Pra começar, James Brandini não sentia as pernas.

                Não se lembrava de quase nada do que havia acontecido. Só se lembrava que chegaram ao Olimpo, iriam terminar a última missão e...

                Ah sim, haviam esquecido Perséfone.

                As lembranças da batalha contra Hades deixaram James super-perturbado, e com mais vontade de morrer. Lembrava de cada detalhe, cada foiçada, cada machucado, arranhão, tudo.

                Mas isso não era mais importante. Tinha de saber onde estava. E começou a se levantar.

                Como estava tonto. Quando tentou sentar pela primeira vez, caiu de costas. Mas com muito sofrimento, conseguiu ficar sentado. Olhou à sua volta mas não conseguiu ver nada, a não ser a completa escuridão.

                Ele tentou se lembrar onde Hades disse que iria jogar ele, Caroline e Douglas. “Caroline!” ele se lembrou. Onde será que ela estava?

                Não, ele tinha de descobrir onde estava primeiro. Tentou se lembrar, mas cada vez que pensava sua cabeça, pés, braços, seu corpo inteiro doía. Mas era uma dor necessária.

                “Vou cortar o tempo de sua doença para apenas 3 horas. Quando ela chegar ao final, sua vida também terá chegado... E onde você vai passar essas ultimas horas da sua vida? No fundo do Tártaro, junto com seus ‘amigos’. Quando sua hora chegar, eu mesmo vou me encarregar de te castigar por toda a eternidade!”

                Ah sim, estava no Tártaro. Um tipo de lixo mitológico. Mas não sabia o que mais havia lá além de escuridão. “Certo, já sei onde estou, agora preciso urgentemente encontrar Caroline!”

                Pensou na moça, e depois de muito esforço conseguiu se levantar. Olhou no seu relógio que estava totalmente quebrado, mas ainda dava pra ver o tempo da doença: “2 horas, 57 minutos e 42 segundos”. “Droga” pensou James.

                Apoiou-se em uma pedra. Já era um começo, saber que haviam pedras no Tártaro. Essa em que ele se apoiou estava na sua esquerda, então decidiu ver o que estava a sua direita. Outra grande pedra. Ele estava no meio de um tipo de abismo.

                Andou alguns metros, tropeçou e caiu. E percebeu que o chão estava cheio de poças d’água. “Água!” era o que o professor precisava. Abaixou-se, pegou um pouco com as mãos e bebeu. Sentiu a sua boca e garganta queimarem, e cuspiu aquilo na hora. Não chegava nem perto de água, era... pior do que qualquer líquido que ele já havia provado.

                Continuou cambaleando pelo abismo. O Tártaro devia ser enorme não? Como iria encontrar Caroline? Logo, decidiu gritar. Tentou, mas sua garganta ardeu novamente, sentiu suas cordas vocais na boca, e não conseguiu gritar. Isso era extremamente doloroso, a dor era tanta que James chegou a cair novamente.

                Levantou-se e continuou andando. Não enxergava nada, só sentia algumas coisas. Sentia a água molhando seus pés, a frieza das pedras com as mãos, e o frio do lugar. Era extremamente frio, James não sabia como estava vivo até agora naquelas condições. “Nono círculo” James pensou, como referencia a Divina Comédia de Dante. Isso era bom, não tinha perdido o bom humor. Se é que ele tinha.

                O professor começou a falar baixinho então, para que pudesse gritar por Caroline dali a algum tempo. Ele falava baixinho:

                - Caroline... Caroline...

                Isso o deixava motivado.

                Aos poucos conseguiu enxergar as pedras em quais se apoiava. Olhou para cima, e conseguiu ver um brilho. Era... uma luz, a luz de uma fogueira.

                Ele decidiu que era melhor escalar o abismo então, para chegar à luz. Tentou uma vez, mas suas costas estavam doendo. Parecia que toda sua coluna estava contorcida, com todos os ossos no lugar errado.

                Depois de várias tentativas, conseguiu escalar devagarzinho. Chegou ao topo, e viu que a fogueira eram os destroços da nave de Douglas. Várias peças pegavam fogo, dali é que vinha o fogo. Cambaleou até lá, e viu que a nave realmente não tinha conserto. A maioria das peças estava derretidas, outras despedaçadas e algumas inteiras, mas que provavelmente não poderiam ser aproveitadas. O professor vasculhou e vasculhou os destroços, mas não encontrou ninguém. Finalmente conseguiu reunir forças para gritar:

                - Caroline!!!

                Sua garganta ardeu, e seu grito ecoou por todo o Tártaro.

                - James! – alguém disse baixinho. Era uma voz rouca e fraca, que vinha de baixo dos escombros.

