Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 31
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

OMG!! Contabilizando possíveis capítulos aqui?
Vamos passar dos 50!!
Essa é a fanfic mais longa que já postei em toda minha vida internética o/



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Dalaran dia seguinte.

Sorena assoviava a mesma música daquela manhã. Passeava pelas ruas estreitas de Dalaran a procura de coisas divertidas para se fazer enquanto Imladris e Oxkhar estavam em alguma reunião chata. Para qualquer coisa que envolvesse segurar vela para o irmão e melhor amiga, era chato. E haveria gente de outros lugares para julgá-la também. Gente parecida com ela talvez ou de Undercity. Talvez alguém que sua tia houvesse colocado de propósito ali só para vigiá-la, mas essa idéia era paranóica demais para que Sorena pudesse alimentar com mais intensidade.

Certamente segurar vela para Immie e Ox era bem mais chato. Incômodo. Dava aquela dorzinha bem no fundo do peito por vê-los tão juntinhos. Ciúmes? Não, já havia superado isso há anos atrás quando viu Ox beijando uma garota em Stormwind. Era receio. Receio de não ter a mesma coisa quando crescesse. De não ter amor como aquele ou talvez parecido. Ou talvez ter e não poder saber se pode tê-lo. Estava confusa agora. Pensar em amor a deixava nervosa. Deixava mais nervosa que pensar na Morte. Em pensar nas coisas que via o tempo todo, em pensar que ali em dalaran tudo era muito quieto, tirando aquela moça vestida de branco e de asas enormes ali perto do Silver Covenant. Disseram para ela que ali já fora um cemitério dos nobres de Kirin-Tor, mas isso pouco importava. A moça vestida de branco cantava bem e não a incomodava como os outros.

Ficou então passeando e conhecendo os comerciantes locais, e decorando as placas e observando os visitantes exóticos naquela cidade suspensa. Quando era pequena gostava de ir às feiras para perguntar coisas aos feirantes: “Por que a maçã verde tem essa cor e não vermelha? Não são maçãs?”, “Como o cogumelo nasce em tronco podre e fica tão bom com batatinhas no jantar?”, “Codornas são galinhas pequenininhas?”. Todos a respondiam com paciência, ela era a curiosa menina de orelhas grandes de Hrodi. Até mesmo aquele vendedor de flores mirrado, tão pobre, que ficava na estrada para Southshire e que aceitava a comida que seu pai dava a respondia.

“ – Existe rosas pretas?” – perguntou certa vez para o velho mastigando carneiro asado. Ele respondeu que não existia não. Que rosas eram brancas para velórios, rosas rosadas para donzelas e vermelhas para os apaixonados.

                Ela agora segurava uma rosa azul na mão esquerda e uma negra estava ali brotando em um vasilhame de terra escura na barraquinha de flores perto do banco de Dalaran. “Humanos não sabiam de muitas coisas mesmo”, ela pensou. “Ou talvez não se interessem por coisas desse tipo.”.

 - É uma bela escolha, menina... – disse a comerciante Aerith Primrose – Rosas azuis são tão raras quanto as verdadeiras amizades.

 - Então já sei para quem darei essa aqui. – sorrindo maliciosamente e pegando uma vermelha com um cartão perfumado. – Oh! Não é para mim! – ela se explicou ao olhar para a comerciante. – Juntarei dois pombinhos distraídos demais...

 - Apaixonados?

 - Sim, sim, mas nem percebem nisso! Bando de bobões...

 - Você parece estar apaixonada também...

 - Aaaah isso tem nome e é uma doença complicada de tratar. Mas vou querer aquela preta ali também.

 - Oh infelizmente esta não está à venda... Estou guardando essa especialmente para alguém...

 - Que pena... – ela disse com uma careta triste para se animar. – Mas será que você poderia me dizer como cultivou essa...?

