POV Thalia Grace

Havia algo acontecendo comigo.

E eu definitivamente sabia o que era e sabia que teria a tarefa de reprimir isso.

Eu e Nico estávamos na casa que meu pai havia deixado para mim, era um domingo chuvoso, típico de Londres. Sexta quando consegui sair do tribunal eu tinha ido a casa e feito uma lista de tudo que precisava. A casa era enorme e linda, mas faltavam algumas coisas e eu teria que arrumar alguns cômodos para deixar a minha cara. Foi meio difícil sair do tribunal na sexta, Marisa surtou completamente e tentou apelar, querendo de todo jeito conseguir algo a mais que um Obrigado. Ela não conseguiu isso, mas conseguiu nos irritar profundamente enquanto se lastimava.

Eu estava calada e irritada enquanto arrumávamos tudo. Annie e Silena se recusaram a vir com a gente, carregando Percy, Charles e Josh para sabe-se lá onde. Elas imaginavam o porquê de eu andar meio irritada, o que só me deixou uma esperança: os gêmeos. Mas para meu azar Connor e Travis não queriam nem ouvir falar em arrumar alguma coisa. Todos meus amigos traíras conspiraram para me deixar sozinha com Nico.

E sim. Se você está chocado tipo: Você gosta dele? Você errou completamente. Eu o amo. E isso é tudo que eu não precisava agora. Eu não me apaixonava por ninguém desde que pedi meu pai em casamento.

"Exagerada você."

Sou só eu que acho incrível que quando você menos precisa de uma consciência ela vai lá e BOOM! Dá as caras? É, acho que sou. Mas esse não é o ponto. Desde que conheci Nico e nos tornamos amigos ele vem confundindo meus pensamentos e ações. E o pior é que sei que não é uma paixãozinha adolescente daquelas que o estômago revira (aliás eu acho isso muito parecido com ânsia de vômito...), que você fica vermelha só de olhar pra pessoa, que fica sorrindo igual a uma retardada... Ok, talvez eu faça isso um pouco, mas...

"Um pouco? Por favor, não me envergonhe, você faz isso toda hora! Pra que mentir?!"

Bufei irritada com minha consciência, comigo mesma, com Nico... E falando no ser, quem é que me olha agora procurando uma explicação enquanto empurra o sofá?! Se você falou Nico você acertou! Quer uma balinha de brinde?

"Perdoem ela. Tem essa mania de usar ironia/sarcasmo quando está irritada."

"FICA QUIETA CONSCIÊNCIA!"

Balancei a cabeça e continuei a tirar os livros de dentro de uma das quase 500 caixas que estavam espalhadas pela sala.

Eu não era assim. Eu não era uma menininha apaixonada que fica suspirando pelos cantos. Eu não podia ter feito isso. Não podia ter permitido isso. Levei ANOS, sabe o que são anos? Vários amontoados de 365 dias construindo essa barreira de frieza e grosseria. E eu consegui, consegui construir uma fortaleza onde eu podia simplesmente me encolher dentro e... Sentir, quando ninguém estivesse vendo, quando ninguém se importasse. Apenas sentir um pouco. Apenas viajar em sonhos e esperanças a muito esquecidas. Apenas ser uma garota normal, não a menina do complexo familiar, a garota dos suicídios, a menina que não tinha mãe e pai, a menina que foi estuprada várias vezes, até pelo namorado. Eu conseguia. Era muito bem sucedida, tinha minhas amigas e meu peixe (até ele morrer de eu ter dado muita comida...) para amar em silêncio, não precisava de mais nada. De mais ninguém. Mas aí um garoto cai do céu e com apenas algumas ações quebra e estilhaça minha barreira, trazendo a garota cheia de sentimentos que estava exilada lá dentro à tona. Ele se preocupava comigo, eu via em seus olhos negros e eu podia sentir isso também. Mas eu queria voltar a reconstruir a barreira, queria mesmo. Mas uma de minhas mãos estava ocupada segurando a dele. Uma parte de mim já era dele, um órgão muito importante na realidade. Mesmo assim, mesmo sabendo disso eu quis negar a mim mesma, funcionava com comida. Mas não com ele. Ele era insistente demais mesmo não sabendo o que estava fazendo com minha cabeça, o que no momento, eu cria que era um milkshake.

"O que vão querer senhoras? Aqui na Barraca do Milkshake Consciente nós servimos um milkshake de pensamentos e miolos de Thalia! Que tal?"

Eu simplesmente odeio minha consciência. Nesses últimos tempos apenas tentei ignorar esse sentimento, ignorar ele e tentar reconstruir a barreira. Mas não deu certo e acho que é por isso que eu estava tão irritada.

"Acha??"

