Já tinha passado do meio-dia quando Percy me levou para casa. Para minha sorte, minha mãe não estaria em casa, mas isso só adiaria minha bronca. Apesar de tudo isso, eu estava feliz. O caminho de volta foi silencioso, nós ficamos apenas ouvindo as músicas que tocavam no rádio. Reconheci logo, "This Afertnoon". Eu cantava baixo, e notei que Percy também cantava. Não demorou muito, chegamos em minha residência.

Meu namorado desceu do carro e correu para meu lado. Ele abriu a minha porta e me ajudou a descer. Eu estava com os mesmos sapatos de noite passada. Não estava tão frio, afinal era meio-dia. 

Quando Percy se virou para fechar a porta com cuidado, não resisti e apertei seu bumbum. Ele corou na mesma hora e me olhou assustado.

- Annabeth, você apertou minha bunda!

Dei risada e senti que também estava corada.

- Você apertou a minha várias vezes noite passada, e eu não reclamei! - eu disse cruzando os braços.

Percy olhava constrangido para os lados. Ele estava mais vermelho do que nunca.

- Mas é diferente. - ele disse também cruzando os braços.

Estreitei os olhos e lhe disse:

- Então a minha bunda podem apertar, mas na sua ninguém toca, é isso?

Ele travou o maxilar e me encarou.

- Espere, podem não, eu posso! E é da minha bunda que estamos falando!

Não vi outra opção senão rir daquela cena. Mal havia notado que mais alguém nos escutava de longe.

- Oi gente, brigando já cedo? - Thalia disse se aproximando.

Percy revirou os olhos e eu disse:

- Percy ficou bravo porque eu apertei a bunda dele!

Thalia deu risada e meu namorada me fuzilou com o olhar, ficou vermelho que nem um pimentão e disse:

- Outra hora discutimos sobre isso. - depois me deu um selinho demorado.

Sorri para ele e ele fez o mesmo para mim. Me fez um sinal de adeus e entrou no carro. Fiquei o olhando com um sorriso bobo no rosto, Thalia notou que alguma coisa tinha acontecido.

- Então... onde vocês foram? - ela me perguntou com um sorriso malicioso no rosto.

Senti meu rosto esquentar, não sabia ao certo como contar à ela.

- Vem, vamos entrar, depois eu te conto tudo. - eu disse e corri para dentro de casa.

Minha mãe já tinha saído, o que foi ótimo, assim poderia conversar a vontade com Thalia. Subimos para meu quarto. Eu tirei os sapatos e me sentei na cama. Minha amiga puxou a cadeira do computador e se sentou na minha frente. Acho que ela já sabia o que eu estava prestes a contar.

- Percy e eu transamos! - despejei.

Thalia pareceu ficar surpresa. Ela cobriu a boca com as duas mãos e ficou me encarando. Não sabia o que mais poderia dizer à ela. Ficamos um tempo em silêncio, até que ela pareceu recuperar a consciência.

- Annabeth, como assim? Vai ter que me contar tudo, escutou? Tudo! 

Dei risada e comecei a contar à ela. Contei sobre a mensagem que Percy me mandara uma semana antes, sobre como eu não pensei que fosse algo assim até chegármos em Log Island, sobre como meu namorado estava nervoso, tanto quanto eu, contei sobre as velas perfumadas, sobre o quarto com a colcha azul, sobre como acordei me sentindo nas nuvens, sobre como Percy fora um namorado romântico, até mesmo depois de dar um arroto... Contei tudo. Eu sorria ao me lembrar de cada detalhe. Meu coração estava transbordando de alegria.

Quando terminei, ostentava um belo sorriso no rosto. Thalia também parecia estar feliz por mim.

- Puxa, e eu que pensei que você fosse casar virgem. Mas bem que você queria ver o Percy pelado, não é mesmo safada? - Thalia disse rindo da minha cara.

Senti meu rosto corar de novo. Para falar a verdade, Percy era lindo até sem roupa. De cueca box então... nem se fala!

Minha amiga ainda me olhava com um sorriso malicioso, parecia que estava lendou meus pensamentos.

- Ah Thalia, até parece que você é santa, né? Não sou eu que ficava o dia todo falando em como a bunda no Nico era macia!

