Dont Go escrita por xDropDeadx


Capítulo 1
Dont Go




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Don't Go.

Oi, sou eu, Oliver. Pode deixar seu recado após o sinal. Ligo mais tarde.

– Oi Oli, sou eu o Tom. Amanhã é seu aniversário, né? Mamãe disse que está com saudades de você. Ligue-me mais tarde se puder. Sinto falta de conversar com você... Fico triste em saber que você ainda mora nessa casa, sozinho. Tão solitário. Seria ótimo se você viesse passar uns dias comigo e com ela... Eu te amo, Oliver. Não se esqueça disso, irmão.



Da janela de meu quarto eu conseguia enxergar a penumbra da floresta que habitava do outro lado da rua. Eu não conseguia deixar de olhá-la um dia se quer. Era como se aquele dia pudesse se repetir diante de meus olhos, como um filme que insistia em ser rebobinado. Meus olhos vazios carregados por um corpo oco de emoções. As únicas lembranças que podiam despertar minhas pulsações era as que eu sonhava em me esquecer um dia. Os gritos dele ainda podiam ser escutados por mim. Eram tão estridentes que passavam pelas árvores, carregando junto suas folhas. Você acha que o silêncio faz o bom homem converter? Eu estava sendo assombrado desde aquela tarde tenebrosa em um vale feito de sombras. Eu não conseguia me livrar de meus demônios, e ainda podia senti-los me enforcar durante a noite. Cicatrizes que nunca fechariam, e que nunca parariam de doer. Eu o tinha abandonado ali, perdido naquela floresta. Eu tinha o deixado morrer. Deus me perdoe pelos meus pecados; Deus me perdoe por tudo. Ainda não fazia sentido pedir por suplicas, sendo que nem eu mesmo conseguia me perdoar. Tinha sido engolido pela minha covardia tão rapidamente que todos ao meu redor foram se afastando no mesmo ritmo. Eu ainda morava ali, preso naquela casa, preso naquela cidade. Eu não tinha coragem de abandonar mais uma vez a presença viva que ainda sentia do meu melhor amigo. Era como se uma hora eu fosse o ver, da janela do meu quarto, sair daquele bosque e acenar pra mim. Mas isso nunca iria acontecer e eu teria que sobreviver encarando meus próprios horrores durante meus dias e noites. Carregando cada centímetro de culpa que pesavam em minhas costas como uma cruz.


FLASHBACK_

Eu corria mais rápido que meus pés podiam agüentar. Gritava desesperado por Dennis que estava logo atrás de mim, na mesma velocidade. Já tinha sido metros percorridos floresta adentro, e ainda assim não conseguíamos despistar aqueles garotos. Ainda éramos as crianças subjugadas e tímidas depois que saímos da escola. Nossos choros e soluços eram engolidos pela escuridão do bosque e ninguém nos escutava.

– Dennis, fique comigo! – gritei agarrando em seus braços tão finos quanto os meus. Tínhamos sete anos e não tínhamos nenhuma chance de escapar daqueles adolescentes, que haviam desenvolvido um instinto assassino em relação a nós dois.

– Seus bixinhas, parem de correr e apanhem como homens! – um deles gritou, mas não demos ouvidos. Continuamos o percurso, ainda mais velozes e decididos de que sairíamos dali sem um arranhão.

– Deixa a gente em paz! – escutei Dennis gritar, em um gesto inútil de protestar.

Depois de mais longos passos, tínhamos perdidos os garotos de vista. Avistei um buraco dentro de um tronco de árvore logo a frente, e então conduzi Dennis até ali. O escondi rapidamente, vendo-o reprimir até mesmo sua respiração, esta que já era tão ofegante. Enxerguei um pedaço de tronco caído logo à frente. Eu tinha que tomar uma atitude, caso contrário, algo drástico iria acontecer. Corri até o pedaço de madeira, vendo Dennis me repreender com gestos mudo, mas não dei importância, no entanto. Continuei ali, esperto a qualquer movimento dos demais, e não demorou muito para que passos corridos nos alcançassem. Lá estavam eles, rindo de mim. Lancei um olhar para que Dennis não saísse de onde estava, mas logo perceberam o destino de meus olhos amedrontados. Dois dos meninos o pegaram e o jogaram no chão, enchendo-o de bicudas na barriga.

