Capitol Hunger Games escrita por Azula, AnaCarol


Capítulo 5
Tridentes são mais pesados do que aparentam.


Notas iniciais do capítulo

Um grande capítulo para a grande espera. ahhaha



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A tragédia nos ajuda a crescer.

Essa frase foi dita por meu avô quando eu tinha sete anos. Eu me lembro de meus pés descalços tocando o piso liso atrás da parede de nossa grande sala. Minha mãe brigava com meu avô, acusando-o de ser cruel e desalmado. Ela se levantara de madrugada fazendo o menor barulho possível. Andou até a sala, onde meu avô ainda assistia aos Jogos... À parte ruim dos Jogos, onde os tributos apareciam acusando a Capital de coisas que não deveriam ser pronunciadas e logo sendo castigados e mortos por "causas naturais". Eu ainda não dormira.

Eu nunca durmo quando uma edição dos jogos acaba. Então andei atrás dela e a vi mostrando um pequeno papel, lotado de números.

Naquela tarde, a edição número 69 dos Jogos havia acabado. E, ao contrário do que pensam, nossa família não estava comemorando como todas as outras famílias fúteis e alteradas da Capital estavam fazendo... O clima estava tenso.

O papel que minha mãe deu ao meu avô possuia um número em seu final:

1587.

O número de adolescentes mortos nos Jogos Vorazes, até aquele momento. Mortos pelo meu avô, de acordo com minha mãe, uma tragédia.

Meu avô apenas pronunciou aquela frase.

Nada mais. Nenhum discurso, nada. Minha mãe aguardou alguns instantes, apenas encarando-o, mas ele não se moveu. A conversa estava encerrada. Eu corri de volta para o meu quarto, o chão subitamente parecendo mais frio. Os passos apressados de minha mãe passando logo após eu deitar em minha cama e esconder a cabeça embaixo do cobertor.

Ele olhou para o cobertor. Eu fechava meus olhos com força, e rezava para que parecesse que eu estava realmente dormindo. Quando se deu por satisfeito, retomou seu rumo. Não sei se ele me viu acordada, ou o que. Mas ele não estava ali apenas obervando sua "querida netinha" dormir.

Quando todos já dormiam e as luzes lá fora finalmente se apagavam, eu deixei lágrimas silenciosas escaparem de meus olhos.

Um Cinco Oito Sete.

Mil quinhentos e oitenta e sete.

~

Dois dias seguidos de treinamento exclusivo com meu mentor, Hasse. Sem nenhum tributo olhando para mim. Isso é bom, mas após o treinamento exclusivo, terei dois dias para treinar com os outros tributos. De acordo com Hasse, me superei na entrevista, então tinha que me superar no treinamento e mostrar minhas habilidades. Acordo com Hasse me balançando, o empurro instintivamente e ele cai pra trás.

– Droga, me desculpe – digo rapidamente e o ajudo a se levantar. Olho para o relógio e percebo que são sete horas da manhã, e normalmente acordamos 10h. – Por que me acordou tão cedo?

– Pensei em começar a treinar cedo hoje, mas parece que você sabe se defender. – ele diz franzindo o cenho. – Vamos, reservei o primeiro horário do centro de treinamento para você, não podemos perder tempo.

Ele sai do quarto e coloco a roupa de treino, é confortável. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto e faço uma cara brava para o espelho. Vou para o centro de treinamento e vejo Hasse jogando um machado na cabeça de um boneco.

– Ei, você não vai deixar nenhum boneco para mim? – pergunto, ele ri e volta a ficar sério.

– Mostre-me sua habilidade – sua voz é suave, mas firme.

Pego quatro facas, seguro-as com a mão esquerda. Miro o alvo, jogo bem perto do centro do alvo. Atiro a segunda, ela se crava bem no meio. Tento novamente em outros alvos, e também acerto as duas facas restantes no centro. Olho para Hasse, e me repreendo por ter errado o primeiro alvo. Seu rosto está sem expressão, mas logo seus lábios se curvam em um sorriso aprovador.

