uma governante e resolver os problemas desse reino!!

 

Zariesk gargalhou e Isawa ficou observando o seu pai tentando entender no que ele achava tanta graça, definitivamente ela era um péssimo pai embora ela não soubesse por que gostava dele.

 

-Você não precisa se preocupar com quase nada, acha que sua mãe era a maior administradora? Acontece que quanto mais poder você tiver mais fácil fica de resolver os problemas, se tiver uma seca ou enchente basta usar magia pra controlar a situação, se o problema forem inimigos externos basta montar um exercito e acabar com eles e se o problema for interno elimine qualquer oposição! Nesse mundo não existem tantas regras ou burocracia que lhe impeçam de agir como no mundo de onde veio!

- Você faz tudo parecer fácil – disse ela de braços cruzados olhando o horizonte.

- E você acredita que é mais difícil do que realmente é – disse ele dando um pequeno cascudo nela – tenha mais confiança no que faz e aceite o fato de que você é melhor do que parece!

- Isso era pra ser um elogio? – rebateu ela rindo.

- Deveria ser, ainda não decidi – continuou ele rindo também – você tem o meu poder e o charme da sua mãe, não tem como você perder com tudo isso!!

 

Ela não agüentou e caiu na gargalhada para depois abraçar seu pai, ele meio que sem jeito a segurou e abraçou também, ela ficou ali aconchegada nos braços dele enquanto o mesmo tentava de alguma forma ser carinhoso com ela sem sucesso.

 

- Agora sei por que gosto de você – disse ela.

- Ta sentindo um cheiro enjoativo? – perguntou ele farejando o ar.

 

Isawa sem entender do que ele estava falando também passou a procurar algum cheiro característico no ar, de fato após prestar atenção sentiu um perfume que ela conhecia.

 

- Akiko-chan! Você veio finalmente! – gritou ela pra abraçar a amiga que acabara de chegar.

- Eu tinha que vir de qualquer jeito – respondeu ela retribuindo o abraço – esse é o dia mais importante da sua vida não é?

 

As duas se abraçaram mais uma vez mas foram interrompidas por Zariesk que examinava a menina de perto com uma cara de quem não tinha gostado nem um pouco de encontra-la.

 

- Você tem o mesmo cheiro daquela mulher que me meteu uma lança na ultima guerra! – reparou ele.

- Você deve estar falando da minha mãe – respondeu Menefer percebendo quem era ele.

 

Zariesk ficou encarando a menina com um certo olhar revoltado, depois disso ele se foi alegando estar com muita fome, as duas continuaram lá observando o antigo rei ir embora.

 

- Ele não foi com minha cara – disse Menefer com toda certeza.

- Certamente, mas não foi tão ruim quanto eu esperava – disse Isawa – você ainda está inteira!

 

 

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- Bem... você não é o que eu esperaria pra ser um genro ideal – comentou Kyara enquanto mexia aquele chá suspeito.

 

A medida que Fou ia contando sua historia a ex-rainha ia preparando um chá misturando varia ingrediente, quando ele dizia algo que ela não gostava ela colocava um colherzinha de algo suspeito, no final aquele chá parecia borbulhar em uma maldade fria e assassina.

 

- Eu... meio que estou tentando melhorar por ela – disse o rapaz preocupado.

- Pelo menos você é sincero – comentou ela enquanto mexia o chá – mas definitivamente uma mãe preocupada com sua filha não permitiria que sua filha namorasse um rapaz que já foi ladrão, assassino e estuprador de garotinhas não é?

 

Ele nada tinha a dizer sobre isso, seu passado era uma desgraça e ele sabia disso, viveu como membro da escoria do mundo apenas porque odiava o mundo inteiro e desejava provar ser alguém mesmo que fosse através do ódio e desprezo dos outros, Isawa foi a única pessoa que lhe viu de forma diferente, a única que compreendia o que ele passava.

 

- Acho que já está pronto – avisou Kyara oferecendo a xícara – experimente e me diga o que achou.

 

Fou encarou aquela xícara por um bom tempo imaginando que tipo de chá era aquele e o que aconteceria se bebesse.

 

- Eu não preparei veneno pra você se for esse o seu medo – disse Kyara enquanto aguardava – se eu te matasse a minha filha ia ficar furiosa comigo.