– DENNIS!- gritei desesperado.

– Oliver, não me deixa aqui sozinho! – ele não tinha forças para gritar. Sua voz estava fraca. O mesmo cuspia sangue, porém eu me sentia tão vulnerável quanto ele naquele momento.

Achando através de escassez coragem, acertei em cheio as costas do outro menino que olhava a cena violenta dos amigos, prazerosamente. Ele caiu ajoelhado no chão, gritando de dor. Era a minha chance de escapar. Logo minhas pernas em um ato instintivo, estavam correndo novamente por entre as árvores. Eu estava correndo para bem longe dali, só então percebi que eu o tinha deixado... Sozinho.

Não vendo mais sombras do garoto do qual eu fugia, parei ali, soluçando e sem fôlego. Dennis parara de gritar, ou pelo menos tinham parado de batê-lo tanto quanto faziam. Sem pensar muito, voltei para o lugar onde estava anteriormente, junto com meu melhor amigo. Preferia mil vezes não ter voltado a ter visto aquela cena. Lá estava ele, estirado ao chão, com as mãos inertes de cada lado, ensangüentado.

– Dennis... – minha voz soou fraca, quase inaudível. Um grito soou desesperado por entre as árvores, fazendo com que os passarinhos pousados nos galhos voassem dali, assustados. Os autores do crime se encontravam ajoelhados no chão, o chacoalhando. Nem mesmo eles estavam acreditando do que tinham acabado de fazer. Dennis estava morto, e era por minha causa.

– O que aconteceu aqui?! – escutei uma quarta voz no ambiente. Mais adiante vi meu primo, Shawn, abismado enquanto encarava o cadáver entre os amigos. Agora tudo fazia sentido. – Oliver?- todos os olhares se voltaram a mim. Não sabiam que eu tinha voltado, e ambos ficaram em choque. Shawn se aproximou vagarosamente e sem nenhuma cautela agarrou meus braços, me dando um soco forte no nariz, com o qual começou a sangrar instantaneamente. – Eu juro que se você contar pra alguém sobre isso, você será o próximo! – gritou autoritário enquanto eu apenas conseguia assentir, chorando de dor. Sem mais nenhuma palavra, sumiram dali, correndo entre as árvores. Dennis estava morto por minha culpa!

°°°

Eu não podia fazer simplesmente nada. Ainda estava ali, agarrado ao corpo do meu melhor amigo, que não transmitia nenhum sinal de vida. Eu estava pressionado, com medo e desespero. Eu era um covarde!

Sai dali tentando limpar meu nariz que escoria sangue tão vagarosamente. Não vi tormento maior quando avistei minha casa, logo ali na frente daquela floresta que agora me dava tanto medo.

– Oliver, querido! O que aconteceu com você?! Onde está Dennis? – Minha mãe veio ao meu encontro assim que entrei pela porta dos fundos.

– Mãe... A gente... A gente se perdeu na floresta e agora eu não sei onde ele está! – menti, sentindo cada parte de meu corpo rejeitar aquilo, como uma descarga elétrica que passava por ele, apagando meus sentidos. Eu não tinha coragem o suficiente para contar a verdade. Meu primo era perigoso e sempre o temi. Só nunca imaginei que eu e meu amigo fossemos suas vitimas. – Eu tropecei em um tronco de árvore e bati o nariz no chão, está doendo tanto mãe! – chorei, engolindo cada soluço descontrolado que saiu pela minha garganta. Eu só queria contar a verdade.

°°°

Estava encarando um cartaz colado na parede da escola. Dennis Owen Smither, desaparecido há duas semanas. Ultima vez visto na floresta. Eu não queria dizer que era a única também. Sua mãe passava tarde e noite em minha casa, tentando arrancar alguma coisa de mim. Algo nela gritava que o melhor amigo do seu filho, sabia exatamente dizer o que havia acontecido com ele. Eu não conseguia olhá-la nos olhos, assim como nem meu próprio reflexo eu tinha coragem de enxergar. Eu tinha vergonha de mim.