– Muito bem. Continue atirando algumas facas enquanto eu vou ali – ele diz e sai andando.

Ali? Ignoro a duvida e continuo com as facas. Ouço um barulho, Hasse está voltando, olho para ele, tem um sorriso cruel.

– Me ataque. – ele fala.

– Não.

– Ande logo, Lynn, me ataque.

– Não, droga. – pronuncio a ultima palavra e Hasse corre até mim com um machado, deve estar a 3 metros de distância. Sem pensar atiro uma faca, Hasse desvia, mas consigo cortar uma mecha de seu cabelo. Ele para, pega a mecha loira no chão, sorri e diz:

– Se seu oponente fosse mais lento, morte certa, atingiria o crânio. – ele fala, penso que a luta acabou, mas ele continua investindo.

Eu me abaixo e seu machado - mesmo parecendo que o movimento foi manipulado por ele - corta o ar. Ouço o zunido e penso que estou careca, levanto a mão até a cabeça e encontro meu cabelo intacto.

– Chega – digo ofegante, não tem como atacá-lo de perto com uma faca, se fosse um tributo eu poderia atacar, mas era Hasse, e ele era meu mentor.

–Não desiste ainda, netinha. - Ele me provoca. - Os outros não vão desistir, eu acho.

Eu o encaro com raiva.

–Ora. - Ele argumenta. - Se vocês conseguem ficar horas numa fila para comprar botas novas e na moda... Consegue matar alguém.

–Não vejo o que uma coisa tem a ver com a outra. E eu não faço nada disso.

–Imaginei que não. - Ele volta a atacar, mas continua falando. Eu me abaixo e me desvio de seus ataques, mas permaneço na defensiva.

–Você deve encomendar. E eles entregam direto na sua mansão.

Sua voz se torna amarga e ele parece realmente sentir raiva enquanto investe contra mim.

–Com os automóveis do distrito seis. E essa calça sua? Distrito oito. Use essa faca, Lynn! Está vendo a madeira nela? – ele explode, arremessando o machado enquanto corro até a placa de metal que abriga os tridentes, desistindo da defensiva. Nunca peguei em um tridente, mas foi a primeira arma que me veio a cabeça. Tridentes são mais pesados do que parecem. Estou cansada das pessoas me julgarem por ser da Capital, ou por ser neta de quem sou.

– Que eu saiba você está aqui para me ajudar a vencer, não para descontar seu drama adolescente em mim! – grito com ele e arremesso o tridente enquanto corro para longe da placa, que cai no chão com um estrondo. Minha voz se eleva ao barulho. Ele nem sequer se desvia do meu tridente, arremessado um metro além de seu corpo.

Ele me encara com olhos vermelhos e posso jurar que ele me mataria se pudesse.

–Distrito sete.

Hasse solta o machado, que cai no chão. E antes que eu possa fazer qualquer coisa ele sai da sala, me deixando sozinha com o eco.

–Treinamento encerrado - Eu sussurro para mim mesma.


Volto para o meu quarto, começo a chorar de frente para o espelho, vejo meu rosto vermelho e molhado. Sinto-me fraca e mimada por tudo que Hasse disse. Deito-me na cama e não saio do quarto nem para comer. Durmo o resto do dia, acordo e ouço batidas na porta, olho para o relógio, são 7 horas da noite, minha barriga está vazia, não como nada desde que acordei de manhã. É Hasse quem está batendo.

– Você está com fome?- ele pergunta através da porta, não respondo. - Se estiver... – Ele desiste de completar a frase e vai embora.

Vou ao banheiro, lavo meu rosto, mas ele continua vermelho e inchado, solto o cabelo para me esconder. Saio sorrateira do meu quarto, vou até a sala de jantar, e Hasse está comendo. Pego um pãozinho e me sento sem dizer uma palavra. Odeio o fato de que amanhã tenho mais um treinamento exclusivo com Hasse.


