Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Dei um bocejo longo e me acomodei melhor na cama. Deitado do meu lado, de ponta cabeça, Jacob refletia sobre tudo que falamos. Seu rosto, sempre composto numa máscara leve e sorridente, permanecia sombrio e inquieto, sua testa franzida e seus lábios apertados.

         -Bem, não sei o que dizer – ele soltou – Quer dizer, as coisas não mudaram, só as posições dos oponentes.

         -Mais ou menos – concordei – O Partido é o lado ruim da equação, e não os anarquistas.

         -Isso é loucura Isabella– ele ainda tinha dificuldade de compreender tudo.

         -Eu sei, mas ainda assim é verdade.

         Jacob bufou, exasperado, seu cabelo estava numa desordem monumental, jogado para todos os lados possíveis e imagináveis.

         -Isabella, há anos o Partido está o poder, como é que ninguém sabe da verdade? – ele indagou.

         Eu tinha me feito aquela pergunta também, e várias vezes. Não sabia a resposta exata, apenas aquela que serviu para mim.

         -As pessoas, quer dizer, algumas pessoas, como os Senadores mais importantes, Aro Volturi, as grandes patentes do exército, creio que eles sabem o que está acontecendo, afinal ele dirigem isso, as pessoas mais pobres devem saber disso também, mas o medo de ir para prisão ou para um campo de trabalho forçado as cala. Lembra quando nós estudamos o golpe militar que aconteceu no passado?

         -Lembro.

         -Nosso professor comentou uma coisa muito interessante: depois que o golpe terminou, havia gente que jurava de pé junto que nunca houve tortura ou repressão durante a ditadura…

         -Porque essas pessoas apoiavam os ditadores e acreditavam no que eles pregavam – Jacob completou lembrando daquelas palavras.

         -Acho que é isso que está acontecendo, é como o golpe do passado, nós não soubemos de nada porque nós estamos do lado do Partido, nós defendemos o Partido, gostamos de sua ideologia e o apoiamos, somos a classe rica desse país, detemos todo o poder financeiro, e somos auxiliados pelo Partido. Não tem por que acreditar em campos de trabalho forçado ou prisões injustas quando se trata de nós, isso nunca aconteceria conosco. Mas com os pobres, com os anarquistas, isso é real para eles.

         -Isso é desumano Isabella, é errado. Temos que fazer alguma coisa…

         -Não – discordei – Temos que fazer algo sim, mas não de maneira desorganizada. É por isso que os anarquistas ainda não fizeram nada, eles estão se reunindo, planejando, organizando, não vai ser somente eu e você que vamos resolver tudo isso. Não sem apoio e organização. E principalmente um bom plano.

         -Eles têm um bom plano? – Jacob perguntou esperançoso.

         -Sim – e sorri, lembrando de Seth e Alice e nossas reuniões até alta madrugada – Um plano perfeito.

         -Nossa, ainda assim…

         -É difícil acreditar, não é? – compreendi.

         -Muito, muito mesmo, eu vou precisar de tempo para entender tudo isso.

         -Eu sei, eu também precisei. E olha que eu vi os campos de trabalho forçado.

         Minha cabeça girou, reclamando por ficar na mesma posição. Dei com o pequeno e discreto relógio rosa em cima do criado-mudo marcando que passava das quatro da manhã. Eu não estava com sono, meu relógio biológico estava todo desregulado, eu sentia sono nas horas erradas e passava a noite toda em claro. Jacob se espreguiçou, seu pé batendo de leve no meu ombro.

         -Acho que vou para meu quarto, estou morto de sono – ele confidenciou bocejando.

         Ele rolou para fora da cama, caindo com um baque surdo no chão, antes que eu me preocupasse, ele já estava de pé e caminhava para a porta.

         -Isabella– ele disse parando com a mão na maçaneta e me encarando – Eu não sei se vai servir para me perdoar, mas eu só deixei que fosse com aquele anarquistas por dois motivos: primeiro, por que eu fui egoísta, e pode me odiar por isso, mas segundo, por que eu tinha certeza que ele jamais te machucaria.

         -Ele? – foi minha vez de ficar confusa.

         -Só haveria uma pessoa no mundo por quem você mentiria para seus pais e para mim. Eu já sabia que ele era um anarquista e que, por conseqüência, você estava ajudando-o. Você sempre foi capaz de arriscar a vida por ele.