Agora quem estava corada era Thalia. Ela era muito mais tarada do que eu.

- Não era mesmo, até parece que eu ia deixar você pegar na bunda do meu namorado. Agora você tem o seu, pode apertá-la quando quiser. - ela me disse com uma voz cheia de planos impuros.

Rimos juntas. Éramos duas pervertidas, essa era a verdade. Depois de ficar a tarde toda conversando e fofocando sobre nosso namorados, chegamos a conclusão que bundas masculinas eram deliciosamente tentadoras. Depois que Thalia foi embora, entrei no chuveiro e fui tomar um banho. Eu já tinha tomado um banho mais cedo, e Percy tinha feito questão de me "ajudar", foi divertido. Troquei de roupa e esperei minha mãe chegar. 

Fiquei assistindo TV até que escutei a porta abrir e vi minha mãe entrar. Ela parecia cansada, e trazia consigo uma bolsa, cheia de roupas. Estranhei aquilo, afinal ela normalmente já vai pronta para o trabalho, mas por alguma razão, desta vez ela trocou de roupa no serviço.

- Olá mãe. - eu disse enquanto ela entrava.

- Ah, oi filha. Que horas você e o Percy chegaram ontem? - ela perguntou enquanto abria a geladeira para pegar algo para comer.

Isso me intrigou. Minha mãe não tinha notado que eu não dormira em casa. Então, ou ela havia chegado muito cedo, ou...

- Mãe, não dormiu em casa de novo?

Dona Atena enrijeceu. Ela tinha corado um pouco. Levantei do sofá e fui para a cozinha. Fiquei encarando-a.

- Annabeth... não seja boba, claro que dormi aqui.

Precisei conter meu riso. Estava me sentindo uma mãe naquele momento.

- Mãe, não dormiu não, acabou de me perguntar que horas Percy e eu voltamos, sendo que...

Minha voz falhou ao notar o que eu estava prestes a fazer. Quase me entreguei! Senti meu rosto queimar novamente. Agora era minha mãe que me encarava.

- Sendo que o que, Annabeth?

Engoli seco. O que eu poderia dizer? Que ótimo, eu estava literalmente ferrada! Minha mãe ainda me olhava torto.

- Annabeth, o que você e Percy fizeram noite passada? - dona Atena agora parecia irritada.

Dei um sorrisinho para ela, mas não adiantou. Ela parecia poder ler pensamentos. Descruzou os braços e me disse:

- Annabeth Marie Donnovan Chase, eu não acredito!

Donnovan era o sobrenome que eu herdara de minha mãe. Odiava aquele nome, então toda vez que minha mãe me chamava pelo meu nome completo, não era um bom sinal.

- Mãe, a gente tomou todo cuidado do mundo. - eu disse tentando tranquilizá-la.

- Pelo menos isso. Mas já pensou se você fica grávida? Daqui a nove mêses estaria trocando fraldas ao invés de se divertir com suas amigas!

Nunca tinha visto minha mãe tão alterada. Acho que isso se dava porque quando eu nasci, minha mãe tinha apenas 19 anos. Ela só estava com medo de que isso acontecesse comigo também. Entendi seu lado.

- Calma, mãe. Pode ficar tranquila, não vai ser vó tão cedo. - eu disse rindo, mas ela não parecia estar de bom humor. Resolvi então mudar de assunto - Mas então, dona Atena, onde esteve esta noite?

- Não tente mudar de assunto, mocinha! Já tivemos esse tipo de conversa, não me faça repetí-la!

Me lembrei de quando minha mãe me explicou de onde vinham os bebês. Eu tinha apenas nove anos, foi um tanto traumatizante na época. Não queria de jeito algum passar por aquilo de novo.

No fim, senti que sabia onde ela esteve.

- Bom, eu vou tomar um banho, e sem mais perguntas! - ela disse e voltou para seu quarto.

Dei risada. Estava torcendo para que minha mãe estivesse com meu pai, novamente. Queria muito que eles fizessem as pazes, Kate voltasse a frequentar aqui em casa, e termos mais essa competição ridícula. Meu dia ficaria totalmente feliz com isso. Não era tarde, mas eu já estava com sono, afinal quase não dormi noite passada. Subi para meu quarto e fiquei sonhando com Percy, para variar.

