Spirit escrita por Hanko


Capítulo 2
Capítulo 2.


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer pelos reviews, fiquei muito feliz ;w;
Acabei por dividir o segundo capítulo em duas partes. Ia ficar muito grande, aí decidi passar a faca no meio. Q
Enfim, aqui está ~



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- Um fantasma? – perguntou Tora. – Você realmente espera que eu acreditesse nisso, Yuu?

Estendi-lhe outro livro para que ele colocasse na estante enquanto ele continuava rindo da minha história. Tora, assim como Ruki e qualquer outra pessoa, não acreditou quando eu contei o porquê de estar parecendo um zumbi naquela manhã.

Filhos da puta.

- Eu não estou mentindo! – afirmei, quase batendo os pés no chão feito uma criança.

- Tem certeza de que você não anda meio estressado? - Tora questionou, agora me fitando com um olhar sério. –Por causa dessa história de se mudar e tal. Talvez...

-… Eu sei  o que vi, Tora. – retruquei.

- Eu acho que o Aoi, de tão sozinho, está é enlouquecendo. – disse Shou, com um sorriso debochado, passando por nós com uma caixa. – Além do tal fantasma, quem mais estava na sua casa? A Fada dos Dentes?

Me permiti acertar um dicionário nele.

- Vão pro inferno os dois. – resmunguei, mostrando-lhes o dedo médio e indo para o caixa ao lado de Hiroto, que apenas me olhou e encolheu-se, segurando uma risada. – E você que não ouse dizer nada.

Um riso chiado escapou por entre seus lábios.

- Em momento algum eu pensei em dizer alguma coisa, Aoi-san. – ele murmurou, com um sorrisinho.

- Acho bom.

- Mas cá entre nós… - ele susssurrou. –… Além de fantasmas, você costuma ver unicórnios, também?

E riu.

Depois de um longo dia carregando caixas e livros pra lá e pra cá – o novo estoque e os lançamentos tinham chegado, e precisávamos dispô-los pela loja e estantes -,  eu finalmente pude voltar pra casa.

Fala sério, não tem nada - nada - melhor do que chegar em casa e se atirar na cama depois de um longo e cansativo dia. Não tem nada melhor do que chegar em casa e se jogar na cama pra só acordar na manhã seguinte. E eu mal podia esperar pra fazer isso na minha casa. Minha casa.

Eu teria dado pulos de felicidade por estar chegando em casa quando entrei no elevador e apertei o botão do meu andar, se não estivesse cansado demais para sequer conseguir andar direito.

Já podia ver como seria a minha noite: uma ducha quente e em seguida dormir até a manhã seguinte.

As portas do meu andar se abriram, e então notei que tranquilidade seria algo que eu não teria, considerando que uma música eletrônica – que mais parecia barulho – tocava em alto e bom som, dominando o corredor, a batida quase fazendo com que o chão tremesse.

Resmunguei uma praga. Quem em sã consciência dá uma festa em plena segunda-feira? Quer dizer, porra, é segunda-feira. Não dá pra dar uma festa durante uma segunda-feira. Segunda-feira é o dia mais infeliz da semana, o dia mais cansativo, o dia mais esgotante, o dia mais insuportável. Segunda-feira é uma merda. Segunda-feira é tipo a cara do Takanori na manhã seguinte quando ele dorme de maquiagem.

Quem consegue festejar alguma coisa numa segunda-feira?

Resmunguei outro palavrão porque claro, se alguém naquele prédio gostase de festejar e fazer barulho, era óbvio que iria morar perto de mim. É como uma maldição. Aposto que alguém colocou uma macumba do tipo ‘’onde quer que o Shiroyama more vai ter um monte de gente e coisas problemáticas por perto, pra tirar todo e qualquer sossego dele’’ em mim.

Um exemplo disso é aquele vizinho do andar de cima que eu tinha quando morava com o Takanori. O desgraçado gostava de sapateado. Mas como ele trabalhava quase o dia inteiro, o único horário que ele tinha pra poder treinar, era durante a noite.

Irrefutavelmente, todas as noites, ele treinava aquele maldito sapateado. Não seria um problema de verdade se fosse em um horário plausível. Mas não. Ele precisava treinar sapateado todas as noites da meia-noite até às duas da manhã.

Isso sem contar a filha da puta do apartamento do lado que tocava trompete. Juro por tudo que há de mais sagrado nesse mundo que eu sentia vontade de matar aquela mulher toda vez que ela decidia ensaiar. Porque quando não era o cara do sapateado, era ela.

Ah, mas que se danasse. Eu estava tão cansado que me jogaria na cama e dormiria feito uma pedra, não acordando nem caso o apartamento pegasse fogo. Maior que o volume daquela música absurdamente chata, era o meu cansaço. Então eu ia dormir de um jeito ou de outro. Certo?