 - É bem simples... Ela é uma rosa carmim original, se a deixarmos crescer em terreno de meio ácido há possibilidades dela florescer com algumas pétalas escuras, mas não totalmente negras... Muitas morrem antes de brotar algo realmente... Desse modo cuidamos dessas espécies com magia herbalista. Dá certo na maioria das vezes...

 - Meu avô cuidava de plantas... – lembrou Sorena. – Ele disse que rosas negras crescem em cemitérios ou lugares que tenham muito... cadáveres... Esse papo está muito estranho para você? – a florista sorriu gentilmente e acenou um não com a cabeça.

 - Você é bem interessada no assunto. E sabe bastante coisa, eu creio. – e dando uma pétala de uma flor exótica para Sorena ela acrescentou: - Esse é um convite formal para visitar o Herbolário de Dalaran. É ali na rua debaixo, não tem como errar. Os estudantes irão te ensinar muitas coisas e sanar suas dúvidas sobre as legendárias rosas negras...

 - Nossa, muito obrigada! – segurando bem a pétala.

 - E que os pombinhos percebam a tempo!

 - E irão! Nem que eu tenha que dopar, amarrar e trancar os dois no mesmo quarto até eles se darem conta disso...


 - Você se saiu bem para um novato...

 - Eu tento...

 - Não, é sério! Você soube como convencer eles de usarem mais o coração que a burra racionalidade que sempre nos atrapalha...

 - Eu achei que seria ao contrário... – riu Oxkhar desviando Imladris de uma poça de água na rua. Ela agradeceu com um olhar curioso. – Mas é você que é a embaixadora do orgulho da Horda, lembra? A porta-voz de Undercity como os outros chamam. Você tem bem mais experiência que eu nesse tipo de reunião...

 - É... você está certo... – os dois riram da falta de modéstia da clériga, mas quando se entreolharam ficaram em silêncio. O braço de Imladris estava enganchado no de Oxkhar e ele tinha todo o cuidado para caminhar no mesmo passo que ela.

 - Você está bem?

 - Sim, por que a pergunta?

 - Eu não saberia dizer... Você parece ótima aqui de fora, mas quando a gente chega muito perto parece que está sofrendo... Eu posso estar exagerando e isso é de família! – ele riu nervosamente, Imladris parou de andar e o encarou.

 - Sofrendo?

 - É... Como se estivesse, ahn... sabe aquela sensação estranha que a gente sente quando fica perto de alguém atribulado? – Immie concordou.

 - Eu fico com essa sensação toda vez que fico perto de sua irmã...

 - Ah isso! Sorena é um poço de atribulações mal resolvidas...

 - Ela é uma não-resolvida. – os dois riram um pouco e Imladris tossiu para disfarçar a dor aguda que sentiu no peito.

 - Suas olheiras aumentaram...

 - Olheiras? Cansaço.

 - E às vezes eu acho que você é de vidro.

 - E-eu não sou de vidro! Sei bem me cuidar sozinha!

 - Qual é Immie...? – tocando a face da elfa e examinando os olhos dela. – Você tem vasos dilatados nos olhos... Você força as vistas para enxergar as coisas...

 - Faço isso desde criança. Desde quando você é médico?

 - Desde sempre. Fui um paladino muito prendado nas Artes da Cura durante minha missão. – Immie ficou envergonhada por ele pedir para ela se virar um pouco. – Pode respirar fundo, por favor? – colando o ouvido esquerdo nas costas dela. A clériga obedeceu com um pouco de temor. – Seu peito está chiando e você está forçando a respiração demais. Tem certeza que está bem mesmo?

 - E-eu só sinto umas pontadas aqui, mas... – apontando para seu tórax, mas depois se encolhendo de vergonha. – Sim, eu estou bem! – com o coração acelerado pela cara de preocupado de Oxkhar.

 - Eu posso pedir que vá ao Curandeiro só para prevenir algo mais grave? Você veio de um lugar não muito... como dizer...?

