Céu escrita por Liminne


Capítulo 2
Capítulo 2 – Acreditando ou não




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- Cheguei! – o ruivo anunciou abrindo a porta de casa.
- O almoço está sendo servido, onii-chan! – saudou uma simpática loirinha.

Sentaram então à mesa toda a família. O ruivo, a loirinha, uma outra menina morena de mesma idade e o patriarca.

- Onde estava? – Yuzu quis saber.
- Na república. – respondeu enfiando comida na boca.
- Ichi-nii vai morar lá esse ano? – a moreninha perguntou sem desviar os olhos do prato.
- Não. Não dá. Só tem gente irritante lá! – respondeu de boca cheia.
- Cada vez é uma desculpa! – o pai resolveu falar exaltado. – Ano passado não queria ir por causa da humilhação... Deus do céu, onde foi que eu errei pra fazer um filho assim tão impopular e esquisito? – o homem de cabelos pretos cerrava um punho e perguntava ao teto com lágrimas dramáticas escorrendo pela face.
- Eu não sou impopular e esquisito! – tentou se defender. – Eu só não quero ir morar com um monte de pirralhos chatos! Aquela república só tem pirralho!
- Quem tá parecendo um pirralho é você que não quer sair de perto do papaizinho! – Isshin, o pai, fez beicinho de beijo para o filho.
- Eca, que nojo! – fez uma careta. – Até parece! – voltou a atenção para a comida.
- Ichi-nii já vai fazer vinte anos... Acho que precisa mesmo ficar mais independente... – a morena balançou os ombros de leve.
- Até você, Karin!? – ficou indignado.
- Acho que não tem problema o onii-chan ficar aqui até terminar a faculdade... Eu não ligo de continuar cozinhando e lavando as roupas dele. – Yuzu sorriu para o irmão.
- Argh, chega! – levantou-se bruscamente. – Acho que hoje não é meu dia mesmo! Não me perturbem no meu quarto. – e saiu pisando duro escadas acima, deixando a família entreolhando-se espantada e curiosa.

- Não entendo porque é tão importante que eu saia daqui. – resmungou para si mesmo, já no quarto, ligando o computador. – Não entendo porque todo mundo é tão irritante... Inclusive eu... – depois de algum tempo e alguns cliques acessou seu e-mail.

Checou a lista com uma significante ponta de esperança. Mas desanimou-se ao chegar ao fim. – E eu continuo esperando...– ofegou para si mesmo frustrado e atirou-se na cama em seguida.
O que devia fazer para que não fosse tão... Solitário?
- Talvez ser menos preconceituoso, mais tolerante... – ia murmurando em cima da colcha da cama. – Talvez dizer para alguém onde fica o supermercado... – e aquele rosto branco de olhos tão enormes e azuis invadiu sua mente. E aquela voz que ficou enfurecida subitamente, e quando desapareceu no elevador tentando não parecer tão irritada e ofendida... – E por que é que estou pensando nisso? – virou-se de barriga pra cima. – Provavelmente daqui a poucos dias não me lembrarei do rosto dela...
E fechou os olhos, em pouco, caindo no sono.

****

Não demorou muito para que encontrasse o supermercado, voltasse à república e fizesse o almoço. Na verdade foram apenas algumas horas.
Passava das quatro e estava agora em seu quarto, desfazendo finalmente as malas. O pequeno apartamento se dividia em uma cozinha, um banheiro e um quarto consideravelmente grande onde enfiariam em breve mais uma cama e mais uma hóspede. Queria que fossem quartos individuais para cada uma, mas como não era possível, resolveu que não iria reclamar. Afinal, poderia ser tão ruim assim dormir com duas garotas? Não. Apesar de preguiçosas – e um tanto quanto bagunceiras – elas eram agradáveis. Estavam agora sentadas em suas camas, Momo eventualmente pegando alguma coisa de sua mala e comentando sobre e Rangiku contando fofocas.
- Ohhhhh! – os olhos castanhos de Momo quase saltaram das órbitas quando a última mala foi aberta. – Coelhinhos! Que lindos! – apanhou um coelhinho de óculos e ficou observando-o. – Você tem tantos, Rukia-chan!
- Ah... – corou pegando alguns e arrumando-os. – São meus xodós... Mas enquanto eu estiver aqui pode ficar com eles também. – sorriu.
- Ahh obrigada! – a menina abraçou o coelho toda alegre.

