Asas Negras escrita por Jenny Fell


Capítulo 4
Capítulo 4 - Por Emily




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Meus joelhos ainda estavam doloridos por causa dos tombos que levei enquanto patinava com Charlie. Ia ficar roxo. Olhei-me no espelho por um momento. O corte que eu fizera no queixo já estava quase se fechando. Um vento frio passou por mim, e me fez tremer. Como está frio! Isso já está ficando estranho, pensei. Ouvi um barulho estridente, parecido com um choramingo, e pulei de susto.

         Ferine estava na porta, me observando com seus imensos olhos amarelos.        

         - Ah, é você. – murmurei.

         Então ela saiu, voltando para o quarto de Tia Dorothy. Amanhã seria o primeiro dia de aula, e eu precisava desesperadamente de uma noite de sono. Fui me deitar, e não demorou para que os pesadelos me encontrassem.

                                                          . . .

         Eu estava subindo cada vez mais, até que o carro se transformou em uma pequena partícula prateada, visto lá de cima. Olhei ao redor, e só enxerguei nuvens. Eu gritei, mas ninguém me ouviu. Eu queria voltar lá para baixo! Estava alto demais.

         - Olá. – falou uma voz feminina muito... Pura e doce.

         Olhei ao redor e vi uma garota pouco mais nova que eu. Ela tinha os cabelos loiros tão claros que quase chegavam a ser brancos. Sua pele era ainda mais clara que a de Charlie e Sarah, mas não era estranha ou doentia. Era linda. Ela tinha imensos olhos de um azul-claro muito intenso. A menina parecia uma fada.

         De repente, grandiosas e belas asas brancas se abriram atrás dela. Fiquei olhando, boquiaberta, para a parte de meu pesadelo que eu nunca vira antes.

         - Quem é você? – perguntei.

         - Meu nome é Angie, e sou sua anja da guarda. – falou, e sua voz saiu como o tilintar de sinos.

         - Peraí. Que história é essa de anjo da guarda? – perguntei, confusa.

         Angie sorriu.

         - Eu vou aparecer em seus sonhos e te alertar toda vez que correr perigo, Emily. E quando você me chamar, claro.

         Ergui as sobrancelhas e tentei absorver toda aquela loucura.

         - Então... Eu corro perigo?

         Imediatamente, ela parou de sorrir.

         - Sim.

         - E o que eu devo fazer?

         Mas era tarde demais para perguntar.

         Ela sorriu, e foi desaparecendo aos poucos. Mas, antes de sumir completamente, sussurrou:

- Fique longe de Dean.

                                                        . . .

         Dessa vez eu não acordei gritando. Na verdade, nunca estive mais calma.

         Suspirei e me levantei para fazer o café da manhã, mas quando cheguei, ele já estava pronto, e Tia Dorothy me olhava estreitando os olhos.

         - Você fez o café? – perguntei.

         - Você é que não foi – rebateu.

         Bocejei.

         -Quantas horas são?

         -Você tem relógio é para quê, ficar de enfeite? – resmungou.

         - Não estou com o meu.

         Tia Dorothy me ignorou, então subi as escadas e olhei no relógio de seu quarto.

         Ah, não.

         Faltavam apenas dez minutos para a aula começar!

         Vesti um jeans desbotado e uma blusa de moletom branca. Calcei meu All Star de cano longo, peguei um casaco - caso precisasse mais tarde –, as chaves do carro e saí correndo para fora.

         Parei ao ouvir a voz de Charlie.

         - Ei, Emy! Pode me dar uma carona? Minha mãe saiu com o carro e...

         Eu o interrompi, com pressa.

         - Entre.

         Enquanto passávamos pela Oakland St, Charlie tagarelava sobre o começo das aulas. Parecia que, a cada rua que passava, Charlie falava sobre um assunto diferente.

         - Chegamos. – falei.

         - Valeu pela carona, Emy.

         - De nada.

         Quando cheguei, pude ouvir o som do sinal para a primeira aula tocando lá dentro do colégio, então me apressei e comecei a correr, ultrapassando Charlie.

         - Estamos atrasados. – falei.

         - Eu já percebi isso.

                                                        . . .

         O que era pior do que chegar atrasada na escola, no seu primeiro dia de aula? Fazer dupla com Dean na aula de Biologia. Ao contrário de Charlie, ele não falava nada durante a aula, mas ficava me olhando de um jeito muito sinistro.

         - Por que está me olhando assim? – perguntei baixinho, para que o professor Fredricksen não ouvisse.

         - Assim como? – Dean sorriu.

         - Não se faça de idiota. – resmunguei. 

         Ele sorriu mais ainda.

         - Vai ver é porque está muito bonita hoje.

         Senti-me ficando vermelha.

         - Pare com isso.

         - Como quiser. – Dean falou de modo tão cortês e sem sarcasmo que eu achei que ele ia me chamar de madame a qualquer momento.

         Fique longe de Dean, as palavras de Angie ecoaram em minha mente.

         - Quantos anos você tem?

         - Dezoito. – falou.

         - Você repetiu o ano alguma vez?

         - Não. – ele uniu as sobrancelhas, como se tentasse se lembrar de algo. – Com quinze anos, eu larguei a escola. Dali a um ano eu voltei.

         - Por que largou a escola?

         - Meu pai tinha ficado muito doente, e... Bem, eu tive que começar a trabalhar para substituí-lo em casa.

         - Ahn. – respondi mais duas questões da atividade que havia sido entregue a nós. – E seu pai, o que aconteceu? Ele melhorou?

         - Ele morreu. – Dean falou.

         De repente, comecei a sentir certa simpatia por Dean. Porque, como eu, ele perdera alguém que amava muito.

         Ele está mentindo. Não acredite nele, Emily, falou uma voz na minha cabeça. Eu quase pulei de susto, mas apenas arregalei os olhos. Reconheci a voz quase de imediato. Angie. A minha anja da guarda estava falando comigo.

         Eu definitivamente estava ficando paranóica.

         - Ahn... E sua mãe? – perguntei.

         - Nunca a conheci. – Dean falou, parecendo cansado... Ou triste... De alguma forma, eu sabia que não era por causa de seus pais. – Na verdade, cheguei a conhecê-la, mas devia ter uns dois anos, então, de qualquer forma, não me lembro dela.

         -Ahn... Deve ter sido muito... Ruim. – falei. – Com quem você mora?

         - Eu moro sozinho. – falou, e pareceu entretido com meu pequeno espanto.

         - Sério? Nossa.

         Suspirei. Faltavam cinco minutos para acabar a aula de Biologia. 


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