II

As coisas se encaixaram como peças de um quebra-cabeça

Eu estava sonhando, é claro.

Apesar de não ser um sonho nada comum. Normalmente eu ficava a noite inteira presa num só sonho, mas desta vez os sonhos eram muitos, e na medida em que se passavam os flashes, eles iam ficando mais nítidos.

No primeiro flash, eu ainda era muito pequena, acabara de nascer. Óbvio que esse eu não tivesse uma memória digna de uma anormal eu não teria me lembrado.

Estava na sala e Rosalie, sentada no sofá, me carregava nos braços e segurava em minha boca uma madeira com sangue O+. O sabor era delicioso.

- Você é a bebezinha mais linda do mundo!- Ela dizia com a voz e os olhos cheios de carinho. – Nossa já mamou tudo!- Ela tirou a mamadeira de minha boca e a colocou na mesa ao lado do sofá.

Com os olhos brilhando ela me ergueu acima de sua cabeça e então eu pude vê-lo.

O corpo enorme curvado em posição de ataque, os punhos fechados, os dentes à mostra, ele queria me matar.

E então encontrei seus olhos. Antes, estavam cheios de ódio, mas depois que se encontraram com os meus se tornaram cheios de... Admiração, talvez. Depois disso, seu corpo inteiro mudou de forma. Sua coluna se ergueu, seus punhos relaxaram e seus dentes se esconderam atrás de seus lábios semiabertos.

- O que você ta fazendo ai cachorro? Não vai machucá-la!- Rose se virou pra ele e me puxou para perto de seu corpo.

- Tem razão, não vou. Nunca. - Foi tudo o que ele disse, mas pude perceber que até ele se impressionou com a verdade de suas palavras.

Esse era o fim do primeiro flash.

E então o cenário da sala foi se modificando.

De repente eu estava no colo de Jake, que estava encostado na parede ao lado do sofá. Eu aparentava ter uns dois anos. Minha mãe e meu pai estavam sentados no sofá, e o resto de minha família compunha o cenário da sala.

Pela minha moleza poderia apostar que acabar de acordar que um longo sono que tive no peito dele.

Assim que viu que eu estava acordada, ele se endireitou e foi logo dizendo:

- Pode dormir mais se quiser Nessie, não precisa acordar agora. – Seus olhos eram cheios de cuidado. Eu balancei a cabeça em sinal de negação, e empurrei meu corpinho contra o dele me apoiando em seu peito. Ele pegou minhas mãozinhas e olhou no fundo dos meus olhos.

- Sabe que dia é hoje não sabe? É véspera de natal. - Ele sussurrava. Eu sorri olhando pra ele. – Então eu quero te dar uma coisa Nessie.

Nesse momento eu pude ouvir o rosnado fraco vindo de meu pai. Mas logo ouvi mamãe dizendo:

- Edward, é só um presente. - Ele não fez mais barulho, mas não o senti relaxando.

- Continuando Ness... - Jake é cheio das provocações. – Quero que fique com isso. – Ele tirou do bolso do seu jeans rasgado uma pulseira. Ele a colocou do meu pulso. Era larga e leve, de um metal resistente e brilhante. Lembrava uma aliança. Depois de vê-la no meu pulso, ele sorriu e disse:

- Toda vez que você olhar pra ela vai lembrar de mim, e terá certeza de que sempre vou estar com você, minha Nessie.

Eu o abracei.

Esse era o final desta lembrança.

Mas logo começava outra.

Desta vez, éramos apenas eu, papai e mamãe andando. Acabamos de atravessar o rio que estava no caminho entre a casa dos meus avós em Forks e a casa que meus pais ganharam de presente, assim que minha mãe se tornou vampira. Andávamos sem pressa, agora a guerra já havia acabado não corríamos perigo. Eu estava nos braços de minha mãe, quase dormindo, mas ainda podia escutar.

- Eu tenho que dizer, estou completamente impressionado com Jacob agora. – Foi meu pai quem começou a falar.

- Os lobos causam um grande impacto não causam? – Minha mãe acrescentou, se referindo ao nosso encontro com os Volturi, claro.

- Não foi isso que eu quis dizer. Hoje ele não pensou em nenhum momento no fato que, de acordo com o Nahuel, Nessie estará complemente madura em seis anos e meio.

- Ele não a vê desse jeito. Ele não está com pressa para que ela cresça. Ele só quer que ela esteja feliz.

- Eu sei. Como eu disse, é impressionante. Isso vai contra o normal, mas poderia ser pior.

- Eu não vou pensar nisso por mais aproximadamente seis anos e meio.

Edward riu e então suspirou.

- É claro, parece que ele vai ter um pouco de competição para se preocupar quando a hora chegar.

E então eu deixei o sono que já rodeava há algum tempo, me levar completamente.

Eu podia sentir que outra memória vinha chegando.

Desta vez totalmente clara, perfeita, como um DVD que acabou de ser lançado. Era a praia exatamente igual á da manhã passada. A conversa de Leah e Jacob. E novamente a ênfase total em uma frase: "Claro, sempre ficou preso a bebezinha dos Cullen".