Levantei exausta de minha discussão mental e sacudi o pó que havia ficado em minhas roupas, havia me arrumado bem básica porque afinal a programação do dia era só arrumar as coisas lá dentro mesmo. Nico me observava em silêncio enquanto guardava alguns livros nas estantes. Prendi meus cabelos em um coque improvisado e peguei uma escada a posicionando debaixo da lâmpada que estava queimada, quando chegamos ainda estava claro, mas agora o mundo escurecia com o apoio de uma tempestade. Com direito a raios e trovões. Fui até as sacolas de compras e vasculhei tentando encontrar a lâmpada nova. Bufei frustrada enquanto massageava minhas têmporas.

—Terceira sacola à sua direita. -A sua voz soou e eu fui olhar e a lâmpada estava lá! A primeira vez que olhei ela não estava lá. Isso só pode ser uma conspiração do universo. -O que aconteceu, Lia? -Me perguntou enquanto encarava meu rosto do outro lado da sala. Lia? Por favor não faça isso se tornar mais difícil.

"Ah, não aconteceu nada. Você só está me fazendo gostar mais de você a cada palavra... E ah! Eu já comentei que meu apelido fica extremamente fofo na sua voz?" Eu poderia rir com o esse pensamento se não estivesse tão obstinada a estar irritada.

—Nada, di Ângelo. -Minha voz soou um pouco grossa demais e eu me culpei quando o vi abaixar a cabeça e voltar ao que estava fazendo. Suspirei derrotada. -Desculpa Nico, não aconteceu nada. -Menti com voz branda, mas em compensação o vi dar um sorriso de canto.

Subi lentamente na escada que para meu desespero estava bamba. Seria rápida e não ia cair.

Faill.

Pensar uma coisa dessa era mais faill que pedir para Silena não usar rosa.

Mas se eu apenas tivesse caído seria bom demais. Enquanto estava tentando tirar a lâmpada queimada um raio atingiu alguma parte da fiação me dando um choque e estilhaçando a lâmpada, a nova que estava em minha outra mão caiu e eu caí em cima dos estilhaços. Parabéns Thalia, você se superou. Ouvi algumas palavras desconexas de Nico que correu para o meu lado, tentei me levantar apoiando uma mão no chão, mas ela estava cheia de cacos, gemi frustrada. Havia fechado os olhos tentando segurar algumas lágrimas de dor. Me senti ser levantada e logo inspirei o perfume do garoto que andava me deixando louca. Fui colocada sentada, provavelmente no sofá.

—Thalia? Fala comigo pelo amor de Deus! Você não cortou as costas, ótimo. Meus deuses... Suas mãos. Onde ta o kit primeiros socorros? -Pediu me avaliando, eu não o via, ainda estava com os olhos fechados, mas sentia ele me olhar. Estava com vontade de chorar, sentia uma bola entalada na minha garganta. Mas não choraria. Não é?!

—Terceira prateleira da estante, caixa branca e pesada. -Falei e minha voz saiu no mínimo embargada, ele saiu e eu abri os olhos fitando minhas mãos. Tinha cacos perfurando a minha pele e sangue escorria dos ferimentos, doía muito. Ele voltou e segurou minhas mãos com uma sua enquanto pegava uma espécie de pinça na caixa.

—Isso pode doer. -Avisou. Mas nem o aviso fez com que doesse menos. Alguns pedaços de vidro perfuraram profundamente e antes que eu pudesse tentar me impedir já chorava. Não só por causa da dor, precisava colocar pra fora tudo o que estava trancado em minha garganta e além do mais, Nico me quebrava com essa aproximação. E em alguns instantes já era chacoalhada por soluços. - Hey, calma. Pronto, saiu o último. -Em poucos minutos minhas mãos já estavam enfaixadas, por sorte meus dedos saíram impunes. Ele levou sua mão ao meu rosto e limpou algumas lágrimas ali. -E agora? Vai me contar o que houve com você? -Sua outra mão estava segurando as minhas. Não aguentei e levantei começando a andar freneticamente pela sala.

—É VOCÊ DI ÂNGELO! ESSE É O MEU PROBLEMA: VOCÊ. DROGA, EU TAVA TÃO BEM ANTES, TÃO SOZINHA. MERDA NICO! MERDA! VOCÊ CHEGOU E COMEÇOU A BAGUNÇAR MINHA VIDA E AGORA OLHA PRA MIM, MINHA BARREIRA CAIU, PORQUE AGORA? HEIN? Merda... Eu te amo Nico. Que droga. É tudo culpa sua! Tudo isso. Não... Porque você tinha que gostar de Linkin Park? Porque tinha que ser tão fofo? Porque tinha que elogiar minhas fotos? Porque tinha que ficar tentando quebrar a porra da minha barreira? Porque tinha que virar meu melhor amigo? Porque está aqui? -Andava freneticamente de um lado para o outro gritando e falando coisas com e sem sentido. Adoro quando fico nervosa. Só que não. Notei que ele estava em pé me encarando, me desesperei, o que eu tinha feito? Ah merda. -Vai ser que nem nos filmes você...

