Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 43
Capítulo 43




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 - Nunca percebeu nisso não?

 - N-não...

 - Ela é completamente louca por você...

 - Mas como...? Ela nunca falou nada e...

 - O olhar...

 - Que olhar?

 - Esse de ficar totalmente fixada em você quando você está por perto.

 - Ela vivia me provocando lá em Fairbreeze!

 - Ela faz isso pra chamar a atenção...

 - Bem, ela sempre teve minha atenção!

 - Não o suficiente para ela...

 - Como é que a senhora sabe tanto sobre ela?!

 - Coisas de mãe... – disse a curandeira Mary Edras bebericando o ponche de frutas.

 - Sorena, vem dançar!! – exclamou Ox vermelho como um pimentão e com o rosto cheio de glacê de bolo. Imladris havia obrigado ele a comer um pedação apenas para sujá-lo.

 - Oi! – disse a elfa menor rapidamente e em tom esganiçado.

 - Olá pequena... Está bem? Seus olhos...

 - Estou ótima, uma maravilha! – Kali a olhava de soslaio. – Senhora era curandeira lá de Undercity não é?

 - Sim, sim criança... Quando você quebrou o nariz, eu te atendi...

 - Oh sim, é isso eu lembro... – e esfregando as mãos de maneira nervosa. - Mary Edras né?

 - Sim... Esse é meu nome...

 - Maeline Atwood também... – Oxkhar arregalou os olhos com a boca cheia de bolo.

 - M-mamãe...?! – quase engasgando, Imladris chegou atrás dele e o fez desentalar com um tapa bem dado nas costas.

 - Eu já sabia, Ox... – e indo até Mary. – Sogrinha... – a abraçou com carinho e cuidado. – A senhora foi tão boa conosco...

 - Mãe?! – Ox repetiu, Sorena esfregava as mãos do mesmo jeito até uma das marcas que fizera no braço esquerdo começar a sangrar. – Mas como isso é...? Como...? Quem...?

 - A Dama Sombria me livrou da Praga... – Immie ajeitou o vestido da sogra nos ombros caídos e ossudos da Abandonada.

 - E eu pensando que tinha matado a senhora...

 - O quê?! – todos exclamaram ao mesmo tempo para Sorena. Ela estava agora preocupada com o sangue que saía do ferimento auto-inflingido.

 - As pessoas diziam que quando eu nasci, eu matei a senhora... Vai me dizer que não, Ox...? – o irmão ficou envergonhado e abaixou a cabeça. Mary olhou para os dois.

 - É verdade...? Era isso que disseram quando me fui? M-mas...

 - Depois que a senhora morreu... A Sorena apareceu... e... e...

 - Oras, vocês acham que minha misogenia vem da onde?

 - Miso-o quê?! – perguntou Kali confusa com o diálogo.

 - Aversão a humanos. – explicou Imladris com certo azedume na voz. – Você não tem misogenia, é xenofobia. Aversão ao meu povo.

 - Claro que não! – devolveu Sorena sentindo seu coração na garganta. Ela sabia quando Imladris estava realmente chateada e com raiva dela.

 - Ah vai me dizer que odeia os Elfos-do-sangue também? – Sorena se viu acuada com o olhar severo de Immie e o confuso de Kali.

 - Isso... isso... não!

 - Xenófoba.

 - Immieófoba! – a mais nova devolveu sem certeza se provocar daria algum resultado para sua vontade crescente de sair correndo dali e drenar alguma coisa lá fora.

 - Hey! – Oxkhar reclamou limpando o rosto com as costas das mãos. – Retire o que disse! Deve ter um termo ao contrário disso aí...

 - Immieófilo... – respondeu Mary Edras com um sorriso sereno.

 - Necrófilo, já que sua noiva supõe que está morta.

 - Hey não! Immie não está morta! Eu sei bem disso!

 - Nem me diga como descobriu isso... – Sorena deu a volta no grupo e foi saindo de fininho. Imladris a pegou pela gola da camiseta que usava por cima do vestido vermelho que Artemísia dera para ela.

 - Não escapa não!

 - Mãe!! – Oxkhar abraçou tanto a curandeira que ouviu-se um estalido no ombro dela.

 - Ox querido... Mamãe ainda sente dor apesar de ser um amontoado de ossos... – o filho ficou extremamente acuado ao ver que o ombro da mãe estava deslocado. – Pode deixar, mocinho... Eu coloco no lugar...

 - Ah mãe... – beijando a mão descarnada coberta por uma luva rosa que Edras usava para combinar com o vestido simples. – Papai vai adorar a notícia! Nós te encontramos!

 - Oh sim, muito... – opinou Sorena arregaçando a manga esquerda do seu braço e vendo que as tatuagens enegreceram com o tempo. – “Querido pai, achamos nossa mãe e sua esposa adorada. Adivinha? Ela é uma carcaça ambulante.”

