Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

A personagem Imladris foi gentilmente emprestada de minha querida Ammë Driel. A Immie existe mesmo em WoW e já chegou no level 80,por isso ela sacaneia tanto com os no0bies ocasionais (Como o Oxkhar,coitadinho!).



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                Final da tarde, Eriol estava sentado na janela, pernas balançando, enquanto Sorena fazia pequenos reparos em Hawk Ox.

 - Ele é muito pesado para voar, sabe?

 - Há muitas falhas de penas debaixo da asa... Não entendo de pássaros, mas sei que assim ele não voa nunca...

 - Os Dragons-Hawk têm uma bexiga especial que os fazem alçar vôo ininterrupto por semanas. – Sorena o olhou intrigada.

 - Mesmo? E como seria essa bexiga?

 - Fica debaixo do papo e dá estabilidade de vôo, além de dar mais ar para os pulmões em vôos rasantes...

 - Interessante! – cutucando o interior do pássaro morto, já reduzido à carcaça e ossos. A musculatura de Ox fora substituída por couro velho estragado. Ele pouco se importava. - Ox, vamos fazer uma limpeza geral em você...

 - Éca, você vai abrir ele?

 - Sim, por que não?

 - Isso não é proibido nas Artes da Vida?

 - Eu nunca ouvi falar disso aí não, única coisa que aprendi foi "Coisas mortas e como abri-las para estudá-las".

 - Isso vai ser nojento...

 - Mas ahn... Teremos que fazer isso em segredo...

 - Por quê?

 - Porque o ritual é bem demorado...

 - Ritual? Tem um ritual?

 - Sim! E preciso de sangue de uma virgem e olhos de nagah... – zombou Sorena pela expressão de espanto do garoto elfo. – Claro que não! É só um ritual típico para manter o bicho morto "vivo" durante a operação. E sei lá se aqui o pessoal gosta de presenciar coisas do tipo...

 - Há feiticeiros em Silvermoon...

 - Ahn? Silver o quê?

 - Silvermoon, nossa capital... Não sabia?

 - Não... Ninguém me informa muito das coisas aqui...

 - Fica ao Norte, quase dois quartos de hora de caminhada. É lá que a maioria da população foi morar, apenas os Vigias e outros guerreiros que se espalharam pela Eversong.

 - E por que você não está morando lá?

 - Não deixaria minha irmã sozinha aqui! Ela cisma em fazer patrulhas em Tranquillien e todos sabem o quanto é perigoso! Assim eu sirvo de...

 - Sim, sim, já entendi o que você quer dizer... – Sorena mudou de assunto bruscamente. – Mas sabe que eu ainda não o agradeci por me salvar? – apertando a mão do garoto elfo efusivamente. – Parabéns!

 - M-mas eu não te salvei!

 - Claro que sim! Quem me manteve acordada o tempo todo até chegarmos aqui? Foi o que a clériga Artemísia me disse...

 - Eu estava nervoso, não sabia o que fazer... Aí disparo a falar e... – dando um grunhido desconfiado.

 - Não pense que o subestimo, jovem Mago... Por isso quero que faça uma tarefa importante para mim.

 - Que não seja voltar naquele lugar medonho...

 - Não, não... Quero que depois do conserto de Ox, você cuide bem dele.

 - Mas por quê?! Você vai embora?!

 - Meu lugar não é aqui, Eriol... Tenho que saber de meus pais e pronto. Trabalho acabado.

 - Assim? E depois volta para onde? Pra casa? – Sorena riu, Ox bateu com a asa no rosto dela. – Você não tem casa, Sorena?

 - Bem... Não é uma casa... Assim casa, tipo lar... Mas serve pra alguma coisa... – Ox bateu de novo em seu rosto. – Quer parar?!

 - Aonde é? Eu posso te visitar?

 - É em Undercity. – silêncio entre os dois. Sorena mudou o assunto novamente. – Se puder, amanhã bem de manhãzinha, vamos andar um pouco, como vocês dizem? "Anar'alah belore"...

 - Haha! Você falou direitinho! Mas como iremos? Clériga Artemísia não deixa você sair!

 - Dou um jeito... – silêncio enquanto Sorena retirava coisas de dentro do peitoral de Ox, folhas velhas, órgãos atrofiados, pedrinhas redondas... – o que esse anel tá fazendo aqui? – mostrando um anel com uma pedra lilás incrustada no centro. Encaixou-o no dedo anular do direito e continuou.