- Desculpe a desconfiança alteza – disse ele meio envergonhado.

 

O rapaz bebeu todo o chá que por sinal era horrível, e mal o liquido desceu sua garganta e uma queimação incontrolável percorreu seu corpo, sua língua parecia que ia dar um nó e suas tripas se reviravam, o pior de tudo eram as “regiões delicadas” que pareciam prestes a explodir.

 

- Embora eu tenha que te aturar como futuro genro já que você faz minha menina feliz isso não quer dizer que eu tenha que gostar de você – disse ela sorrindo maldosamente – aproveite bem a próxima hora, depois eu volto com um chazinho pra você se sentir melhor.

 

Esse era literalmente um teste de fogo para ele, Fou agradecia a todos os deuses o fato de Kyara ser uma mãe amável que odiaria ver sua filha chorando ou do contrario estaria morto agora, mas analisando bem ele estava começando a sentir saudades dos dentes afiados de Zariesk.

 

- E o pior é que ela está só começando! – disse ele enquanto corria para um banheiro.

 

 

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- Que linda maninha! – elogiou Karin vendo sua irmã no novo vestido.

- Agora que percebi que ele ta pela metade – comentou Isawa reparando no pouco que ele cobria – será que não da pra botar alguma coberta ou algo assim?

- Não ouse estragar nossa obra prima! – exigiu Leila fazendo os retoques finais – você tem um corpo mais do que belo, tem que mostrar tudo que tem direito!

 

O vestido violeta deixava grandes partes de suas pernas a mostra, suas costas também estavam descobertas e as fitas garantiam que o vestido ficasse bem colado ao corpo, era algo lindo e tentador.

 

- Você está muita linda minha filha – elogiou Kyara – você não acha querido?

 

Zariesk estava sentado numa cadeira num outro canto comendo um enorme prato de carne, nem chegou a ouvir a pergunta.

 

- Você não acha querido? – insistiu Kyara com a voz mais alta e firme.

- Sim sim! Muito bonita! – respondeu ele engasgando com a comida – quando ele fica pronto?

 

Enquanto Isawa parecia abatida Kyara disparava um olhar mortífero sobre o marido, Zariesk achou mais prudente largar a comida.

 

- Não se preocupe querida, vamos estar lá do seu lado lhe dando apoio viu? – assegurou ela.

- Mas eu não quero me esconder atrás de você sempre, eu quero fazer as coisas por minha própria conta!

- Tenho certeza que vossa alteza cuidará bem disso – disse Daneth entrando no quarto – os preparativos terminaram, já está quase na hora.

 

Todos começaram a lhe deixar o quarto e ao passarem por ela lhe davam um ultimo abraço e desejavam felicidades, o ultimo a sair foi Fou que lhe deu um beijo.

 

- Você parece meio pálido – comentou Isawa achando estranho – e considerando que você é vermelho é mais estranho ainda!

- Acho que foi algo que comi – disse ele lançando um ultimo olhar rápido para Kyara – mas daqui a pouco eu estou melhor!

- Ótimo! Quero você lá na frente me olhando de perto!

 

Mais um beijo antes de sair e depois disso finalmente Isawa ficou a sós com seus pais, Zariesk apenas ficou de pé ao lado dela e depois com as mãos em seus ombros eles ouviram o que Kyara tinha a dizer.

 

- Logo mais você será a rainha, isso significa mais do que uma responsabilidade.

- Eu tomei uma decisão, e hoje eu saberei se ela está certa ou não.

- Então boa sorte, estamos indo na frente – avisou ela arrastando o marido que ainda parecia querer dizer algo.

 

Isawa se olhou no espelho uma ultima vez, respirou fundo e criou coragem para deixar o quarto, sozinha percorreu os corredores sombrios do palácio e chegou ao hall de entrada onde o grande portão ainda estava fechado, ela já podia ouvir os murmúrios do povo lá fora aguardando sua grande chegada, ordenou aos dois esqueletos gigantes que abrissem o portão e assim que ela saiu por ele a gritaria geral começou.