 - Sorena!! – Oxkhar gritou. Imladris levantou a mão, mas para puxar a orelha dela.

 - Tudo bem, Ox... – apaziguou Edras. – Não quero que seu pai saiba...

 - Como você ousa falar uma coisa dessas?! – foi a vez de Imladris falar.

 - Por que é tão fácil pra vocês darem esse tipo de notícia? Caso não se lembre Ox, papai chorava TODO DIA por não ter sido capaz de protegê-la do Flagelo. E praguejava TODO DIA por termos que dividir fronteiras com mortos-vivos. E matava TODO DIA mortos-vivos em nome da Ordem...?

 - Não faz mal! Ele deve saber! – pegando a mão da mãe e a apertando como se qualquer coisa pudesse tirar Mary de perto dele.

 - “Caro papai, mamãe virou uma Abandonada. Beijos, tchau.”

 - A mocinha está certa. Deixe seu pai fora disso, meu filho...

 - Não é justo!!

 - Sorena, você só sabe dificultar as coisas! Está feliz agora?

 - “Querida Immie, seu pai é um gnomo xamã.”, como você reagiria?

 - E-eu odiaria!!

 - Pois então...? – indicando Ox e a mãe ao lado.

 - Isso não tem nada a ver!!

 - Claro que tem!! Pegue alguém que você ama muito, muito mesmo. Depois a transforme na coisa mais odiosa que você acha no mundo, faça as contas.

 - Mas mesmo assim não é justo com o nosso pai! – revidou Oxkhar com os olhos cheios de lágrimas. Mary Edras o olhava sem emoção alguma.

 - Será que todo mundo aqui é surdo? Ela tá morta!

 - Começou... – Kali suspirou ao ver a comoção que Immie fez ao pegar o braço ferido de Sorena e curá-lo.

 - Papai vai odiar isso!

 - Ele pode gostar! As pessoas mudam!

 - Ox...! – Edras pegou o queixo do filho mais alto que ela. – Escute a sua irmã. Ela sabe o que diz.

 - Não! Não! Ela costuma falar essas coisas pra irritar a gente! – Imladris disse em um tom mais esganiçado, suas mãos tremiam e a magia de cura no ferimento da amiga não estava funcionando.

 - Hrodi vai sentir que foi o pior homem do mundo... Que não me protegeu o suficiente, que deveria ter feito algo para evitar que esse infortúnio acontecesse... E eu o amava tanto, meu filho...

 - Não ama mais?! – Ox se virou quase caindo no choro para a mãe.

 - Oxkhar querido... Eu renasci para outra vida. Uma vida que não conta mais com a presença de seu pai.

 - Nem a minha?!

 - E a realidade cruel resolve bater à porta. – Sorena desvencilhou a mão das de Immie e bateu em sua testa com leveza. – Viu como é lindo acordar e saber que TODO MUNDO que você ama morreu, voltou, mudou de nome e não tá nem aí se você come, bebe e dorme só pensando nela? – e verificando o ferimento na pele, ainda sangrava.

 - M-mas!! – Imladris pegou a mão dela novamente.

 - Bem vinda ao meu mundinho cheio de dramas-lhamas, Immie. Aproveita bem a excursão... – beijando a testa da noiva. – E eu funciono ao contrário nesses casos. – mostrando o braço cheio de marcas.


 - Mãe, por favor...! – Ox pedia, os dois estavam dentro de um dos quartos abandonados do Windrunner Spire.

 - Oxkhar, você precisa entender... Eu não sou mais Maeline, não sou mais sua mãe ou esposa de seu pai. Sou uma Abandonada e meus desígnios são para a Dama Sombria.

 - Mas e nós?! – a Abandonada fez carinho no rosto ruborizado do único filho.

 - Você era tão pequeno quando me fui...

 - Papai sempre te amou!

 - E quanto anos ele passou chorando todos os dias como a menina elfa disse?

 - Bem... ahn... desde que me lembro até... até... sei lá!

 - E eu vou aparecer novamente na vida dele para depois ir embora? Não quero fazer um estrago maior agora. Ele está velho demais para...


 - Você está forçando um final trágico não? – dizia Immie em outro quarto, andando em círculos, desviando de móveis quebrados. Sorena estava a postos ao lado de uma das janelas, olhando lá para baixo.

 - Eu...? Que isso...? – respondeu distante.

 - Você me odeia secretamente não é isso?

 - Ahn...? Não! – acordando do devaneio na janela. – Você já me perguntou isso, por que continua perguntando?!

 - Você fez o Ox sofrer!

 - Mas ele precisava saber! E você JÁ SABIA e nem falou com ele e nem pra mim!

 - Talvez fosse melhor ele saber DEPOIS do casamento! E de um jeito menos horrível como você fez!