                James retirou alguns e viu que era Douglas. O escritor estava realmente acabado. Sem uma orelha, e com a cara de quem estava cansado da vida. Ele também estava enfaixado nos braços e pernas, mas o professor não se interessou em como Douglas havia se enfaixado.

                - Temos de dar o fora daqui! – Douglas disse.

                - Eu sei! Onde está Caroline?

                - Não deve estar muito longe...

                Continuaram procurando. James tinha de encontrar Caroline. Tinha de conversar com ela um pouco, pelo menos um pouco antes de morrer.

                - James... James... – ele ouviu alguém falando baixinho.

                - Caroline? Onde você está?

                - Aqui!

                - Aqui onde? – ele se virou para todos os lados, não vendo a professora.

                - Aqui seu besta!

                Ela estava soterrada em várias conchas, e James estava em cima da mesma.

                - Ah, desculpa! E-eu não te vi! – e começou a desenterrar ela.

                Ofereceu a mão para ajudar a professora a se levantar. Ela se apoiou na mão de James, mas não conseguiu levantar. James lembrou que Caroline estava com uma perna quebrada. Mas deu um jeito de levantar a professora, e fazer ela ficar apoiada nele, com o braço em seu ombro. Andariam devagar desse jeito, mas andariam.

                - Douglas! Encontrei Caroline! – ele gritou, e o escritor logo veio até eles.

                James decidiu olhar em volta novamente, e conseguiu ver melhor como era o Tártaro: uma caverna gigantesca, gigante mesmo, James não sabia quantos quilômetros de altura tinha aquele lugar. O chão era um grande deserto de pedras de todos os tamanhos.

                - Bem, nós não vamos ganhar nada parados aqui não é? – disse Douglas, pegando um pedaço da nave, que parecia uma vareta. Esse pedaço tinha fogo na ponta.

                - Vamos andar? Não estamos bem em condições disso não é? – retrucou Caroline.

                - Mas temos de encontrar um jeito de sair daqui, com ou sem condições.

                Logo começaram a longa caminhada. Douglas ia iluminando na frente, James e Caroline iam atrás, com a professora apoiada nele.

                Andaram e andaram por um longo tempo, sem trocar uma palavra. Até que chegaram em uma leve elevação, e Caroline reclamou que estava cansada. Douglas disse:

                - Descansem os dois, eu vou dar uma olhada por ai – e subiu aquela elevação, deixando os dois a sós.

                Os dois sentaram-se em uma pedra, e ficaram em silêncio. James tinha tanta coisa pra dizer à Caroline, mas não sabia por onde começar. Então ele olhou em seu relógio e disse:

                - 2 horas, 26 minutos e 3 segundos de vida eu tenho.

                - Nossa, é triste saber isso não é? – ela falou, olhando para ele.

                - Um pouco... na verdade, saber quanto tempo de vida eu tenho, sempre... – mas o professor viu que ia falar besteira, e logo decidiu botar tudo pra fora – ta bom Caroline, olha, eu vou morrer daqui a pouco mesmo, quero te falar umas coisas!

                Caroline olhou com uma cara estranha pra ele, e ele começou:

                - Caroline, Carol, eu te amo mais do que tudo. Eu sempre gostei de você, eu sempre quis beijar você, eu... – mas a professora o interrompeu:

                - James?

                - O q-que?

                - Cala a boca e me beija - ela disse com um sorriso no rosto, e os dois beijaram-se.

                Com isso, as dores do professor diminuíram.

                Como sempre, Douglas iria atrapalhar os dois na hora do beijo, mas dessa vez ficou apenas atrás de uma pedra espiando os dois. Era uma bela ironia: os dois passearam por todo o Universo, e só tiveram aquela conversa séria no pior lugar do mesmo.

                Depois que terminaram de se beijar, Douglas voltou para junto dos dois. Iam continuar andando, mas coisas estranhas aconteceram.

                Um grande terremoto sacudiu todo o Tártaro, fazendo pedras rolarem, caírem do grande teto da caverna e tudo mais. Uma montanha que estava perto deles começou a se mover. A montanha movia-se devagar, mas movia-se!

                - O que está havendo?! – James perguntou.

                A montanha logo tomou forma. Dela surgiu um imenso braço, uma perna, outro braço...

                - Droga – disse Douglas, sem tirar o olho “daquilo”.

                - O que foi? – perguntou Caroline.

                - Um titã.

                Realmente, a grande montanha era um titã. Um grande monstro, com vários metros de altura. Ele localizou os humanos, e se preparou para pega-los com sua imensa mão do tamanho de uma casa inteira. Douglas disse, ainda olhando o monstro fixamente:

                - É Cronos. Senhor do tempo, pai dos deuses e devorador de bebês. Estamos ferrados.