- 2 mêses? - Percy disse espantado.

Eu estava sentada em sua cama ao seu lado. Ele ainda não tinha deixado o hospital, seu médico disse que precisava fazer mais alguns exames. Pra ele, foi como dormir uma noite. Mas quando me perguntou quantos dias tinha ficado ali, eu lhe disse: 2 mêses. E teve essa reação.

- Sim, quem manda querer dar uma de herói. - eu disse lhe dando um soco de leve no ombro.

Percy de risada e jogou um traveseiro na minha cara, quase cai da cama. Quis me vingar, peguei o travesseiro do chão, mas quando fui tacar nele, me disse:

- Vai mesmo acertar esse travesseiro duro em um paciênte que acabou de sair do coma? - e uma fez cara de cachorro abandonado.

Revirei os olhos e deixei o travesseiro ao meu lado. Era bom ter Percy de volta. Podia ouvir sua voz, ver seus olhos, ouvir sua risada... Passei 2 mêses sem poder falar com ele, eu tinha que matar a saudade. E não fazia nem duas horas que ele tinha acordado. Sua mãe e seu pai já tinham vindo visitá-lo, assim como Tyson que, apesar de brigar muito com o irmão, estava com saudade dele. 

Logo, Sally entra no quarto com uma bandeja. Era a janta de Percy. Ela a colocou sobre ele, em cima de um suporte. Percy parecia estar morrendo de fome, ele abriu rápido para ver o que tinha para comer. Ficou desapontado ao ver que era arroz, frango e salada de alface com rúcula.

- Não pode me trazer um hambúguer? - perguntou para sua mãe.

- Percy, você precisa se alimentar direito, pelo menos por enquanto. Prometo que, quando você tiver alta, levo você e Annabeth para uma lanchonete.

Ele fez uma cara um pouco melhor e começou a comer. Apenas se ser apenas arroz, frango e salada, Percy comia com voracidade.

- Já se sentiu com se estivesse sem comer durante 2 mêses? - me perguntou com a boca cheia.

Tecnicamente, ele ficou sem comer durante 2 mêses. Só recebia os nutrientes intravenosamente. E isso não era comer.

Dei risada apenas e olhei para meu violão no canto. Foram tantos dias que ficamos ali, só Percy, eu e meu violão. Mas agora ele estava acordado, e isso era o melhor presente que eu poderia ganhar.

- Então, minha mãe disse que você vinha sempre me ver - Percy disse limpando a boca com um guardanapo - Por que?

Fiquei um tanto confusa com aquela pergunta. Eu precisava de motivos para vê-lo?

- Não posso visitar meu melhor amigo enquanto ele estava em coma?

Ele deu uma risada e colocou mais um enorme garfada na boca. Algumas mastigadas depois, me disse:

- Mas... o que você... fazia aqui? Ficava me olhando dormir?

Me lembrei da primeira vez que o visitei. Lembrei de tudo o que tinha dito a ele. Abri meu coração, peguei todos os meus sentimentos e os expus naquela cama de hospital. Tinha dito toda a verdade, que eu o amava. Na hora, eu queria estar olhando em seus olhos para falar aquilo. Mas agora, já não sabia se tinha coragem de falar tudo que falei novamente.

- Eu tocava... e cantava para você. 

Percy sorriu. Como eu tinha sentido saudade daquele sorriso.

- Eu... não me lembro direito. Foram alguns trechos, só me lembro disso. Far Away, Dear God, Always, Winter Winds... minhas músicas preferidas, você tocou todas.

Senti meu rosto queimar. Então ele ouvira tudo! Mas e quanto a minha... declaração? Não teria coragem de perguntar, não podia. Quem sabe ele só tivesse escutado as música por serem... músicas, principalmente as que ele mais gostava. Dei uma risada sem graça e lhe disse:

- Pensei que tocando essas músicas, você acordaria mais rápido.

Ele deu risada e esticou a mão, fazer um sinal para que eu a segurasse. Meu coração então acelerou quando eu a segurei. Ao contrário das outras vezes, agora sua mão estava quente e macia, como sempre foi. 

- Parece que você estava certa. Ouvi Basket Case e me deu vontade de acordar. 

- Mas então das outras vezes você não queria acordar? - indaguei.

