Fire escrita por PunkFreak


Capítulo 3
First Chapter - New Moon, Short Night... (part 1)


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo! Estava vendo que nunca mais conseguia publicá-lo, devo ter andando muito sumida não acham? Mas bem, espero que tenha ficado bom. Isto é um sonho, assim que espero que não tenha ficado muito confuso.



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Finalmente cheguei a casa, acho que não conseguia aguentar mais tempo de aulas com aquele cara na minha frente. Não sei porquê mas já o odeio, não sei como é possível sentir algo tão intenso por uma pessoa quando se acaba de conhecê-la.

Entrei, tirei os meus ténis à entrada e subi as escadas correndo, ainda com a respiração ofegante por causa da corrida da escola até casa. Abri a porta do meu quarto, atirei a mochila para um canto qualquer e peguei o meu mp3. Pus a tocar uma playlist de Slipknot, talvez o barulho conseguisse me fazer esquecer do dia de hoje, e de ontem também. Já agora punha no máximo, para me esquecer da minha vida toda até...

O sono começou a pesar-me na visão. É, eu não sei se é possível adormecer ouvindo Slipknot mas era o que estava acontecendo nesse momento. Os meus olhos perderam o foco, na verdade tudo foi desfocando até os meus olhos finalmente se fecharem.

Sonho ON

Acordei numa pequena cama de palha, dentro de um quarto também pequeno. Com paredes revestidas a madeira, com alguns buracos pequenos por onde o tijolo se tornavava visível, tudo à minha volta tinha um aspeto simples e rústico. Não reconheci nada daquele local, quase podia jurar que esta era a China antiga pelas pequenas estatuetas que envolviam o quarto com a sua expressão antiga e cansada. Quase, se não soubesse que tudo isto era demasiado estranho para ser real.

Me levantei, sentido as minhas costas lantejarem a cada passo. Dirigi-me à porta, o único elemento do quarto feito de madeira verdadeira, e a abri. Este quarto dava passagem para uma sala pequena, porém muito mais bem mobilada que o quarto de anteriormente. Apreciei cada detalhe daquela casa antes de finalmente sair e aí, fiquei completamente chocada e maravilhada.

Não era só a casa que parecia vinda de um conto de fadas, tudo à minha volta tinha um aspeto mágico e irreal, era demasiado belo para ser verdade.

Eu localizava-me num jardim enorme, com a relva mais verde que eu alguma vez vira. Sakuras, sem flor, cobriam grande parte do jardim, quase metade. Era uma mistura de estações tal que haviam árvores de fruto e plantas floridas, com um tempo ameno que nos envolvia e fazia flutuar no ar. Contrastando com a paisagem exuberante estavam as pessoas, andando de um lado para o outro, com correntes presas às mãos, puxadas por homens altos e mal-encarados.

– Hey, você devería ir conosco - estremeci quando um desses homens me pegou pelo braço e me puxou com força, me juntando com os outros aparentes prisioneiros. O tom com que ele me falava me assustou, mas ou mesmo tempo me fez questionar uma série de coisas. A principal pergunta que reinava na minha cabeça era: como ele pode falar fluentemente japonês com este cenário tipicamente chinês à nossa volta?

As minhas questões pessoais foram interrompidas: estava sendo puxada. Não percebi para onde, apenas estava estava caminhando para a mesma direção que as outras pessoas, com a pequena diferença de eu não estar acorrentada.

– Para onde eu vou? - perguntei, pronunciando uma das principais dúvidas que a minha cabeça suportava. Não obtive sequer uma resposta, era como se todos me pudessem fazer perguntas ou falar comigo, mas eu não pudesse dizer sequer uma palavra.

– Não converse com eles, ojou-san. Eles não estão "programados" para a ouvir - uma voz feminina respondeu às minhas dúvidas. Olhei para onde me parecia que vinha a voz. Era uma garota de cabelos pretos e olhos da mesma cor, com uma voz melancólica. Estava acorrentada e era puxada, tal como eu, mas com correntes presas às suas mãos.

– Não converse você com ela, garota. Ela é apenas mais uma prisioneira, o que a leva a pensar que é de confiança? - um garoto se dirigiu à menina que conversava comigo. Ele era alto, tinha cabelos ruivos compridos despenteados, presos, e olhos verdes faiscantes que contrastavam com a sua expressão aborrecida. Usava uma roupa simples. Não estava preso com correntes, caminhava apenas, na mesma direção que eu e todos os outros. A sua beleza subrenatural me surpreendeu: não sei como uma pessoa assustadora podería ser bonita, mas ele era de um geito que apenas ele podia ser.

Assim que percebeu que eu o encarava, me lançou um olhar tão gélido que quase caí. E tinha caido, de medo, se não estivesse quase sendo arrastada por um brutamontes. Desviei imediatamente o olhar e pareceu-me que ele havia feito o mesmo, voltando à sua expressão aborrecida com contranstantes olhos vibrantes.

– Não liga para ele, é só um mandão que está aqui para nos vigiar. Não só a nós, mas a todos os escravos que estão aqui - a mesma garota de cabelos negros se pronunciou, lançando uma indireta e falando alto o suficiente para o ruivo a ouvisse. Recebeu, como resposta, uma onda de desprezo. Ele limitava-se a continuar a caminhar, com o olhar vibrante, porém não focado em nada e vazio por dentro.

Fiquei calada e quieta por dentro. Todas estas informações atabalhoadas estavam deixando a minha mente completamente exausta. O meu olhar voltou a fixar-se no garoto com cabelos de fogo, que me intrigava um pouco. Como a sua expressão podia ser tão vazia e tão fria?

