Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 1ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 2
Todo Mundo Odeia A Keisha


Notas iniciais do capítulo

As sinopses são quase iguais aos episódios, mas é claro que eu dei umas mudadinhas!



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POV. CHRIS(Brooklin – 1982)

                Keisha. A garota dos meus sonhos. Eu já havia tido paixões platônicas antes, mas, em minha opinião, ela era a mais forte de todas. Eu sonhava com ela quase toda noite e eu a via em qualquer lugar. Uma vez eu acordei imaginando que era a Keisha me chamando, quando eu olhei direito era a minha mãe. Eu gritei, ela gritou, o Drew gritou e o meu pai veio correndo pensando que nós estávamos sendo roubados. Outra vez, eu ia sendo atropelado pensando na Keisha.

A Sheila era a mãe da Keisha. Ela e a minha mãe eram ‘amigas’. As amigas da minha mãe eram limitadas, por que ela é o que eu classifico de pobre-esnobe. Ela sabe que é pobre, mas não quer que os outros saibam e se acha chique. Ela andava com a Sheila por que ela cobria minha mãe de elogios e ela adorava ser babada.

                Um belo dia eu entrei em casa e minha mãe tava conversando com a Sheila na sala. Ela me apresentou a ela e perguntou se eu já conhecia a Keisha. Eu quase tive um colapso nervoso. A Keisha tava ali, sentada no meu sofá. E eu tava aqui, babando por ela. Não conseguia enxergar mais nada, só ela. Cortando o meu barato, minha mãe me mandou subir e ensinar matemática pro Drew.

Lá na escola eu estava vivendo uma boa época. Depois da surra que eu levei do Caruzo, o diretor Raymond disse que ele não poderia ficar a menos de três metros de mim. Adorei ver a cara de raiva dele, mas me custou um pouco de espaço. Agora o Greg não largava do meu pé. Ele me seguia por toda parte e ficava colado em mim. E quando eu digo colado, é colado. Ele tinha tanto medo do Caruzo e de apanhar que não tinha medo de ser chamado de boiola.

Falei pro Greg da Keisha, que ela tinha dito: ‘Oi, Chris.’. Eu sonhei com esse ‘Oi, Chris’ por horas. O Greg ficou megaempolgado.

“Ah, cara. Ela tá tão na sua.”

“Você acha?”

“Claro. Ela não disse só ‘oi’. Ela disse ‘oi, Chris’.”

“É, eu não tinha pensado nisso.” Decidi ir nessa onda.

Lá em casa a nota do Drew tava mais vermelha que um banco de sangue. Eu tinha tentado ensinar alguma coisa pra ele, mas ele só tava interessado no melhor jeito de amarrar o cadarço. Como sempre, a culpa foi minha. Tentei argumentar, mas me mandaram calar a boca. Minha mãe falou que era melhor um professor particular; eu adorei a ideia. Assim, talvez, eles me deixem em paz e coloquem a culpa no professor ou no próprio Drew.

“É melhor um professor particular.”

                “Não. Professores são caros.” Esse é o meu pai. Mas minha mãe tem uma argumentação bem convincente. Observe.

                “Se as notas dele continuarem baixando, ele vai ser expulso da escola. Se ele for expulso, vai virar um marginal drogado. E quando nós menos esperarmos, não vai ter uma peça de mobília nessa casa. Então, você quer pagar o professor ou comprar uma mobília nova?”

                “Quanto custa?” Mamãe 1, papai 0.

                “Pouca coisa. Eu vou chamar a Keisha.” Foi aí que eu pensei que meu coração ia sair pela boca. A Keisha ia passar as tardes lá em casa?

                Na escola, o Greg tava mais grudado em mim do que chiclete embaixo de arquibancada.

                “Onde é que você tava?”

                “Na aula. Eu disse pra me esperar no armário.”

                “Mas você não tava no armário e eu to te esperando há quase quinze minutos!” Sério. Ele tava gritando.

                “Mas eu estou no armário.”

                “Mas não estava antes!” Já tinha gente assistindo, parecia novela. Me senti numa briga de casal.

                “Greg! Afasta!”