- Não, não sei. É difícil explicar. Desta vez foi como se... eu pudesse acordar. Das outras vezes não.

Continuava confusa. Ainda não tinha entendido muito bem o que ele queria dizer. Mas isso era o de menos, o que importava é que meu cabeça de alga estava de volta.

Ele então se virou e olhou para o violão. Entendi o que ele quis dizer. Soltei sua mão e o peguei.

- Qual música? - perguntei pegando minha palheta.

- Não sei, lembra de alguma que dá pra ser um dueto?

Pensei por um minuto e me lembrei. "Why Don't You Love Me?" era perfeita, além de ser linda.

-  "Why Don't You Love Me?" lembra?

Ele fez que sim com a cabeça e eu comecei a tocar. Percy começava a cantar.

See, I can't wake up
I'm living a nightmare that keep playing over again
Locked in a room, so hung up on you 
And you're cool with just being friends

Left on the sidelines
Stuck at a red light, waiting for my time
And I can't see

"E você feliz com nós sermos apenas amigos" um pedaço da música dizia. Esse era meu maior medo, Percy ser apenas meu amigo a vida toda.

Why don't you love me
Touch me, tell me I'm your everything
The air you breathe

And why don't you love me, baby
Open up your heart tonight
'cause I could be all that you need, oh

Minha vez de cantar.

See, I'm just too scared to tell you the truth
'Cause my heart, it can't take anymore 
Broken and bruised longing for you 
And I don't know what I'm waiting for

Left on the side lines
Stuck at a red light waiting for my time
So just tell me

Why don't you love me, touch me.
Tell me I'm your everything,
The air you breathe

And Why don't you love me, baby
Open up your heart tonight
'Cause I could be all that you need, oh

"Por que não me ama?" era o que eu sempre me perguntava. O que se passava dentro da cabeça de Percy naquele momento? Nós dois ali, cantando aquela música linda, e nada dele tomar alguma atitude. Mas parei para pensar, e se ele tivesse escutado tudo e quisesse que fossemos apenas amigos? E se ele não gostasse de mim como eu gostava dele? Apesar de palavras machucarem, as vezes o silêncio machuca muito mais.

Terminei de tocar e voltei o violão no chão. Já passara das 5h, estava começando a ficar tarde.

- Percy, acho que é melhor eu ir. - lhe disse colocando a capa no meu violão,

Imediatamente seu sorriso se desfez.

- Mas já Annie? Fica, meus pais vão voltar só de noite mesmo, dai depois eles te levam embora.

Eu queria ficar ali, queria muito, mas primeiro: não tinha contado para minha mãe que iria para o Princetoon hoje e segundo: tinha marcado de jantar com meu pai esta noite.

- Vou jantar com meu pai hoje Percy, mas te juro, amanhã eu volto para te ver. 

Ele forçou um sorriso e abriu os braços, dando sinal para que eu o abraçasse. Fui até ele e o fiz. Estava com muita saudade daquele abraço. O soltei e comecei a caminhar até a porta, então Percy me disse:

- Não se esqueça de vim amanhã então Annie, vou ficar esperando.

Lhe dei um sorriso e sai pela porta. Ele não tinha dito uma palavra sequer sobre o que tinha escutado nos dias em que esteve em coma. Ele poderia até ter me ouvido, mas essa lembrança deveria estar em seu subconsciênte. Quem sabe algum dia ele se lembra. 

"Eu te amo Percy" pensei, e logo em seguida sai do hospital.

POV Percy

- Não se esqueça de vim amanhã então Annie, vou ficar esperando. - lhe disse.

Ela apenas sorriu para mim e saiu. Para mim, aquilo era um sim.

"Eu te amo Percy, só queria que você estivesse acordado para ouvir isso agora" a voz de Annie continuava em minha cabeça. Seria tudo aquilo verdade? Ou seria apenas mais um delírio da minha cabeça. Tantas vezes, naqueles últimos mêses, eu sonhei que estava a beijando, mas ficava decepcionado toda vez que acordava. O que estava acontecendo comigo? Beijar Annabeth? 