E então eu gritei e abri meus olhos.

Fiquei surpresa ao ver que meu pai não estava na beira da cama, como sempre estava quando eu tinha um pesadelo. Ele não deve estar em casa.

Eu suava, e pelos meus olhos doloridos, podia apostar que tinha chorado também.

Todas as frases, as conversas, os olhares de Jacob pra mim. Tudo parecia de alguma força peças distintas de um grande quebra-cabeça chamado, popularmente, de a vida da Nessie.

Eu saltei da cama pra procurar no meu quarto um objeto que talvez me desse uma luz, uma dica pra que rumo tomar, agora que a minha frente esse quebra-cabeça estava totalmente desmanchado.

Procurei no criado ao lado da minha cama, nas pequenas gavetas da minha mesa de estudo, nada. Não estava lá. Me larguei na cama, sem esperanças. Foi então que vi, no alto do meu guarda roupa, uma caixinha rosa, toda bordada e enfeitada, minha caixinha de bebê.

É claro que ela não ia ter muitas coisas, não fui bebê por muito tempo. Mas as coisas que realmente importavam estavam ali: meu bico (todo mordido coitado), lencinhos, um pequeno porta-retratos, um enfeitinho de cabelo, e lá estava ela. O que estava procurando mais que tudo. A pulseira que Jacob me dera de natal.

Eu a apertei em minha mão, fechei a caixa e me sentei no meio da cama. Eu a olhei por algum tempo. Realmente lembra uma aliança. E então algo me chamou atenção na parte de dentro dela. Eu a trouxe pra mais perto de meus olhos e pude perceber, ali dentro, uma frase cuidadosamente marcada a mão: Jacob e Nessie, pra sempre.

Eu levei a mão a boca, parei de respirar.

Milhões de perguntas invadiram a minha cabeça. Por que quando eu nasci Jacob queria me matar? Por que ele não o fizera? Por que Jacob sempre cuidara de mim? Por que o fato de eu estar madura como vampira significaria algo de mais pra Jake? Por que ele sempre esteve preso a mim?

Essa eram só algumas, das milhares.

Eu tinha que fazer alguma coisa, precisava encontrar alguém que respondesse as minhas perguntas. Mas só vinha a minha cabeça uma pessoa que, com certeza, teria todas essas respostas, Jake.

Não. Eu não iria vê-lo.

Mas também não ficaria com todas aquelas perguntas me tirando o sono. Aliás, quantas horas? O que? São quatro horas da manhã. Legal! Era a primeira vez na minha vida, que eu acordava no meio da noite.Deve ser por isso que papai não me acordou do pesadelo, ta em casa, e certamente muito ocupado com a mamãe! Hehe. Papai safadinho!

Concentra Nessie, foco. Você precisa descobrir a verdade.

E então eu fiz coisa mais óbvia a se fazer quando se tem uma dúvida. Fui pesquisar na internet é claro! Devo admitir que pela bagunça em que quarto se encontrava, foi um pouco difícil acha meu note book. Mas encontrei, isso que importa!

Eta, computador lento! Deve estar com vírus. Tenho outra dúvida! Por que sempre que eu preciso muito, meu computador decide ficar de lerdeza pra cima de mim? Ah! Foi.

Entrei no site de pesquisa. O que eu ia escrever? Lobisomens x Vampiros? Jacob e Nessie? Tudo sobre Jacob Black? Não. Não. Pensa Nessie! Jacob é o que? Um lobisomem, certo. Peraí, uma vez ele me disse que ele era um quilo alguma coisa... Quiloteres, quilites, quilutes, QUILEUTES!

Então eu digitei: Lendas dos quileutes.

Eu entrei no primeiro site da lista. Ele tinha um fundo preto e um banner no centro da página com a frase: Entre no site. Dãr é isso que eu quero, idiota!

No canto esquerdo da página havia uma série de itens, artigos sobre força, velocidade, a transformação, possível imortalidade, quileutes x os frios, impriting... peraí, que porra é essa? Cliquei e o que apareceu foi exatamente isso:

A Magia do Impriting

Talvez esta seja a magia mais rara e mais antiga dos Quileutes. Um impriting pode ser intimamente relacionado com o chamado "amor à primeira vista", mas considerá-lo como tal, é menosprezar toda a incrível magia por trás dele. Um lobo-impriting, muito mais do que um simples apaixonado, é capaz de tudo para a felicidade de seu alvo. Veja os seguintes depoimentos:

Joe. T. – "Não sei o que aconteceu comigo quando a vi, me faltam palavras para explicar. Só sei que a partir daquele momento, tudo o que antes era importante pra mim, como meus amigos, meus sonhos e minha própria existência, tudo isso ficou em segundo plano. Faze-la feliz, este se tornou o meu motivo pra viver".

Nephew O. – "Se ela pedisse para eu me matar com a desculpa de que isso a faria feliz por 2 segundos, com certeza eu o faria com um sorriso enorme no rosto. Não posso evitar, não tenho mais vontade própria. Não posso dizer que ela é tudo pra mim, de alguma maneira ela é mais".