- Como eu pensei... – a loira balançou a cabeça afirmativamente com uma vozinha de suspeita. - Você é mesmo virgem. – acusou novamente e depois riu dos olhares envergonhados e espantados das meninas. – Você tem namorado, Rukia-chan?
- Hm... Na verdade não. – voltou a arrumar os coelhinhos ainda sentindo o rosto um pouco quente. - Nunca teve? – estava mesmo curiosa.
- Na verdade sim... – respondeu de novo vagamente. Se pudesse esquecer esse assunto para sempre... Seria tão mais simples!
- Ah, qual é! Conta pra gente! – fez um biquinho e cruzou as pernas em cima da cama. – Olha, posso te contar da minha vida amorosa primeiro, se quiser!
- Pode contar. – disse com a voz um pouco fraca. – Mas não pergunte da minha... – disse ainda mais baixinho, temendo que fosse rude com alguém que simplesmente não sabia da história.
- Bem... Eu já tive muitos namorados. Desde os doze anos... – olhou para Momo. – Né, encalhadinha?
- Ahhh! – foi a vez dela fazer beicinho. – Poxa vida, não me chame assim! Só estou esperando que ele me note. – cruzou os braços emburrada espremendo o coelhinho contra o peito.
- Mas... – suspirou ignorando a ofendidinha. – Só me apaixonei de verdade por um... E não deu muito certo, sabe? Agora ele está meio longe. – segurou instintivamente o bracelete que usava. – Então, estou curtindo novamente a vida! – riu pra descontrair.
- Mas continua tendo esperança! – Momo alfinetou. – Né? – olhou desafiadora para o bracelete da prima.
- Ahhh e você, hein? Apaixonada pelo professor! – mostrou a língua.
- Pelo menos ele não... – foi cheia de ferocidade, mas resolveu não levar tão a sério aquela discussãozinha. Era só um papo leve, era tudo brincadeira. – Ah, deixa pra lá!
- Está... Apaixonada pelo seu professor? – Rukia virou a cabeça para Momo com o rosto um pouco sério. – Quantos anos ele tem?
- Bem... – encolheu-se diante do olhar estranho dela. – Ahn... Trinta e cinco.
- Você sabe que isso é perigoso, não sabe? – continuou um pouco séria demais. – Ele demonstra alguma coisa por você?

- B-bem... – estava um pouco assustada com o jeito que ela estava falando. Parecia que tinha feito algo muito errado e logo ia receber um belo de um castigo.
- Que isso, Rukia-chan, não dê tanta atenção a isso! – Rangiku interveio descontraída. – É só uma paixonite de criança. – balançou as mãos.
- Não é paixonite! – Momo protestou.
Esperava que fosse mesmo. Para o bem dela. Só que não gostava de tratar do problema de ninguém com descaso. Não gostava de não dar importância, fosse o que fosse. E estava preocupada.
- Agora que já sabe de todas nós, por que não fala nem que seja um pouquinho de você, Rukia-chan?
Suspirou. Elas não iam desistir. Sentou-se finalmente na cama e encarou os rostos esperançosos.
- Certo. Eu só tive um namorado e isso foi ano passado. Eu sempre fui ocupada, sabe? Ajudava meu pai na escola de crianças que ele dá aula, pois ele vive doente... E também ajudava minha mãe
em casa. E ainda estudava. Eu sempre estudei bastante pra realizar um sonho meu. Então... Namoramos por um tempo e... E terminamos e... Eu mudei pra cá e pronto.
- Aii! Só isso? – Momo ficou frustrada.
- Por que terminaram??
- Porque... Porque sim. Descobrimos que não dávamos certo e pronto. – desviou os olhos, mexendo na ponta do vestido.
- Hmm... Sei... – a peituda torceu o nariz desconfiada.
- E pretende arrumar um novo amor aqui, Rukia-chan? – a outra ficou animada.
- Nem pensar! – respondeu indignada. – Eu quero estudar muito, dar o melhor de mim e voltar honradamente para minha cidade com o diploma na mão. E enfim, poder colocar meu sonho
em prática. O amor só atrapalha essas coisas. Só nos tira dos trilhos e a gente acaba se perdendo nos nossos propósitos. – estufou quase que imperceptivelmente o peito orgulhosa do pequeno discurso.
- Eu discordo, Rukia-chan. – mas Rangiku murchou-a rápido. – Eu não acho que o amor desmotive ninguém. Muito pelo contrário. O amor só faz você ter cada vez mais força, sabe? Com essa força você pode enfrentar qualquer barreira, qualquer coisa. O amor só nos engrandece...