Ela cantava para mim, isso  eu tinha certeza que não era delírio meu. Mas e quanto a essa frase? Por que ela tinha mexido comigo daquele jeito? Não conseguia pensar em mais nada, só na voz de Annie dizendo: "Eu te amo Percy, só queria que você estivesse acordado para ouvir isso agora". Senti um peso estranho em meu peito.

Estava um tanto ocupado com meus pensamentos, então levei um susto quando escutei a porta se abrir. Olhei e vi um garoto de cabelos e olhos negros ao lado de uma moça com cabelos pretos curtos e olhos azuis. Nico e Thalia!

- Perseu Jackson, da próxima vez, vê se toma mais cuidado quando for bancar o herói! - Nico disse chegando mais perto.

- É bom te ver também Nico. - disse apertando sua mão.

Thalia correu até mim e me deu abraço.

- Que susto você nos deu hein senhor Jackson.

Dei risada. Estranhamente, eu sentia como se tivesse os visto ontem, e não a dois mêses atrás.

Thalia olhou em volta e perguntou:

- Annie já foi?

- Sim, saiu um pouco antes de vocês chegarem.

Ela pegou o celular e digitou uma mensagem, provavelmente, era para Annabeth. Depois disso, se virou para Nico e lhe deu um selinho.

- Tchau para vocês, estou indo encontrar minha amiga. Até amanhã amor - deu mais um selinho em Nico - melhoras Percy.

Dei um tchau para ela e depois ela saiu. 

- Parece que vocês estão cada vez melhor. - disse para Nico.

Ele deu risada.

- Sim, estamos. Ao contrário de você.

Magoei.

- Como assim? Não estou com ninguém. - lhe disse triunfante.

Para o Percy aqui, era difícil ficar sozinho. Por isso eu quase nunca namorava. Só namorei com Rachel porque... bem, ela era popular e rica, e todos os meninos a queriam. Sentia como se fosse um troféu.

- Pode não estar com ninguém oficialmente Percy, mas sei onde seu coração provavelmente está.

Me lembrei de Annabeth, e no jeito como ela tocava. Era lindo. E ela morria de vergonha de tocar e cantar na frente dos outros. Nunca disse isso à ela mas... ela ficava linda com um violão na mão. Aliás, ela ficava linda de qualquer jeito. 

Senti minha cara aquecer quando percebo que Nico me encarava com um olhar de "Eu já sei de tudo".

- O que? - pergunto inocentemente.

- Percy, fale a verdade, o que você realmente sente pela Annie?

Poxa, ele acertou em cheio onde minha cabeça estava.

- Não sei cara. Ela é incrível, não como as outras meninas, cheias de frescura. Ela não liga para maquiagem, nem para "estar com a roupa certa todos os dias", ela não quer ser popular e nem ter a atenção de todos por onde passa. Ela é uma menina muito iinteligênte e linda. E quando toca violão então... não tem nem como descrever. Annabeth é um pouco tímida, mas quando se começa a pegar intimidade... aguente! Ela come o que tem vontade sem se preocupar com o peso. E apesar de tudo tem um corpo lindo. Seus cabelos estão quase sempre cacheados, e seus olhos eles...

Parei de falar porque não conseguia parar de pensar em seus olhos. Eram os mais lindos que eu já vira. E o pior é que só fui começar a reparar nele de uns tempos para cá. Eu tinha um sorriso bobo na cara, Nico continuava me encarano.

- Isso não responde a minha pergunta - ele disse se sentando na cadeira ao meu lado - O que você realmente sente por ela?

Nunca tinha parado para pensar nisso. Eu sempre gostei dela, sempre. Annabeth sempre foi como uma irmã para mim mas... alguma coisa tinha mudado. E eu estava sentindo que sabia muito bem o que.

- Nico, eu... eu acho... acho que... - não consegui terminar.

- Acho que você está apaixonado Percy. Apaixonado pela garota que estava do seu lado a sua vida toda.

Aquilo caiu como uma bomba sobre mim. Eu, Percy Jackson, apaixonado? Ainda mais por Annabeth? Meu coração disparou ao ouvir aquilo. Os bips do aparelho ficaram cada vez mais rápido. Nico me olhou com um olhar vitorioso. 

Sim, era verdade. Eu estava completamente apaixonado por minha melhor amiga. E não fazia ideia do que ia acontecer.