Errado.

Me arrastei até a entrada do meu apartamento enquanto procurava a chave da porta nos bolsos do meu casaco. À cada passo que eu avançava naquele corredor, a música ficava mais alta, assim como as vozes animadas. Coloquei a chave na fechadura, mas estava destrancada. O som estourava nos meus ouvidos agora. Parecia estar vindo de dentro do meu apartamento.

Abri a porta.

E estava.

- Mas o que diabos está acontecendo aqui…? – murmurei, enquanto a música, as vozes animadas e altas, e o som de caos e disordem acertavam meu rosto quase como um tapa. Meus olhos passearam pela sala, e a cada centímetro percorrido eles se arregalavam mais. Tinha um monte de gente que eu não tinha a mais mínima ideia de quem eram dentro do meu – do meu – apartamento, e eu não me lembrava de ter convidado nenhuma delas. O cheiro de cigarro e bebida era tão forte que se eu respirasse fundo, poderia morrer de câncer de pulmão e cirrose, respectivamente. E o caos estava completamente implantado ali.

No meu apartamento.

Pra onde eu tinha me mudado não havia nem uma semana.

NO MEU APARTAMENTO, CARALHO.

Praguejei antes de entrar no meu apartamento e me esgueirar por entre todas aquelas pessoas – aliás, eu não sabia como couberam tantas pessoas lá dentro – que impossibilitavam toda e qualquer passagem, tentando encontrar o responsável por aquilo tudo. Porque todos nós sabemos que não tinha um dedo, e sim um Takanori inteiro naquilo ali.

Com muito custo, depois de esbarrar em algumas dúzias de pessoas que às vezes acabavam por derrubar seus malditos copos cheios em mim, consegui chegar até o meio da sala – agora com uma enorme mancha rosa no centro de uma camiseta que outrora fora branca -, e ver um certo nanico se atracando com alguém no meu sofá.

Não posso dizer que isso me surpreendia.

- TAKANORI MATSUMOTO, EU VOU TE MATAR. – gritei. Ele se desgrudou do cara que eu descobri ser Saga – só que arfante, com o cabelo bagunçado, o rosto vermelho, os lábios inchados e alguns chupões no pescoço -, e me olhou por alguns segundos, ofegante.

- Yuu! – abriu um sorriso, se levantando e vindo na minha direção. – Você chegou!

- Não me vem com essa de ‘’Yuu!’’, seu hobbit. – rosnei. – QUE PORRA É ESSA NO MEU APARTAMENTO, TAKANORI?

- Uma festa, não tá vendo? – ele retrucou, dando os ombros e me olhando como se eu fosse imbecil. Reprimi o desejo de estrangulá-lo.

- Uma festa, Takanori? UMA FESTA?????? – voltei a gritar. – UMA FESTA? NO MEU APARTAMENTO, TAKANORI?

- É uma festa pra você, Yuu! – ele se explicou, ainda sorrindo como se estivesse fazendo a boa ação do ano. – O que achou?

Esse filho da puta só podia estar de brincadeira comigo. Esse maldito do Takanori não podia estar falando sério.

Isso aqui é um daqueles programas de pegadinha?

Porque o ele não podia estar falando sério com aquele ‘’o que achou?’’. Mas pela cara dele, estava.

- O que eu achei? – voltei a rosnar. – O que eu achei, Takanori? Você quer mesmo saber o que eu achei, Takanori? Quer mesmo? Eu me mudei pra cá não tem nem 4 dias, e você dá uma festa?!  UMA PORRA DE UMA FESTA, TAKANORI?! – à essa altura, eu estava gritando e andando em círculos pela sala. – VOCÊ NÃO TEM UM PINGO DE NOÇÃO, TAKANORI? VOCÊ SABE QUE HOJE É SEGUNDA FEIRA? SABE? POR QUE DIABOS VOCÊ FOI DAR UMA FESTA HOJE, TAKANORI? AINDA POR CIMA AQUI? EU MAL TERMINEI DE AJEITAR AS MINHAS COISAS, CARALHO, E VOCÊ DÁ UMA FESTA? O QUE DIABOS FEZ COM QUE VOCÊ PENSASSE QUE EU GOSTARIA QUE VOCÊ DESSE UMA FESTA AQUI, HOJE?!

Por alguns instantes, pela primeira vez desde que eu havia chegado em casa, tudo estava em silêncio – com exeção daquele barulho que eles consideravam música e que continuava martelando minha cabeça.

- Então você não gostou? – ele perguntou, com um tom e uma expressão de culpa que eu sabia muito bem serem fingidos. Takanori era um manipulador nato. Suas chantagens emocionais eram tão boas que ele poderia facilmente fazer com que o Darth Vader usasse uma minissaia cor-de-rosa e trancinhas, se assim desejasse.

