Burlesque escrita por Rita de Cássia


Capítulo 2
O Começo de Uma Nova Vida




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Elwood – Indiana

||Ponto de Vista: Bella||

Eram 18h30min. , quando o “Bar & Restaurante Cavalera” fechou, mais cedo do que o habitual. Sendo eu a última e mais confiável empregada, fiquei encarregada de arrumar as mesas e fechar o estabelecimento. Cavalera era um lugar simples. As mesas e cadeiras eram de madeira, mas bem feitas; Havia um bar com estantes repletas de bebidas e um mini palco, onde aconteciam pequenas apresentações em ocasiões especiais, ou seja, quase nunca. Ele era aberto apenas as segundas, sábados e domingos, com apresentações ao vivo de karaokê e das garçonetes quando se arriscavam a cantar algo. Nesse caso, eu.

O motivo, sinceramente, não me importava. Apenas o que detinha a minha atenção no dia de hoje era a decisão mais importante da minha vida.

Finalmente eu já havia conseguido dinheiro o suficiente para poder sair desse fim de mundo e ir atrás de um futuro melhor. Los Angeles. Depois de 21 anos de tantos apertos e sufocos, eu recomeçaria novamente, numa cidade diferente, de pessoas diferentes. E isso era o suficiente. Depois de trabalhar dois anos naquele estabelecimento, eu consegui poupar o suficiente para uma vida modesta e eu já não via à hora dela começar.

Meia hora depois o restaurante já estava fechado e eu estava indo em direção à minha caminhonete vermelha desbotada chevy. Era o carro do meu pai, e que foi guardado especialmente para mim durante anos. Rapidamente eu abri a picape e joguei a minha mochila lá dentro e me içando em seguida para dentro. Ajeitei os retrovisores, liguei o rádio e dei partida ouvindo uma melodia country típico de cidadezinhas do interior americano. Disso eu realmente não sentiria o mínimo de falta.

Quinze minutos depois, eu já estava em casa, arrumando as minhas malas. A ansiedade de novas aventuras e ao mesmo tempo instabilidade, nervosismo e euforia faziam com que as minhas malas ficassem totalmente bagunçadas. Eu só sabia que estava levando tudo porque tinha feito uma lista antes de tudo que eu tinha que levar. Não tinha como eu esquecer algo.

Eu já estava indo terminando a última mala, quando a campainha tocou. Curiosa, eu abandonei a mala e fui ver quem era. Talvez fosse o novo inquilino, afinal enquanto eu estava fora, tive a idéia de alugar a casa. Uma renda garantida. Ao abrir a porta, vi que estava certa.

- Isabella! Não acredito que você iria embora sem se despedir de mim! – disse Ana, me apertando em um abraço desengonçado.

Ana era a única pessoa que morava aqui que eu podia chamar de amiga. Ela sempre esteve comigo, seja nas horas boas, ou nas más. Por seus pais serem amigos dos meus pais, também por ela ser quatro anos mais velha do que eu, ela também era a minha conselheira. Nada mais segura deixar que ela fosse a minha primeira inquilina. No começo, disse que ela poderia ficar na casa sem nenhum tipo de pagamento, mais, ela é muito persistente quando quer discutir.

- Claro que não Ana – respondi, correspondendo ao abraço. – Eu iria passar na sua casa antes de ir embora.

- Você tem certeza de que quer ir Isabella? Ainda dá para mudar de ideia... É uma decisão muito importante!

- Eu sei, Ana – falei, me desvencilhando do abraço e fazendo um gesto para que ela entrasse. – E por essa ser uma decisão tão importante, eu decidir por ir. Sejamos sinceras, qual o futuro que eu teria presa aqui?

Ana sentou no sofá e suspirou.

- É, você tem razão. Seria egoísmo da minha parte se pedisse para que você ficasse. Então, a única coisa que eu posso te desejar é sorte! Eu vou sentir tanto a sua falta...

- Acredite Ana, eu também vou sentir muito a sua falta. – respondi dando um sorriso torto.

- Mas você vai ter que me mandar fotos e cartas, ouviu? Eu sempre quis saber como é a vida fora de Indiana.