                “Ah tá. Desculpa. Pra quê o moletom?”

                “A Keisha vai dar aula ao Drew lá em casa e eu quero ficar bonito.” Tentei explicar pro Greg meu plano pra ficar sozinho com a Keisha, mas ele não entendeu. Ah, esquece!

                Eu tava me sentindo ótimo. Eu ia ver a Keisha e se meu plano desse certo, eu ficaria sozinho com ela. De repente uma voz muitíssimo familiar me tirou do meu sonho acordado.

                “CHRIIIIIIIIIIIIIIIISS!” Sério. Minha mãe gritava tanto que qualquer Chris em New York respondia. “Eu vou para o cabeleireiro. O Drew tá lá em cima com a Keisha e a Tonya tá vendo TV. Quando terminar, o Drew pode brincar aqui fora.” Aí ela me entregou 10 dólares. “Entrega isso pra Keisha quando eles terminarem.”

                Subi feliz da vida. A Tonya tava onde deveria estar, então fui me arrumar. É sim, eu fui me ARRUMAR. Perfume, gel, desodorante, e tudo o que eu tinha direito. Eu estava pronto. Quando abri a porta do quarto que eu dividia com o Drew e ia dizer ‘oi’, as palavras não saíram. A Keisha e o Drew estavam se BEIJANDO. E pra piorar a Tonya tava atrás de mim. Eu fiquei sem reação, e ela ainda teve a cara de pau de dizer ‘oi, Chris’. E ele ficou com aquela cara de idiota que sempre tinha sido a dele. Eu fiquei com vontade de bater no Drew até ele ficar branco, mas eu me controlei. Ali, eu decidi que ia me manter frio e indiferente. Quando me dei conta era a Tonya que tava dando sermão no Drew.

                “Calada.” Mas ela continuou falando. “Calada!”

                “Mas eu disse que vou contar.”

                “Eu não ligo.” Eu não tava me importando com nada, só que o Drew tinha beijado a Keisha. Quando a Keisha desceu, resolvi tirar isso a pratos limpos.

                “Por que fez isso? Sabe que eu gosto dela.”

                “Eu não sabia que gostava dela, e ela me beijou, não o contrário.” Eu tinha que sair dali.

                “Esquece.”

                Quando eu desci a Keisha tava na porta. Respirei fundo e fiz que tinha que fazer. Ela tava preocupada se a Tonya ia contar, disse pra ela que não ia.

                “Minha mãe pediu para que te entregasse isso.” Dei o dinheiro pra ela e ela saiu. Mal olhei na cara dela. Quando ela ia se virar pra dizer ‘até logo’, eu fechei a porta na cara dela.

                Eu decididamente estava acabado. Eu pensei que ia me dar bem, mas quem se deu bem foi meu irmão. A garota que eu gostava não estava nem aí pra mim. Ela só notava que eu existia por que eu era irmão do Drew. Eu tava muito magoado. Nunca tinha me decepcionado por amor antes e eu duvidava que pudesse me recuperar. Eu tava tão na fossa que nem uma declaração de amor em rede nacional ia me animar.

                O Greg até que tentou puxar conversa, mas eu não conseguia falar sobre isso. Naquele momento eu não queria mais saber de garotas. Mas ele foi tão insistente que eu acabei contando tudo. Então ele me deu a resposta dele para tudo que dizia respeito a garotas.

                “Cara, eu não sei o que dizer.” E eu tinha certeza eu ele tava falando a verdade. Eu me sentia um lixo por meu irmão mais novo levar a garota que eu tanto queria. E o Greg não ajudava dando instruções pra eu me matar. Acabei deixando ele lá. Eu tava quase virando a esquina quando vi o Caruzo cercando o Greg. Pensei que apesar da Keisha e o meu irmão terem-me ‘traído’, o Greg não tinha nada a ver com isso. Voltei lá pra salvar ele. A gente se virou pra ir embora, então eu vi a garota rockeira encostada na parede. Pela primeira vez eu realmente prestei atenção no que ela tava vestindo. Uma blusa cinza com uma jaqueta por cima, um jeans rasgado e uma bota cano médio; o cabelo amarrado em um rabo de cavalo com uns fios caindo no rosto. Ela decididamente não se vestia normal, mas era muito irado. EU queria me vestir assim. Ela estava encarando o Caruzo com um olhar que eu achei que ele ia derreter.