 - Sorena...?

 - Sim?

 - Se eu cuidar de Ox, você faz algo em troca?

 - Como...?

 - Queria que minha irmã sorrisse mais... Você pode fazer isso por mim antes de ir para sua casa? – Sorena pensou um pouco.

 - É... eu sei de umas piadas boas sobre os kaldorei...


 - Terminei, assim tá bom? – perguntou Eriol limpando o suor da testa, aquela manhã estava particularmente quente. Sorena conseguira conjurar um pedaço de madeira para servir de muletas, ainda estava fraca para andar e a dor cobria todo seu corpo.

 - É um belo círculo...

 - Então... Não vamos precisar de velas e coisas assim?

 - Você tem alguma aí com você?

 - Não? – Sorena riu baixo pela resposta e colocou o empolgado Ox no centro do círculo. Quando ele ia se mover para ir com ela, Sorena fez uma mesura.

 - Nananão! Fica quietinho aí. – Hawk Ox fez um barulho indignado e bicou o ar.

 - O que faremos em seguida?

 - Você fica quietinho também... Fica vigiando aqui enquanto eu vou pegar algumas coisas.

 - Que tipo de coisas?

 - O tipo de coisas que você não pode saber como eu peguei porque não é um aprendiz de feiticeira. – o garoto elfo fechou a cara e sentou-se emburrado ao lado do dragon hawk morto-vivo.

 - Ela é muito exigente...! – Sorena se afastou por alguns minutos, Eriol encarava o bichinho altamente entediado com a prisão no círculo. Fez algum carinho nas penas das asas, mas recebia bicadas em retribuição. – E como é misteriosa! Não me revela nada!

 - Vai ver que é por isso que não revela seus segredos... – Eriol se levantou na hora, preparando para correr.

 - Oh, clériga Artemísia... Eeeerrrr... então.... Dia bonito não é? – tentando disfarçar e pedindo com todas suas forças que Sorena soubesse ler mentes e não voltasse enquanto a clériga estivesse ali.

 - É um belo dia de verão... – disse a clériga se sentando com sua sacola de viagem. Ox crocitou estridente. – O que houve com o mocinho?

 - Levam... arram eu levo ele para passear quando ahn... bem ahn, ele precisa de comida...

 - Oh sim! Comida! Foi o que Sorena falava o tempo todo ontem em seu sono... Peguei algumas coisinhas para ele comer... – retirando ratos mortos, potes com minhocas robustas. – Cortesia do Mestre Windrunner... – Eriol receou, não queria dar comida para Ox, já que ele se envolveria em um ritual de transformação. Quis pensar rápido e tentou qualquer coisa.

 - Mestre Windrunner! Sim, ele é muito bondoso quando não está praguejando... Hehehe...

 - Ele tem boas razões para ser daquele jeito, não...? – piscou a clériga dando uma minhoca bem cheia para Ox comer. O pássaro bicou com toda violência e engoliu a minhoca sem cerimônia. Artemísia ficou brincando com a comida de Ox, pedindo para ele se aproximar. – Venha aqui, seu gulosinho de uma figa... Não consegue sair? Mas o que é isso aqui no chão? – Eriol se alarmou e procurou a resposta mais absurda.

 - É um desenho... Meu desenho! É, hahaha, estou praticando círculos de... de... mudança... Ox gosta de suas penas bem douradas e como vê... – indicando o pássaro esfomeado, devorando um rato morto com magia. – C-como ele come se está morto?

 - Interessante não acha? É o que me pergunto todos os dias quando dou de comer para ele... – Ox engoliu uma parte do rato e arrotou em seguida. – É de uma classe, esse mocinho! – rindo com gosto. A figura cambaleante de Sorena apareceu atrás de alguns arbustos maiores. Parou imediatamente ao saber da clériga alimentando seu bichinho de estimação. – Também me pergunto quem deu autorização para você sair de seu leito na Casa de Cura... Porque eu não deixaria nem se a cidade fosse levada por uma enxurrada ou um terremoto... – Sorena foi em direção deles em silêncio, as ataduras de seus braços estavam enegrecidas e uma cota de escamas vermelhas estava pendurada em seu braço esquerdo. – Oh, mas é claro! O tratamento de um mês inteiro jogado no lixo... – disse a calma clériga.

