A Grande Busca escrita por Rebeca Bembem


Capítulo 4
Fico sem saber os podres do meu avô alienígena


Notas iniciais do capítulo

ooi ;) eu sei que demorei pra postar, e muito, mas eu sei que ninguém tá ligando pra isso, então, à história *-*



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– Hein? – eu tinha certeza que ouvira ele dizer uma palavra conhecida, muito conhecida, dos muitos livros de mitologia e ficção que já tinha lido. Mas não podia ser aquela palavra mesmo, podia? Simplesmente não fazia sentido... Pensando bem nada mais faz sentido (disse uma vozinha irritantemente parecida com a de Manoela dentro de minha cabeça).

– Hein o quê? Quem está gritando feito uma louca aqui é você – disse Hugo, ainda no chão. Ah, como eu desejei ter massacrado aquele lindo rostinho no chão, ah que vontade...

– Cala a boca Hugo! Vocês dois estão escondendo algo de mim, tenho certeza disso! Vamos, me conte, qual é a bomba agora? Eu só tinha a minha irmã, porque, felizmente, meu avô mortal, foi disso que você chamou todas as pessoas normais?, acabou de morrer, e agora que eu não tenho nem a ela, você me diz que não há nada que os mortais possam fazer?! QUE MERDA É ESSA DE MORTAIS? – sim, eu estava estressada, e nem aquele olhar imponente do homem sentado ao meu lado era suficiente pra me fazer calar a boca.

– Acalme-se Alice – como os adultos eram estranhos, eu pensei.

Quando era preciso que eles se acalmassem, eles continuavam gritando. Agora, em um momento crítico, quando tudo o que eu mais precisava era de alguém pra gritar junto comigo, ele permanecia lá, calmo, irritantemente calmo.

– Não dá pra me acalmar, simplesmente não dá! – eu o interrompi.

– Acho que houve um engano aqui – disse Lúcio, ainda calmo demais. Mas agora, ele não exibia mais aquele sorriso tranquilizador. Parecia estar se preparando para dar uma notícia realmente ruim. Isso me deixou preocupada o suficiente para parar de gritar e tomar um pouco de fôlego.

– Você disse que eu chamei seu avô de mortal – ele continuou.

Eu respondi com um mero aceno de cabeça, a angústia e o nervosismo crescendo dentro de mim...

– Mas eu não chamei.

– Hã? – estava boiando, completamente boiando.

– É claro que disse. Você disse: "Porque nesses casos a polícia dos mortais não pode fazer nada." Isso significa que o caso da minha irmã é tão ruim que ninguém pode salvá-la, não é? Significa que não há nada a se fazer. Acabou. De novo... – e surgiram as malditas lágrimas, de novo.

Finalmente, Hugo parecia ter descoberto como é que se fazia pra levantar do chão. Parecia meio desconcertado, sem saber o que fazer. Fez com que ia sentar ao meu lado no sofá, mas depois de trocar um rápido olhar com o pai decidiu ficar no chão mesmo. Talvez ele estivesse com medo de você, Alice. Escandalosa desse jeito assusta qualquer um. Enquanto cobri o rosto com as mãos, ouvi a voz de Lúcio novamente. Já não estava com raiva. Só queria entender o que estava acontecendo. Descobrir que merda era aquela de mortais e fazer algo pra ajudar minha irmã.

– Seu avô não é, de maneira alguma, um mortal.

– Como disse? - eu estava ficando doida, ou aquele cara estava dizendo que meu avô não era um "mortal"? Ele estava mesmo chamando meu vô de alienígena ou coisa parecida?

– Disse que ele não é um mortal, querida. Mas, pelo que parece você não sabe de nada... Ele nunca te disse nada? Ou a Manoela? - Lúcio parecia sinceramente confuso. Hugo, estranhamente, parecia constrangido. Por quê?

– Contar o quê? - em circunstâncias normais eu ficaria muito, muito curiosa. Sim, eu estava um pouco, mas eu não conseguia parar de pensar que aquilo não me levaria a lugar algum. Eu precisava encontrar minha irmã, só isso. Não ia conseguir descansar enquanto não a encontrasse, e essa conversa de mortal estava começando a perder o interesse...

– Bem, se ele não te disse... Acho melhor tomar um banho primeiro, querida. Pode ser muito chocante o que vai ouvir.