         -Eu não sei de quem está falando – menti num sussurro.

         -Sabe sim, e sabe que eu sei também. Edward sempre foi sua fraqueza, você sempre foi capaz de tudo por ele. Até de invadir Concluán.

         Eu me sentei na hora, branca de susto, eu não contara a invasão de Concluán para ele, apesar de acreditar que ele não tinha nada a ver com o seqüestro de meu irmão, eu não dera nenhuma informação que permitisse que ele encontrasse Edward e os outros, ou sobre nossas atividades.

         -Invadir Concluán? – repeti com incredulidade, tentando não negar, sabia que mentia muito mal.

         -Apesar de não ter passado pelos meios de comunicação, algumas pessoas ficaram sabendo quem escapou de Concluán e a informação chegou até mim. Eu não sou tão burro quanto você pensa, assim que descobri que Edward fugira e que, ao que tudo indicava, uma garota tinha ajudado ele, eu só precisei ligar os pontos.

         -Não vou concordar com o que está dizendo – respondi sem ter nada melhor para falar.

         -Não precisa, eu sei – e uma expressão de dor invadiu seu rosto – Boa noite Isabella.

         -Boa noite Jacob.

         Ele fechou a porta e caminhou pesadamente em direção ao seu quarto.

         Olhei minha mão direita, a aliança ainda estava lá, eu nunca a tirava, nem para tomar banho. A única vez que ela saiu do meu dedo foi em Concluán, a menina que eu interpretava não tinha um noivo, mas ainda sim a aliança ficou comigo, presa na corrente de Alice.

         Estava confusa. Amava Jacob, estava costumada a amá-lo, a tê-lo por perto, ver seu sorriso equilibrado e discreto sempre que me via, seu beijo rápido e leve, respeitoso, e ainda que ele fosse egoísta, eu escolhera ficar noiva dele. Meus pais insistiram em nosso namoro, mas nós dois é que mantemos ele.

         Edward era meu melhor amigo, e eu o amava por isso, amava sua coragem, sua determinação, gostava quando ele me elogiava, gostava de seu sorriso rasgado e de seu cabelo escarlate. Eles eram tão diferentes, Edward era o verão mais quente e ensolarado enquanto Jacob era o inverno mais frio e luxuoso da minha vida.

         E o que eu sentia por eles também era diferente, sempre estive mais ligada intelectualmente com Jacob do que fisicamente, já com Edward era o inverso.

         -Um dia você vai ter que escolher – sussurrei para o quarto.

         Meu coração deu uma cambalhota, irritado com minha indecisão, minha mente mostrou a língua para meu coração, discordando de sua escolha e fazendo a sua própria.

         -Um dia vocês dois vão ter que entrar em um acordo – repreendi para os dois.

         Mas não seria naquela noite. Arrumei melhor o travesseiro e fechei os olhos, buscando o reino dos sonhos bons. Foi quando o computador, ainda ligado, emitiu um som estranho. Abri os olhos e sentei na cama, a tela estava ligada, embora eu tivesse certeza que Jacob a desligara quando terminara de ver o vídeo. Uma caixa de mensagem azul apareceu e tomou a tela.

         “Bella, você está aí?”. Uma mensagem surgiu na tela.

         Gelei por um momento, pensando que era o seqüestrador do meu irmão, mas então percebi como ele me chamara de Bella e dei um pulo de alegria. Somente uma pessoa me chamaria de Bella e invadiria meu computador.

         -Seth!

         Corri para o computador e digitei em frenesi.

         “Sim, estou Seth”.

         Por um bom tempo não houve nenhuma resposta, até que a tela mudou e eu vi uma das paredes descascadas da casa em ruínas surgir junto com a metade de cima de Seth.

         -Bella – ele me cumprimentou pela webcam.

         -Seth! – eu estava radiante.

         -Espera que tem alguém aqui querendo falar com você.

         O rosto sorridente de Alice surgiu na tela.

         -Alice! – a todo custo eu mantive minha voz baixa, minha vontade era de dar um enorme grito de alegria.

         -Amiga – ela estava igualmente radiante – Como você está?

         -Bem, mas e vocês, o que está acontecendo ai?