                “Eu ODEIO ele!” ela disse. Me perguntei se ela estava falando comigo, mas ela me olhou, confirmando. “Acho que você também odeia, não é?”

                “É, acho que sim. Mas ele tá me deixando em paz agora. Ah... Qual é o seu nome?” eu tava sem graça, mas eu não ia deixar passar uma garota branca que odeia o Caruzo. Poderia ser uma aliada.

                “Lizzy. O seu é Chris, não é?” Eu tava surpreso, ela sabia meu nome.

                “É sim. Esse é o Greg.” Ele acenou.

                “Oi, Greg.” Ela disse sorrindo.

                “Oi.” Foi mais um sussurro que um ‘oi’.

                “Então”, perguntei, “por que não gosta do Caruzo?”

                “Eu o acho ridículo. Ele é só um garoto mimado que precisa de uma mãe que imponha limites e de um colégio interno.” Ela parecia desprezá-lo seriamente. “Também não acho justo a maneira como ele te trata. É repugnante. E tudo por que você é negro.” Congelei.

                “Mas você é branca também.” Eu não tava entendendo. Ela tava defendendo os negros? Mas ela era branca?

                “E por isso tenho que odiar e humilhar os negros? Não, Chris, eu acredito na igualdade de direitos.”

                “Nossa. Você é a única branca que eu conheço que é assim.”

                “Eu sei que sou diferente. Eu gosto disso. Você devia se orgulhar de ser negro. Seu povo tem muito mais história do que o meu. Te vejo amanhã, Chris. Tchau, Greg.”

                Ok. Eu tava novamente sem reação. Aquela garota BRANCA tinha me defendido. BRANCA!

                “Greg, eu to sonhando?”

                “Não, Chris. Eu também ouvi. Ela te defendeu?”

                “Acho que foi.”

                Quando cheguei em casa, eu sabia que precisava ter uma conversa com meu pai.

                “Pai, tem um tempo?”

                “Tenho 16min. Quer refrigerante?” Peguei uma lata. “O que foi?”

                “Pai, já teve um amigo branco?”

                “Quando eu estava no ensino médio eu tive um. O nome dele era Richard. Nós éramos muito amigos sim. Por quê?”

                “É que eu conheci uma garota hoje e ela é diferente. Ela defende os negros e ela é branca.” Deu pra ver que ele ficou surpreso.

                “Uma branca que defende os negros? Isso eu nunca vi. Onde conheceu essa garota?”

                “Na Corleone. Ela disse que eu deveria me orgulhar de ser negro. Que nós temos mais história do que os brancos.”

                “Hum. Parece ser uma boa garota, pelo menos ela não implica com você. E se você gosta dela e ela de você, é isso que importa, mas não se encha de esperanças demais. Agora eu tenho que ir.”

                “Tchau, pai.” Tentei dizer pro meu pai que não tava a fim da Lizzy, mas resolvi deixar pra lá. Fiquei pensando no que o meu pai me disse. Eu tinha quebrado a cara com a Keisha e ela era negra. E apesar da Lizzy defender os negros eu não ia aventurar meu coração recém-quebrado e ainda não remendado no mundo branco. Se eu me apaixonasse de novo, seria por uma garota negra.

                Depois o Drew me pediu desculpas pela Keisha e eu disse pra ele esquecer. Eu ia ser indiferente com a Keisha. Talvez eu consiga. Mas apesar de pensar tanto na Keisha, ela não foi a última garota em quem pensei hoje.

***

POV. LIZZY

Aquele Caruzo me tira do sério. Eu ainda vou aprontar uma bem boa com ele. Onde já se viu implicar com o Chris só por que ele é negro? Peraí! Por que eu to me importando tanto com isso. Ele não é nada pra mim. Por que eu me importo? Ok. Não é nada. Eu sou durona e esse negócio meloso de se apaixonar não é comigo. ‘Mas ele é bonitinho...’ falou uma voz em minha cabeça. PARÁ!!!!! Eu não quero me apaixonar por ninguém. É uma perda de tempo. Ficar amigo, no entanto, é uma possibilidade. A Cibele foi embora, então vou precisar de alguém sendo meu amigo. Alguém com que eu possa me importar e que se importe comigo.

