[Lonely Boy – The Black Keys]

Certo. Isso não podia estar mais errado.

Draco me encarava nervoso e não parava de tremer a perna de cima para baixo em um ritmo cada vez mais rápido.

– Onde elas estão?

– Relaxe, cara. – eu me acomodei no banco e ajeitei os cotovelos sobre a mesa. – São garotas. É normal que cheguem atrasadas. E pare com essa perna, criatura. Você já está me deixando nervoso com isso.

Estávamos esperando por Hermione e uma amiga dela no boliche, em uma mesinha mais afastada que dava uma vista completa das pistas. O lugar não estava exatamente cheio, então achei normal não ter visto nenhum rosto conhecido até então.

Não sei como convenci Hermione a vir em um encontro duplo comigo e Draco. Bom, talvez eu não tenha deixado claro que Draco viria, mas isso não fazia muita diferença. Ok, talvez fizesse. E muita.

Só disse a ela que, nessa quarta-feira entediante, depois da aula, seria legal fazermos alguma coisa. Dei a ideia do boliche no shopping e ela achou interessante. Eu disse que iria levar um amigo meu, e que ela trouxesse alguém também.

– Quem será que ela vai trazer, hein? – perguntou Draco, passando a mão pela nuca.

– Não tenho a menor ideia. Só espero que seja alguém legal. Estou cansado dessas garotas que só falam mi mi mi.

Draco riu um pouquinho, balançando a cabeça. Ele ficou batucando com os dedos sobre a mesa no ritmo de uma musiquinha que tocava de fundo nas pistas de boliche. Seus dedos tremiam.

– Tudo bem, preste atenção – eu me inclinei um pouco sobre a mesa, para que ninguém que estivesse por perto ficasse escutando. Ele fez o mesmo, com os ouvidos atentos. – Elas vão chegar a qualquer minuto. Pare com essa coisa de nervosismo. Elas são garotas, não ursos polares famintos! Também vão estar um pouco nervosas. Elas sempre ficam.

– E como você sabe disso? – ele arqueou as sobrancelhas.

– Eu entendo de garotas, Malfoy. – isso lhe fez revirar os olhos e balançar de leve a cabeça em negativa. – Agora me escute. Não caia matando em cima dela. Ela vai querer fugir.

– Isso ela vai fazer assim que ver que eu sou o seu amigo. – ele estalou a língua e voltou a batucar na mesa. – Ela me odeia, Nott. Ainda mais agora.

– Cale a boca e me escute – eu bati em suas mãos, fazendo-as parar quietas sobre a mesa. – Ela está confusa, e vai ficar ainda mais quando vir você aqui. O que você tem de fazer é tentar levar tudo numa boa.

Ele riu pelo nariz, fazendo descaso.

– Numa boa? Há. Numa boa. Ela vai é me dar uns tapas numa boa.

– Isso se você forçar a barra. – eu alertei. – Não vou mentir para você, Draco. Ela pode estar com raiva, mas está muito mais chateada do que qualquer outra coisa. O que você tem que fazer é ser sutil. Olhe para ela, de primeira um pouco menos, e depois vá aumentando a duração e a intensidade dos olhares.

Ele ficou me olhando, parecendo não ter entendido direito.

– Tudo bem. – ele acabou dizendo. – Mas como eu faço pra deixar o olhar mais intenso?

Tive vontade de gritar. Como é que ele conseguiu ficar com tantas meninas até hoje, meu Deus?

– Foque nela, Draco. Isso vai dar a entender que “você só tem olhos para ela”, sacou? Tente inclinar um pouco a cabeça para o lado, só um pouquinho – acrescentei quando ele virou a dele demais. – Isso. Bem assim. E sorria. Não, não desse jeito – eu neguei quando ele sorriu mostrando os dentes. – Assim é demais. Sorria minimamente, de boca fechada. Um sorriso lateral, sabe?

– Assim? – ele inclinou a cabeça um pouquinho para a direita, focou o olhar no meu e sorriu com o canto dos lábios.

– Isso. Desse jeito mesmo. Agora pode parar porque isso está ficando muito gay.

Ele riu, e notei que já estava menos nervoso do que antes. Certo, ótimo. Ele relaxa quando entramos em um assunto mais descontraído.

– Ah, outra coisa legal – eu me lembrei de última hora. – Depois que sairmos do boliche, com certeza vamos comer alguma coisa. Peça o mesmo que ela quando fizermos os pedidos.

– Por que eu faria isso? – ele estreitou os olhos, baixando as sobrancelhas.