         -Bem, primeiro a Alice teve uma crise e quase destruiu a casa quando eu contei que você tinha ido… – Seth começou a contar.

         -Seth! – reclamei – Você prometeu…

         -Ela praticamente me coagiu – Seth se desculpou encarando Alice com medo.

         -Tadinho – Alice brincou socando o ombro dele com força – E eu vou acabar com você quando eu te achar menina – e fez cara feia para mim.

         -Pensei que estava com saudades – eu brinquei sorrindo candidamente para ela.

         -Estar com saudades não vai me impedir de acabar com sua raça fedelha – ela devolveu.

         Mas acabou rindo comigo.

         -Bem, e fora Alice tentar acabar com a casa, que mais aconteceu?

         -Edward praticamente surtou quando descobriu que você foi embora – Alice contou.

         -Como ele soube? – perguntei sem jeito.

         -Tânia contou para ele – Seth respondeu.

         -E eu quebrei a cara dela, literalmente. Carlisle vai ter um grande trabalho para reconstruir o rosto dela, se é que ele vai conseguir – Alice contou muito satisfeita.

         -E quanto a Edward? Ele está muito bravo comigo? – apesar da notícia de Alice batendo em Tânia me animar, eu não conseguiria sorrir enquanto não tivesse aquela resposta.

         -Sim – Alice contou muito séria, compreendendo a delicadeza da situação – Não contamos para ele o porquê de você ter ido, Seth disse que você não queria que contasse, então não contamos.

         -O quanto ele está bravo comigo? – estava preocupada.

         Os dois se entreolharam, em dúvida. Por fim Alice baixou a cabeça e Seth respondeu por ela:

         -Ele destruiu o quarto dele. E eu estou falando literalmente. Caiu com febre depois disso. Carlisle disse que ele está bem agora, a febre dele passou e ele está dopado com alguns remédios, mas fora isso a recuperação dele foi excelente.

         -Algum de vocês falou com ele? – perguntei baixinho.

         -Ele não aceita falar com ninguém, depois que Tânia contou, ele só aceita que Carlisle e Peter entrem no quarto dele, nem mesmo os líderes dos outros grupos ele recebe mais.

         -Bella – Alice começou – Por que não conta a ele?

         -Não posso, ninguém além de você pode saber sobre isso. Eu ainda não sei como salvar meu irmão, Edward não vai ficar de braços cruzados quando souber que Erick corre perigo, ele vai querer agir. Vão por mim, eu conheço aquele garoto, ele não vai parar até achar meu irmão. E não precisamos disso, não enquanto eu não tiver certeza de onde ele está e quem está com ele.

         -Quando souber, tem que nos avisar – Alice exigiu – Nós somos uma coisa só, vamos agir juntos quando a hora chegar.

         -E eu poderia fazer qualquer coisa sem meu hacker preferido e sem minha senhorita das armas? – brinquei carinhosamente.

         -Senhorita das armas? – Alice perguntou atônita.

         -Combina bem com você, senhorita – Seth elogiou sorrindo para ela.

         -Amei! – e Alice bateu palmas do jeito que só ela podia fazer.

         -Mas, fora isso, aconteceu mais alguma coisa? – perguntei curiosa. Apesar das dificuldades, eu sentia saudades daquele lugar.

         -Esperança está rindo agora – Seth contou com ternura.

         -E eu estou ensinando esse mocinho a cozinhar – Alice falou tocando no ombro dele com carinho.

         -Que legal – respondi sorrindo – Sinto falta de vocês. Sinto muito mesmo.

         -Nós também – Alice falou.

         -Quando tudo isso acabar, e eu quero dizer tudo mesmo, nós ainda estaremos juntos? – Seth perguntou.

         -Claro que sim – respondi com convicção – Nós sempre estaremos juntos. É como um casamento, na alegria…

         -E na tristeza – Alice continuou.

         -Na saúde… – eu.

         -E na doença – Alice.

         -Invadindo Concluán… – eu.

         -Ou quebrando a cara da Tânia! – Alice.

         E nós três rimos alto, felizes.

         Ouvi alguns sons no corredor e olhei para o relógio, já era a hora de acordar na mansão dos Black.

         -Eu tenho que desligar, daqui a pouco alguém entra aqui.

         -Tudo bem – Seth sorriu digitando algo no computador – Tchau minha querida – e me mandou um beijo.