Suas pernas queriam travar, seus lábios tremiam, seu coração batia a mil e suas mãos pareciam dormentes, mesmo assim milagrosamente ou talvez contra sua vontade ela conseguiu continuar andando em frente em direção ao trono montado no palanque, encarou a multidão que gritava e vibrava e sentou-se no trono.

Na primeira fila estavam as pessoas mais próximas a ela e seus convidados mais importantes: seus grandes amigos que a acompanharam desde o inicio da jornada acenavam pra ela, seus pais que vibravam de orgulho e Shinmon (devidamente afastado de Zariesk) com suas esposas e filha, depois deles estavam aqueles que lutaram ao lado dela na guerra e logo atrás os habitantes de Dai-Lung, quando Isawa respirou bem fundo todos se calaram e assim que a lua escondeu-se atrás de uma nuvem sua sombra deu origem a aquela que entregaria a coroa para Isawa.

Tenebra surgiu magnificamente da sombra que surgiu assim que a lua foi encoberta, as pessoas mais simples pareciam enfeitiçadas ao vislumbrarem a deusa negra (e de fato estavam, como se suas consciências estivessem mergulhando nas trevas) e aqueles que já tinham um certo grau de poder a admiravam fascinados, Tenebra sorriu para todos e depois foi até a coroa e a segurou nas mãos.

 

- Aqui nessa noite estamos reunidos para homenagear a verdadeira herdeira desse grandioso reino – começou Tenebra com sua voz suave – aquela que verdadeiramente merece ostentar essa coroa.

 

Uma pausa para as palmas e todos sem exceção aplaudiram a nova rainha, quando Tenebra fez um singelo gesto se acalmaram e as palmas cessaram.

 

- Isawa filha de Kyara, você aceita governar e proteger esse reino de Houran? – perguntou Tenebra de frente pra ela – aceita guiar esse povo e lutar por eles assim como eles o farão por você?

- De todo o meu coração eu aceito – respondeu ela se ajoelhando perante Tenebra.

- Então eu lhe corôo nova rainha de Houran – Tenebra bem gentilmente colocou a coroa sobre a cabeça de Isawa que sorriu animada – com a benção dos deuses e a aprovação de todos desse reino!

 

Um urro de alegria ecôo pela cidade e os fogos de artifício iluminaram o céu (algumas criaturas ficaram bem incomodadas com isso), todas as mãos erguidas e todas as vozes gritando o nome da nova rainha e comemorando que de agora em diante sua nação estava oficialmente restaurada e um futuro glorioso os aguardavam.

 

- Antes de iniciarmos a festa de comemoração eu tenho algo a dizer – anunciou Isawa chamando a atenção de todos – eu tomei uma decisão que afetará a todos nós e nosso reino como um todo.

 

Ela realmente conseguiu chamar a atenção de todos, inclusive de Tenebra ao seu lado que não sabia o que ela planejava.

 

- Hoje mais cedo o deus sol Azgher veio até mim questionar se eu conseguiria governar esse reino, eu respondi que não tinha certeza se conseguiria e então ele me fez uma proposta.

 

Os sussurros se espelharam por todo o grande jardim do palácio, algumas pessoas revoltadas com a intromissão do deus do sol em seu reino e outros suspeitando que talvez Isawa não conseguisse mesmo governar um reino.

 

- Na verdade uma aposta – continuou ela – se durante os próximos 100 anos eu conseguisse fazer desse reino um modelo para outras nações e cumprisse o pacto firmado pelos deuses ele finalmente nos reconheceria e com sua benção essa nação poderia crescer e não mais seriamos vistos com desconfiança.

 

Isso realmente surpreendeu a todos, Tenebra nem chegava a acreditar que Azgher tivesse proposto isso, perder essa aposta significava aceitar de uma vez por todas que a escuridão pode ser algo bom e que os filhos da noite não são todos seus inimigos, mas o que ele exigiria em troca caso vencesse?

 

- O outro lado dessa aposta é que se eu não conseguir criar esse reino que possa ser reconhecido por todos então Houran deve deixar de existir e que nunca mais um reino governado pelas trevas deve ser criado.

 

O silencio que se formou era mórbido até pros mortos da cidade, ninguém conseguia acreditar que tal proposta podia sequer ser aceita, Tenebra estava de queixo caído com isso.