 - Que eu morava com mortos-vivos? Eu sou uma!

 - Já te expliquei que não. Seu coração bate, você respira ar, você se alimenta normalmente e nunca vi você trocando de pedaços de seu corpo, a não ser que você seja muito habilidosa em esconder isso de um paladino... – ela iria responder, mas só conseguiu espremer um:

 - Mas por que isso hein?

 - Porque eu me importo com você Immie...

 - E-eu sei... Eu estou bem, bem mesmo...

 - Krassus comentou que você estava doente... Talvez esteja...

 - Olha não tem nada a ver com Undercity! Eu sempre morei lá, me acostumei com o ar e com tudo e como eu posso estar doente se eu estou mort...

 - Você quer mesmo que eu prove que você não está morta?

 - Não! Deixe-me com minhas opiniões! – ela riu quando ele se aproximou demais. Estava mais viva que nunca, já que o coração pulava na garganta.

 - Pode parecer besteira, Immie, mas eu percebo bastante em você... desde o dia em que a gente se conheceu eu quis...

 - Essa é a parte em que você se declara para ela e depois se beijam? – interrompeu Sorena com uma cestinha de flores e mudas. Dentro dela havia um pacotinho colorido com uma fita vermelha e uma rosa vermelha pregada no tampo. – Eu posso esperar a cena romântica passar ou vocês podem me esperar comprar pipoca pra eu assistir esse evento fantástico...?

 - Não diga bobagens Sorena... Estávamos conversando... Como adultos normais. – explicou Imladris se afastando dois passos de Oxkhar.

 - Adultos tudo bem, normais, não.

 - Você melhorou? – Oxkhar sentiu a testa da irmã. – Não pode sair da Taverna se não estiver...

 - Oh oh! Você acredita que vendem ursos polares como montaria por 50 ouros?! – ela falou animadamente. – Pena que o chato daquele anão me incomodou muito quando fui perguntar a vendedora sobre grifos. Papai queria um... Você pode aproveitar e descer o muque no anão desocupado e sem-educação?

 - O que ele fez? – perguntou Oxkhar preocupado.

 - Ele me chamou de “manajunkie”, seja lá o que isso for. – Imladris riu alto. – O que foi?

 - É uma expressão anã para dizer que você é viciada em magia.

 - Eu não sou!

 - Eu ouvi que os Elfos do Sangue eram... – opinou Oxkhar.

 - Ainda bem que sou uma Abandonada... – Imladris desconversou verificando a barra de seu manto.

 - Ela sempre cisma que está morta?

 - Desde que a conheci, mas pouco acredito. Quem está morrendo aqui sou eu, lembra?

 - Vocês não entendem como é honroso pertencer aos Abandonados...

 - Viver em ruínas cheias de cadáveres? Meu sonho de criança! – exclamou Sorena cutucando Oxkhar.

 - Até pouco tempo atrás você fugiu de casa para encontrar com a Rainha deles...? – devolveu Oxkhar vendo o rubor assomar as bochechas de Imladris. Ela ficara assim quando um representante de Warsong falou sobre “uma aliança entre as tribos.”.

 - Isso foi há muito tempo atrás e eu só fui atrás de minha família... – Sorena fechou a cara. – Que aliás, está mortinha mesmo. Anime-se! Não tenho outros irmãos. Você é o único a me agraciar com sua existência...

 - Engraçadinha... Hey! Será que eles têm um daqueles papagaios falantes?!

 - Sei lá, mas a gente pode ir lá perguntar...

 - Papagaios falantes?! – Imladris estranhou olhando para Oxkhar, este havia se empertigado no lugar.

 - Sonho de criança dele... Queria ser um pirata...

 - Sorena!! – gritou o irmão mais vermelho ainda.

 - Mas era!! Você até pediu pra eu fazer um tapa-olho pra usar... E ficou uma gracinha na época... – ela confidenciou para Immie.