 - Não se intrometa em meus assuntos, clériga... – disse Sorena sombriamente. Eriol assistia a cena com certo temor. – Volto quando acabar aqui, se não quiser esperar, sente e aproveite o espetáculo. – A clériga aceitou o convite e continuou a dar comida para Ox. – E muito grata por atrapalhar metade do ritual que eu preparava... Você o deu de comer, agora será mais nojento do que eu previa...

 - Iria ser nojento?! – exclamou Eriol assustado.

 - Todo ritual necromântico é nojento, Eriol... – concluiu a clériga. Sorena se aproximou do círculo feito por Eriol no chão, ajoelhou-se e colocou as mãos dentro do círculo, uma em um risco parecido com uma flecha, outra segurando Ox firmemente. Entoou algumas palavras de poder e o círculo no chão se iluminou, deixando a grama rasteira dali queimada. A nuca de Eriol eriçou quando o canto de poder virou uma ordem direta e projetada em uma voz terrível vinda de Sorena. A língua era desconhecida, mas algumas palavras ele reconhecia por Arcanista Helion usar algumas vezes. O corpo miúdo de galinha de Ox se debateu violentamente, até se abrir horrivelmente por inteiro e revelar o centro de toda magia envolvida em sua criação: uma semente cinzenta eclodia algo que ele não saberia nomear. Fumaça, cheiro nauseabundo e luz invadiram todo espaço ao redor, o jovem cobriu o rosto para não ser intoxicado, mas manteve os olhos abertos. Um ruído tenebroso, como de ossos quebrando, fez Eriol se afastar chorando. Aquela sensação o lembrara da noite em que seus pais foram mortos, como as aranhas gigantas partiram o corpo de seu pai em pedaços em menos de 2 segundos, como a mãe gritava de horror e como foi silenciada por uma ferroada na garganta. Ele, tão pequeno na época, tremia dentro de um vaso de cerâmica, pedindo para que o Sol chegasse logo e expulsasse os invasores. Gritos de horror vinham de todos os lados e súbito como veio súbito se foi. Sua irmã colocara a mão dentro do enorme vaso e o resgatou dali. Lembrou da sensação de abraçar Kalí como nunca abraçara ninguém antes, nem a mãe nem o pai.

                Quando tudo se silenciou ali no campo verdejante de Eversong, ele mirou pasmado o Dragon Hawk adulto que voava a sua frente, espalhando poeira e penas douradas pelo chão. Um grito ensurdecedor veio de Ox desta vez, ele bicava a sacola da clériga caída no chão e devorava o resto dos animais mortos ali.

 - O-ox...?! – exclamou Eriol se aproximando e tocando a cauda do animal grande. Artemísia estava debruçada no chão, ofegante e segurando um amuleto que carregava em volta do pescoço. Sorena ria histericamente há metros dali, uma trilha enegrecida seguia até ela. – Sorena você está bem?! – gritou Eriol acudindo a clériga em estado de choque.

 - Incrivelmente viva, se é isso que quer saber! – respondeu ela em meio a risadas e logo desmaiou caindo com as costas no chão.


                Kalí batia na cabeça do irmão com uma de suas flechas, da cabeça desceu pelo o corpo e depois para o traseiro.

 - Quantas vezes eu disse! Quantas vezes? Não é para ficar andando com... com... – um Dragon Hawk adulto e majestoso passou por eles voando em direção a Casa de Cura, ele piou baixinho e bicou a flecha da mão de Kalí. – Mas c-como... como...?! – Eriol sorria maravilhado.

 - É magia! Ela usou magia para fazer ele crescer!!


                No pavimento superior da Casa, Artemísia cuspia a saliva amarga que a ânsia lhe provocara. Uma aprendiz a ajudava, proferindo magias de curas instantâneas e colocando a clériga para se deitar.

 - N-não, eu não quero me deitar...! Onde está aquela... aquela... bruxa, feiticeira, necromante?! – gritou para a surpresa de todos.

 - Empacotando minhas coisas e indo embora. – respondeu Sorena descendo as escadas com sua mochila e o manto de seu velho Derris.

 - Você não sai daqui! – gritou a clériga-mor. Soldados da elite real bloquearam a passagem da porta. – Não antes de me dar respostas!