         -Beijinhos minha flor – Alice falou se aproximando da tela e dando um beijo nela antes que Seth a empurrasse para trás, brigando com ela.

         -Tchau meus amores – me despedi rindo.

         A imagem sumiu do meu computador e tudo ficou em silêncio.

         -Mais um dia nesse lugar – quebrei o silêncio com cansaço. A vida na casa dos Black estava cada vez mais insuportável.

         Olhei para o teclado transparente e comecei a digitar nele, clicando com o mouse rosa em vários itens, até entrar onde eu queria: meu e-mail.

         Com pesar, descobri um novo e-mail de quem me mandara o vídeo de Erick.

         Deixei a seta do mouse em cima do e-mail e respirei fundo, sem coragem para ver o vídeo. Não sabia o que teria nele. Transportar armas, enfrentar soldados, invadir uma prisão, eu faria tudo de novo, mas abrir aquele simples e-mail era mais do que eu podia fazer.

         Corri para fora do quarto e passei voando pelo corredor, até parar na porta de Jacob. Sem pedir permissão eu entrei, angustiada de mais para se educada. Ele dormia, o travesseiro seguro em cima de sua cabeça, o lençol cobrindo a metade debaixo de seu corpo, deixando as costas largas e fortes a mostra.

         -Jacob – eu chamei sacudindo seu corpo – Jacob, acorda, por favor…

         -Isabella, me deixa dormir – ele reclamou.

         -Jacob! – e minha voz se elevou.

         -Isabella, me deixa…

         Ele jogou o travesseiro no chão, me olhando atordoado e com sono. Eu não sei como estava, mas assim que ele me viu ele acordou de uma vez.

         -Isabella? O que foi?

         -Eu recebi mais um e-mail. Mas não tenho coragem de abrir, não sozinha. Pode ver comigo?

         -Claro! – e rolou para fora da cama, agarrando o lençol com habilidade e o enrolando na cintura.

         Com velocidade nós corremos para fora e voltamos ao meu quarto. Antes que eu me sentasse, Jacob já estava na cadeira na frente do computador. Eu estaquei do lado dele, não havia outra cadeira no quarto, pensei em me abaixar ao lado dele quando Jacob, num gesto mecânico, me envolveu pela cintura e me sentou em seu colo com naturalidade.

         A sua proximidade me afetou. Era algo natural, eu não precisava me assustar ou me sentir desconfortável com aquilo. Se bem que eu não me sentia desconfortável naquele momento.

         -Qual é o e-mail? – ele perguntou.

         Apontei e ele clicou em cima dele. Estremeci, dessa vez de medo. Jacob largou o mouse e me abraçou com força.

         -Estou aqui – ele sussurrou.

         Concordei e olhei para tela. Uma caixa preta surgiu, seguida do símbolo do Partido, o símbolo sumiu e a tela negra voltou.

         -Querida Isabella– a voz metálica e macabra apareceu, Jacob me abraçou com mais força – Como é bom nos reencontrarmos, soube que você fez o que eu te pedi, voltou para a casa dos Black. Muito bem querida. Acho que ficará feliz ao saber que eu cumpri minha parte, Erick ainda está vivo. Isso não é maravilhoso?

         Jacob falou um palavrão, furioso. Eu, pelo contrário, relaxei. Erick estava vivo e bem, era tudo o que eu precisava saber.

         -Mas ainda não acabou nossa doce troca de “favores” – a última palavra saiu cheia de significados – Você tem que se casar, minha querida, tem que começar sua própria família. Então, aqui vai as próximas cartas do jogo: você vai se casar daqui dois meses, no dia vinte e oito de setembro, quero uma festa, mas uma festa digna de você, quero que saía em todas as revistas, vai ser o evento do ano. E sabe por que, minha querida? Porque desse jeito você não vai cancelar o casamento, nem fingir que vai casar. Em troca, você vai ganhar uma coisa que vai adorar: Eu permitirei que, por uma hora, você veja seu irmão todos os dias. Claro que só depois de seu casamento. Considere meu presente para você. E se você não fizer o que eu quero, eu vou ter o prazer de mandar o vídeo da morte lenta e dolorosa do seu irmão. Beijos, minha querida, e espero que o saco de pipoca já esteja com você, afinal eu gravei esse vídeo só para você.