 - Você de pirata? – a clériga ria um pouco.

 - Tudo bem Ox, eu queria ser engenheira-goblin, mas...!!

 - Eu particularmente gosto de piratas... – confessou Imladris baixinho. Oxkhar abriu um sorriso bobo, Sorena percebeu na hora e ficou encarando os dois. Resolveu agir.

 - Mas então... Krassus pediu para te entregar isso... – dando o pacote colorido com a rosa para ela. – Como ele não te encontrava em lugar nenhum... – O irmão ficou mais encolhido que um coelhinho preso em uma jaula. – Não vai ver o que é?

 - Eeeer, eu abro isso depois...

 - As rosas também são dele. Como é que ele disse? “Uma bela rosa para a flor selvagem de meu jardim de inverno...”, sinceramente acho que ele deveria mudar de cantada barata e sem criatividade. O que você acha disso Oxkhar...?

 - Rosas são... bonitas... Mas eu daria rosas... ahn... brancas...

 - Brancas é de velório... – desconversou Sorena com uma careta de desaprovação.

 - Eu adoro rosas brancas... – murmurou Imladris.

 - Combinariam com seus cabelos... – respondeu Oxkhar. Sorena prendeu o riso, mas continuou.

 - Ele pediu que se você pudesse Immie, o encontrasse na Fonte da Praça dos Portais. Ele quer muito conversar com você, sabe? – dando um cutucão sigiloso nas costelas de Oxkhar.

 - Não tenho nada o que conversar com ele...

 - Talvez seja coisa mal resolvida... Isso é tão comum em relacionamentos que acabam bruscamente...

 - Eu nunca tive nada com ele!! Mas que cisma que você tem!!

 - Por que não? Ele é um paladino renomado!!

 - Oxkhar também é!! – Sorena abriu a boca para zombar da última frase, mas se conteve novamente. – E ele não fica me cortejando...!! – a clériga estava mais vermelha que a rosa em sua mão. Oxkhar foi encolhendo ainda mais.

 - E-eu não...? – ele foi travando aos poucos e a discussão continuava.

 - Não, mas até um cego saberia o quanto o meu querido irmão aqui gosta de você...

 - Isso é um absurdo! Você que tem essa coisa de que clérigas DEVEM ficar com paladinos!

 - E por que não? É natural, não é Ox?

 - E-eu-eu...

 - É como Vigias e guerreiros, eles se combinam! Xamãs e druidas... Clérigos e paladinos é uma questão de tempo.

 - E Feiticeiros hein? – devolveu Imladris ofegante.

 - Você disse pra eu não conjurar súcubus, logo casarei com meu Voidwalker... Imps são baixinhos demais para mim...

 - Você só sabe inventar esses delírios ocasionais para me irritar não?

 - Eu?!

 - Secretamente você me odeia, não?

 - Claro que não! – Imladris foi abrindo o suposto presente de Krassus e viu que era um anel prateado em forma de flor. A clériga ficou surpreendida com o presente. Oxkhar não reconheceu o objeto e com a mandíbula tensa, engoliu em seco e puxou Imladris para si e deu-lhe um beijo demorado. Sorena vibrou atrás deles, fazendo uma dancinha ridícula de vitória. – Preciso de fogos de artifício... Aonde vendem fogos de artifício aqui? – ela murmurava e olhando para as placas daquela esquina.

 - Clériga Imladris... – Oxkhar se ajoelhou aos pés dela e pegou sua mão direita. – Sei que não possuo muitos pertences, que posso não ser tão renomado quanto Krassus e não poder dar-lhe presentes de tamanho valor e nem sei se meu futuro será certo ao sair dessa cidade... – Immie estava com o queixo caído e observando o ex-paladino com os olhos marejados. – Mas por favor, releve o meu pedido... – e respirando fundo ele concluiu: - Quer se casar comigo?



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