 - Tudo bem, mas o Ox ainda está com fome... Não é neném? – perguntou ela para uma figura dourada e mostrando as garras salientes para os guardas. – Nada disso, Ox. Carne de elfo pode ser macia, mas tem gosto ruim pra danar como já me disseram! Vamos atrás da escória fedorenta... – fazendo uma pose cômica de heroína. – Aliás, terei que mudar seu nome, mocinho... Ox, o Indomável... É claro, apenas domável por minha pessoa, hehehe... – todos observavam o monólogo com estranheza. Sorena correu para a clériga Artemísia e beijou sua face várias vezes. – Agradeço por cada dia desperdiçado comigo, cada refeição feita com carinho, cada remédio imprestável a este corpo que logo irá sucumbir a Praga, mas especialmente pelo incentivo. – Artemísia segurou a jovem pelos pulsos e verificou os hematomas nos pulsos. Totalmente curados.

 - Mas como...?

 - Minha devoção aumenta cada vez que lembro o que devo fazer aqui... A senhora me lembrou do motivo maior de minha existência, muito grata.

 - Você não irá embora! Não irá!

 - Claro que não! Apenas sairei por alguns dias e voltarei. Tenho minhas contas a pagar, não? Devo dever muita coisa aqui... – a aperto nos pulsos de Sorena aumentou.

 - Você não irá embora... Não... – Sorena encarou a clériga com curiosidade, sorriu gentilmente e a abraçou com força, o aperto que recebeu no abraço foi mais do que o imaginado. – Diga que não irá embora...

 - Eu preciso fazer o que eu precisava fazer...

 - Não, não, não vá, por favor... – pedia a clériga chorando em seu ombro. – Não quero te perder...

 - Eu preciso encontrar o túmulo de meus pais, senhora... E nada nesse mundo irá me deter... Minha devoção... É essa a minha devoção... – outro aperto no abraço fez Sorena afrouxar os ombros e deixar a clériga a segurar firme. – Preciso ir... Deixe-me ir... – Sorena tentava convencer a mulher de largá-la. – Se eu não for ninguém o fará por mim... Ninguém quer desenterrar o passado aqui! Ninguém!

 - Artemísia... Solte a menina sim? – disse uma voz carregada de sabedoria. Era o Mestre Windrunner. – A feiticeira irá comigo por alguns dias. Temos negócios a tratar... – A clériga beijou a testa da jovem elfa por um tempo, e murmurou bênçãos para ela. Sorena riu um pouco, não acreditava que alguém orava por ela, não sabia como reagir a isso.

 - Eu volto e trago um presente para a senhora! – os guardas reais saíram da frente e deixaram Sorena passar. Do lado de fora, Eriol alisava as escamas de Ox.

 - Vai levar ele mesmo?

 - Sei lá... Aqui ele parece mais altivo e majestoso e vaidoso do que se fosse comigo... Não reclamou até agora, não? – disse ela dando tapinhas na cauda dele.

 - Vamos logo! – resmungou Windrunner. – Esses jovens que vivem me atrasando...

 - Devo ir com o velho rabugento, logo voltarei. Oh sim! – enfiando uma sacolinha no bolso de Eriol. – Não se esqueça de cumprir o que prometeu! – Eriol ficou confuso, mas entendeu.

 - Eu posso montar nele?

 - Pode fazer o que quiser, menos jogá-lo do terraço. – os dois riram como velhos amigos. Kalí levantou a mão para agredir a feiticeira, mas Sorena pegou sua mão e encaixou-a em seu braço esquerdo, a obrigando andar ao seu lado. – E você, oh cara arqueira, vai comigo. Preciso de proteção enquanto não tenho minha força total... O velhinho ali também não sabe se defender direito...

 - Velhinho é a... – xingou Mestre Windrunner.


                Na janela do quarto que servia para Sorena, uma planta frondosa tinha algumas flores roxas que faiscavam e brilhavam a cada raio de sol que as atingiam. Artemísia segurava um jarro de água contra o peito ofegante. Chorava toda vez que acordava e via que a filha perdida não estava ali. Myrtæ se tornara uma jovem tão impetuosa! Tão diferente daquele bebezinho indefeso que dera para Sylvanas Windrunner levar para um lugar seguro, seguro da ameaça do Flagelo. Mandara a única filha para longe, como era terrível lembrar e acordar de outro pesadelo sobre o dia mais triste de sua vida. Regou a planta da Luz de Elune e esperou o efeito que ela produzia após receber água fresca todas as manhãs: um belo feixe de luz lilás cobria a planta por alguns segundos e desaparecia para dar lugar as faíscas. A dor no peito veio e ela se sentou na cama para chorar. Alguém devia a odiar muito para manter suas esperanças sempre jogadas no chão.

 - Por Elune, onde estará você Sylvos...?



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