Já estava tudo claro, e eu continuava acordada. Mal durmi, mas apesar disso estava sem sono. Olhei para a cama de Thalia e vi que minha amiga ainda devia estar sonhando. Olhei no meu celular e vi que ainda eram 7h. Sabia que não conseguiria dormir mais, então me levantei e fui para o banheiro trocar de roupa. 

O quarto de Thalia era um tanto... diferente. Ele era roxo escuro em todas as paredes, e cheio de posters de bandas. Avenged Sevenfold era uma de suas favoritas. Eu gostava também, mas não tanto quanto minha amiga. Tinha outros, como Green Day, Nickelback, 30 Seconds to Mars, e tantos outros. Coloquei meu shorts e minha regata listrada que eu usara ontem e sai do quarto, tomando o maior cuidado para não acordá-la. Passei pela bela cozinha e me deparei com um bloquinho e uma caneta. Acho que ninguém ia reparar se ela sumisse. Os peguei e sai da casa.

Tentei ligar para minha mãe, mas ela já tinha ido trabalhar, então eu teria que voltar para casa à pé. Como o caminho era longo, e eu ainda não comera nada, resolvi passar na casa de minha avó Réia. Sim, era um nome feio, mas eu me limitava a chamá-la de vó. Meu avô Cronos e ela viviam brigando, era engraçado de se ver. Ao contrário das famílias tradicionais, na casa deles, era vovô que cozinhava, e muito bem, eu aprovava. 

Cheguei na casa deles e fui entrando, já que sempre deixam o portãozinho da frente aberto. Antes de entrar na casa mandei uma mensagem pra Charles:

"Nos falamos depois do almoço, e sem enrolação, odeio ficar curiosa."

Bati na porta e logo minha querida vovó veio me atender.

- Annabeth, a quanto tempo não vejo minha netinha!

Dei um abraço nela e entrei. Vi meu avô sentado no sofá da sala assistindo desenho, ele pegara essa mania comigo. Sim, eu tinha 15 anos e amava assistir desenho.

- Olá vô.

Ele veio até mim e me deu um beijo. Apesar de ser cedo, eles não se importavam, acordavam por volta das 7h todos os dias.

Minha avó como sempre, enxeu a mesa da cozinha de coisas gostosas, e como eu estava com fome, aproveitei. Comi bolo, torrada, suco de laranja... estava tudo delicioso. Após terminar, subi para o sótão, era onde eu gostava de ficar quando não queria ser encomodada por ninguém.

Peguei o bloquinho e a caneta que eu pegara na casa de Thalia e comecei a escrever. As palavras começaram a brotar de minha cabeça com muito facilidade. Eu sabia exatamente o que escrever:

"Oi, pois é, nem sei por onde começar. Estou escrevendo isso aqui porque sabia que não conseguiria falar tudo que eu queria olhando em seus olhos. A questão é, o que passou pela sua cabeça naquele dia quando você disse que me amava e eu não disse nada? Me senti horrível. A verdade é que eu acho "amar" uma palavra muito forte. De todos os meninos que já gostei, eu nunca "amei" nenhum. Sei que é chato falar assim mas é a verdade. Sabia que você tinha que saber sobre meus sentimentos, mas só de pensar em te falar eu ficava nervosa. Então me deram a ideia de escrever uma carta, e foi o que eu fiz. Se você ficar com raiva de mim Lee, vou entender. Mas eu só queria que você soubesse a verdade, eu gosto de você, mas "amar", pelo menos por enquanto, ainda não."

Li e reli várias vezes, tinha ficado bom. Agora era só entregar. Mandei uma mensagem para Lee:

"Podemos nos encontrar agora?"

O que ele pensaria quando lesse aquilo? Fiquei com um pouco de medo de sua reação.

"Tem como você vim para o Central Park?"

Minha avó não morava longe dali, então respondi que sim e sai do sótão. Agradeci meus avós e sai da casa deles. Dei uma corrida para chegar logo. Ao me aproximar, me deparei com uma figura andando de skate, era Lee.

Me aproximei e ele me viu. Veio até mim e me deu um beijo.

- Me desculpe por ontem, não sei o que deu um mim. - ele me disse sem graça.

