VIII

O começo

Eu nunca tinha assistido um treino de corrida tão bom. Eu tinha essa certeza porque, apesar de nunca ter assistido um na vida, o meu estado de espírito estava tão bom que eu poderia estar estudando física e mesmo assim eu estaria que divertindo horrores.

O Jake estava muito bravo. Eu nunca o vi daquele jeito. Não se concentrava nos exercícios e quase perdeu uma corrida. A verdade era que a cada ano Jake ficava melhor no seu autocontrole, não sei como ele não tinha virado uma fera ali mesmo no meio do campo. Bem, se eu não voei no pescoço da Leah durante todo o tempo que eu a conheço, então ele pode aguentar uma pressãozinha.

Eu estava lendo, como sempre. Nada muito interessante, não culpo a autora, afinal eu tinha outra coisa de interessante pra observar. O técnico chamara Jake de lado e sussurrou em seu ouvido, alguma coisa do tipo, "descanse um pouco, você esta muito disperso", por que será?

O Jake pegou uma toalha pra enxugar o rosto, e uma garrafa de água antes de se sentar do meu lado. Eu vi todo isso mesmo sem tirar os olhos do livro. A Leah observou tudo de longe, acho que ela estava muito ocupada conversando e se exibindo para o treinador.

O tom de voz do Jake era um misto de sentimentos quando ele começou a falar:

- Desde quando você ta saindo com o Nahuel?

- O conheço desde sempre.

- Nunca me disse que conversava com ele.

- Pois é, pra quem achava que sabia tudo sobre mim...

- É... Acho que não te conheço mais.

- Já eu acho que nunca te conheci.

- Então talvez a nossa amizade tenha sido um erro...

- Ou só um aviso.

- Um aviso?

- Você é um lobisomem, eu uma meia-vampira. Talvez espécies diferentes não possam se misturar.

- Nunca nos considerei de espécies diferentes. O seu coração ainda bate, como o meu.

- Não por muito tempo.

- Como assim?

- Nahuel disse que logo vou me tornar uma vampira completa, exatamente igual a todos da minha espécie.

- Terá ainda mais coisas em comum com Nahuel...

- Assim como o que você tem em comum com todos da sua espécie. – Eu olhei para Leah do outro lado do campo. – Agora eu dou razão a ela. Eu realmente nunca vou ser mulher pra você.

Eu fiquei um pouco tonta. E isso foi percebido pelo Jake, porque meus olhos reviraram e meu corpo amoleceu. Não consegui me segurar e tombei em cima dele.

- Nessie? Você esta bem?

- Eu só estou um pouco tonta... 

O Jake me segurou pelos ombros e gritou para o treinador:

- Treinador, eu preciso levá-la pra casa. Ela não esta se sentindo bem.

- Ah... Claro Jacob, você esta liberado. – O treinador respondeu em seguida.

Jake me colocou em seu colo, como se eu fosse a coisa mais leve do mundo. A Leah correu para o seu lado.

- Aonde você pensa que vai?

- Vou levá-la pra casa! – Ele respondeu sério.

- Não esta vendo que é tudo encenação. Ela só esta querendo chamar a atenção!

- Não. Isso é você quem faz. – Eu fiquei feliz de não ter desmaiado antes de ouvir isso.

Ele saiu disparado com a pobre versão desmaiada de mim em seus braços. Depois disso eu só me lembro de acordar na minha cama, com toda a minha família com cara de enterro. Nahuel não estava.

- Filha? Querida como se sente? – Meu pai estava sentado ao meu lado.

- Já estive melhor.

- O que aconteceu querida? – Minha perguntou.

- Não sei mãe. Acho que minha pressão caiu, ou alguma coisa assim...

- Acho melhor eu preparar alguma coisa pra você comer. Deve estar muito fraca. – Esme disse antes de sair.

- Acho melhor deixarmos a Nessie descansar. – Carlisle disse. Depois disso Alice, Jasper, Emmet, Rosalie saíram do quarto. Me deixando ali com meus pais.

- Jacob disse que você se sentiu mal durante uma conversa que tiveram. – Minha mãe começou.

- Foi sim. E onde ele esta?

- Disse que era melhor ficar longe de você por algum tempo. Queria deixar você fazer as suas escolhas...

- Ahn...

- Jake tem um coração maravilhoso Ness...