– Pode parar de olhar para mim, novata? Isso está me deixando incomodado - ele falou, pela primeira vez se dirigindo a mim. Como ele reparou que eu o olhava se o seu olhar nem sequer se moveu?

Vi um sorrisinho aparecer no seu rosto. Era um sorrisinho de canto, mas era um sorriso. Voltei a encará-lo e a apreciar o seu rosto. Já não estava tão duro quanto antes, agora estava mais iluminado e vivo. Soltou uma pequena gargalhada contida, talvez face à minha reação. Voltei a desviar o olhar. Agora era eu que estava ficando incomodada.

– Chegamos - ele falou. Não me atrevi a olhar o seu rosto mais uma vez, pela sua voz ele já tinha voltado ao gelo anterior. Tive uma sensação de liberdade quando o meu braço finalmente foi solto e parei de ser puxada como se fosse uma mercadoria. Caminhei numa direção que nem eu sabia qual era, para onde os outros iam. A garota correu para mim e me abraçou como se fosse uma criança pequena, algo completamente inesperado dada a sua característica marcante: a melancolia que ela própria mostrara enteriormente.

– Ficámos no mesmo grupo! Ótimo, finalmente alguém como eu! Agora já não sou a única...- ela disse, visívelmente entusiasmada. Não entendi, o garoto ruivo também tinha seguido pelo mesmo caminho que nós, assim que ela não iría ser a "única" naquele grupo, ou seja lá do que se trate.

Assim que reparei que à minha volta apenas haviam homens, entendi aquilo que ela tinha dito. Ela não disse a "única" no sentido de estar sozinha, disse no sentido de ser a única garota no meio de tantos homens. Ouvi uns murmúrios vindos dos cantos principais da sala ampla onde nos encontrávamos, provavelmente o motivo dos murmúrios e conversas éramos nós as duas, as intrusas.

– O que é isto? O que nós estamos a fazer aqui? - perguntei, com a intenção de matar, ou pelo menos atenuar, a minha curiosidade. A garota respondeu-me num sussurro, como se não fosse permitido falar naquele lugar.

– Você foi escolhida para pertencer a este grupo, tal como eu. Não é muito comum haverem mulheres a entrarem na guerra, mas parece que é o nosso destino - a melancolia voltou a instalar-se nela, tal como na primeira vez que conversámos. Aquela estranha bipolaridade assustava-me, como assim nós íamos entrar na guerra? E qual guerra, deixa-me acrescentar?

– A sua aldeia acabou de ser submetida, não lembra? Esta agora é uma colónia de Chang'an, vocês agora são como escravos no nosso país - o garoto falou, com os olhos verdes a faiscarem, enfatizando na palavra "nosso" que nós não pertencíamos a esse grupo. Ele pronunciou as palavras com um cuidado extremo, como se estivesse contando uma história a uma criança pequena com problemas mentais graves.

Esboçei um sorriso arrogante. A sua expressão voltou a gelar, como em resposta à minha reação.

– Escolham uma arma para praticar - disse ele, falando para mim e para a outra garota, depois de revirar os olhos. Olhámos para a quase multidão de homens que se dirigiam ao local onde uma diversidade de armas estavam pousadas. Eu e a garota melancólica nos encarámos, nos dirigindo em seguida ao monte de armas. Tirei uma katana e, quando a abri, todos me olharam assustados e chocados ao mesmo tempo. Preparei-me para perguntar à garota o que se estava a passar, mas esta tinha a mesma reação que todos os outros presentes.

Encarei o garoto de cabelos escarlates, o único que parecia mais normal no meio de todos os outros. Este diriiu-me um sorriso sádico e, quando o fez, todos desviaram o olhar de mim para o encarar, ainda mais aterrorizados. Foi caminhando até mim, enquanto soltava uma gargalhada rouca. Tirou-me a katana das mãos e a apontou a mim. Abri a boca de espanto e de medo: que diabos se tinha passado?

– Porque você pegou essa katana? - ele disse, parando a sua gargalhada para me encarar. O sorriso sádico manteve-se, mas os olhos encheram-se de uma nebrina grossa e verde. Já não conseguia ver o fogo que se escondia atrás dessa cortina, era como se uma nuvem tivesse feito as chamas apagarem-se. Tentei responder, mas a voz não saía. Eu estava demasiado assustada para soltar uma resposta compreensível.

– Você sabe que não se deve brincar com o fogo, ou não? - ele disse, a sua voz parecia coberta de pontas afiadas de gelo, que me picavam em toda a extensão do meu corpo e que roubavam a minha voz. Num movimento brusco, cortou a minha mão, mais exatamente os meus dedos. Embora eu soubesse que ele apenas me fizera um corte, parecia que tinha cortado os meus dedos ao meio. Não, pior: parecia que tinha cortado a minha mão e tacado fogo nela, tal era a dor que estava a sentir.

– Sim - disse, tremendo por dentro. No meu interior compreendi que tinha que responder às perguntas dele, tudo o que ele me peruntasse tinha que ser respondido, por mais absurda que fosse a questão. Umas lágrimas escorreram sem a minha autorização, tal como sempre que eu me sentia irritada ou com medo. Sentia uma certa raiva pelo facto de estar tão submissa a alguém.


Não entendo o que se está a passar comigo.


New Moon, Short Night - to be continued...



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Notas finais do capítulo

Só a primeira parte do capítulo. Espero que não tenha ficado confuso, como isto é um sonho... Mereço reviews?