- O que você acha, Takanori?! – esbravejei. – Essa baderna vai acabar e vai acabar agora.

- Mas, Yuu…!

- Sem ‘’mas’’, Takanori.

- Por favor! – ele insistiu. – Tenta ao menos aproveitar um pouquinho a festa!

- Não.

- Pára de ser um velho ranzinza e chato, Yuu! – ele reclamou, me enviando um daqueles olhares ressentidos dele.

- Não sou velho, nem ranzinza, nem chato. – retruquei, irritado, lhe dando as costas. – Acaba com essa merda. Já, Takanori.

- Está se comportando como um velho, logo é um. – rebateu. – É bem coisa de gente velha não se divertir. Seu velho.

Esse pintor de rodapé tinha me chamado de velho.

Esse maldito pintor de rodapé tinha me chamado de velho na frente de um monte de gente.

Me virei na direção de Ruki, lhe direcionando o olhar mais hostil possível. Meus olhos estavam apertados e mentalmente eu arrancava seus rins com as mãos. Pude ver que ele controlava o ímpeto de se encolher.

Takanori não sentia medo de mim – porque eu era um frouxo incapaz de fazer realmente algum mal à alguém -, mas ele temia aquele olhar, porque sabia que significava que eu estava realmente, realmente, realmente muito puto com ele.

O problema é que o controle que ele exerce sobre as pessoas é tão grande que, mesmo sabendo que todas as lágrimas não passam de fingimento, você acaba cedendo e fazendo a vontade dele. Porque aquele filho da puta é invencível. 

- Eu quero todo mundo fora daqui exatamente à meia noite. – falei. Ruki abriu a boca para tentar falar alguma coisa, mas tão logo a abriu, a fechou.  – Nem um segundo a mais. E a limpeza vai ficar toda por sua conta.

Ele deu um largo sorriso, satisfeito por ter conseguido fazer com que eu cedesse, pisando no meu calo. Afinal, Takanori sabia que eu acabaria cedendo só porque ele me chamou de velho.

Não que eu seja.

- Yuu, - ele chamou. – que coisa rosa é essa na sua camiseta?

Suspirei. Além do fato de que minha casa estava em um estado deplorável, ainda tinha isso.

- Alguém derrubou bebida em mim.

- Você não pode ficar com isso aí. – disse, me tomando pela mão. – Vem, vou escolher uma camiseta pra você.

Ri.

- Eu moro aqui, sei onde minhas camisetas ficam. – falei.

- Isso não quer dizer que você vá escolher uma que seja decente. – retrucou.

Tivemos que nos espremer para conseguir passar no meio de toda aquela gente dançando, pulando, se comendo, bebendo ou atirada no chão de tão bêbada; e de repente, enquanto Ruki me puxava, segurando minha mão com força porque achava que ia me perder no meio do caminho, alguma coisa me chamou a atenção.

Um loiro que estava com a mesma cara que eu devia ter feito quando entrei em casa. Ele olhava para tudo, horrorizado com o estado em que meu apartamento se encontrava. Mas não foi isso que me deixou curioso. Foi o fato de que parecia que ninguém percebia que ele estava ali. Ele estava parado no meio do caminho, e as pessoas sempre acabavam por esbarrar nele, mas era como se ele não estivesse ali. Era como se elas não o vissem, ou então ignorassem a sua existência.

O que era muito estranho, porque ele era uma das – se não a – pessoa mais bonita que eu já tinha visto antes. E todo mundo sabe que pessoas bonitas chamam a atenção.

Não fazia sentido que o estivessem ignorando. Que ninguém estivesse falando com ele. Que ninguém o estivesse importunando, ou o chamando para dançar. Não fazia o menor sentido que ele estivesse sozinho ali.

Era quase como se ele fosse invisível.

- Aoi! – reclamou Takanori, me puxando com mais força. Eu nem tinha percebido que tinha parado de andar. – Será que você poderia parar de ficar olhando para o nada feito um retardado e continuar andando?

O encarei.

- Eu estou olhando aquele loiro ali. – apontei na direção de onde o loiro estava. – É estranho que ninguém esteja falando com ele.

Takanori franziu o cenho.

- Que loiro? – perguntou. – Não estou vendo ninguém.

Me virei na direção onde tinha apontado. A direção onde o loiro estivera até cinco segundos atrás.

Não estava mais lá.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de dizer que fiquei muito feliz ao ver que cheguei aos 10 leitores só no primeiro capítulo. Embora o fato de que o número de leitores não bateu com o número de reviews tenha me chateado um pouco.
Vamos lá, não custa nada, e ainda me deixa super feliz e motivada a escrever ainda mais. ;u;
Então, galera linda, reviews?
Até o próximo ~
Hanko.