- Sei disso. Mãe,posso te fazer uma pergunta?

- Claro...

- Pai... – Dá pra você dar uma liçencinha?

- Ahn... Sim, claro. – meu pai saiu do quarto.

- Mãe, você acha que eu e jake temos alguma chance?

- Como assim?

- Você acha que algum dia ele e eu poderemos ficar juntos, como casal?

- Minha querida, - ela colocou as mãos no meu rosto me forçando a olhar em seus olhos. – algum dia alguém imaginaria que uma humana 'teria chance' de se casar com um vampiro e sobreviver para ter uma linda filha?

- Provavelmente não. Mas então o que eu faço mãe?

- Faça suas próprias chances minha filha.

- Acho que alguém andou lendo...

- Acho que é só a convivência com o seu pai...

- Pode ser. Obrigada mãe. – Eu lhe dei um abraço, e depois ela saiu do quarto me deixando com os meus pensamentos... Não por muito tempo porque o telefone tocou.

- Alô? – Eu disse. Alguém respirava do outro lado da linha. – Alô? Jake eu sei que é você, fala alguma coisa!

- Fico feliz em saber que esta bem. – Foi o que ele disse seco.

- Onde você ta Jake? - Por que não ficou do meu lado?

- Estou fazendo o que me pediu. Estou deixando você em paz.

- Não Jake! Por favor, não vá!

- E por que eu não iria? O que você disse hoje a tarde talvez seja a maior das verdades. Talvez meu imprinting seja um grande castigo. Eu devia ter me afastado da sua mãe depois que ele escolheu ficar com seu pai...

- O que?

- Já que vou embora eu acho que posso te contar toda a verdade.

- Já passou da hora de você ser sincero comigo!

- Eu fui um grande amigo da sua mãe, na verdade, até mais que isso. Eu me apaixonei pela sua mãe, uma vez quando seu pai a deixou e ela se aproximou de mim. Eu a amava tanto, que quando ajudei no seu parto e quando te vi pela primeira vez, a filha da mulher que eu amava, tive o imprinting.

- E então, cuidando de mim, você poderia ficar perto da mulher que você ama. E os meus sentimentos, o que eu sentiria nesta história, a importância que você passaria a ter pra mim foi só um bônus, no final, eu não importo.

- Não... Eu não entendo você Renesmee afinal o que você quer de mim?

- Eu... Eu... Vou dormir!

Eu desliguei o telefone. QUE MERDA! O JAKE ERA O MAIOR IDIOTA DA HISTÓRIA, EU FALAVA A ELE ENTENDIA B. PORRA!

- Filha, algum problema? – Minha mãe disse do outro lado da porta.

- Não, nada mãe. Diga pra vovó que eu já vou dormir, e que como amanhã, esta bem?

- Mas filha...

- Boa noite mãe.

Por Jacob:

Deus! Por que a Renesmee era tão difícil? Minha existência seria muito mais fácil se eu me apaixonasse por uma árvore! Mas, não, eu tinha que me apaixonar por uma pessoa com os sentimentos de um humano e a teimosia de um vampiro, caramba!

Pra mim tudo esteve sempre tão claro. Eu amava a Renesmee e um dia, ela me amaria e nós ficaríamos juntos por todo o sempre. Ponto, era isso. Mas esse meu plano nunca incluiu o que a Nessie poderia sentir... Talvez ela tenha razão. Eu nunca me importei realmente com o que ela sentia, se ela me amasse e me quisesse ao seu lado, pra mim era o que importava. Eu sou mesmo um idiota. E agora? Depois de tudo o que eu disse ela nunca mais vai querer saber que mim. Talvez seja melhor eu desaparecer, deixar ela em paz mesmo. Ela merece a chance de se apaixonar de verdade.

Aliás, ao que me parece ela já esta bem apaixonada por aquele Nahuel. Vê-la beijando aquele cara me deu... Sei lá, foi a pior coisa que já senti. Eu sentia ciúmes, mas sabia que aquilo era culpa minha. BURRO!

Já era de manhã quando eu sai dos meus pensamentos. Eu estava pronto pra ir pra escola. Eu iria embora logo depois das aulas, teria que ajeitar a minha transferência para outra escola. Peguei minha mochila, e assim que passei em frente ao telefone ele tocou:

- Casa dos Black?

- Jacob? – Eu conhecia aquela voz.