—Porque eu te amo. Eu te amo, para todas as perguntas. -Ele já estava de frente para mim sorrindo e mostrando seus caninos afiados que eu tanto gostava. Eu fiquei estática, sem fala, sem saber o que fazer e por sorte Nico sabia. Ele me levantou colando seus lábios aos meus. Posso garantir que foi a melhor sensação do mundo, era um beijo cheio de sentimentos e apesar da minha consciência estar berrando feito uma louca em minha cabeça eu aproveitei o melhor que pude. Agora nada nos separaria. Ops... O ar! -Eu te amo Thalia, mais do que eu achava que era capaz. -Murmurou me dando selinhos pelo rosto inteiro. Apesar de estar super (tremendamente) (tipo muito mesmo) (demais... Entendeu?) feliz, aquilo ainda parecia estranho. Tipo, beijar meu melhor amigo. Então como boa quebra-clima que sou, comecei a rir descontroladamente, sendo acompanhada por ele. -Porque estamos rindo? -Perguntou quando já estávamos esperneando no chão devido às gargalhadas. Engatinhei sobre ele lhe dando um beijo.

—Eu nunca vou me cansar disso... Porque hoje é a melhor noite de tempestade da minha vida! -Falei me soltando em cima de seu corpo.

—Faço minhas as suas palavras.

—Vish, já tá me roubando palavras é? Quero direitos autorais! -Pedi o olhando séria.

—Já quer usufruir da minha pessoa é? Assim o namoro já começa com perdas para o meu lado! Não vale.

—Namoro? Quem falou em namoro di Ângelo?

—Você é minha namorada. Por direito. -Fez pose de advogado.

—Que direito? Hm... Isso não vai dar certo. -Falei com um misto de divertimento e verdade, acho que ele percebeu pela minha expressão, mas apenas sorriu exibindo seus caninos, pelos quais sou completamente apaixonada.

—Nós faremos dar certo. -Pegou minha mão com um das suas e a beijou. -Juntos. -Entrelaçou nossas mãos. -Agora e para sempre.

X X X

Mini POV Percy Jackson

Eu e Annabeth fomos ao cinema, já era mais do que hora do Nico tomar uma atitude. Sim, foi tudo meticulosamente planejado, eu e Annabeth sairíamos e Silena e Charles cuidariam de Josh. Nosso passeio foi super divertido, Annie estava vibrando pela conquista de Thalia, eu também para falar a verdade.

Tínhamos assistido duas sessões, chovia muito lá fora quando saímos da primeira então vimos outra. Eu dormi no meio do segundo filme e Annie está emburrada comigo até agora porque queria discutir o filme. Ela andava uns dez passos na minha frente nunca deixando eu me aproximar demais. Apesar de estar sendo ignorado (e isso, no caso, é ruim), não pude deixar de observar o quanto ela ficava fofa brava.

Estava andando a observando quando uma vitrine me chamou atenção com um box daqueles livros... As Crônicas de Gelo e Fogo. Pensei que talvez um presente dessa magnitude fosse agradar Annie (mais precisamente: sete livros gigantes e sem gravuras), ela tinha me contado uma parte da história que ela tinha visto na série, mas não tinha lido os livros ainda. Fiquei namorando os livros por algum tempo e quando voltei meus olhos para frente me deparei com alguns garotos falando com Annie, ela estava incomodada, dava para ver de longe. Fui rapidamente até lá e coloquei meu braço em volta de seus ombros.

—Tudo bem por aqui, amor? -Perguntei apertando ela, que mesmo que estivesse decidida a estar brava comigo, abraçou minha cintura e forçou um sorriso.

—Claro, claro. -Começamos a andar ignorando os rapazes que nos olhavam com divertimento (?), mas fomos parados por um braço que me segurou.

—Qual é cara?! Divide a moreninha aí. -Eu já estava roxo de raiva mas não iria brigar. -Perdeu a língua?

—Hey, porque não nos deixam em paz? -Cara que coisa mais idiota pra se falar, isso saiu de mim? Por favor Percy Jackson. Um dos caras estava TOCANDO Annabeth. -Tira a mão dela agora. -Falei e eles riram de mim. Já ia falar alguma coisa quando um soco me acertou bem no meio do rosto, caí no chão e começaram a me chutar. Podia sentir o gosto de sangue na minha boca e minha visão estava turva. Cadê os seguranças dessa espelunca? Pensei ficando tonto.