E nos ensina a ter esperança em muita coisa.
Olhou-a mais atentamente e com as sobrancelhas ligeiramente franzidas. Era a primeira vez que a loira dizia algo tão a sério. Dava para ver em seu rosto que tinha certeza do que estava falando, apesar de no fundo, os olhos azuis quase cinza abrigassem um brilho nostálgico.
- Ah... – sentiu-se um pouco desconfortável com aquela resposta tão apaixonada. – Acho que nem em todos os casos o amor é...
- ... Não. – interrompeu-a. – Está errada. O amor é bem mais do que você pensa. Você não deve ter encontrado a pessoa certa ainda. – dessa vez sorriu.
Resolveu calar-se. Sorriu minusculamente de volta. Era claro que estava perdidamente apaixonada por alguém... E que tinha esperanças de estar com essa pessoa novamente. Por isso estava tão sonhadora.
Suspirou. Permaneceria cética. Seu coração também pulava quando lembrava de... Daquela pessoa. Mas sabia que seria muito melhor se a esquecesse. E como poderia se sentir livre.
- Mudando de assunto... – Rangiku cantarolou mudando o clima. – Amanhã começam as aulas, estão animadas?
- Eu tô! – Momo deu um pulo.
- Eu também. – Rukia também sorriu.
- Eu não! – Rangiku fez uma careta. – Acho que só vou na outra semana... Ainda quero fazer algumas festinhas! – riu.
- Ahhh... – Momo revirou os olhos desanimada. – Que saco...
Contando que as festas fossem no terraço, Rukia não se importava que as fizessem.
Ainda precisava arrumar um emprego...

****

Era bem cedo quando decidiu ir dormir. Não completaram nem as onze da noite. Estava exaustada. Deixou as outras duas comendo seus doces na cozinha e foi descansar para o primeiro dia de aula.
Mas... Algumas horas depois sentiu uma forte luz no seu rosto e ouviu barulho de teclas sendo digitadas freneticamente. Era sensível a barulhos na hora de dormir. Sempre dormiu em ambientes bem escuros e silenciosos.
Abriu devagar os olhos para acostumar-se. Constatou que o ‘despertador’ era Rangiku digitando no computador alegremente.
- Hmm... – resmungou.