- Você poderia ir comigo...?

- Não Isa... Eu tenho toda uma vida aqui. E eu ainda tenho que cuidar dos meus pais

Billy e Meredith McLander já eram idosos e precisavam de cuidados especiais. Ana se recusava a colocá-los em um asilo, dizendo que: “Eles cuidaram de mim a vida inteira, nada mais justo que retribuir o favor”, o que eu concordo totalmente. Faria a mesma coisa se meus pais estivessem comigo.

- E as suas malas? Você já começou a arrumar?

- Na verdade sim... Só que, elas estão um pouco... er... desorganizadas?

- Me deixe adivinhar... Você só está jogando as roupas lá dentro, não é?

- Culpada.

Ana sorriu.

- Vamos, eu lhe dou uma mãozinha.

Ana e eu fomos para o quarto e eu lhe mostrei a catástrofe que estava as minhas malas.  Depois de terminarmos com as malas, fomos comer alguma coisa na cozinha e continuamos a conversar. Já estava dando 21 horas quando ela teve de ir embora. Mas não foi antes de me prometer que eu só iria quando tivesse me despedido dela e de seus pais. Amanhã seria o dia. Teria que me despedir da minha única família, comprar uma passagem para Los Angeles e começar a escrever um novo capítulo na estória da minha vida.

|Na Manhã Seguinte:|

Eu estava pronta. Acordei muito cedo e fiz tudo o que deveria fazer. Anunciei oficialmente minha demissão para Patrick, o dono do bar; Dei uma última arrumada na casa, pois não queria que quando Ana chegasse, ela estivesse uma bagunça; Esperei até que o caminhão da mudança de Ana chegasse – os pais dela não conseguiam ficar longe de certos objetos de sua própria decoração. – e começasse a mudança. A despedidas foi cheia de abraços, lágrimas e promessas. Eu já havia comprado a minha passagem de avião pela internet, só que em Elwood não tinha aeroporto. Então eu tinha que comprar a minha passagem de ônibus até Lake Town – uma cidade um pouco mais desenvolvida que Elwood – para, enfim, pegar o avião e ir para L.A. Pelos os meus cálculos eu ainda poderia chegar Às 13 horas. O que daria tempo para que eu pudesse arranjar um hotel para passar a noite.

Ana me acompanhou até a estação de ônibus para que depois pudesse levar o meu carro de volta. Despedimos-nos novamente e dali em diante eu sabia: Não teria mais volta.

Entrei na estação e fui direto para as cabines de passagem. Um homem, senhor, na verdade, começou a me atender.

- Bom dia – ele disse, com uma cara entediada. – Em que posso ajudá-la?

- Eu quero comprar uma passagem de ônibus para Lake Tonw.

- Para quando? – ele perguntou.

- Agora?

- Só uma de ida ou duas de ida e volta?

Franzi as sobrancelhas.

- Você está brincando, certo?

A cara dele não mentia. Tirei o dinheiro da bolsa e respondi:

- Apenas ida.

Ele contou o dinheiro e me deu um recibo.

- Boa viagem.

Espero que sim, pensei.

-------------

Duas horas e meia depois, eu estava confortavelmente instalada na minha poltrona no avião. Sabendo que eu não poderia gastar tanto dinheiro, me decidir em ficar na classe econômica. Billy havia me dado umas dicas valiosas sobre como guardar o meu dinheiro com cuidado, para evitar ser roubada. Comigo eu só tinha o básico para um dia. Antes de fazer qualque coisa, abri uma conta em um famoso de Los Angeles, o M&C Corporations, e transferi todo o meu dinheiro. Não era muito seguro, uma garota que acaba de chegar à cidade grande andar com uma grande quantidade de dinheiro. Não que eu tivesse muito. Não. Mas era o suficiente para uns quatro meses de aluguel, alimentação e roupas, moderados, claro.

A viagem de avião até Los Angeles era longa e cansativa, então eu fiquei dormindo e refinando os meus planos até que o piloto avisou que já tínhamos pousados. Finalmente tínhamos chegado ao Los Angeles International Airport, ou LAX que, por sinal, era gigantesco. Eu olhava maravilhada para tudo desconhecido que eu via, sabendo que, daqui a pouco tempo faria parte do meu dia-a-dia. E essa perspectiva me alegrava muito.

