O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 34
Epílogo² - Jason


Notas iniciais do capítulo

Narração - Jason Clin



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    Eu soco seu rosto, e ele parece não se magoar. Eu desfiro mais cinco socos em seu rosto até me cansar parcialmente. Eu rujo enquanto o bato e ele parece aceitar os golpes.

  -Eu disse que ela podia confiar em você! – Eu grito, me lembrando do dia da Colheita em que assenti enquanto ela era levada, esperando que Anna me entendesse. – E você a deixou morrer!

   Seu rosto está inchado e ele se senta na calçada. Uma multidão curiosa se junta em torno de nós. Eu continuo arfando e o encarando com raiva. Ele vira seu rosto novamente para mim, mas não me culpa de nada.

  -Jason, olha... – Ele começa a falar, mas eu não estou ouvindo.

  Mais cenas de seus Jogos começam a bombear minha mente, e tudo o que tenho capacidade de ouvir são seus gritos. Quero salvá-la, protegê-la como costumava fazer logo após uma sessão em PDC. Mas é impossível.

  Eu levo as mãos à cabeça e aperto minhas orelhas com força. Acho que estou gritando, mas ninguém ousa se aproximar de mim.

  Exceto Turnit.

  Eu me afasto dele, mas ele continua avançando. Jogamos esse jogo até eu tropeçar e cair de costas na calçada. Ele estende a mão e eu fico de pé, para logo dar-lhe outro soco no rosto.

  Então da multidão, sai Beau e Rosemary. Seus rostos estão vermelhos e sei que estavam chorando. Beau me agarra pelas costas, me impedindo de realizar qualquer movimento brusco.

  -Jason! Jason! – Sua voz sobrepõe os gritos de Anna. – Jason, escuta moleque!

  Ele segura minha cabeça fortemente entre suas duas mãos e eu sou obrigado a olhar para ele. Minha visão tremula e então foca em seus olhos.

  -Não é culpa dele, Jason. Você sabe disso, a culpa não é dele! – Beau grita, quase cuspindo em mim.

  Parte de mim sabe que ele não tem culpa de nada, mas a outra quer ter alguém para culpar. Enquanto não posso espancar o presidente até a morte, decido que Turnit será meu bode expiatório.

  -Me solta! – Eu me remexo, tentando escapar de seu aperto, mas ele só me segura com mais força. – Não quero falar com ninguém. Me solta, Beau!

  Ele meio me solta, meio me joga para trás. Lágrimas correm por sua face, assim como pela minha.

  -Eu estou sozinho agora! – Eu berro, falando mais com Anna do que com Beau. – Ela se foi!

  Eu me deixo cair na rua.

  -Eu sinto sua falta. Por que ela tinha que ir? – Eu afundo o rosto em minhas mãos. Posso sentir os olhares da multidão se entristecendo. – Ela só tinha doze anos.

    Subitamente sinto raiva da multidão que apenas observa. É tudo o que sabem fazer? Observar? Ver suas crianças morrerem de fome, doentes, vítimas de joguinhos violentos dos Pacificadores?

  Com certeza algum Pacificador deve estar vindo, nesse exato momento. E logo ele será seguido de muitos. A multidão vai se espalhar e ninguém vai fazer nada para defender ninguém.

  Anna faria algo. Algo mínimo, algo máximo... Algo. Ela sempre fazia.

  -Ouviram isso? – Eu repito, dessa vez me levantando e distribuindo um olhar cruel para todos os espectadores do show. Não obtenho nenhuma resposta. Espero alguns segundos, contando que Beau ou Rosemary tentariam me impedir. Mas Rosemary apenas saiu correndo de volta ao abrigo [ela não pode participar de movimentos rebeldes, senão... Avox! A Capital tem muitos de seus dados para ela se arriscar. Eu não a julgo.], e Beau se sentou na calçada, quase sorrindo ao saber o que vou fazer.

  -Vocês se lembram, não é? Seis anos atrás. Claro que lembram! Dos gritos, do som do chicote batendo no ar. Vocês estavam lá. Fazendo o que? Olhando!  – Eu continuo. – Quer dizer... Enquanto meus pais morriam vocês estavam lá olhando. Muito útil!

  Eu suspiro, mas não desvio o olhar da multidão. Eles por sua vez mal olhavam para cima. Vergonha? Espero que sim. Muita. Mas estavam ouvindo.

  -Uma menina de quatro anos foi mais útil que vocês. – Eu prossigo em tom acusativo. – Vocês sabem quem era ela! Sabem sim! Ela dizia que ninguém mais se lembrava... Mas o som do chicote não se esquece.

  Luto contra as lágrimas e continuo.

  -Se alguém aqui achou legal o jeito como ela morreu, por favor, se manifeste! Por que eu não achei! – Eu suspiro e não consigo conter uma lágrima de cair. – E eu não posso dizer que ela era melhor do que ele, ou do que qualquer um dos outros 22 mortos... Mas ela merecia viver.

  A multidão toma coragem de me olhar de volta, e se eu não estivesse tão bravo com eles, tenho certeza de que esse seria o momento em que mais me senti próximo do resto do mundo. Quando percebi que tinha algo a ver com todos os outros, que não são Anna.

  -Todos mereciam. – Eu finalizo. O silêncio toma conta da praça, profundo como nunca. Não sei por quanto tempo ficamos assim.

  O barulho de passos ritmados se aproxima. Um completo exército de Pacificadores se aproxima.

  Penso em sair correndo de lá, como a maior parte da multidão começa a fazer, mas meus músculos não correspondem às chamadas de meu cérebro, então tudo o que consigo fazer é ficar parado, olhando para a mancha branca se aproximando cada vez mais de mim.

  Logo só sobramos eu, Beau e John na pequena Praça da Vila dos Vitoriosos. Os pacificadores estão cada vez mais perto e, antes que eles alcancem seus destinos, algo perfura meu pescoço.

  Meus olhos lutam contra a sonolência instantânea e eu me seguro no braço de Beau, procurando um equilíbrio para minha mente zonza. Ouço a voz doce de Anna me chamar.

  -Jason?

  Murmuro seu nome em retorno, mas meus olhos se fecham antes que obtenha qualquer outra resposta. Posso ouvir os barulhos de um ataque a Beau e a John, mas não consigo fazer nada, além disso.

  O mundo se apaga, e eu me pergunto se é hoje que eu a verei novamente.


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