Os dias seguintes foram um tanto estranhos. Percy estava estranho. Ele parecia avoado, e quase não nos víamos. Entendi que ele tinha coisas de sua faculdade para arrumar, mas mesmo assim, me senti excluída por algum motivo. Ele raramente ligava, e não estava mais respondendo as minhas mensagens na parte da manhã. Como de tarde eu trabalhava, não tinha como nos falármos. Dia 8 era aniversário de Thalia, e eu não fazia ideia do que comprar para ela. 

No dia 7, acordei cedo, precisava ir até o shopping para comprar um presente hiper especial para minha amiga, afinal não é todo dia que se faz 18 anos. Mandei a seguinte mensagem para Percy:

"O aniversário de Thalia é amanhã, me ajuda a comprar um presente pra ela?"

Não sabia se ele iria me responder, mas estava torcendo para que isso acontecesse. Só tínhamos nos visto três vezes naquela semana, o que era pouco em vista de antes, nos víamos todos os dias. Senti um aperto em meu peito quando certos pensamentos invadiram minha mente. Só fui despertar quando escutei meu celular vibrar. Por um milagre, era Percy.

"Claro, me encontra no Central Park daqui a 1h?"

Sorri ao ler a mensagem. Estava morrendo de saudade do meu cabeça de alga. Respondi:

"Encontro sim, beijo"

Me levantei e fui para o banheiro. Fiz minha higiêne e voltei para o quarto para trocar de roupa. Coloquei uma calça, uma blusa de lã com um decote em V roxa e meu All Stars, que estavam bem velhinhos, mas eu não tinha coragem de jogá-los. 

Enquanto descia para a cozinha, escutei meu celular tocar. Queria que fosse Percy, mas era só Thalia.

- Bom dia Annabeth, te acordei? - Thalia estava com um humor ótimo, o que era um tanto raro.

- Bom dia Thalia, parece que alguém acordou de bom humor. Não acordou não, amiga, to saindo de casa para encontrar com Percy.

Escutei uma risada grossa do outro lado da linha. Deduzi na mesma hora o motivo de todo aquele bom humor: Nico!

- Parece que a sua noite foi boa. - eu disse abrindo a geladeira e pegando a garrafa de leite.

Ela deu risada e depois disse:

- Foi ótima, para falar a verdade. Mas não liguei para te contar sobre como foi minha noite, queria convidar você e Percy para írmos até uma balada hoje. Porque né, 18 anos, eu mereço algo muito especial.

Dei risada ao escutar Nico falar algo sobre esperar até a noite para ela receber algo especial. Thalia também deu risada.

- Pode deixar que eu aviso ele, nós iremos. Quem tanto vai?

- Eu e Nico, você e Percy e Jason e Piper, por enquanto, só nós. Hera disse que esta noite eu estou liberada, posso voltar a hora que quiser.

Tanto Thalia, como Jason, estavam se dando muito bem com Hera. Eles estavam fazendo planos para se mudarem para uma casa menor, afinal de que adiantaria aquela casa enorme apenas para três pessoas? E eu estava feliz por eles. Acabei percebendo que Hera não era uma pessoa tão ruim assim, ela só era mal interpretada por todos. 

- Então nós vamos aproveitar, certo? - eu disse rindo.

- Claro que vamos. - Thalia respondeu, e eu escutei Nico pigarrear do outro lado da linha.

Dei um gole de leite e disse:

- Thalia, vou desligar aqui, tenho que ver o Percy agora, mais tarde a gente se fala, certo? Beijo.

- Certo, Annie. Vai lá se agarrar com o seu namorado. Até depois, beijo. - ela disse e eu desliguei o telefone.

Ainda estava cedo, mas eu não liguei. Assim poderia ficar mais tempo com meu namorado. Sai de casa e fui andando mesmo. O Central Park não era assim tão longe, e andar à pé não mata ninguém. Fiquei imaginando o que poderia comprar para Thalia. Um colar? Uma roupa? Não, era tudo muito simples. Tinha que ser alguma coisa diferente. Algo que ela nunca imaginaria que iria ganhar. Enquanto andava, me deparei com uma loja de enxovais. Olhei na vitrine e tive uma boa ideia, sabia exatamente o que comprar para minha amiga. Entrei na loja e pedi para a moça pegar o exemplar que estava na vitrine. Fora um golpe de sorte, porque aquele era o último. Perguntei para ela se poderia passar para pegar mais tarde, ela disse que sim e guardou o embrulho para mim. Retomei meu caminho.