– Faça o que ele diz Alice. Sem querer ofender, mas você parece horrível - disse Hugo, de repente interessado na conversa. Notei que ele parecia ansioso, como se não visse a hora de ficar a sós com o pai. Vi em seus olhos que tudo o que ele mais queria era adiar o tema "contar os podres do vô alienígena da Alice".

Foi quando finalmente percebi que eu devia estar mesmo horrível. A chuva devia ter transformado meu cabelo em um perfeito ninho de ratos. Eu continuava molhada - com certeza não iriam dar banho em mim, ou trocar minhas roupas, não havia uma mulher na casa. Eu queria fazer alguma coisa, rápido, queria que eles me contassem tudo, mas sabia que não ia conseguir convencer os dois a me contar os podres do meu avô antes que eu estivesse limpa, e "forte o bastante".

– Ok, vocês ganharam. Acho mesmo que preciso de um banho. Estou toda molhada e. suja. Preciso de um banho urgente, estou fedendo também...

– Ainda bem que concordou querida. Bem, Hugo vai lhe mostrar o banheiro, lá terá tudo o que precisa. Dito isso, Lúcio se levantou, levando a bandeja intacta cheia de torradas apetitosas e suco de laranja de volta para a cozinha. Eu me descobri e tentei levantar. Só tentei. Porque senti uma tontura tão forte, que me apoiei fortemente em um Hugo já em pé para não cair de cara no chão. Aposto que ele teria rido. Aposto.

– Você está bem? - ele pergunta.

– Eu, acho que sim. Sim, estou ótima. É... onde é o banheiro?

– É por aqui - eu podia ver que ele ainda estava meio desconfiado, como se temesse que ao me soltar eu poderia cair de novo.

Nós andamos até o banheiro, saindo da sala, entrando em um longo corredor repleto de várias portas fechadas, até a última delas. Meu queixo caiu, automaticamente. Meu Deus! Isso não é um banheiro! É qualquer coisa, menos um banheiro normal!

Só para que você não imagine o banheiro de Hugo como uma grande floresta cheia de macacos ou qualquer outra coisa ridícula, vou esclarecer o que me impressionou tanto. O tamanho. É, o tamanho. Pense em um banheiro grande. Agora pense em um cinco vezes maior. Pronto. Esse seria o tamanho do banheiro dele. Era tão grande quanto três salas de visita. E era tão luxuoso quanto o banheiro de um palácio. No canto oposto a porta havia uma banheira que parecia de porcelana, toda decorada com o que eu não duvidava nada de que fosse ouro. Não havia box, ou qualquer cortina que separasse a banheira do resto do banheiro. Na parede, voltadas para ela, haviam pelo menos umas cinco torneiras de cores diferentes. Do lado dela havia uma pia, bem grande por sinal, toda decorada também. No canto direito, havia um espelho, que ocupava toda a enorme parede. E, no canto esquerdo, uma patente e um daqueles acentos que algumas pessoas mais velhas tem em casa. Aquele com uma torneira, que algumas pessoas ainda usam para substituir o papel higiênico. Não adianta, eu nunca vou me lembrar do nome desse negócio. Enfim, esse era o majestoso, enorme e impressionante banheiro do Hugo.

– Nossa! Que banheiro... – não consegui falar nada mais inteligente.

– Grande, eu sei – ele disse com um sorrisinho afetado – Bem, do lado da banheira tem tudo o que precisa pra tomar banho. É... não sei se vão servir em você, mas são as únicas roupas de mulher que tem aqui em casa... – ele apontou para algumas peças de roupa em cima da patente.

Por um momento, fiquei confusa. Até que me lembrei de que essa casa não foi sempre povoada apenas por homens. Havia Elisa. A mãe de Hugo. Ex-esposa de Lúcio, que havia morrido seis anos atrás. Não quis aprofundar mais o assunto, não queria que ele se lembrasse demais da mãe e acabasse triste.

– Ah, sim, está ótimo. Obrigada – eu me livrei cuidadosamente do seu abraço, e acenei um tchauzinho, enquanto ele fechava a porta.

