A chuva caía, em um acordo silencioso com o seus sentimentos.

Draco Malfoy jazia em seu quarto, junto a janela. Observava a chuva, e se perguntava como algo tão bonito e trágico vivia ali. Diante dos seus olhos, algo perfeito.

Perfeito e delicado.

Ele via Hermione feliz, andando pelos corredores como se nada tivesse acontecido. Era impossível esquecer, porém; ela recebia parabéns, enquanto ele recebia olhares raivosos e insultos, por fugir da guerra. Antes ele pensava que aliando-se a Voldemort, poderia apenas salvar sua vida. Mas sempre tem um motivo escondido.

O dele era coração partido.

Tratava o trio mal, para tentar disfarçar, mas só teve certeza quando Lilá começou a namorar o Weasley. Secretamente sentiu satisfação; mas Hermione sentiu raiva.Por um instante, sentiu o que ele sentia a anos.

Draco esticou os dedos, tentando tocas nas gotas de chuva. Impossível, claro. Era apenas um feitiço.

Depois da notícia do beijo na Sala Precisa se espalhar rapidamente, não foi surpresa ver os dois melhores amigos do Eleito desfilando por aí, trocando olhares, carinhos, e beijos. Draco evitava os dois sempre que possível, temendo perder o controle, e sem querer machucar a Granger.

Ronald Wesley. O nome que Draco mais odiava. Tocando no cabelo que ele deveria tocar. Sorrindo de forma encorajadora, do jeito que ele deveria fazer. Beijando os lábios que ele deveria beijar.

Com um movimento rápido, socou o vidro. Este apenas tremeluziu; voltou a sua antiga forma rapidamente.

O amor é assim. Um pequeno abalo em Hermione, nada mais. Ela logo voltou a sua antiga forma.

Já o punho de Draco ardia. Ele desejou que alguma marca ficasse em seu corpo, só para lembrá-lo que é isso que acontece no amor. Mas o pior de tudo era que Draco sentia-se culpado. Convivia com o peso extra nos ombros, todo o sofrimento da incerteza. O que Hermione falaria? O chamaria de louco, insano. Pararia de falar com ele, o evitaria.

Mas ela era feliz! Parecia realizada com o namorado e o amigo. Milhões de ideias diferentes passavam pela cabeça de Draco, e nenhuma parecia ter um resultado bom para ele.

Aquilo doía demais. Ele simplesmente queria que parasse. Parecia que alguém tinha tirado algo dentro dele, colocado uma sensação incômoda, que quanto mais tempo passase, mais crescia, e não diminuía, como o esperado. Viver uma vida perfeita é pouco esperada, mas morrer parecia uma boa opção agora.

Comia e bebia pouco. Andava mais pálido que o normal, e só falava duas frases:

–Me perdoe, Granger, me perdoe. Eu...cheguei tarde demais. - dizia, entre soluços.

A chuva ainda caía, hipotizando os olhos cinzas, sempre distantes.

A marca no pulso parecia um feitiço, sempre mais vermelha.

Sim, tarde demais.