Sinceramente, eu não entendia tudo aquilo. Blocos descendo rampas – ou melhor, “planos inclinados” – força peso, força normal, decomposição da força peso em Px e Py, a roldana se encontra no topo, as massas são desprezíveis, qual é o seno e o cosseno de blá blá bla... Você não concorda que eu tenho razão em detestar física?

Astória entrou na sala às risadinhas com suas “amigas” e o Potter chegou logo atrás de Gina, esta que evitava olhar para mim mais do que dois segundos seguidos. Ron estava com Lilá pendurada no pescoço e parecia não aguentar mais aquela garota. A propósito, ao contrário de Gina, Ron fazia questão de olhar para mim da maneira mais incomodada possível.

É, acho que deu certo o lance do ciúme com a Granger.

– E aí, Weasley – eu o cumprimentei enquanto ele seguia para o fundo da sala – Por que essa cara, ruivão?

Draco, que havia acabado de chegar, sentou à mesa as minhas costas. Assim que Ron voltava o seu caminho até mim, Draco colocou o pé e ele tropeçou. Ron não chegou a cair no chão, mas foi por pouco.

– Ele está tão distraído por causa da Granger que até perdeu o equilíbrio! – brincou Zabini, e a aula entrou em risos.

Ron, que parecia mais furioso a cada segundo, veio para cima de mim com tudo e segurou a gola da minha camisa. Draco levantou da cadeira, alarmado.

– Está achando engraçado, Nott? – o Weasley apontou o dedo na minha cara, apertando mais ainda os dedos no meu pescoço.

– E não era para achar? – eu o provoquei mais um pouco.

– Ron, vai se sentar no seu lugar – gritou Potter, mas o ruivo não lhe deu ouvidos.

Ele apertava cada vez mais a gola da minha camisa, enquanto eu sorria do jeito mais provocante possível.

– Quer parar de dar uma de valentão metido a besta e sentar logo, Ron? – Gina ralhou com ele, e então ele pareceu ouvir.

– Eu quebro você – ele sussurrou para mim, e então foi ao fundo da sala.

Lilá parecia ligeiramente incomodada por Ron não tê-la defendido como sua namorada, mas não disse nada a ele. Pegou um tubinho de liquid paper no estojo e pintou a ponta das unhas.

Só podia ser a Lilá mesmo.

– Bom dia, classe – a professora Vector entrou na sala, e todos se calaram.

Ela fechou a porta e começou a organizar o material sobre a mesa. De todas as professoras de Hogwarts, a professora Vector era a mais gostosa. Ela não era exatamente bonita, mas tinha uma bunda enorme e peitos grandes. Ela sempre usava decotes e calças apertadas, o que era algo que chamava bastante atenção.

Potter passou um bilhetinho para Gina, o que me deixou mais incomodado do que eu esperava. Enquanto Gina estava lendo, Potter deu uma cutucada em Ron e os dois olharam para a bunda da professora, que tinha se abaixado para pegar um lápis no chão.

Voltei meus olhos para Gina, que estava sorrindo e dobrando o bilhete novamente. Potter disfarçou seu olhar para Vector e deu um sorriso “amável” para a ruiva.

Francamente, isso só podia ser piada. Eu mais parecia uma lata de refrigerante que alguém havia agitado sem parar. Mais um olhar para esse idiota seria suficiente para que eu explodisse e vazasse por toda a sala. A pressão dentro de mim era tão grande que, sinceramente, eu me surpreendia por ainda estar sentado no meu lugar, e não dando um montão de socos naquele imbecil.

Fixei meu olhar em Gina, e então ela olhou para mim. Eu sabia que ela estava irritada comigo, por isso resolvi ficar quieto. Ao mesmo tempo que isso me parecia um bom sinal, também fiquei me sentindo mal por fazê-la ficar desse jeito. Quer dizer, ela gosta do Potter, não?

Pois que fique com ele, então! Fique com ele até que a dispense por uma professora peituda.

A ruiva revirou os olhos e voltou a olhar para frente. Reabriu o bilhetinho do Potter e o leu de novo, o que me deixou com ainda mais raiva.

Alguém bateu na porta e vi o rosto da Granger no vidro. Vector foi até lá e deu passagem para a garota entrar.

– Senhorita Granger... atrasada? - a professora avaliou a situação por um momento - Tudo bem, entre. Sei que isso não é de seu feitio, por isso vou permitir que assista minha aula. Mas que não aconteça de novo, certo?

A garota assentiu com a cabeça e murmurou um “Sim senhora”, escolheu um lugar na fila da frente e sentou-se.

Certo, isso era no mínimo estranho. Nunca vi Granger se atrasar para nada na vida. Como era possível que chegasse quase meia hora atrasada para uma aula de física?

– Por acaso seu beijo tem superpoderes? – Malfoy se inclinou para frente até conseguir cochichar no meu ouvido. – Transforma as mais certinhas em atrevidas?

Eu me limitei a rir.

– Ou quem sabe as faz perder a noção do tempo? – ele continuou, brincando.

– Bem que você queria tirar uma casquinha dessa nova atrevida, não? – eu sussurrei de volta.

– Tá maluco? – ele arregalou os olhos e deu um tapa na minha orelha – Ela ainda é a Granger.

– E você ainda é maluco por ela, oras – eu retruquei, e senti um chute de Malfoy acertar minha canela por baixo da mesa.

– Maluco só pode estar você – ele resmungou, irritado – Até parece. Eu e a Granger? – ele riu debochado – Que imaginação fértil, Nott.

– Se você está dizendo...

Eu tinha quase certeza que todo esse ódio que ele dizia ter por ela era na verdade outra coisa. Eu vivia o pegando olhando para ela, fosse na aula ou nos períodos livres. Às vezes, quando andávamos juntos, ele fazia questão de topar com ela no corredor, improvisava piadinhas para chamar sua atenção e até dizia seguidamente: quando foi que a Granger ficou gostosa desse jeito?

Eu sabia que, na verdade, ele dizia “gostosa” para não chamar nossa atenção além da conta. Obviamente, se ele dissesse “linda”, iríamos desconfiar na hora.

Draco é um cara esperto, não se contenta apenas com curvas, bocas e futilidades. Bom, ainda bem que para a alegria dele, eu também sou. Já havia sacado esse amor dele há um tempo, mas não fui trouxa o suficiente para sair contando para todo mundo.

Se bem que... droga. Eu fui trouxa o suficiente para fingir ter ficado com ela, mesmo sabendo de tudo. Bom, não foi tão ruim assim. Nós nem ficamos de verdade!

– Ela beija bem? – ele perguntou a mim, o que me fez sorrir de lado.

– Por que você não descobre sozinho? – eu virei a cabeça para olhá-lo.

Ele parou de escrever as equações no seu caderno e ficou me encarando, aquele olhar típico de Draco. Ficou assim por uns segundos e, então, a sua ficha caiu. Ele sabia que eu havia descoberto seu amor pela sabe-tudo.