Me aproximei do Central Park e fiquei procurando pelo carro de Percy, mas nada de encontrar um Volvo. Continuei andando. Entrei no park e via algo que fez meu coração quase parar. Era ele! Ele estava sentado do lado daquela vadia ruiva. Pareciam conversar numa boa. Senti meu sangue subir. Caminhei até eles, mas antes que eu pudesse chegar perto, ela o beijou! Rachel tinha beijado Percy e ele não havia feito nada para impidí-la! Pelo contrário, parecia retribuir ao beijo. Aquilo foi como uma facada um meu peito. Será que era por isso que ele estava estranho? As lágrimas caíram sobre meu rosto, não conseguia mais assistir àquilo, simplesmente virei as costas e corri. Corri não sei para onde, só queria ficar sozinha. Eu chorava. Sentia que meu coração estava em pedaços.

Corri tanto que, em determinado momento, acabei batendo em alguém. Caí sentada e ele também. Reconheci o cabelo escuro e os olhos castanhos.

- Annabeth, o que aconteceu? - Lee perguntou me ajudando a levantar.

Eu não conseguia falar, só chorava. O abracei o mais forte que consegui. Mesmo sem entender nada, Lee me abraçou também. Eu sentira saudade dele, não nos víamos desde o baile. Encostei minha cabeça em seu ombro e chorei. Desejei nunca ter levantado da cama hoje, desejei nunca ter aceitado transar com Percy, desejei nunca ter me apaixonado por ele, teria doído menos se eu nem tivesse o conhecido.

- Calma, Annie. - Lee dizia enquanto alisava meu cabelo - Vem, senta aqui.

Dizendo isso, ele me puxou pela mão e fez com que eu me sentasse em um dos bancos. Eu ainda chorava. Não sabia se conseguiria contar a ele. Toda vez que aquelas imagens voltavam, eu sentia que meu peito doía mais.

- Não quer me dizer o que aconteceu? - ele disse enxungando minhas lágrimas com as próprias mãos.

Respirei fundo e tentei me acalmar. Eu precisa de um amigo naquele momento.

- Eu estava indo me encontrar com Percy e... tive a brilhante ideia de ir mais cedo... mas acabei pegando ele e a Rachel... aos beijos. E ele não fez nada para afastá-la... vê-lo retribuir daquele jeito... - não aguentei o peso das lembranças, voltei a chorar.

Lee me olhava perplexo.

- Como ele teve coragem? Annie, não fiquei assim. Ele já te machucou demais, você não acha?

Assenti.

- Nós transamos, Lee. Nós transamos e ele começou a ficar estranho. E agora isso... - eu disse afundando meu rosto em minhas mãos.

Lee me abraçou de novo e me aconchegou em seu peito. De qualquer forma, eu estava feliz por ele estar ali. 

- Annie, eu tenho uma ideia, não sei se você vai gostar, mas... - ele disse ainda abraçado comigo.

- Fale. - eu lhe disse, esperando que aquilo me animasse.

- Eu estou indo para Miami, vou fazer faculdade lá. E soube que tem uma de Arquitetura ótima lá também. Não seria melhor você sair daqui, pelo menos por enquanto? Sei lá, conhecer gente nova, e esquecer de tudo que Nova Iorque te fez passar.

Miami. Eu nunca fui uma garota que fugia de tudo e de todos, mas tinha certeza de que não aguentaria mais olhar para a cara dele. Não conseguiria mais olhar em seus olhos, depois tudo o que passamos. Tudo o que ele tinha me dito a uma semana atrás, era mentira. Vê-lo beijando Rachel foi pior do que levar um tiro. Meu coração estava machucado, e eu sabia exatamente o que fazer. Lee estava certo, eu precisa de um tempo para mim. 

Então me decidi, eu estava indo para Miami.