- Fala sanguessuga. - Eu brinquei, mas a voz de Edward era séria.

- É a Renesmee.

- O que tem ela? – Eu enrijeci.

- Ela não acordou pra ir à escola hoje, e não responde.

- Estou indo.

Eu saí correndo deixando até a porta de casa aberta. Não costumo ter pressentimentos, mas desta vez alguma coisa me dizia que o Renesmee tinha era sério.

Eu cheguei em sua casa em menos de quatro minutos. E fui recebido por Carlisle e Esme, ambos com um cara de preocupação que me deixava ainda mais preocupado.

- O que ela tem? – Eu perguntei a Carlisle.

- Sua transformação começou.

- Então ela estará bem em três dias, não é? – Por favor, diga que sim.

- Não sabemos. A transformação de Nessie é diferente de todas as outras. Sua parte vampira terá que destruir a parte humana que ainda lhe resta...

- Mas a Nessie não tem veneno!

- Exatamente. Seu corpo terá que produzir veneno.

- Mas como?

- Ninguém sabe.

- E Nahuel?

- Ele diz que cada caso é diferente. Mas acho que no caso da Nessie o corpo dela tirará o veneno a partir dos cromossomos do pai. Mas pra isso ela precisaria de muita energia.

- O que há de errado Carlisle?

- Nessie não se alimenta bem há muitos dias, e, além disso, não anda dormindo bem, seu corpo esta com pouca resistência.

- Esta me dizendo que a Nessie pode morrer?

- É o que tememos.

Eu desabei no sofá. A Nessie poderia morrer, e por minha culpa. Eu era o motivo pelo qual ela não se alimentava e não dormia bem, estava cansada porque passava o dia inteiro escutando as besteiras que eu falava. Eu me sentia muito culpado. Não era justo. Eu deveria estar à beira da morte. Mas de certa maneira eu estava. Afinal, eu posso viver sem ela?

- Eu posso vê-la?

- Esta no quarto com Edward.

- Com licença.

Eu subi aqueles degraus como se fosse o maior exercício que eu já fiz na vida. O mais difícil. Eu não sabia o que encontraria lá em cima, como ela iria estar. Apesar de já me sentir extremamente culpado, e fato que vê-la de olhos fechados já me faria sentir muito pior.

Eu abri a porta do quarto e já parei meus olhos na imagem de Renesmee na cama. Ela estava imóvel, rígida e ainda assim aparentava uma fragilidade sem igual. Seus lábios se misturavam ao branco de todo o seu corpo. Estava mais branca que todos da sua família. Suas veias eram nítidas, de um roxo forte. Doía vê-la assim, nada se comparava aquela dor, era insuportável, uma dor tão ardente que as lágrimas vieram instantaneamente em meus olhos.

Edward e Bela estava do quarto sentados no sofá ao lado da cama. Foi Edward quem disse:

- Não se culpe Jacob, Nessie sabia o que estava fazendo.

- Não há como não me sentir culpado. É meu dever fazê-la feliz e cuidar para que quando isso acontecesse, ela estivesse pronta.

- Ninguém pode cuidar de felicidade de outra pessoa, é muita responsabilidade. - Bella disse.

- Mesmo que seja. Renesmee é a minha prioridade. – Eu disse.

- E é a nossa também. Talvez esse seja o nosso erro. Nossa prioridade deve ser a nossa felicidade. Era isso que Renesmee tentou nos mostrar todos esses dias.

- Ela realmente não sabe o que ela significa pra mim.

- Então deixe as coisas mais claras pra ela. – Disse Bella.

- E se ela não acordar? – Eu disse.

- Ela não tem a sua própria força, mas quem sabe com a sua ela possa vencer. - Bella veio em minha direção.

- Então ela terá toda a minha força.

- É assim que se fala Jake. – Bella colocou a mão em meu ombro.

- Vamos deixá-lo com ela. – Edward disse saindo do quarto com esposa.

Eu me sentei no sofá e fiquei olhando pra Nessie, imóvel na cama. Até na sua extrema fraqueza ela era como uma escultura. Prefeita em cada traço. Irresistível em cada parte de seu corpo frágil. Como eu poderia achar que um dia aquela criatura divina se apaixonaria por mim? Eu estaria feliz se por alguns segundos ela voltasse a olhar pra mim e me mostrasse seu sorriso. Eu não viveria sem ela, era demais pra mim.