         A voz sumiu e o vídeo apareceu.

         Erick estava num canto da sala vazia, encolhido, suas mãozinhas estavam grudadas perto de seu peito magro, seu rosto tinha marcas de feridas e abandono, mas estava mais cuidado do que no outro. Um soldado se aproximou dele, a cabeça baixa, o rosto coberto. Ele deixou um prato de sopa no chão ao lado dele e deu um pequeno brinquedo para ele. O soldado saiu de cena, deixando meu irmão sozinho. Ele empurrou as mangas de sua blusa suja e velha para trás, pegou a colher canhestramente e provou a sopa, fazendo uma careta logo em seguida. Aquilo parecia horrível até mesmo em preto e branco.

         -Erick – resmunguei com dor e pena.

         Ainda que fosse impossível, Jacob me abraçou com mais força, me dando amparo naquele momento difícil.

         O vídeo continuou, Erick tomou toda a sopa, a cada colherada fazendo uma careta diferente. Depois voltou ao seu cantinho e se encolheu sem olhar para o brinquedo. A infância do meu irmão tinha sido destruída. Depois de dez minutos, nos quais ele continuou quieto no seu canto, o vídeo terminou.

         -Erick… – e minha mão voou para a tela.

         -Tudo bem Isabella, nós vamos achá-lo, vamos resgatar Erick.

         -Eu estou com medo Jacob – confessei – Eu tenho medo de perder meu irmão de novo. Eu não vou agüentar.

         Jacob rodou meu corpo me pondo de frente para ele, segurou meu queixo com firmeza me fazendo olhar direto em seus olhos e disse com seriedade e convicção:

         -Eu e você vamos ter esse menino de volta, nos nossos braços. Erick vai voltar para nós!

         Eu concordei, uma pequena lágrima rolando em minha face.

         -Sabe do que você precisa? – ele perguntou.

         -Do meu irmão nos meus braços – respondi sem hesitar, era o que eu mais precisava na vida.

         -Sim, mas isso é a longo prazo, a curto prazo você precisa se distrair um pouco, desfocar dos seus problemas, se não sua cabeça vai explodir.

         -Eu não consigo – resmunguei cansada – Se eu fecho os olhos, é o rosto dele que surge, se eu estou acordada, é nele que eu penso a todo momento. Eu não venho com um manual de instruções dizendo como me desligar – baixei a cabeça, me livrando de sua mão.

         -Então que bom que desde criança eu te conheço – ele disse rindo de leve – Você pode não ter um manual de instruções, mas eu sei muito bem como lidar com você.

         Com delicadeza, sua boca encontrou a minha de leve, tocando meus lábios de um modo único. Seus braços se fecharam ainda mais sobre mim, mas de uma forma delicada, uma forma que eu me acostumara desde criança. A familiaridade do seu toque me fez baixar a guarda e eu o beijei também, mais por hábito do que por vontade, pelo menos estava tentando me convencer disso.

         Sem saber exatamente como, ele nos colocou de pé e, num gesto rápido, trouxe meu corpo para os seus braços, me tirando do chão e me carregando. Com carinho, ele me depositou na cama e libertou minha boca, me deitando de costas para ele e envolvendo meu corpo com o braço direito. Fechei os olhos, sentindo sua boca percorrer meu pescoço e meus ombro com delicadeza, um lençol surgiu cobrindo meu corpo e sua mão livre  me puxou para mais perto dele.

         -Eu te amo, Isabella, e agora quero que você durma e descanse, meu amor.

         -Você não manda em mim – retruquei de um modo incoerente.

         Ele riu, virou meu corpo e me fez ficar deitada de frente para ele. Sua mão deslizou pela minha face, tocando cada centímetro dela. Sua boca se aproximou da minha e eu senti o ar quente sendo expelido dela quando ele ia me beijar.

         -Desculpe, não posso – e me afastei dele, sentando no colchão e ficando de costas segundos antes do contato.

         -Isabella? – ele chamou confuso e ultrajado.

         -Sei que está tentando me ajudar, mas não está conseguindo. Eu não posso, não com ele na minha cabeça.

         Saí do quarto o deixando para trás. Na minha cabeça, o rosto sombrio que me encarava se enterneceu e um sorriso rasgado voltou a ele.


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Notas finais do capítulo

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