– Oliver... – minha mãe veio até a mim quando adentrei a casa pela porta da frente. Como se meu corpo estivesse no modo automático, apenas larguei a mochila em qualquer canto da sala e subi rapidamente as escadas para meu quarto. Sentei na poltrona, que eu mesmo havia colocado ali, para observar a floresta pela janela. Ela se mantinha do mesmo jeito que sempre esteve, silenciosa e escura. Mas dentro... Ninguém imaginava que uma alma estava gritando por ajuda, para ser encontrada.

– Querido, deixe-me entrar, por favor. – escutei mais uma vez a voz chorosa de minha mãe. – Preciso lhe contar o que houve com Dennis.

Meus olhos marejaram e minha boca se manteve fechada, reprimindo um grito que queria escapar feroz por minha garganta. Eu sabia o que havia acontecido com Dennis, o tempo todo. Assim como o meu primo tinha plena consciência do ocorrido, mas lá estava ele, sentado no sofá da minha casa, pronto para acompanhar sua mãe e tia para o enterro do garoto que matara. Eu não precisava mais passar por aquilo, suas ameaças emitidas apenas com olhares maníacos me davam calafrios e pesadelos à noite.

– A senhora Smither iria ficar muito feliz de te ver, Oliver. Por favor, filho, nos acompanhe até a casa de seu amigo.

Com um soco bem dado na parede de meu quarto, consegui descontar pelo menos um pouco da raiva e desespero que me possuía. O assassino do meu melhor amigo estava sentado ali embaixo, e eu não podia fazer absolutamente nada! Ao não ser ir até a casa da mãe de Dennis e lhe dar os meus pêsames, enquanto ela desesperadamente espera que a justiça seja feita. Denni iria me perdoar se um dia nos encontrarmos? Seja o que for minha conseqüência diante de Shawn ou minha punição diante da verdade escondida, porém revelada, eu tinha que fazer aquilo por Dennis.

– Mãe, preciso te contar uma coisa... – falei, tirando sua atenção da conversa com minha tia. Meu primo que estava sentado logo ao seu lado, me lançou mais um daqueles olhares pesados, mas eu contive meu medo e permaneci com a minha atitude diante daquela decisão.

– Claro filho. - ela respondeu docemente, enquanto passava as mãos por meus cabelos. Puxei pelo braço até a cozinha e respirei fundo.

– Eu sei quem matou o Dennis. – senti como se facadas estivessem sendo dadas por meu corpo. Eu não conseguia encarar diretamente minha mãe, que naquele momento tinha os olhos tão indecifráveis sobre mim.

– Do que você está falando Oliver?

– Foi o Shawn com seus amigos. Eu estava lá mãe, eu vi tudo! Eu fugi, mas se eu estivesse ficado eles iriam me matar também!

Contei tudo com todos os detalhes para minha mãe, que ficaram em estado de choque. Eu não tinha mais medo, ele não faria nada mais pra mim. Ele iria ser punido como deveria, junto com seus capangas. Eu finalmente tinha feito o que minha consciência tanto mandava durando todo aquele tempo. Mas infelizmente não era o suficiente para que o peso dela sumisse por completo. Nada mudava o fato que eu o tinha abandonado lá, indefeso. E por isso, será um preço que eu pagarei pelo resto da minha vida, todos os dias.

FLASHBACK off_



O terno tinha servido exatamente como eu queria. Uma rosa era segurada pelas minhas mãos que tremiam. Era meu aniversário, mas eu não tinha nada e nem ninguém para comemorar. A lápide ainda estava intacta, com um ramo de flores, agora mortas, que eu mesmo havia deixado ali há algum tempo atrás. “Dennis Owen Smither, amado filho e melhor amigo“.

Um lugar onde você tem a sensação de que não existe vida após a morte, é o próprio cemitério. Mostrava de um jeito frio e sombrio que somos apenas carne e osso, que depois da morte servimos de alimento para insetos nojentos. Eu tinha uma alma, condenada, mas eu sabia que tinha uma ainda. Dennis, sua alma foi levada pura e intocada. Eu deveria ter ido em seu lugar, ele não mereceu apodrecer ali.

Pousei a rosa sobre seu tumulo, e não pude impedir que algumas lágrimas escorrem-se. Fazia quatorze anos, mas ainda era como se tudo tivesse acontecido no mês passado. Os olhos de sua mãe tão mortos quanto o filho. Uma dor que eu nunca vou parar de sentir.