Depois de passar por toda a burocracia e pegar as minhas malas, fui seguindo as pessoas que, provavelmente se encaminhavam até a porta. Ana e eu fizemos um milagre e conseguimos fazer com que as minhas roupas coubessem em apenas duas malas, uma maletinha e também carregava uma necessárie. E nessa necessárie, peguei um mapa da cidade de Los Angeles, que ganhei de Meredith antes de ir, para que não me perdesse. Ainda seguindo a multidão de pessoas, consegui encontrar a saída e...

Nossa! Los Angeles era ainda mais bonita do que em meus melhores sonhos! Prédios altíssimos cercavam a cidade, fazendo ser uma tarefa bem difícil se olhar para as nuvens ou sequer localizar o sol. Carros, milhares de carros, circulando na enorme avenida. E as pessoas? Havia tanta gente, que eu realmente fiquei confusa. Jeitos e estilos diferentes, tudo no mesmo lugar. Calçadas apinhadas de pessoas que pareciam estar com muita pressa, devido à velocidade que andavam.

Apenas notei que tinha parado de andar, quando uma pessoa me empurrou, fazendo com que eu perdesse o equilíbrio e quase caísse no meio da rua. Depois disso, recomecei a andar e depois notei que não fazia ideia para onde eu iria.

 Olhei novamente o mapa que estava em minha mão e escolhi um bairro, aleatoriamente, para começar as minhas buscas por um apartamento.

Com certa dificuldade, consegui encontrar um táxi vazio. O motorista foi muito gentil e me ajudou a botar as minhas malas, por mais que fossem poucas. Depois, indiquei-lhe para onde eu queria ir. Durante o trajeto, não pude deixar de ficar encantada com a paisagem dessa linda cidade. Além dos prédios, haviam vários outdoor gigantescos onde se faziam propaganda de tudo um pouco.

Hollywood era um dos distritos de Los Angeles que eu mais admirava. As mansões, as Produtoras de Filmes, Teatros, a Calçada da Fama... Hollywood transpirava glamour. O motorista me contava de casos que haviam acontecido com ele em suas corridas diárias. Ele gabava-se de ter, algumas vezes, dirigindo para diretores de cinema famosíssimos, como James Cameron e Chris Weitz, assim como para atores e cantores também famosos como, Robert Pattinson e Christina Aguilera. A cada estória, eu ficava mais fascinada com todo esse universo de brilho que o motorista desenhava para mim. Em pensar que eu poderia encontrar pessoas famosas no simples ato de caminhar pelas ruas, me deixava em êxtase.

Deixando as minhas fantasias de lado, perguntei para o motorista – o qual descobri que se chamava Noah – se ele sabia onde é que poderia ter alguns hotéis barato, afinal, eu era uma sem-teto. Literalmente. Solidariamente, ele disse que conhecia uma rua a qual sempre havia hotéis baratos. Uns cinco minutos depois, ele parou em rua e estacionou o carro em um prédio que, graças aos céus tinha um letreiro escrito “Hotel Grape”. Agradeci ao Noah e paguei a corrida. Saí do carro, peguei as minhas malas e depois, ainda ouvi ele me desejar sorte.

Com minhas malas na minha mão, entrei no prédio. Lá dentro era razoavelmente limpo, mas um pouco escuro, mesmo sendo dia. Já na recepção, perguntei à recepcionista se ainda havia quartos vagos e ela confirmou. Isso pelo menos me poupava andar por aí, procurando hotéis. O preço do quarto coube certinho na minha condição financeira e rapidamente aluguei o quarto por, pelo menos uma semana. Agradeci ao prestativo taxista mentalmente, enquanto a senhora da recepção me dava às chaves e as últimas instruções e advertências.