 

- Eu passei o dia todo refletindo sobre isso – continuou Isawa – e decidi aceitar essa aposta tão cedo o sol nasça para dizer isso a ele, mas antes de oficializar isso eu tinha eu comunicar a todos, essa é uma decisão que não posso tomar sozinha.

- Acho que é mais do que obvio que não deve fazer isso não é Isawa? – disse Tenebra tentando conter sua revolta.

- Eu decidi fazer desse reino um lugar do qual eu possa me orgulhar – explicou ela convicta – eu quero um lugar onde todos possam viver em paz, um lugar onde luz ou trevas não sejam uma escolha obrigatória pra ninguém, um lugar onde qualquer um possa viver em paz independente de gostar de tomar banhos de sol ou viver num caixão, e se eu não puder viver num lugar assim também não governarei um lugar que eu não queira viver!

 

A população não se calou sobre isso, muitos gritavam em revolta e outros já se enfureciam sobre isso, possivelmente uma revolta poderia começar e quando muitos exaltados ameaçaram começar um tumulto a forma gigante de Zariesk foi o bastante para fazê-los mudar de idéia.

 

- Talvez eu esteja sendo extremamente egoísta com isso, mas se esse reino se transformar numa nação de monstros malignos que espreitam a noite eu não quero que ele exista – continuou ela assim que o tumulto foi controlado – mas eu tenho fé que todos nós podemos trabalhar juntos para criar essa nação orgulhosa, tenho fé que podemos ser melhores do que isso e que ganharemos essa aposta!

 

A rainha Kyara levantou-se de seu lugar e foi até sua filha ficando ao seu lado e segurando suas mãos, ela queria deixar bem claro que apoiava sua filha, com isso Tenebra balançou a cabeça decepcionada e muitos começaram a acreditar talvez fosse possível ganhar essa aposta.

 

- Quando eu transformei esse reino em Houran era apenas por meu próprio ideal do que seria um reino perfeito – explicou Kyara – agora é a vez de vocês construírem um reino ideal para vocês, minha filha está pensando no bem de vocês com isso.

- Eu não os forçarei a aceitarem minha decisão – explicou Isawa – se não quiserem confiar em mim e em vocês mesmo basta escolher agora mesmo uma outra pessoa para governar, talvez você mesma queira escolher essa pessoa Tenebra.

 

A jovem rainha estava desafiando a vontade de Tenebra, a deusa negra encarava Isawa como se vasculhasse em sua alma alguma hesitação ou medo, mas ela permanecia inabalável mesmo diante de uma deusa frustrada.

 

- Você acredita mesmo que pode conseguir? – perguntou Tenebra.

- Acredito sim, essa nação é a prova de que isso é possível.

- Então que se dane! Eu vou pagar pra ver! – disse ela gargalhando – mas se você falhar vou devorar sua alma e chupar cada gota do seu sangue bem devagar pelos próximos mil anos!

 

Isawa apenas estendeu sua mão para ela firmando o acordo, mesmo que ainda tivessem muitas duvidas disso a maioria decidiu confiar na sua nova rainha e enquanto uma grande festa dominava a cidade um baile mais tradicional era celebrado dentro do castelo.

 

- Devo dizer que você foi bem ousada – comentou Fou dançando com ela – eu quase vi a Tenebra cuspi o coração assustada!

- hahahahah aposto que a velha vampira não esperava por isso!! – gargalhou ela – agora ela vai ter que se comportar muito bem pelos próximos 100 anos!

- Mas você deve ter cuidado alteza – sugeriu Daneth que dançava com Otsunia ao lado – outros deuses adorariam ver a queda de Houran e alguns deles não mediriam esforços pra sabotar o reino, especialmente aquele Sszaas!

- Deixem eles tentarem! Aqui está uma rainha que não baixa a cabeça pra deus algum!

 

Os próximos 100 anos seriam os mais incríveis que esse mundo já testemunhou, Isawa foi considerada a rainha mais ousada e também aquela que conseguia ser amada por todos e odiada por muitos, seu reino unia o que havia de melhor nos dois mundos e se tornara a maior potencia do continente.

 

 

Fim do especial.


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Notas finais do capítulo

esse especial ficou tão bonito que já poderia ser o final da fic não é?
mas ainda assim vamos ter o cap final! aguardem!