 - Ele precisa ver a realidade!!

 - A sua realidade é macabra!!

 - Do que raios você está falando?! Você vivia nessa maldita realidade o tempo todo! E achava ótima!

 - Você é uma inconseqüente que não mede as palavras! As palavras machucam sabia? MACHUCAM MUITO! – Sorena afastou a cortina rasgada e mofada da janela e olhou lá para baixo novamente. – Por que é tão ruim que Hrodi saiba sobre a Maeline?

 - Por que é tão ruim saber que a Aminel e o Arcanista Vandril são seus parentes? – silêncio de Imladris que não esperava pela pergunta. – Olha só... – se debruçando na janela um pouquinho para ver lá embaixo. - O meu avô jogou a minha avô daqui... – comentou para si mesma. – Deve ter sido uma queda bem ruim... Ahn? O quê? Não, eu não ouvi direito... – Imladris sentiu um arrepio familiar ao chegar perto de Sorena.

 - Sor... Você está bem? – perguntou cautelosamente, a elfa balançou a cabeça, mas continuou a olhar lá embaixo.

 - Deve ter sido uma queda e tanto... – Imladris a beliscou no braço. – Gaaaah, o que foi?!

 - Eu cansei!!

 - Do quê?!

 - De você falando desse jeito!!

 - Eu posso fazer o quê?! Ficar calada?!

 - Poderia tentar!!

 - Mas não dá!!

 - Você a culpa por tudo na sua vida!!

 - M-mas de quem você está falando? A minha avó?! – Sorena estava acuada perto da janela, olhando para dois lugares ao mesmo tempo.

 - Não! Da Dama Sombria!!

 - Mas ela só sabe fazer a minha vida um inferno!!

 - Mas que maldição Sorena Atwood!! CALA ESSA BOCA!! – o grito fez a mais nova fazer uma careta de dor cômica.

 - Esse foi mais alto que o que eu escutei mais cedo... – a mais nova cutucou o ouvido com ferocidade, Imladris estapeou a mão dela.

 - Pára com isso, está se machucando!

 - E você vai me curar? Acho que não...

 - Tem horas que eu quero muito te ver morta, sabia?

 - Você não é a única a pensar isso, acho eu... – e voltando a olhar para fora. – Deve ter sido uma queda...

 - Não é justo! Não quero mais te ouvir falando mal de quem salvou a MINHA vida!! E nem aquela pomposa da Aminel e nem o idiota do Vandril estavam lá quando eu mais precisei!

 - Então você os odeia?!

 - Não, mas não quero ter nenhum tipo de parentesco com eles!

 - Então por que cismou com a Mary Edras? Ela tá fazendo o mesmo que você. Fugindo do passado pra negar a existência anterior...

 - Cala essa boca! A sogrinha precisa entender que o Hrodi gosta muito dela!

 - E já chegou a perguntar se o Vandril e a Aminel também não gostam muito de você?

 - Isso não interessa mais! Eu morri pra eles!

 - Mary Edras também...

 - Ela está aqui! Nesse momento!

 - Quer que eu chame a Aminel pra subir? Ela também existe nesse plano material. E o Vandril fica lá em Tranquillien rodando que nem barata tonta desconfiando que os Abandonados da SUA Rainha raptaram a única prima que ele tinha... Diferente de certas pessoas que não dão a mínima pros parentes quando eles estão à beira da morte...

 - Não!! Chega!! PÁRA de falar mal dela!! Eu não agüento mais!! Escutou?! Eu não vou tolerar mais você...

 - Eu não sou obrigada a idolatrar o chão que ela pisa!

 - Ela é a MINHA Rainha! Ela é a única razão para nós sermos abençoados!

 - Ela é só a minha tia morta! – o tapa desferido por Imladris calou Sorena, assim como fez a cor de seus olhos voltarem ao verde de sempre. As duas se encararam por um instante, Imladris chorava sem fôlego, Sorena estava assustada com tudo e segurava sua bochecha atingida. – Seja lá o que eu disse...

 - Some da minha frente antes que eu te jogue pela janela... – sussurrou a elfa mais velha com os olhos estreitos de uma fúria devotada. Sorena saiu do quarto em passos apressados e trombou com Oxkhar nas escadas.

 - Oh cuidado aí! – ele disse sem olhar pra irmã encrenqueira. Entrou no quarto onde Imladris estava e a abraçou quando a viu em prantos perto da janela.

 - O que foi...? – ele perguntou mesmo já sabendo a resposta.

 - Sua irmã é insuportável!

 - É, eu sei... – ele suspirou profundamente, passando os dedos entre as mechas loiras de Imladris e a fazendo encará-lo. Beijou-a demoradamente e a abraçou mais. – Mas no fundo ela deve ter razão de ser assim...



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