- Oh, Rukia-chan, te acordei! – fez cara de dó mas logo voltou a atenção para o monitor. – Sabia que não ia conseguir dormir tanto assim!
- Que horas tem...? – perguntou levantando-se toda grogue.
- Duas e pouca. – respondeu tomando um gole de suco.
Suspirou pesadamente.
- O que está fazendo aí? – tentou espiar.
- Consultando um site de astrologia. Qual o seu signo?
- Ah... Não acredito nessas coisas não. – balançou a cabeça.
- Ah, sei! – riu. – Aposto que é capricorniana.
Arregalou os olhos.
- É... Sou sim... Eu... Tinha dito antes? – piscava confusa.
- Não! Mas tá na cara! Toda cética, certinha, dorme cedo, estudiosa, organizada...
- Oh... – foi escorregando até a beirada da cama para perto do computador. – Então capricornianos são assim, é?
- Sim! – sorriu. – É a sua cara! – apertou-lhe a bochecha.
- E qual o seu signo? – de repente ficou curiosa.
- Libra. É o signo do amor, da beleza e da simpatia! – sorriu animada.
É... Até que isso fazia sentido...
- Legal. Realmente combina com você... – sorriu também.
- Ah, ótimo! Viciei mais uma! – começou a entrar num site. – Olha esse site aqui!
- Céu... Hum... Bonito... – ficou olhando na tela a página se abrir, com todas as constelações e o título feito de estrelas.
- Pois é. Vou te contar um segredo. – espiou e viu que Momo estava mesmo dormindo, agarrada com aquele coelhinho. Então, voltou a atenção para Rukia. – Esse site é mágico! – disse baixinho.
- Mágico? – franziu o cenho. – Como assim? – também perguntou baixinho.
- É um site comum pra quem vê assim... Fala sobre os signos, as personalidades, previsões... Mas tem essa parte sobre almas gêmeas... Eles encontram a sua alma gêmea, Rukia-chan! – disse quase sem ar, emocionada.
- V-verdade? – não estava muito crédula, mas estava impressionada. – Então... Você encontrou sua alma gêmea nesse site?
Apertou o bracelete.
- Sim... Mesmo que ele esteja distante agora eu... Eu sei que ele é minha alma gêmea... – os olhos caíram um pouco. – Mas... Eu sou tão feliz de terem encontrado pra mim!

Porque diz aqui que é uma coisa bem rara! Porém, certeira. Aqui você pega o endereço e vai até lá fazer uma consulta astrológica. Eles cadastram seu mapa astral e esperam aparecer um cadastro que seja sua alma gêmea!
- Hmm... – diminuiu os olhos. – Isso parece tão clichê... Parece tanto com uma enganação...
- Não é enganação! Eu sei que não! – tinha certeza no olhar. – É muito difícil eles encontrarem... E também, se você e a pessoa passarem o tempo que eles estipularem juntos e não darem certo, eles até te dão uma quantia em dinheiro! – mostrou o número na tela. – E não é pouco não!
A boca da pequena se abriu junto com seus grandes olhos. Com certeza aquele dinheiro não era pouco.
- Uau! – exclamou fixada na tela. – Isso é muita coisa mesmo. Eu poderia... Poderia dar um grande passo no meu sonho...
- Haha. – parecia orgulhosa. – Capricornianos e sua obstinação com seus objetivos... – meneou a cabeça como quem sabe das coisas. – Por que não se cadastra, Rukia-chan?
Ainda estava olhando para a tela. O pensamento começou a vagar. Não acreditava nessa porcaria de almas gêmeas. As pessoas só se casam e ficam juntas quando tem coisas em comum, objetivos em comum, quando olham para o mesmo lado. Por isso não havia dado certo...
Mas quem sabe não poderia encontrar alguém que pudesse estar ao seu lado para lhe fazer companhia? E se não desse certo, tinha o dinheiro...
- Não, não. – balançou a cabeça. – Não quero me estressar com isso. Já disse onde quero manter minha mente. – relutava com as possibilidades.
- Ahhh, eu insisto, Rukia-chan! – puxou o braço dela. – Olha que bracelete bonito eu ganhei! – mostrou o bracelete dourado com o símbolo de libra. – Você vai ganhar um assim também! E pode escolher a cor! E... E...
- Não, Rangiku-san! – riu. – Sério, obrigada. Mas não posso desviar minha mente assim.