– Por que assim você toma a iniciativa de contato, mas ao mesmo tempo não torna tudo sufocante. Faz parecer que é algo do momento, sem precisar de desculpas para justificar. Afinal, por que ela acharia estranho se você gostasse de pizza de Peperoni? – eu dei de ombros, sorrindo de um jeito óbvio, mas ele pareceu ter ficado nervoso de novo. – Está me entendendo?

– Ahã – disse ele, e voltou a mexer com a perna.

– Draco, pare com isso. Você já ficou com outras garotas antes. Você também tem seus meios. E a propósito, não a beije hoje.

– Certo. Isso vai assustá-la. Já entendi.

Sorri, satisfeito. Acho que tudo vai ficar bem, pelo menos dentro do controle.

Uma garota passou aos risos pela nossa mesa. Só a notei quando ela já havia passado. E ela era ruiva.

Fiquei olhando para ela, pensando que talvez possa ser Gina, mas alguém a chamou com um grito, e descubri que o seu nome era Janne. Nada de Gina.

– Ah meu Deus – Draco inflou o peito de repente, ficando em uma postura exageradamente reta. – Elas chegaram.

Meio atordoado, eu me forcei a prestar atenção no que estava acontecendo.

– Tudo bem, elas estão aqui. Agora seria legal se você voltasse a respirar. E pare de ficar ereto desse jeito. Relaxe esses ombros, pelo amor de Deus!

Ele tentou, mas acabou ficando desengonçado. Dei um chute nele por baixo na mesa e ele me lançou um olhar fulminante. E funcionou! Ele voltou à postura normal.

Meu celular vibrou. Tirei-o do bolso no momento em que me virei para olhar para Hermione. Ela havia trazido uma garota loira, que estava de costas para nós no momento, conversando com um cara atrás do balcão. Conheci-o como Neville Longbottom, que se não me engano, sentava ao meu lado na aula de botânica.

Ainda não entendo porque faço aula de botânica. Que perda de tempo.

Abri a mensagem. Era de Hermione, claro.

–

Não acredito que você trouxe, justamente, ELE!

–

Ok, ela viu o Draco. Seu olhar era raivoso para mim, mas eu não estava esperando algo melhor do que isso.

– Venha, levante. Nós vamos até elas. – eu avisei para Draco, e ele me seguiu até as duas.

Hermione me fuzilava com o olhar, mas mesmo assim eu a abracei.

– Eu vou matar você – ela sussurrou no meu ouvido, fazendo uma voz amigável.

– É bom te ver também – eu disse de volta, soltando-a com um sorriso.

Draco estava parado logo atrás de mim. Não disse a ele o que fazer em um caso desses, mas creio que ele consiga se virar.

E ele conseguiu.

Draco não a abraçou, é obvio. O que ele fez foi algo mais introvertido, mais seguro. Ele relaxou os ombros, como eu disse, colocou as mãos nos bolsos da calça e acenou com a cabeça, dizendo um tímido:

– Oi.

Hermione ficou encabulada, o que me fez sorrir. Ela agarrou forte sua bolsa, como se precisasse se segurar em alguma coisa, e então respondeu.

– Oi.

Os dois ficaram se olhando por algum tempo. Hermione estava desafiando-o, e Draco havia entrando de mãos à mostra no seu jogo.

– Quem veio com você? – eu perguntei.

– Ahn... como? – ela confundiu-se, suas bochechas foram ficando de um tom escarlate - Ah sim, claro. Eu trouxe a Luna. – ela deu alguns passos até tocar no braço da loira que conversa com Neville. – Ei Luna, venha aqui um instante.

– Foi ótimo encontrar você, Neville – disse a loira, acenando para ele enquanto vinha com Hermione até nós. – Você sabia que Neville trabalha aqui? Isso é demais!

– Luna – disse Hermione. – Acho que você já os conhece. Drac... – ela limpou a garganta ao se atrapalhar. - Quero dizer... Malfoy e Nott.

– Oi Draco, eu já conheço você – Luna soltou um oizinho com a mão.

Draco acenou para ela de volta, sorrindo mais abertamente.

– E você – ela olhou pra mim com seus grandes e redondos olhos azuis – Acho que nunca falei contigo. Sou Luna Lovegood, prazer.

Estendi a mão e apertei a dela. Era fria e um pouco úmida. Sorri, sem motivo aparente. Luna parecia ser uma pessoa legal.

– Theodore Nott. Sonserino e sua dupla no boliche, hoje.

