Aquele era o fim, era o meu fim. Lee provavelmente me forçaria a sair com ele, ou namorar com ele, senão contaria toda verdade para Percy. Não consegui acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Meu maior pesadelo acabara de virar realidade.

- Lee, por favor... - eu comecei a falar, mas estava nervosa demais para continuar.

Ele me olhava sério. Achei melhor perguntar:

- Como você... descobriu?

Lee deu risada e chegou mais perto. Quando ele fez isso eu me afastei, fiquei com medo do que ele podia fazer. Quando percebeu que eu estava assustada, ele levantou as mãos como se quisesse dizer que não ia fazer nada.

- Você gosta do tal Percy, isso está estampado na sua cara.

Percy sempre fora lento nesses assuntos. Eu queria pegar um tijolo, escrever "euteamo" e jogar na cabeça dele, talvez assim ele me notasse. Conhecendo Percy como eu conheço, era possível que ele nem sentisse a pancada, do jeito que é cabeça dura.

- Só quem não ve isso é ele. - eu disse, sentindo meu rosto corar.

Lee deu risada e depois disse:

- Olha só quem fala, ainda não percebeu?

Agora eu estava confusa, tinha alguma coisa para ser percebida?

- Percebi o que?

Ele riu de novo e arrumou a mochila no ombro.

- Nada Annie. Agora eu temos que ir para a sala. - ele disse olhando para a porta.

- Mas você promete que não vai falar nada? Principalmente para o Percy?

- Prometo, se você quiser ajuda com ele... 

O que? Lee se candidatando para ser meu cupido? Essa era boa. Mas eu não queria ajuda, se Percy gostasse mesmo de mim, eu queria ouvir isso dele por livre e inspontânea vontade.

- Não precisa Lee, eu me viro.

- Jura? Faz quanto tempo que você gosta dele?

Minhas lembranças voltaram, o aniversário de Silena, minha tristeza repentina quando me contaram que Percy não iria, como Thalia esteve do meu lado e me ajudou... Eu estava pronta, estava com as meninas só esperando a hora da aniversariante entrar, mas a única coisa que me passava pela cabeça era Percy. Eu o queria lá, comigo, disso eu tinha certeza. Naquela noite não tinha mais Liam, nem nada, só tinha um nome em minha mente: Percy!

- Faz um tempinho. - eu disse arrumando os livros em minhas mãos.

Lee deu risada de novo e depois me deu um soco de leve no braço.

- Você que sabe então lorinha, mas vou estar aqui sempre que precisar.

Fiquei feliz por ouvir aquelas palavras. No fundo, eu gostava de Lee, como amigo. Tínhamos passado um bom tempo conversando, mas eu sentia que precisava conhecê-lo mais.

- Obrigada, fico feliz por ouvir isso.

Sempre me falaram que o maior pesadelo para um homem é ouvir de uma mulher que ambos são apenas amigos. Isso era chamado "Zona da amizade", e, segundo os meninos, quando se entra é quase impossível de sair. Mas isso também acontece com as meninas. Se um menino só te considera como amiga, não tem nada que você possa fazer. 

Caminhamos para a sala, e o professor Quíron já estava dentro. Ele dava história. Nunca gostei de história,tirando ano passado, quando estudamos Mitologia Grega. Olhei para o lugar ao lado do meu e estava vago. Onde Thalia se metera?

POV Thalia

Quando Annabeth e eu chegamos no colégio, fui encontrar Nico. Sempre marcávamos de nos encontrar na quadra. Eu treinava lá, então ficava mais fácil para nós nos vermos. 

Entrei na quadro e o vi conversando com alguém, e esse alguém parecia... Percy? Mas o que aquele garoto estava fazendo aqui na nossa escola afinal? 

Reparei que eles pareciam bem distraidos, não notaram que eu estava por perto. Percy estava com uma cara um tanto preocupada, o que fez com que eu ficasse preocupada também. Logo ele se levantou e saiu da quadra, deixando Nico sozinho. Caminhei até meu quase namorado. Quando ele me viu veio até mim e me deu beijo. Tínhamos nos visto ontem, mas eu estava com saudade. 

Nos sentamos nos degraus da quadra e ficamos lá, só namorando. Beijinhos e beijões. Estava torcendo para que não chegasse ninguém. 

Parei de beijá-lo de repente e perguntei:

- O que Percy estava fazendo aqui?

Nico ficou um pouco assustado, ele arregalou os olhos e me disse:

- Então você viu ele.

Ele estava nervoso, eu pudia sentir. Tinha alguma coisa acontecendo.

- Nico, por que o Percy estava aqui? - eu disse me distanciando um pouco dele e cruzando os braços.

Ele engoliu seco e mexeu nos cabelos.

- É que ele dormiu em casa essa noite. Dai a gente acabou acordando um pouco tarde, e ele perdeu a aula.

Aquilo não fazia sentido, não fazia nenhuma sentido. Pude sentir que tinha mais coisa.

- Só isso?

- Sim. - ele disse ainda mais nervoso.

Sempre consegui perceber quando as pessoas mentem pra mim. E Nico estava mentindo. Eu odeio mentiras, para mim é coisa mais asquerosa que uma pessoa pode fazer com outra. Lee era outro que eu comecei a odiar repentinamente. Ele fizera minha amiga acreditar em suas palavras, mas no final ele só queria brincar com Annie. Se eu pudesse, enchia ele de socos e ponta-pés.

- Nico Di Ângelo, me diga a verdade, agora!

Ele ficou assuntado, eu sempre o assustava. 

- Percy está aqui porque não queria ir para a escola dele. - ele disse relaxando um pouco - Ele dormiu na minha casa hoje, e me contou uma coisa que... só confirmou o que eu já desconfiava.