Levantei-me lentamente, contendo a tontura. Fui até o lugar em que eu mais temi durante todos esses anos: a floresta. O lugar ainda era do mesmo jeito. As árvores velhas tão grandes e assombrosas. A terra levemente molhada pelo orvalho da noite fria de Londres. Os passarinhos ainda habitavam os galhos e voavam rapidamente para o céu quando escutavam meus passos pesados por ali, como se eu fosse uma ameaça.

– Dennis?

O chamei. Eu sentia sua presença de algum modo inexplicável. Não sabia se era a minha vontade enlouquecedora de ainda ter meu amigo vivo, ou se eu realmente estava ficando louco. Mas a resposta veio à tona, quando aquele menino magricelo e pequeno saiu de dentro da árvore oca, que servia muito bem de esconderijo.

– Você cresceu Oli.

Um choque tinha tomado todo meu corpo, fazendo com que meus sentidos apagassem. Estava convencido de que tudo aquilo que eu sentia e imaginava era apenas loucura, mas lá estava ele. A minha frente, ainda criança.

– Dennis?

– Com quantos anos você está, Oli?

– Vinte e um.

– Eu ainda tenho sete... Porque nunca veio me ver? Eu estava te esperando vim me buscar. Eu fiquei com tanto medo.

– Me desculpa Dennis... Me desculpa!

– Porque você nunca voltou Oliver?! Eles me bateram tanto, eles me mataram! Você me deixou aqui sozinho por tanto tempo... E minha mãe?! Você não pensou nela também, Oli?

– Porque você esta fazendo isso comigo Dennis?

– Você era meu melhor amigo.

– Você sempre será meu melhor amigo. Eu nunca me perdoei pelo que fiz, e nunca irei me perdoar, pelo resto da minha vida. Eu senti tanto medo naquele dia, que eu não sabia direito o que estava fazendo. Eu voltei Dennis... Eu juro que voltei, mas você já estava morto. Depois meu primo, o Shawn me fez jurar que não contaria a ninguém, porque se não me mataria também! Eu engoli toda essa história por duas longas semanas, Dennis. Culpando-me, me sacrificando e me torturando. Mas quando encontraram seu corpo e fizeram o seu enterro, eu não podia mais esconder a verdade de todos, principalmente da sua mãe Denni. Contei tudo o que aconteceu e depois, Shawn simplesmente desapareceu, assim como seus amigos. Não foi o suficiente para que eu receba perdão, eu tenho plena consciência disso, mas eu queria fazer o certo, Dennis.

– Oli, minha alma foi libertada por você, amigo. No momento em que você decidiu por si só contar toda a verdade, foi como se eu pudesse voar. Mas eu quis ficar por mais um tempo... Eu precisava que você viesse até aqui.

– Você me esperou todo esse tempo Dennis, por quê?

– Porque agora é minha vez de libertar a sua alma, amigo. Eu te perdôo Oliver. Por tudo!

Minhas lágrimas já escapavam como chuva pelo meu rosto. Meus joelhos pousados no chão doíam. Minha dor foi lentamente substituída por um alivio incomum. Dennis havia me perdoado. Era tudo que eu precisava para reviver, para que enfim eu pudesse sentir meus batimentos cardíacos baterem por livre e espontânea vontade.

Com um principal propósito, como uma ligação entre eu e meu melhor amigo eu fui levado até aquela floresta naquela tarde. Ele estava me esperando, como eu sempre senti que estaria. Só era brutalmente impedido de acreditar que sua alma ainda estava viva, mais viva que qualquer outra existente.

– Eu tenho que ir Oli... Já fiz o que tinha que fazer.

– Você volta amanhã?

– Não posso Oli, eu tenho que ir... Pra sempre agora.

– Não vai...

– Eu te amo amigo.

– Eu também Denninho...

As lágrimas embaçavam meus olhos pela vagarosidade em que desciam pelo meu rosto. Através de borrões eu pude enxergar os pés sujos e descalços de Dennis se distanciarem lentamente. Desta vez ele iria pra sempre.

– Ah... Já ia me esquecendo. Feliz aniversário, Sykes.



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Notas finais do capítulo

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