- Rukia-chaaan! – choramingava. – Vamos fazer o cadastro! Só o cadastro! É raro encontrarem as almas gêmeas. Faça uma pessoa desocupada e romântica feliz, não tenho nada pra fazer amanhã! – piscou os olhos tentando seduzi-la.
- Mas eu tenho! Eu tenho que estudar amanhã! – bateu o pé.
- Hmm... Certo. – voltou-se bicuda para o computador. – Então tomara que passem um trote em você, já que tem o tipo das que levam trote na cidade grande. – inventou.
- É-é mesmo? – ficou com medo. – C-como assim?
- Ah... Menininhas fofas, ingênuas... As ratas velhas da faculdade não perdoam não! Já teve casos de rasgarem o vestido de uma menina na frente de todo mundo! – assentiu com sua cara de espanto mais convincente.
Arregalou os olhos.
- Espere até o terceiro dia que não haverá mais trotes. – sorriu tranqüilamente.
- Bom... Acho que... Não tenho escolha... – estava assustada de dar dó.
- Ótimo! Amanhã de manhã vamos até lá! – bateu palmas mais animada impossível.
Agarrou seu coelhinho médico e deitou-se encolhida no lençol. O povo da cidade grande era mesmo muito, muito cruel!
Lembrou-se como num flash daquele garoto ruivo que não quis nem dizer onde ficava o supermercado e foi tão grosseiro. Imaginou que tipos como ele deviam rasgar vestidos de pobres meninas inocentes do interior. Sentiu um arrepio.
Fechou os olhos dando graças a Deus por ter tido sorte de encontrar pessoas tão gentis para dividir a república e acabou adormecendo.

****

Com as mãos nos bolsos, caminhava pelo campus. Não tinha amigos do mesmo curso para rever e fazer festa como a maioria das pessoas que ia observando no seu caminho. Mas sabia que tinha desviado de Keigo logo no portão.
Não estava ligando. Não muito. Na verdade era a parte do dia que mais gostava. Ir estudar. Tinha uma grande motivação para isso. Muito importante.
- E aí, Kurosaki!? – uma voz feminina apareceu atrás de si. Girou para verificar.
- Oi. – respondeu seco e continuou andando, sem olhá-la de novo.

- Sabe, eu e a Mai estamos morando juntas agora... Ela está um pouco arrependida da vergonha que fez você passar...
Não respondeu. Continuou andando.
- Não seja tão duro, Kurosaki. Você devia saber. Já é grande coisa ela ter se arr...
- Olha aqui, garota, se ela estivesse realmente arrependida, ela mesma ia vir falar comigo e não mandar você! – virou-se bruscamente para ela fixando-a com os olhos furiosos. – E eu não estou nem aí mais. O que está feito está feito! – lutava para conter a voz.
- Ai, calma! – a jovem encolheu-se ligeiramente. – É por isso que você ganhou um fora tão bonito, sabia? Você é assustador! Mesmo se ela não tivesse namorado ela nunca sairia com você! – apontou para ele com um olhar desdenhoso de cima a baixo. Mas mesmo com a ousadia do olhar, se encondia atrás de seu fichário.
- Eu sei disso muito bem, ela deixou bem claro. – disse entre os dentes e voltou a andar, apertando o passo. – Agora, por que é que ela não me esquece? Eu já fiz a minha parte! – e com um último olhar um tanto quanto vitorioso, sumiu por entre o apinhado de estudantes.
- Hunf! – a mulher de cabelos enormes e ondulados fez uma careta empertigada. – Punk idiota! – e saiu andando para o lado oposto.

Assim que entrou para a primeira aula, já pôde ver aquela cabeleira loira reluzente sendo jogada para o lado enquanto escrevia alguma coisa animadamente no caderno novo.
Sentou-se bem longe, perto da janela, onde pudesse distrair o olhar.

****

- Está pronta? – Rangiku perguntou encostada na porta.
- Sim. – deu a última escovada nos cabelos. – Pronta! – sorriu.
Vestia uma simples camisetinha de alcinhas azul clara e uma saia leve estampada com delicadas flores de um tom de azul mais escuro que descia até os joelhos. Nos pés tinha um par de sapatinhas da mesma cor da blusa, sem nenhum salto, fazendo com que ficasse em grande contraste com a loira e seu vestido decotado rosa shocking e o par de sandálias de salto alto.

