O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 28
Eu sou Anna Madison.




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  Enquanto percorro o caminho até outro prédio, vejo o corpo deformado e sangrando da menina do distrito Sete ser recolhido. Corro ainda mais rápido para longe dele. O matador está longe se o corpo está sendo recolhido, mas não quero arriscar acabar como ela, seja lá quem a matou.

  O número cinco retumba em minha mente e toda a segurança que eu experimentei desde que nasci parecem desaparecer a cada passo que dou para longe de John.

  A sensação de que fiz uma escolha importante não larga meu corpo. E a sensação de que posso ter escolhido a opção errada a torna cada vez pior.

  Já estou muito afastada do alçapão onde me separei de John. O pensamento de que ele era apenas um aliado me perturba, mas é a verdade. O que mais ele poderia ser numa situação como essa?

  E ainda: O que ele poderia ser, se não estivéssemos aqui? Se fôssemos duas crianças normais, que se conheceram na escola, durante um trabalho em grupo? O que Jason seria nessa situação?

  Eu chacoalho a cabeça e fico alerta novamente. Subo até o quarto andar de um prédio baixo e entro no banheiro. Escondo-me atrás do vidro embaçado e sujo do boxe. Meu corpo fede e minhas roupas estão imundas, e por um momento me divirto com o pensamento de que eu poderia tomar um banho agora mesmo.

  Obviamente não faço isso, porque seria muito fácil seria como gritar para todos os tributos inimigos que estou pronta para ser morta. Como um pedaço de carne apenas para aliviar o estômago da corrida. Minha cabeça dói e me recosto na parede, olhando para um ponto fixo, esperando que a dor passe.

  Como está Jason agora que estou jogando sozinha? Será que está feliz porque me separei de John, ou triste porque minhas chances contra os tributos restantes não são tão grandes?

  “Você é Anna Madison” Ele havia dito. Grande coisa. Eu sou Anna Madison e olha para mim! Suja e cansada, quase doente mentalmente, sentada num chuveiro decadente na arena dos Jogos Vorazes. Em pleno massacre quaternário.

  O distrito Quatro deve estar uma algazarra. Sempre está quando os nossos dois tributos chegam à semifinal.

  Ouço um barulho ao longe, mas nada muito suspeito. Apenas por precaução eu me levanto e subo mais dois andares. Devido ao meu tamanho eu consigo me esconder em lugares como os armários das cozinhas e embaixo dos sofás e camas, engolindo muita poeira e dando de cara com aranhas e bicho muito mais nojentos. Consigo pensar que, caso acabe meu estoque de comida, ainda terei aranhas e baratas para ingerir, porém o pensamento não me agrada tanto.

  Meu corpo reclama, pedindo nutrientes que não como há dias, como vitaminas e carboidratos, mas não tenho como satisfazê-lo. Estou na arena da cidade destruída há quanto tempo? Hoje é o quarto dia, e amanhã estarei em uma nova arena. O tempo total dos Jogos até agora são 9 dias, mais o dia de hoje, que está quase no fim. Só restam cinco de nós, e desejo com todas as minhas forças que a arena seguinte seja algo com água de mar e areia.

  Pensar que já faz quase um dia desde que me despedi de John é estranho, porque me dá um sentimento nostálgico de quando estávamos no telhado do Centro de Treinamento, chamando ao outro de nomes que não são os verdadeiros.

  “-Já ouvi essa, Josh.”

  Um sorriso surge em meu rosto. Então ouço passos subindo as escadas, em direção ao meu andar. Oh não! Algum tributo deve ter me visto entrando no prédio. Será que, pelas janelas sem vidro, eles conseguiram ver meu vulto caminhando até o armário dessa cozinha em que estou encolhida?

  Os passos continuam se aproximando, até que, com minha respiração presa e sem mover um músculo sequer, eles passam por mim e sobem mais um lance de escada. Continuo com medo de inspirar quando ouço novos passos subindo as escadas. Alguém está sendo perseguido, e estou bem no meio dessa caçada. Ótimo. Perfeito!

  Os passos do segundo tributo também passam direto por mim e continuam correndo atrás do primeiro. Torço para que o primeiro seja um inimigo e o segundo um amigo, mas sou obrigada a me lembrar de que agora todos – inclusive John – são meus inimigos.

  Em cinco minutos eu ouço o canhão, provavelmente do primeiro tributo. Está escurecendo, e ouço os passos do assassino se afastando e saindo do prédio, até que tudo que consigo ouvir é o aerodeslizador recolhendo o corpo morto.

  Espio pela janela do prédio o céu quadriculado mostrando que a Menina do distrito Onze já era. O alívio e o medo de que amanhã deixarei esta arena me invadem e tudo que consigo fazer é me acomodar no gabinete do banheiro do quinto andar do prédio ao lado, respirando poeira enegrecida e fechando os olhos, ouvindo nada mais nada menos que as batidas fortes e aceleradas de meu coração.


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