Hermione arregalou os olhos. Ela olhou discretamente para Draco, que também estava tão surpreso quanto ela.

– Corvinal – respondeu Luna, soltando sua mão da minha. – E então, já podemos pegar nossos sapatos com Neville?

– - -

[Want U Back – Cher Lloyd]

Luna era boa no boliche.

Estávamos a uns bons pontos de diferença de Draco e Hermione. A loira pegou uma bola roxa e se dirigiu para a pista. Preparou-se para jogar e, então, parou.

– É bom vocês começarem a trabalhar em equipe se quiserem vencer, Dramione!

Eu ri tão alto que até Neville escutou. Chamá-los de Dramione fez com que eles ficassem totalmente envergonhados.

– Vamos lá, Luna! – eu gritei em apoio. – Ei! Nós podemos ser Theoluna!

– Ou Lunodore! – ela gritou de volta.

Rindo, ela acertou a bola nos dedos e jogou-a na pista. Com uma rapidez impressionante, ela derrubou oito dos dez pinos.

Luna fez uma reverência e pegou outra bola, desta vez verde-limão. Enquanto ela jogava, dei uma olhada em Draco e Hermione. Ela estava sentada e notei o esforço que fazia para não ficar olhando para ele. Já Draco estava encostado na mesa, bem ao lado de Hermione, e prestava atenção na jogada de Luna.

Ótimo, ele relaxou. Agora o problema é com ela.

Luna acabou jogando forte demais e a bola foi para uma das canaletas.

– Oh não – eu fingi uma tristeza incomum.

– Desculpe decepcioná-lo – Luna veio até mim de cabeça baixa. – Eu joguei muito mal nessa.

Desatei a rir.

– Que nada, você foi ótima! Nem eu teria acertado aqueles dois pinos bobos lá do canto.

Ela riu também e começou a prender seu cabelo loiro em um coque meio solto no alto da cabeça, o que me fez ver o quão simples ela era. Simples e divertida.

Nada de mi mi mi.

– Tudo bem, vamos lá! – ela gritou para Hermione – Mostre seu poder feminino, garota!

– Essa eu quero ver – disse o Draco, cruzando os braços na frente do peito.

Hermione aceitou o desafio. Levantou decidida, deixando a bolsa em cima da mesa, e andou até onde ficavam as bolas coloridas. Pegou uma amarela e foi até a pista. Olhou para Draco, como que o desafiando de novo, e jogou a bola.

E quase foi junto com ela para o meio da pista.

Comecei a rir quase que descontroladamente, assim como Luna. Batemos palmas para Hermione, isso até notarmos que sua bola conseguiu derrubar todos os pinos.

Draco, impressionado, andou até ela e a ajudou a levantar. Enquanto levantava, ela quase cai de novo, e então se segurou completamente nos braços de Draco e até soltou um gritinho. Os dois começaram a rir também.

– Eu não sabia dessa manha. – confessou Draco, quando eles voltam até nós esbanjando a vitória. – Cair e fazer um strike ao mesmo tempo? Isso é inédito.

– Eu tenho meus momentos – Hermione levantou um ombro e baixou o outro, ficando em uma pose engraçada.

Olhei para Luna e ela entendeu no mesmo momento o que estava pensando.

Ainda tem muito que rolar com esses dois.

Jogamos mais um pouco. Draco tentou imitar o strike de Hermione e acabou caindo pior do que ela. Luna e eu fizemos uma dancinha engraçada quando conseguimos dois strikes seguidos. Hermione jogou um dos arremessos para as canaletas. Draco ralhou com ela. Ela ralhou com Draco. Eu e Luna nos olhamos de novo. E seguiu-se assim, até que ficamos cansados de jogar.

– E Lunodore vence com uma diferença esmagadora! – Eu comemorei, girando Luna no colo enquanto ela gritava um uhul nada discreto.

– Também não precisa jogar na cara – reclamou Draco.

– Vocês têm é que treinar para a próxima vez – disse Luna, enquanto devolvíamos os sapatos para Neville. – Dramione perdeu! Você viu, Neville?

– Ah, claro – diss ele, surpreso com a pergunta. – Foi mesmo sensacional.

Luna sorriu para ele, dando-lhe seus sapatos. Ele pegou de sua mão um pouco desconcertado, guardou-os e sorriu de volta.

Assim que fomos para a praça de alimentação, notei como os olhos de Luna brilhavam. Draco estava olhando para Hermione, mas ela estava distraída, olhando para algumas vitrines ali por perto.

