Os primeiros raios de sol já adentravam o enorme hospital. Era uma luz levemente alaranjada, que constrastava bem com os corredores brancos e quartos de paredes pintadas em tom de azul-bebê. Os forros das camas também se harmonizavam com o ambiente hospitalar, em tons de verde clarinho. Tudo para promover a iluminação natural, até porque pacientes em recuperação precisavam estar em lugares calmos, e as cores ajudavam a transmitir tal paz. Alguns enfermeiros, recepcionistas e funcionários trocavam de turno junto com o céu. Podiam todos finalmente voltar para o aconchego de suas respectivas residências.

Pena que Kibum e MinHo ainda não estavam liberados, levaria mais algum tempo até tal fato se concretizar, para azar de ambos.

Arrastavam a maca do jovem dessa vez até um dos consultórios localizados na ala do atendimento geral. Estavam cansados, mas era o trabalho de cada um, era isso que os mantinham felizes. Ali na parte geral do hospital, outros médicos fariam curativos e cuidariam dos ferimentos mais simples, os menores e menos assustadores, que não causavam nenhum risco ao paciente ainda em coma. Mesmo já tendo todos os problemas graves sob controle, Kibum e MinHo ainda precisavam acompanhar o jovem por toda a parte em que fosse. Eram os médicos responsáveis desde que dera entrada e só poderiam o deixar quando ele fosse para um dos quartos, momento que por sorte não demoraria.

Mas ainda assim, corriam o sério risco de serem escalados para acompanhar o progresso do paciente até que ele recebesse alta, se um dia chegasse a receber. Isso implicaria a todo dia visitarem e avaliarem as possíveis melhoras e o levarem até as especialidades que o jovem teria de visitar quando saísse do coma, começaria provavelmente pelo fisioterapeuta, devido ao ferimento grave sofrido nas pernas. Seriam os médicos responsáveis pelo paciente e só o deixariam quando ele deixasse o hospital, fosse como alguém completamente recuperado ou dentro de um caixão, o que era a possibilidade mais dolorosa de sequer ser pensada.

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Dito e feito, após ter finalmente recebido os cuidados necessários, o jovem desacordado foi levado a um dos quartos mais afastados do grande prédio onde funcionava o hospital. Ali poderia se recuperar calma e lentamente, no tempo que fosse preciso até voltar a ser quem era antes do tal acidente. Como já esperavam, Kibum fora escolhido como médico principal e MinHo o ajudaria quando fosse preciso, ou quando tivesse algun tempo livre.

Sendo então os responsáveis, foram procurar por informações sobre o paciente. Não conseguiram nada que fizesse diferença de qualquer forma que fosse, ele só parecia viver ilegalmente no país, fato que não era assim tão anormal.

Sim, porque muitas pessoas fugiam para a França e não procuravam se legalizar, por motivos justificáveis ou não, inteligentes ou não. Era algo tão comum que a polícia francesa já nem tratava os casos com tanta importância. Até porque a única coisa que essas pessoas podiam fazer de forma livre era circular pelas ruas, e olhe lá. Não podiam ter cartões de créditos, nem passaportes, nem nada do tipo. Às vezes algumas davam a sorte de encontrar nativos bondosos e até conseguiam empregos com remunerações baixas ou nulas, às vezes, com ainda mais sorte, conseguiam também um lugar para morar. Porque boa parte vivia em barracos localizados na parte esquecida da França, numa cidade que os franceses apenas ignoravam, a parte que nem sequer constava no mapa.

O estranho era apenas esse jovem viver em Paris, uma das cidades mais preconceituosas a respeito de imigrantes.

Também era estranho o fato de não ter pelo menos alguma coisa que o identificasse. Dentro do veículo que dirigia nada de relevância foi encontrado, na verdade, a única coisa que encontraram além de destroços, fora a metade de uma foto. Velha, áspera, amarelada e bastante danificada, não se podia identificar quase nada na tal fotografia, parecia ser uma paisagem, mas não havia como ter certeza.

Ao parar nas mãos de Kibum, o mesmo analisou cuidadosamente o papel acabado. Com uma xícara de café e um pequeno croissant, se encontrava sentado na lanchonete do próprio hospital, com o jaleco sujo e olheiras pronfundas, o cabelo ligeiramente bagunçado, precisava urgentemente de um banho e sua cama, mas a fotografia atraíra sua atenção de forma fatal. Porque não parecia assim tão desconhecida, o médico podia jurar que já a vira em algum lugar, mas não conseguia lembrar-se de onde e também não tinha certeza, podia ser apenas sua mente cansada lhe pregando peças bobas.