Nico M. – "Acho praticamente impossível que o alvo de seu impriting não se apaixone por você. Putz, você sempre esta ao lado dela, como uma espécie de melhor amigo-irmão-confidente, como ela não vai se apaixonar? Acho que o impriting é um casamento desde o momento em que ele acontece".

Isso já bastava. Sou lenta mais nem tanto. Fechei a página.

MERDA! EU SOU CASADA DESDE QUE NASCI E NÃO SABIA DISSO!

ALGUÉM VAI PAGAR POR ISSO!

Em menos de três segundos eu já estava pronta pra saltar pela janela. Devo admitir que foram necessários mais três pra que eu criasse coragem pra realmente pular. Nunca havia reparado o quanto a minha janela é alta. Nem meu pai, nem ninguém da minha família me ensinaram como saltar ou me comportar como uma vampira, o pouco que eu sei aprendi olhando. Um pouco de experiência cairia bem agora. E pulei, e conseqüentemente me quebrei. Não literalmente é claro, nada pode me quebrar, mas garanto que com você seria caso de traumatismo.

Bem, levantei como se nada tivesse acontecido. Eu precisava agir logo, a qualquer momento algum querido parente meu poderia aparecer!

Eu corri muito até chegar a uma pequena casa, em um reserva ao lado de Forks. Eu nem de dei ao trabalho de bater na porta, só berrei:

- JACOB BLACK! APARECE AQUI AGORA SEU IMBECIL!

Sério, em menos de dez segundos ele tava na porta.

- Nessie?

- NÃO! A MADONNA SEU RETARDADO!

- Fala baixo Nessie, são quatro e meia da manhã!- Seus olhos ainda estavam inchados, e ele bocejava.

- Tudo bem. - inspira, expira,... – Eu vou falar só uma vez mesmo.

- O que foi Ness, aconteceu alguma coisa? – Ele pereceu preocupado.

- Sim. Aconteceu.

- O que?

- Depois daquela sua conversa com a Leah...

- Olha Nessie aquilo foi... – Ele me interrompeu.

- Não precisa explicar sério. – Eu também o interrompi. – Então depois daquilo, eu fiquei pensando...

- Pensando em que?

- Na gente.

- Na gente?

- É Jake! Vai deixar eu falar ou não?- Ele não respondeu só me olhou se desculpando. – Então... Eu fiquei pensando e... Ah Jake, a Leah disse que você sempre esteve preso a mim, e isso é verdade! Eu não tenho uma lembrança em que você não esteja sabe? Você sempre cuidando de mim. Então hoje eu tive um sonho e lembrei de umas coisas do passado, e acabei descobrindo umas coisas...

- Coisas? Que coisas?

- Coisas sobre você, ou melhor, sobre o que aconteceu com você depois que eu nasci...

- Ah não. - Ele desviou seu olhar e ficou de costas pra mim.

- Não precisa ficar assim Jake, eu entendo.

- Não, Nessie. Eu não queria que você descobrisse, não assim. - Ainda estava de costas. - Não queria que você se machucasse.

- Para com isso! Olha pra mim. - Ele olhou. - Eu vou ter que me machucar ás vezes, poxa, eu tenho que viver Jake! Eu tenho sete anos de existência e nenhuma lembrança que realmente me faça ter orgulho me mim mesma. Eu preciso que você pare de se preocupar comigo.

- Eu não consigo Nessie, e mesmo se conseguisse não iria querer. Sem querer ofender Nessie, mas pra mim você é ainda uma criança!

NÃO, ELE NÃO DISSE ISSO!

- Uma criança? – Eu fechei meus olhos e meus punhos.

- Calma Nessie...

- Eu estou calma. Bem, o que eu queria dizer era isso. Me deixe em paz!

- Não Ness, volta aqui!- Ele segurou meu braço.

- Me larga! Caralho Jacob me erra! Eu preciso da minha vida! Eu quero viver e você não vai me impedir!

- E o que você quer Renesmee? Quer sair por aí fazendo besteiras como uma adolescentezinha qualquer?

- Adolescentezinha qualquer? Mas eu não era uma criança?

- DEIXA DE SER INFANTIL RENESMEE!

- ENTÃO ME DEIXA CRESCER!

- VOCÊ NÃO ENTENDE, NÃO SOU EU QUEM CONTROLA ISSO!

- Mas eu não vou pagar por uma coisa que eu não escolhi. Não tenho culpa se você esta apaixonado por mim!- Eu ergui minha sobrancelha convencida.

- E quem disse que eu sou apaixonado por você?- Ele sorriu. – O impriting só me abriga a fazer você feliz.

Essa doeu.

- ÓTIMO! VOCÊ QUER ME FAZER FELIZ? ENTÃO ME ESQUECE JACOB. SE UM DIA VOCÊ ESTEVE PRESO A BEBEZINHA DOS CULLEN, HOJE A BEBEZINHA LIBERA VOCÊ!

Eu corri pra casa, deixando a imagem de um Jacob surpreso e imóvel pra trás. Ele não iria atrás de mim, respeitaria a minha vontade, mas isso não fazia com que a dor no meu peito diminuísse.