- Tudo bem. - eu disse pegando a carta que estava em meu bolso - Escrevi isso pra você, mas só quero que leia depois, na sua casa.

Ele olhou para o papel e o guardou em seu bolso. Se voltou para mim e me puxou pela cintura, me dando mais um beijo.

Ficamos boa parte da manhã no Central Park. Quando deu a hora do quase meio-dia, senti meu celular vibrar. Fui ver e vi que era Thalia, devia estar furiosa comigo.

- Bom dia Thalia. - eu disse me afastando um pouco de Lee para que pudéssemos conversar.

- Como assim bom dia? Eu acordo e me deparo com a sua cama já arrumada e o pijama que eu te emprestei em cima dela. Annabeth, por que não me esperou acordar?

- Porque você dorme que nem uma pedra, e eu estava sem sono, então levantei e fui para a casa dos meus avós.

Ela bufou no telefone, mas pareceu me entender.

- Mas então, você está melhor? Porque ontem... - Thalia não terminou a frase.

Senti um aperto em meu peiito ao me lembrar de ontem. Desabei no quarto de Thalia pensando em Percy. Ele era um bobo lerdo mesmo, como não conseguia enxergar o que estava bem na frente de seu nariz?

- To bem melhor amiga, obrigada. - olhei para trás e vi Lee acenando para mim - Thalia, depois te ligo certo? Tenho que fazer uma coisa agora.

- Tudo bem então Annie, tchau beijo.

- Tchau beijo.

Desliguei o telefone e fui até o encontro de Lee. Ele segurou minha mão e se sentou em um banquinho. Fiz o mesmo.

- Annie, eu não resisti e... li sua carta.

Quando ele disse isso, senti meu rosto esquentar. Eu queria que ele lesse em sua casa justamente por isso, porque eu não estaria por perto. Como eu não disse nada, ele continuou:

- E... você quer continuar comigo?

Na verdade, eu não sabia direito se queria. Mas eu gostava de ficar com Lee.

- Sim, eu só... queria que você soubesse como eu me sinto.

Ele sorriu e beijou minha mão.

- Achei sua carta muito linda, você escreve muito bem.

Sorri para ele e senti meu rosto corar de novo. 

Ficamos mais uns minutos no parque, até que meu estômago começou a implorar por comida. Me despedi de Lee e comecei a caminhar em direção a minha casa. Quando peguei meu celular para ver que horas eram, vi que tinha uma nova mensagem, era Charles de novo. A mensagem dizia:

"Olhe para trás."

Me virei e o vi vindo atrás de mim. 

- Olá Charles, o que tem de tão importante para falar comigo?

Ele estava sério, não tinha alegria alguma em seu rosto. Estava começando a ficar preocupada. E, pra falar a verdade, eu temia que o assunto tão importante fosse Lee.

- Olha Annabeth, nós não somos tão amigos assim, mas eu nunca quis o seu mal. E você sabe também que o Lee é meu parceiro, então o que eu te contar, você não pode contar para ninguém.

Sim, o assunto era Lee. Eu sentia que ele tinha feito alguma cagada. Como eu não falei nada, Charles continuou:

- Mas o que eu queria te contar era que no sábado passado... Lee ficou com mais duas meninas fora você. E na sexta quando ele disse que tinha ido pra outra cidade visitar a avó dele, era mentira. Ele só não te queria por perto porque tava tentando pegar a vizinha dele.

Meu coração acelerou. Como ele pode fazer isso comigo? Depois de tudo que ele tinha me falado, como ele pode? Senti a raiva me consumindo. Lee não tinha o direito de brincar com os sentimentos das meninas deste jeito, por mais bonito que ele fosse. Mas eu não ia chorar, pelo contrário, ia fazer ele se arrepender por ter brincado com os meus sentimentos. E eu sabia que precisava de ajuda nesse plano.

- Homens não prestam mesmo. - eu disse com raiva.

- Mas não comente nada com ele que eu te disse isso. É que você é firmeza demais pra ele aprontar contigo desse jeito.

- Não vou falar, aliás não vou falar nada, tenho um plano melhor, mas vou precisar da sua ajuda, o que me diz?

Charles me olhou com uma cara um tanto assustada, mas me disse:

- Claro, pode falar.