- Ohh, está tão bonitinha, Rukia-chan! Como uma modelo de primavera! – sorria. – A blusa combina com seus olhos.
- Ah, obrigada! – sorriu de volta meio sem graça. – Você também está linda! Parecendo... Hun... – ficou em duvida com os olhos perdidos naqueles peitos exagerados que pareciam a qualquer momento sair do decote. Será que iam agüentar no lugar enquanto ela andasse?
- Parecendo...? – instigou curiosa.
- Hm... A Britney Spears! – exclamou numa inspiração súbita assentindo. – Com meio litro a mais de silicone! – não pôde deixar de acrescentar.
Fez-se um silêncio entranho entre as duas.
- Meus peitos não são de silicone. – ela parecia meio chateada.
- Ah... Ah, sem dúvida que não! – balançou a cabeça incrédula. Então aquilo era mesmo de verdade? Olhou para si mesma. Uns com tanto, outros com tão pouco.
- Não se preocupe Rukia-chan. – riu batendo amigavelmente no ombro dela. – Os seus ainda podem crescer!
- Ahn? – corou. – Mas... Eu já tenho dezenove!
- Ah, é mesmo! Sem dúvidas que tem! – piscou.
Aquilo foi uma vingancinha? Então era grave mesmo acusar os peitos dela de falsos.
- Bem, melhor irmos logo, não é? – começou a sentir uma pequena pontada. Mas tentou ignorá-la, não ia se animar com uma bobagem dessas!
- É! – quase saltitou feliz. – Estou muito ansiosa!

****

Foram no carro da loira. Andaram por algum tempo, as duas sem dizer nada, distraídas. A pequena ficou fitando a janela do carro o tempo todo. Olhando tudo o que passava, o lugar em que estava vivendo. Era bem diferente de onde tinha vindo. Sem perceber sorria. E sem querer ficava imaginando se teria sorte de encontrar a rara alma gêmea... Não que quisesse isso, claro que não. Era o dinheiro que interessava! Afinal, essas coisas de almas gêmeas nunca existiram!
Estacionaram perto de uma casa com aparência bem comum. Ficou olhando para os lados procurando algum letreiro piscante como o do site com as letras de CÉU bem grandes e chamativas. Ou algum lugar suspeito, escuro...

Ou quem sabe uma tenda como aquelas de videntes que prevêem o futuro?
- Aqui, Rukia-chan! – Rangiku apontou para frente.
- Ah... É aí? – olhou parecendo desapontada. Bem, isso diminuía a chance de ser um tipo de enganação barata.
- Sim. Nem parece né? – riu e saiu do carro. – Vamos lá!
Saiu do carro também. As pernas começaram a bambear um pouco. Era estranho demais o que estava fazendo. Mas ao mesmo tempo era excitante. Não acreditava muito em coisas que não podia ver, mas contraditoriamente podia sentir o misticismo no ar...
Andaram até a entrada. Uma garotinha usando marias-chiquinhas, com uma carinha bem infeliz e uma vassoura nas mãos balançando pra lá e pra cá parou imediatamente ao ver as duas.
- B-boa tarde! – disse na sua vozinha hesitante.
- Boa tarde! – Rangiku acenou toda sorridente. – Gostaríamos de ver o Celeste-sama, ele está?
- Celeste-sama? – Rukia entoou com uma pequena careta. – Que codinome gay... – murmurou.
- E-ele está sim. – a garotinha assentiu sem olhá-las diretamente. – Podem entrar, por favor! – e foi mostrando o caminho.
Rangiku foi andando naturalmente na frente, enquanto Rukia ficou meio na dúvida atrás. Olhava pros lados observando o local. Tentava imaginar a cara deste tal de Celeste-sama. Boa coisa não podia ser.
A garotinha esquisita então sumiu lá dentro. Deixou as duas esperando. O local parecia mais com uma loja de doces do que com qualquer outra coisa. Qual era a finalidade de haver tantos potes de balas e chocolates espalhados e caixa registradora e...
- Boa tarde, senhoritas! – uma voz cantarolante e divertida encheu a sala fazendo as duas girarem as cabeças para o dono desta. – Em que posso ajudá-las? – o homem vestido de verde, se escondia atrás de um leque e debaixo de um chapéu que lhe cobria os olhos.


Continua...



 


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