A última coisa que vi antes de ficar inconsciente foi minha namorada batendo neles.

Ela estava me defendendo. Palmas para mim.

POV Annabeth Chase

Depois dos seguranças terem chegado chamaram a equipe da enfermaria do shopping. Fui com ele que de vez enquanto murmurava palavras desconexas. Quando acordou realmente o fizeram lavar a boca que sangrava num corte interno-externo e deram gelo para os hematomas. Nos deixaram sair e ele ainda não falava comigo.

—Percy? Tá doendo muito? -Perguntei o fazendo sentar num banco. Ele não me respondeu. -Porque você está assim? -Perguntei segurando sua mão.

—Poxa Annie, que namorado terrível que sou. Nem pra defender minha namorada sirvo. -Respondeu observando os cubos de gelo no saco plástico que tinham lhe dado. Ele estava vermelho, estava com vergonha! Eu deixei Percy Jackson com vergonha! E comecei a rir, ele me olhou magoado e tratei de ajeitar.

—Isso não tem nada a ver Percy, eles eram quatro e você só um. E eu só consegui pará-los porque os seguranças chegaram logo depois, e fiz algumas aulas. -Lembrei que Clarisse e Thalia me ajudaram nessas aulas. Às vezes é bom morar com duas quase lutadoras de vale tudo. Ele sorriu fraco, não acreditara. -Qual é Percy? Tá tudo bem ok? Você tentou me defender e é isso que importa para mim. Você é o melhor namorado que eu podia querer. -Lhe beijei e ele finalmente correspondeu, pude o sentir sorrindo em meio ao beijo. Quando nos separamos ele sorriu, e eu como de costume me senti a pessoa mais feliz do mundo.

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Três meses de casais felizes depois...

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POV Thalia Grace

Feliz? Se eu estava feliz? Acho que essa palavra era muito pequena e vazia para tudo que eu andava sentindo esses últimos meses. Eu e Nico ainda éramos melhores amigos, o que fortalecia nosso namoro. Isso é tão estranho. Essa palavra: namoro. Depois de tanto tempo sozinha estar namorando é algo meio estranho, mas ao mesmo tempo incrível. Principalmente quando se trata de Nicolas di Ângelo.

Nossos amigos ainda estranhavam um pouco, o primeiro dia que aparecemos juntos, naquela segunda feira nublada foi o mais engraçado, com certeza. Silena e Annabeth surtaram, Percy e Charles nos parabenizaram com alguns ALELUIA! e Connor e Travis não acreditaram de imediato. Não posso culpá-los, eu mesma ainda estranho. Cada dia mais estávamos mais próximos, isso era incrível e assustador ao mesmo tempo. Josh adorou a notícia, ele ama Nico e eu posso ver isso, principalmente enquanto estão jogando videogame juntos. Nico também adora ele, talvez goste mais dele do que de mim até. Isso já gerou uma super discussão.

Mas voltando ao presente. Estávamos no pátio discutindo o que fazer no fim de semana, as nossas opções estavam entre acampamento, shopping ou nada mesmo, ah, mas Silena ainda queria que nos preparássemos para o baile que teria no fim de semana que viria. Sério, como assim se preparar? E ainda, num fim de semana inteiro? Sério, essa garota tem problemas.

—Acho que deveríamos ficar e estudar, eu tenho pelo menos duas provas semana que vem. -Annie comentou e vi mais de três entre nós revirando os olhos.

—Eu voto em acampamento. -Connor levantou a mão e Travis o seguiu, Charles tentou levantar a mão também, mas Silena segurou firmemente as duas o olhando feio, Percy seguiu os garotos e Annie o fitou incrédula. Eu realmente não estava preocupada com isso, desde que mudei para a faculdade de fotografia (sim! Nico me convenceu... Malditos olhinhos de cachorro que caiu da mudança!) estava tudo indo muito bem nos estudos, descobri que me dava bem nisso. E pela primeira vez em muitos anos de escola, eu era a melhor da turma.

—Eu vou para qualquer lugar que Thalia esteja. -Nico murmurou me abraçando por trás, as meninas soltaram alguns "awn" e os garotos riram da nossa cara.

—Cala a boca di Ângelo. -Murmurei virando minha cabeça e lhe dando um selinho envergonhado.

Continuamos a discutir o que fazer quando uma garota apareceu chorando do nada e parou na frente de Charles, olhei meio que wft?! para Annabeth e ela fez "Bianca" com os lábios. Me apavorei e der repente o ar parecia mais carregado.

—Eu estou grávida Charles. Três meses. E você é o pai. -Gritou e todos parecemos chocados, Silena saiu correndo.

Acho que qualquer plano para o fim de semana estava cancelado.

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