Foi pensando assim que eu cheguei em casa. Meus pais me esperavam na sala e eu imaginei que não seria boa coisa. Eles pediram para eu sentar, pediram gentilmente, mas com aquele tratamento frio e distante que eu bem conhecia.

“Lizzy, precisamos conversar.” A voz fria de minha mãe era tão familiar que eu nem me importava mais.

“O que foi?”

“Vamos nos mudar.”

“O quê?” Fiquei pasma.

“O dinheiro de sua irmã era o que nos ajudava a pagar o aluguel no Queens. Agora que ela foi embora e vai precisar do dinheiro, temos que nos virar sozinhos.” Eu sabia que não tinha como discutir, mas eu adorava o Queens e não queira me mudar. Respirei fundo e me conformei.

“Para onde?” Tentei parecer calma.

“Bed-Stuy.” Fiquei mais branca do que eu já era. BedStuy: Só doido vai? Tá brincando? Eu ia adorar! Sempre quis ir lá. Era o bairro do perigo. Apesar da alegria, tentei parecer indiferente. Se eu demonstrasse alegria, eles mudariam de ideia.

“Ok. Não tenho outra opção. Quando?”

“Semana que vem.” Disse meu pai.

“Ok. Vou começar a arrumar minhas coisas.” Subi.

Se eu pudesse gritar eu gritaria, mas seria de felicidade. Bed-Stuy. O bairro do meu pai. Mas não aquele pai que estava na sala de estar. Era outro. O meu pai de verdade. A verdade é que eu sou adotada. Não gosto muito de falar disso. É triste pra mim.

Meu avô era brasileiro e negro, ele veio pra cá seguindo um amor de adolescência. Quando ele a encontrou, ela estava casada com outro. Ele acabou se casando com outra também e teve meu pai. Danilo Rodrigues, que também era negro. Meu avô não amava a mulher, ele amava a outra e sofria por ela. Quando eu tinha três anos, minha mãe me abandonou e meu pai acabou morrendo de tristeza. Eu fiquei com meu avô, mas ele vivia ausente e o conselho tutelar me tirou dele. Fui levada para um orfanato e fui adotada quando tinha 4 anos pela família Jackson. Eu deveria ter adotado o nome deles, mas preferi ficar com o nome do meu pai: Rodrigues. É brasileiro também, e eu tenho tanta vontade de conhecer o Brasil. Dizem que é quente lá. Quando fiz 6 anos, recebi a notícia de que meu avô havia morrido. Fiquei muito triste. Eu não o via há anos, mas ele continuava sendo meu avô. O amor só trouxe desgraças pra minha família, por isso eu não quero me machucar nem machucar ninguém com esse mal. E lembrar isso sempre me deixa muito deprimida.

 Mas eu vou pra Bed-Stuy! Nova vida na qual eu posso até aprender a ignorar meus pais. Às vezes eu me pergunto: se não gostavam de mim, por que me adotaram? Na verdade, eu sei por que me adotaram: Cibele. Ela era muito doente na época e vivia nos hospitais. Eu a conheci assim, quando fiquei doente também. Nós passávamos horas conversando. Quando ela soube que eu era órfã, fez o maior escândalo para os pais me adotarem. Eu fiquei feliz na época, mas a frieza deles logo dissipou qualquer afeto que eu pudesse ter.

Decidi arrumar minhas coisas só amanhã e me deitei. Pensando nisso, tive a vaga impressão de que conhecia alguém que morava lá. Eu tava muito cansada e a última coisa que eu me lembro de ter pensado foi no rosto de um certo garoto.

...

Por: LivyBennet


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Notas finais do capítulo

Pra quem tá acompanhando a história: fazer esse capítulos tá sendo bem rápido então acho que não vou demorar muito a postar de um capitulo pra outro.