Passados alguns minutos, eu já estava naquela maravilhosa banheira de água quente, cheia até o topo, de água e uma espuma muito cheirosa que saiu de uma das torneiras coloridas. Eu me diverti bastante com elas. É, eu sou bem criança. Enquanto tentava colocar em ordem tudo o que havia me acontecido nos últimos dias, estendi a mão para pegar um shampoo e o passei no cabelo. Onde está Manoela? Ela está bem? Será que há alguém torturando ela, ou algo do tipo? Eu preciso fazer alguma coisa, eu preciso... Ninguém vai tirar minha irmã de mim, não mesmo... Eu sabia que precisava fazer alguma coisa, mas também sabia que eles não me deixariam sair assim tão facilmente. Com certeza não seria fácil sair dali, dizendo apenas: "Ei, tem como vocês me arrumarem dinheiro para o táxi? É que eu quero mesmo pegar um pra sair atrás dos bandidos loucos que pegaram minha irmã. Sabe? Aqueles que já podem ter matado ela? Esses mesmo..." Não, eles não me liberariam.

Eu tinha que ouvir a conversa deles, toda aquela coisa de "mortal" e "não mortal". Talvez seja bom, pensei. Quem sabe de uma vez por todas eu não entendo tudo? Foi pensando nisso que usei minhas forças pra mudar o rumo dos meus pensamentos. Por que Lúcio havia dito que meu vô não era mortal? Como ele podia não ser? Pelo que me lembrava dos livros de mitologia grega, eram chamados de "mortais" todos aqueles que um dia morreriam. Mas era esse mesmo o sentido que Lúcio quis dar a palavra? Se sim, ele estava louco. Meu vô não podia ser "imortal". Ele já estava morto, infelizmente.

Dei um mergulho naquela banheira incrivelmente grande – já disse que a água estava uma delícia? – quando vi minha coxa direita, e me lembrei do caco de vidro que tinha entrado nela, na noite em que Manoela sumiu. Não estava mais lá. Na verdade não havia mais nada lá. Nem um cortadinho sequer. Subi a superfície de novo, pra tomar ar, e levantei minha coxa pra fora da água, o máximo que minha falta de flexibilidade pode aguentar. Então era isso, minha perna estava totalmente intacta. Mas eu tinha certeza de que um caco de vidro tinha entrado nela, até furou a minha calça jeans. A calça, isso. Fui até o canto da banheira, estiquei meu braço, e com esforço agarrei a minha calça jeans. Desvirei-a e procurei por um corte na coxa direita. Sabia que não estava louca. Estava lá, onde eu sabia que estaria. Um rasgado, na diagonal, bem grandinho. Mas, como meu corte se curou? A prova de que eu tinha mesmo feito um corte estava ali, na calça, mas não na minha perna. Você tem problemas bem maiores agora, Alice – disse uma vozinha dentro da minha cabeça. Tem razão – eu respondi minha própria voz. Larguei a calça no chão, esquecendo-a.

Passei o condicionador, depois o sabonete, mas não saí da banheira tão rápido. A água estava muito boa, e eu estava muito cansada. Depois de uns dois minutos fazendo nada além de pensar, eu me levantei, me sequei, com uma toalha que estava em cima da pia e me vesti com as roupas de Elisa. Não eram tão grandes, afinal. Virei-me para me olhar no espelho. Estava com um shorts jeans, que me serviu perfeitamente, e uma camiseta simples, azul clara. Calcei um par de chinelos que estavam no chão e fui em direção ao espelho examinar a minha situação.

Eu continuava igual à última vez que me vira no espelho. Os cabelos castanhos molhados continuavam lisos, escorridos, e ocupavam a metade superior das minhas costas. Meus olhos castanhos claros estavam iguais, assim como a minha estatura baixa. Minha pele, uma das poucas coisas que gostava em mim mesma estava normal. Rosada nas bochechas e lisa, sem espinhas. A me ver ali, intacta, não pude deixar de me sentir culpada. Por que eu tinha que estar bem, quando minha irmã podia estar mal? Não era justo com ela, eu pensei. Foi quando soube, realmente, que não aguentaria olhar para meus cabelos compridos sem me lembrar dos curtos, e para os meus olhos castanhos sem me lembrar dos verdes. Eu nunca viveria sem ela. E ela precisava de mim, eu não iria desapontá-la. Agora é hora de saber a verdade, eu pensei. Determinada a não desistir, e a fazer os dois desembucharem tudo o que tivessem pra desembuchar, eu recolhi minhas roupas molhadas do chão, dobrei a toalha, coloquei-a em cima da patente e abri uma fresta da porta para sair do banheiro.