Agora quem estava com medo era eu. Nico não era uma pessoa que raciocinava muito bem, mas nunca tomava conclusões precipitadas. Ele só falava uma coisa que ele estava pensando, quando tivesse certeza que era verdade. Eu não disse nada, então ele continuou:

- Percy e Annabeth quase se beijaram ontem. - ele disse, mas eu não fiquei supresa, já sabia disse.

- Eu sei, e ambos estão gostando um do outro, mas são muito covardes e não tem coragem de admitir. Está na cara.

Nico me olhava com um olhar de orgulho.

- Bem... era isso. Ele disse que não tava com cabeça pra escola, então quis vim comigo pra escola e ver se Annabeth estava brava com ele por quase tê-la beijado. - ele disse dando de ombros.

Aqueles dois, eram dois bobões. Ao invés de irem se declarar logo, ficavam assim, apenas gostando um do outro em segredo. De Annie eu já ouvira que a verdade, mas Percy era muito orgulhoso, ele nunca admitiria isso sem um empurrãozinho. De repente, tive um ideia.

- Nico, eu tive uma ideia, mas preciso que você me ajude.

Ele sorriu maliciosamente e disse:

- Só se você me der muitos beijos.

Dei risada e disse para ele:

- Combinado, mas depois eu pago a minha parte.

Olhei para meu relógio e vi que já estava na hora da aula, mas eu tinha que explicar meu plano para ele. Decidi que não entraria na primeira aula, uma aula a menos no ano não faz mal para ninguém.

Comecei a explicar meu plano.

POV Annabeth

A primeira aula tinha acabado e nada de Thalia parecer. Parece que ela e Nico se empolgaram um pouco dessa vez. Se viam todo dia e mesmo assim pareciam cada vez com mais vontade um do outro. Mas eu estava feliz por eles, finalmente minha amiga tinha achado alguém para ela. Parte de mim tinha um pouco de inveja, porque talvez eu nunca tivesse esse alguém, afinal esse meu alguém era meu melhor amigo.

Já estava perdendo minhas esperanças, quando vi Thalia entrar pela porta. Sra. Dodds, nossa professora de matemática, entrou logo atrás dela.

Quando perguntei porque a demora, ela simplesmente me disse:

- Hoje nós vamos para uma festa.

Fiquei com medo. Thalia não gostava muito de ir à festas, a não ser que tenha alguma coisa de seu interesse lá.

- O que? Onde?

- No Tártaro, Nico conseguiu entradas pra gente.

O Tártaro, era que era conhecido. Era a casa noturna mais famosa de Nova Iorque, qualquer um daria qualquer coisa para entrar lá. 

- Está louca Thalia, cada convite custa uma fortuna!

Thalia só riu e começou a copiar a matéria no caderno. Ela era maluca, completamente maluca.

Depois que minha amiga voltou, a aula pareceu passar rápido. Logo o dia já estava no fim.

Quando estávamos saindo do carro, Thalia me disse:

- Vai fazer alguma coisa na quarta?

- Não, por que?

- Para comprármos roupas novas.

Certo, agora eu estava com medo. Minha amiga só ia fazer comprar em caso de extrema necessidade, o que não acontecia com frequência.

- Quem é você e o que fez com a Thalia?

Rimos e Thalia me levou para casa.

O resto da semana pareceu passar voando. Na quarta, fomos para o shopping. Eu não queria uma roupa muito chamativa, queria algo mais básico. Procuramos muitos vestido e saias, mas nada parecia dar certo. Até que passamos na frente de uma loja que ficava ao lado da sorveteria. Vi um vestido rosa claro na vitrine, cheio de cerejas vermelhas. Era tomara-que-caia e todo franzido. Apesar de não gostar de vestidos justos, tinha gostado daquele.

Entramos. O experimentei e coube certinho. Estava decidido, eu ia com aquele. Thalia escolheu um vestido preto, também justo, de um ombro só, era a cara dela. Já tínhamos os vestidos, agora era só esperar sexta-feira chegar, e nossa noite no Tártaro começar.

Quinta passou voando e logo sexta chegou. Eu já tinha conversado com a minha mãe, ela disse que eu podia ir, porque com juízo se pode fazer tudo. E eu tinha juízo de sobra.

Era 21:30, eu estava na casa de Thalia me arrumando. Tinha passado chapinha no meu cabelo, que tinha ficado ainda mais comprido. No rosto, resolvi inovar, passei delineador e um batom não muito vermelho, me senti linda. Como estava um pouco frio, resolvi usar meu casaquinho preto. Meus sapatos de salto preto completavam.

Thalia estava com uma sandália gladiadora preta. Seus cabelos rebeldes estavam naturais. Seus olhos como sempre, com uma maquiagem pesada, só que hoje eu convencera ela a me deixar passar uma sombra prata, que a deixou ainda mais bonita. 

Estávamos prontas e lindas, só faltava Nico chegar.

- Ainda não contou para seu pai? - eu perguntei para Thalia.

Zeus ainda não sabia nada sobre Nico, e isso me deixava preocupada. 

- Não. Acho que não vou conseguir falar com ele. - ela me disse um tanto triste.

Achei melhor não aprofundar o assunto. Hoje a noite seria perfeita, nada poderia estragá-la.

Mas então parei para pensar em uma coisa, Nico ainda não tinha 16 anos, como ele viria nos buscar? Estava prestes a questionar Thalia quando vi um velho camaro preto virar a esquina. Reconheci de quem era aquele carro.

Olhei para a cara de Thalia um tanto assustada, e ela levava um sorriso travesso no rosto. Ela estava tramando alguma coisa, eu podia sentir. 

Agora já não tinha mais certeza que a noite seria boa, afinal Percy estaria por perto, e eu com certeza faria alguma borrada.