Segui para o quarto indicado por ela e me pus a analisar local. Era um quarto mediano, nem tão pequeno, nem tão grande, branco e bege. Havia uma janela que, pelo o que eu pude notar, não ficava de frente para a rua. Apenas dava para ver um pouco o céu e passar o vento, Mas já era o suficiente. Havia também uma cama de solteiro e em ambos os lados, haviam criados mudos, um com um telefone e um jarro com flores, dando um sutil toque feminino no quarto. No outro, havia apenas um abajur. De frente para a cama, encostado na outra parede, havia um guarda roupa de madeira, parecendo que já era bem antigo. Encostado na outra parede, de frente para a janela, havia outra cômoda, só que vinha com um espelho e um espaço vazio, provavelmente para botar cosméticos e uma cadeira. Também havia um banheiro simples, com um box.

Eu estava totalmente satisfeita com o quarto o logo desarrumei as minhas malas. Enquanto fazia isso, lembrei-me que tinha que comprar mais algumas roupas. Meia hora depois, tudo estava em seu devido lugar e eu fui até o banheiro tomar banho e me arrumei. Além de ir comer alguma coisa, tinha que sair para comprar um jornal e de quebra, desvendar um pouco Hollywood.

Na rua, comecei a andar calmamente, atrás de algum restaurante. A duas quadras do hotel, consegui encontrar uma loja Subway, e lá comi uma besteirinha e comprei um café frio. A ansiedade fazia a minha fome desaparecer. Continuei a minha caminhada até achar uma livraria onde estavam vendendo jornais. Com o jornal nas mãos e revesando com o café, não demorou muito até que eu trombei em alguém e acabasse derrubando o me café.

- Droga!

- Droga!

- Desculpe!

- Desculpe!

Olhei para frente, querendo ver quem era que estava falando comigo ao mesmo tempo. Quando os meus olhos pousaram nos seus, pela primeira vez na vida, senti o mundo parar.

Seus olhos verdes esmeraldas hipnotizavam os meus, fazendo com que eu não conseguisse olhar para outra direção. Seus cabelos, com uma cor estranha – uma mistura de bronze, louro e avermelhado – eram totalmente indisciplinados, fazendo com que eles parecessem totalmente bagunçados, o que dava certo ar de jovialidade e estilo. Sua pele era tão branca quanto a minha, o que dava mais destaque para os seus cabelos e seus olhos. Ele também tinha o queixo quadrado, forte. Seus lábios eram levemente carnudos e avermelhados.

- Moça, a senhorita está bem? – ele falou, erguendo uma sobrancelha, e me olhando se estivesse me analisando.

Saí rapidamente da prisão que era seus olhos e respondi, corando:

- Sim. Desculpe-me.

- Tudo bem. Eu já estava ficando enjoado do meu café. Acredite, me fez um favor. – ele respondeu, dando um sorriso torto, que o fez ficar ainda mais impossivelmente lindo. – Pena que o seu jornal não teve a mesma sorte.

Franzi a sobrancelha, tentando entender o que ele estava falando, até que, quando olhei para baixo, notei que o meu café estava jogado no chão junto ao dele e que meu jornal estava completamente empapado.

- Isso realmente é uma droga. – resmunguei debilmente, fazendo com que o cara desse mais um sorrisinho e falasse:

- Parte disso é culpa minha, então eu faço questão de comprar outra para você, senhorita...?

- Marie – respondi sua pergunta não feita. Eu não podia dar o meu nome para um cara que eu havia conhecido há apenas dois minutos. – E eu agradeço, mas não precisa. Eu posso comprar outro. – Apesar de lindo, eu era nova na cidade e sabia que não podia confiar em qualquer rostinho bonito que visse. Mesmo que ele fosse o cara mais lindo que eu já tinha visto nos meus últimos 21 anos.

- Como eu disse, faço questão Marie. É não se preocupe, eu não vou atacá-la nem nada do tipo. Pode confiar.

Olhei novamente dentro dos seus olhos, e vi que ele não mentia. Também vi que ele não desistiria até que eu aceitasse.

- Então, já que você já sabe o meu nome, eu posso saber o seu também? – perguntei.

- Oh, que falta de educação a minha! Prazer... – ele pegou a minha mão e a beijou, como um cavalheiro dos anos medievais. – Edward Masen.


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