Antes, porém, que eu desse um passo, ouvi vozes vindas da sala de estar. Eu não ia parar pra escutar, ia continuar andando, até que ouvi meu nome. Parei, no lugar, uma frestinha da porta aberta, por onde espiava o meu olho. Eu só enxergava o corredor, e depois uma árvore de Natal. O sofá era no outro lado da sala.

– Não acha que é perigoso demais contar a verdade? - disse a voz de Hugo.

– Por que seria? Essa garota merece saber que família tinha... Merece saber a razão de tudo. É justo. - disse Lúcio.

– É justo, mas não acha que devíamos contar apenas uma parte?

– Que parte você não quer contar?

– A parte do colar ser tão importante. Quero dizer, se ela não souber que ele é importante, não vai sentir falta dele. Podemos ir a casa dela antes e pegá-lo, depois podemos dizer que eles o levaram...

– Mentir para a menina? Não acha que ela já sofreu demais?

– Pai, pense um pouco... Cersei te disse o que aquele plano pode nos trazer...

– Chega! - eu dei um pulinho pra trás, assustada com o tom forte e furioso da voz de Lúcio.

– Você vive preocupado demais com os outros, mas já parou pra pensar que ela pode voltar? E tudo o que você tem que fazer é ficar quieto, não contar pra ela a importância do colar, levar ele até Cersei e...

– Chega Hugo! Chega! Ela se foi, e sei muito bem disso. Você pensa que não sofri todos esses anos? Pois sofri sim, seu idiota. É claro que já pensei em milhões de planos loucos pra trazê-la de volta. Cada um deles mais impossível que o outro. Mas nenhuma dessas garotas é culpada por ela ter ido embora... Eu pensava que nenhuma delas se machucaria, mas olhe só o que fizeram a Manoela! Você não se importa, é isso?

– Ninguém vai se machucar, sabe disso tão bem quanto eu! Alice não se machuca, Manoela não se machuca! VOCÊ REALMENTE ACHA QUE QUERO VER ALGUMA DAS DUAS MACHUCADAS? POIS EU NÃO QUERO! Tente entender, pai, é exatamente pra proteger Manoela que quero logo dar o que Cersei quer...

– É por isso mesmo, tem certeza? Ou é por egoísmo?

Silêncio.

– Sabe por que aqueles homens levaram Manoela, Hugo?! Sabe, ou acha que sabe?!

Essa eu quero ouvir, pensei. Saí pela pequena fresta aberta da porta, e comecei a andar pelo corredor, enquanto o silêncio permanecia no ar.

– Sabe por que simplesmente não pegaram os colares e foram embora, se era isso o que queriam?!

Eu estava chegando cada vez mais perto das vozes, mal me atrevia a respirar, colada à parede eu dava um passo de cada vez. Hugo não dizia nada.

– Porque aqueles homens estavam ao comando dela. E se ela não se importa que alguém saia ferido, seus "cachorrinhos" se importam menos ainda. Ela não é uma mulher em quem confiar. É doente. Pensava que não, mas tive a prova disso naquela noite.

Eu estava no fim do corredor. Ainda colada à parede eu usava todas as minhas forças para guardar a conversa em minha cabeça.

– Também quero trazer Manoela de volta, mas deve haver algum outro meio de tirá-la das garras dessa louca... - dizia Lúcio calmamente, como se explicasse como somar dois mais dois para uma criança.

– NÃO HÁ, SABE QUE NÃO HÁ! Então por favor, vamos simplesmente dizer a Alice que alguns traficantes pegaram Manoela, vamos pegar o colar e levá-lo a única "louca" que pode nos ajudar.

Não aguentei. Nenhum dos dois decidiria o que fazer com o meu colar. Era meu, caramba! A irmã também. E nenhum daqueles dois decidiria nada por mim. Eu tinha esse poder. Mas eu precisava da verdade. Naquele momento. E também não os deixaria decidir o que me contar ou não. Eu entrei na sala, dei uma boa olhada na cara de surpresa de Hugo e Lúcio, coloquei as mãos nos quadris, e disse, com a voz mais determinada que consegui:

– O colar é meu. A irmã é minha. Tratem de desembuchar agora o que tem pra desembuchar porque quem escolhe o que fazer aqui sou eu.



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Notas finais do capítulo

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