Dei uma risada maléfica e lhe disse:

- Vou precisar que você fale pro Lee que na sexta, quando ele me disse que ia pra outra cidade, você me viu na Pizzaria do Hefesto com um menino.

Pizzaria do Hefesto, sim, era esse o nome dele. O dono, Hefesto, era um homem de meia-idade com um bigode engraçado. A pizza dele era a melhor da cidade.

- Certo, digo que vi vocês ficando?

- Não, diga que estávamos só eu e ele. Mas que estávamos dando muita risada, e muito próximos.

Charles pareceu entender o plano. Posso ter cara de boba, mas quando alguém mexe comigo, é melhor sair de perto. Minha mente é muito brilhante, eu estava cheia de ideias. Ia fazer Lee de bobo um pouco. Expliquei o resto do plano para ele, que ficou espantado com minha habilidade de bolar planos. As vezes, até eu me surpreendia.

- Nossa, além de bonita ainda é esperta, a cada dia me supreendo mais com você Annabeth. - Charles me disse.

Fiquei meio sem graça com o "bonita", mas agradeci mesmo assim. 

- Obrigada por me contar Charles, Lee não tem esse direito de mentir e pensar que se safou.

Nos despedimos e Charles foi colocar sua parte do plano em prática. A essa altura, minha fome já tinha passado, e fora subistituida pela raiva. E eu aqui preocupada por não estar correspondendo seus sentimentos, como eu sou tonta! Estava tudo bom demais para ser verdade. 

Dei um tempo dando voltas pelo parque, até que vi Charles e Lee conversando de longe. Era hora de começar a segunda parte.

Mandei a seguinte mensagem para Percy:

"Preciso de um favor seu. Comece a me mandar mensagens como se estivesse dando em cima de mim, mas não diretamente."

Percy tinha uma mente tão diabólica quanto a minha. Com certeza me mandaria mensagens supreendentes.

Quando Lee e Charles se despediram, me aproximei de meu quase ex com o celular na mão. Percy tinha me respondido:

"Então, o que vai fazer mais tarde meu xuxu? To com saudade"

Vi que Lee me avistou. Ele estava meio sério, mas tentou disfarçar. Ele perguntou porque eu ainda estava por aqui, e eu lhe disse que não encontrava a chave de casa, então teria que esperar minha mão voltar. Ele ficou feliz e começou a se aproximar para me dar mais um beijo, mas eu virei a cara e me virei para o meu celular. Respondi meu amigo:

"Mas já com saudade? A gente se viu ontem"

Lee deu uma disfarçada e leu mensagem. Ficou um pouco bravo e me perguntou:

- Quem é esse?

- Meu amigo Percy, problema?

Ele levantou a sobrencelha e logo Percy me respondeu de novo.

"Lógico, pra mim ainda é pouco. Por mim eu te via todos os dias, todos os minutos, todos os segundos"

Meu coração acelerou um pouco. Queria que ele estivesse dizendo isso para mim, mas de verdade, e não por uma mera brincadeira.

- Amigo? Só isso? E isso é mensagem de amigo? - ele enfatizou a palavra "amigo".

Queria fazer ele de bobo mais um pouco, então respondi:

"Já disse o quanto você é incrível?"

Eu fingia não querer que Lee lesse, mas "acidentalmente" ele leu, e ficou muito puto. Não aguentei, a raiva dentro de mim queria sair, então eu lhe disse:

- Lee, o que você faria se eu te dissesse que fiquei com outro menino enquanto estava com você?

Ele parou por um minuto e respondeu:

- A vida é sua Annabeth, e a gente não está namorando ainda, você fica com quem você quer.

- E se fosse o contrário, se você tivesse ficado com outra menina, o que você acha que eu diria?

Ele apenas assentiu, não disse nada.

- Você pensa que eu sou tonta Lee? Eu sei de tudo! Eu sei que você ficou com mais duas meninas no sábado e que na sexta você não foi pra outra cidade merda nenhuma, queria era pegar a sua vizinha!

Ele ficou muito assustado. Além de mentiroso era cínico, não conseguia nem argumentar com aquilo. Já devia ter aprendido minha lição, homens não prestam mesmo!