– Ai, meu pé – eu me apoiei em Luna, que me segurou como se eu estivesse, de fato, com uma dor verdadeira.

– Você tropeçou? – ela perguntou, levando-me para a primeira mesa de quatro lugares que encontrara.

– Não sei, mas está doendo – eu me sentei, fazendo caretas.

– Vou ligar para a ambulância – disse Hermione, pegando o celular da bolsa. Como ela não achou de imediato, Draco ofereceu o seu para ela.

– Não, não precisa – eu disse, meio desesperado por aquilo tudo. – Só devo ter torcido.

Os três ficaram me olhando, preocupados.

– É sério. Isso já vai passar.

Vendo que eles continuavam com aquelas caras espantadas, eu tratei de continuar com meu plano.

- Luna, você fica aqui comigo – eu a puxei para sentar do meu lado. – E vocês dois – eu apontei para Dramione. – Vão buscar nosso lanche.

Draco sorriu, entendendo tudo. Já Hermione nem notou nada, só voltou a fechar a bolsa.

– Tem certeza? – ela perguntou. Eu fiz que sim com a cabeça. - Tudo bem, o que vocês querem? – indagou ela.

Assim que os dois saíram, Luna ficou me olhando. E não de um jeito oferecido, se você está pensando desse jeito, mas sim de um jeito curioso.

– Você não torceu o pé. – disse ela, desvendando a verdade.

– Não. E você é apaixonada pelo Neville – eu respondi, mudando o rumo da conversa para ela.

Luna corou.

– De onde você tirou isso?

– Seus olhos estão brilhando, Luninha. Não tem como esconder.

– Não estão nada! – disse ela, contrariando.

– Estão sim!

Ela fechou os olhos, e então disse:

– Agora não estão!

Ri até que ela voltasse a abrir os olhos. Conversamos sobre Draco e Hermione - quando contei tudo o que realmente estava acontecendo -, e também sobre os seus sentimentos por Neville.

– Uma vez, quando a aula de botânica tinha acabado – disse ela, com um sorriso bobo no rosto – Ele deixou uma flor em cima da minha mesa antes de sair da sala.

– Quem deixou uma flor? – perguntou Hermione, chegando com uma bandeja na mão.

– Ah, um cara aí – disse Luna, com vergonha.

– Luna estava me contando de um filme que ela viu – eu a acobertei. Ela sorriu para mim, agradecida.

– Que filme? – questionou Draco, surgindo com outras duas bandejas.

– É isso que eu não sei – disse Luna, ajeitando os lanches sobre a mesa. – Estava falando uma cena para o Nott, para ver se ele conhecia o nome. Assisti ontem e não consigo me lembrar do título!

Que ótima atriz!

– O que é uma vergonha – disse Hermione, apontando para Luna com uma batata frita. – Logo você, do departamento de teatro, esquecendo nomes de filmes?

Um cabelo ruivo passou por nós e eu quase tive uma síncope. Uma garota, de cabelos lisos, com uma bola de futebol debaixo do braço. Seria Gina?

Fiquei olhando, obcecado para aquela menina. Meu peito apertava e eu não sabia se queria que fosse ela.

Por que ela não vira para cá, hein?

Como se ouvisse meus pensamentos, a garota ruiva virou-se para trás e sorriu ao ver um cara moreno. Não era Gina.

E então eles se beijaram.

Olhei para a sombra dos dois, projetada na parede mais próxima, e fiquei imaginando como seria se fosse Gina e eu no lugar deles.

– Algum problema, Theo? – Luna pousou sua mão sobre meu pulso.

Eu tinha que parar com isso. Essa coisa de ver Gina em todo o lugar em que eu vou está me deixando transtornado. O mesmo de ficar pensando em beijá-la.

PRECISO PARAR COM ISSO!

JÁ!

– Não. – eu sorri para Luna, pegando meu sanduíche da bandeja. – Está tudo bem.

Começamos a comer e notei que Draco fez o que eu disse. Ele e Hermione estavam com o mesmo hambúrguer. Até os braços dos dois estavam colados, sem problema algum.

Draco, com toda a certeza, disse alguma coisa para ela, algo sobre o que realmente aconteceu naquela festa. Isso é certo.

Luna e Hermione entraram em uma conversa sobre o show de talentos desse ano e então pude olhar para Draco sem me preocupar em ser discreto.

Ele me lançou um olhar cúmplice, o qual eu retribuí com uma rápida piscada de olho.

Deu tudo certo.

Por enquanto.