Com a mão suja de molho de carne, ele aponta para uma salada bem feita no canto da mesa.

– Come – ele fala, enquanto limpa as mãos em um guardanapo. – Várias famílias do Distrito 11 dependem disso.

Ele só pode estar brincando.

–Pode ser mal educado se quiser. - Respondo não me iludindo com sua tentativa de me irritar com seus maus modos à mesa. - Eu não ligo.

Recuso a salada e pego mais um pãozinho. Eu não deveria comer tanto carboidrato, mas com o clima de desafios e blefes eu não resisto.

Ele termina sua refeição, e sem nenhuma palavra se levanta. Enquanto sai pela porta, ele apaga a luz acima da mesa de jantar, me deixando no escuro. Ouço sua voz e percebo que ele ainda não saiu totalmente da sala.

–Distrito cinco.

–Já chega! - Eu berro, atirando uma faca onde sei que fica o interruptor.

Faíscas caem das lâmpadas, produzindo um verdadeiro show de luzes. Eu me afasto, pulando da cadeira, quando elas se tornam realmente perigosas e começam a atingir a mesa. Em dois minutos estamos totalmente no escuro, fora a luz que vem do corredor.


Vejo que o rosto de Hasse se contorce em algo entre satisfação e aprovação, mas não ligo mais.

– Olha aqui, Hasse. Eu não falei nada sobre o seu ou sobre qualquer outro distrito, Entendeu? Você não tem direito nenhum de falar comigo desse jeito! – digo com raiva. Sinto vontade de discursar sobre como eu sou diferente de meu avô... Mas cansei de repetir esse mesmo discurso, e Hasse não merece ouvir nada mais vindo de mim. Eu afundo meu garfo na mesa de jantar e saio correndo para o meu quarto. Sinto sua mão tocando a minha numa tentativa fracassada de me parar. Entro em meu quarto e bato a porta, afundando o rosto em meu travesseiro logo em seguida.


As horas foram passando, eu não tinha mais sono algum. Não chorei, ainda bem, não quero ser fraca. Muita gente vai tentar me matar na arena, e se eu não aguento que Hasse brigue comigo... Já sou uma garota morta. Sento na cama, não consigo achar uma posição que me deixe confortável, tento achar algo para fazer, não consigo. A tragédia nos ajuda a crescer , lembro-me da frase dita pelo meu avô novamente. Eu preciso crescer. Já deve ser meia noite. Começo a ouvir novamente a batida à minha porta. Decido ser forte e dar ao meu mentor uma chance de se desculpar, afinal, querendo ou não vou precisar de sua ajuda. Abro a porta lentamente, com a expressão ainda fria. Ergo as sobrancelhas e espero ele falar.

–Aquilo era mogno. - Ele diz.

A raiva volta a tomar conta de mim. Ameaço fechar a porta, mas ele coloca seu pé antes que eu possa fazê-lo.

–Antes de jogar eu costumava cortar mogno no Sete – Ele continua, olhando para seu pé. - Então... Não faça isso com as pobres mesas de mogno.


Não consigo me conter e rio, tento ser discreta, mas minha risada se torna alta e leve. Ele me observa, sorrindo.

– Me desculpe por hoje. Eu não devia ter descontado toda a minha raiva em você... Você sabe que detesto os cidadãos da Capital, e você é neta do ex-presidente, o que aumenta minha raiva. - Ele percebe que fico magoada com o que disse - Me desculpe de novo.

Começo a lembrar de todas as suas palavras, de como ele me atacava como se desejasse minha morte. Lembro então do jeito que ele sorriu para mim na entrevista, lembro-me de que seu olhar me transmitia coragem, esperança.

– Tá. Provavelmente morrerei daqui alguns dias, e então se verá livre de mim. - digo e Hasse me abraça, é uma atitude estranha para quem hoje tentou me matar, mas retribuo. Não posso brigar com meu mentor, seu treinamento me manterá viva.



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