The Demon S Child escrita por Jenny Fell


Capítulo 2
I


Notas iniciais do capítulo

YAAY *~*
Esse capítulo ocorre há cerca 16 anos antes dos fatos narrados no prólogo, a propósito.
Bem, espero que gostem :B



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O sol se punha vagarosamente no horizonte, jorrando uma mistura de cores que alternavam do rosa-claro até o alaranjado no céu. Apenas algumas poucas nuvens repousavam tranquilamente acima do Tribunal de Inquisição*.

Por dentro, tábuas escuras atravessavam o grande salão, e bancos feitos de madeira ali jaziam, enfileirados, embaixo de dezenas de espectadores, aguardando para ver qual seria o destino final daquela que fora considerada uma bruxa. Tinha suas mãos atadas por uma grossa corda que também a prendia à uma cadeira.

Estava cabisbaixa, e seus grossos cabelos loiros, já oleosos e bagunçados, caíam desobedientes por seu rosto pálido, cobrindo-lhe a face quase que por completo. Seus olhos ardiam impetuosamente em protesto ao julgamento, porém de sua boca nada saía além dos breves suspiros cansados de quem já havia aceitado seu destino.

– Esta mulher fez um pacto com o Demônio! - disse alguém. - Mandem-na já para a fogueira!

Esta sorriu com escárnio, achando certa graça em tudo aquilo.

– Meritíssimo? - chamou uma voz, claramente ansiosa pelo que se sucederia.

Uma pausa.

– Bem, não vejo o porquê de insistir em dar ainda mais prolixidade ao caso. Está mais do que claro que esta mulher cometeu uma heresia* ao se oferecer para gerar a filha do Demônio, e merece ser punida. - afirmou uma voz, que, muito provavelmente pertencia ao juíz.

Milhares de murmúrios por parte da plateia tomaram conta do Tribunal, cada qual provavelmente comentando sobre a decisão tomada ali.

Fez-se ouvir o baque do martelo pertencente ao juíz impactando contra uma superfície redonda feita de madeira que jazia em cima de sua mesa.

– Elise Silver - fez uma pausa dramática. - Eu a declaro culpada.

Ela não se moveu. Sabia que isso aconteceria.

Foi levada pelos guardas dali sem resistência de sua parte. Os antes silentes espectadores já começavam a gritar, xingando-a com todas as ofensas que lhes vinham à cabeça.

Porém, estas não a atingiam. Elise mal as ouvia. Já havia aceitado seu destino, desde que fora mantida presa, à espera do tão temido julgamento. Não tinha absolutamente nenhum medo ou receio do que viria a seguir.

Continuava cabisbaixa enquanto a prendiam a um mastro, imobilizando-a com outras cordas ainda mais grossas do que as que envolviam seus pulsos durante o julgamento, dentro do Tribunal de Inquisição. Novamente, diversos espectadores se reuniam ao redor do mastro ao qual a mais nova condenada de bruxaria era presa.

O sol, que há pouco se punha majestosamente, ao longe, havia sido engolido ferozmente pela escuridão de mais uma noite que vinha e lançava suas longas sombras sobre toda a extensão de Graveland.

– Últimas palavras, bruxa? - perguntou alguém.

Elise levantou os olhos ligeiramente. O homem que se atrevera a falar com ela usava as mesmas roupas que todos os outros padres da época, e tinha, preso a uma corrente prateada, um crucifixo. Tinha nas mãos uma Bíblia. Era escrita em latim, pelo pouco que Elise conseguiu ver. Sua cabeça, desprovida de cabelos, reluzia de encontro à luz da lua.

Observou, logo ao lado do padre, um dos guardas. Estava abaixado, na base do mastro onde Elise estava presa. Claramente, pode perceber que estava acendendo uma fogueira ali.

– Vocês - começou ela, sussurrando. Seus olhos encontraram, de modo feroz, o olhar inocente do padre. - vão todos para o Inferno.

Tão logo, as chamas começaram a lamber seus pés, se espalhando aos poucos por todo seu corpo. Elise não gritou, protestou, ou mesmo produziu qualquer tipo de som em momento algum. Sua expressão satânica, somada aos reflexos diabólicos que o fogo provocava em sua pele clara, quase dava a impressão de que ela estava, na verdade, gostando da sensação. Como se estivesse sendo abraçada com leveza por alguém que prezava, e não engolida e morta, pouco ao pouco, pelo fogo que a consumia.

Logo, parecia nunca ter havido alguém ali, preso. Tudo o que restou foi uma simples e deformada carcaça, com poucos fios decabelo, outrora louros, agora já sem cor alguma. Os espectadores foram se cansando de observar aquela melancólica tela que se pintava ali, e foram saíndo do lugar, gradativamente, retornando à suas vidas comuns, como se nada houvesse acontecido ali.

Como se Elise Silver nunca houvesse existido.

Porém, ela deixara algo, alguém, mais especificamente, que lembraria eternamente à humanidade sobre sua existência.

Porque, ao queimá-la, haviam se esquecido completamente do maior problema, que a moça havia escondido muito bem. Sua filha.

Esta que nascera do caos e da discórdia, que fora criada com o simples e único objetivo de se alimentar dos pecados de todos os vulneráveis mortais vivos que estivessem em seu caminho. E, nisso, criaria entre eles um elo, um ciclo vicioso que os faria pecar cada vez mais e mais, deliciando-se com a sensação.

E assim como nascera, morreria em meio ao caos e a discórdia, porém apenas depois de transformar a Terra em um segundo Inferno.

Sim, porque a haviam esquecido.

Justamente ela, a Filha do Demônio.


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Notas finais do capítulo

*Heresia - Doutrina ou heresia contrária aos dogmas da Igreja Católica.
*Tribunal de Inquisição - Não sei explicar bem o que é, mas se quiserem procurar no Google, acho que vão saber mais ou menos o que é, pra entender melhor a história. Mas bem, aqui vai. Era um Tribunal não-fixo que era montado a cada vez que surgiam indícios de supostas "bruxarias", que se baseavam em pessoas, na maioria das vezes cientistas e/ou mulheres, que criavam um suposto elo com o Demônio e poderiam representar ameaça à sociedade. Daí surgiu a Caça às Bruxas, com o objetivo de queimar na fogueira tais pessoas acusadas de bruxaria, algo que a Igreja Católica condenava.