Asas Do Destino escrita por Isabelle


Capítulo 1
Kizuna


Notas iniciais do capítulo

NA: Música do capítulo Kizuna Orange Range
http://www.youtube.com/watch?v=Kgth_-30SfI



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Título: Asas do Destino

Autora: Isabelle Delacour

Casal: Saga x Shou

Classificação: NC-17

Gênero: Yaoi, Romance.

Resumo: Eu vou contar uma história, talvez você se veja nela, talvez não... Não importa, o que importa é a canção. Mundos separados, vidas ditadas por acordes diferentes que se misturam em suas diferenças, fazendo uma canção diferente, insistente, incoerente. Versos perdidos na poeira da estrada, separados, mas paralelos em sua busca. Mas o destino ganhou asas e escreveu a mais linda canção... Venha, ouça...

Avisos: A história é Yaoi, se não gosta não leia.

Disclaimer: Essas criaturas de olhinhos puxados e pra lá de sensuais não me pertencem. Pena... Seriam belos presentes para algumas pessoas que eu
conheço... Nem tudo é perfeito né? Ah! Sem fins lucrativos é claro!!


Asas  do  Destino

Capítulo 1 –

                    Kizuna



              Tóquio acabava de sair de um inverno rigoroso, a neve já havia derretido por completo há algumas semanas. Os primeiros sinais de que ainda havia vida na vegetação do lugar – tons suaves de verde se insinuavam em todos os cantos. Logo a natureza explodiria em tons e cores, a vida se tornaria mais intensa como se o longo período de cinza deixasse as pessoas em uma desolação total acompanhando a tristeza das velhas cerejeiras sem folhas.

Eu não sei bem onde nossa história começou, talvez naquele dia em que eu, olhando pela janela da minha sala de aula, vi um meninozinho sendo puxado por um homem grande, de olhar severo e triste, marcado pelo luto, denunciado em uma faixa negra presa ao seu braço direito. Minutos depois esse mesmo garotinho era colocado na mesa ao lado da minha, pude reparar que chorava baixinho. Tínhamos na época cinco anos...

“- Não chora não, a senhorita Mitiko é boazinha. Eu sou Kasamasa Kohara, mas pode me chamar de Shou... – o garoto de olhar penetrante e vivo dizia enquanto estendia a mão para o mais novo coleguinha de classe.

- Sakamoto Takashi... – disse simplesmente tomando a mão que lhe era estendida. Limpando as lágrimas logo em seguida.

Nesse instante a professora entra na sala, era uma jovem muito bonita, traços suaves, olhar carinhoso e cheio de vida. Tinha os cabelos presos parcialmente com uma
fivela em forma de borboleta cravejada com pedras coloridas. Maquiagem suave, roupa discreta, que escondia parcialmente sob um jaleco. Sempre tinha um sorriso que iluminava a classe.

- Bom dia classe! Temos um novo coleguinha na sala, digam olá para o Sakamoto Takashi! – convidou a Srta. Mitiko muito sorridente.

- Olá Sakamoto Takashi! – repetiu a classe em coro.

- O Takashi veio de Hokkaido, é novo na cidade e na escola, então precisa de coleguinhas novos. – completou a gentil professora que estava à frente da sala. Depois voltando-se à sua mesa pegou um livro de histórias e começou a ler. – Em um reino muito distante...”

Lembranças suaves de uma época inocente inundava minha alma. Lembro-me da história. Dos gestos suaves e do tom da voz da professora, tão nitidamente que parece que o tempo não passou. Contudo naquele dia eu me perdi no seu olhar. Jamais esquecerei seu olhar.

O tempo de meninices e inocência, passou rápido, embalado pelas histórias que ouvíamos juntos, escondidos, fugíamos sempre para ouvir a Srta. Mitiko contar suas histórias. Mas éramos bons alunos, nos dedicávamos aos estudos com afinco, pois a cobrança em casa era rígida, ambas as famílias muito tradicionais.

Vivíamos grudados um no outro. Estudávamos juntos, brincávamos juntos, e muitas vezes seu pai te deixava aos cuidados da minha mãe, pois sempre viajava a negócios. Quase nunca estava em casa. Então um futon sempre te esperava no meu quarto. E ali conversávamos baixinho até a noite nos envolver em doces sonhos. Nos meus, você sempre estava.

Devagar fui percebendo o seu olhar, o seu jeito, sua beleza. Todos olhavam para você com cobiça, e eu descobri que não gostava disso. Eu passei a discutir com você por tudo. Se você sorria, se você ficava triste, se dava muita atenção para outras colegas, se demorava muito a voltar. Tudo era motivo para uma briga.

Foi durante uma delas, que nem me lembro mais o motivo, que eu descobri toda a verdade, a nossa verdade...

“- Onde você esteve a tarde toda? – Shou pergunta ostensivamente ao amigo que acabava de voltar da biblioteca.

- Estava na biblioteca... – Takashi sentiu que o amigo estava se esforçando para não se alterar.

- E precisava demorar tanto assim? – Inquiriu chegando mais perto do outro.

- Olha eu... – Takashi não entendia bem o porquê de tudo aquilo. – Eu estava pesquisando para o trabalho de história quando Aya chegou e nós...

- E vocês começaram a se esfregar no fundo do corredor? É isso? - Shou interrompe Takashi grosseiramente, segurando seu braço, sacudindo o amigo.

Aya era uma garota mais velha, evitada por todos na escola, tinha um gênio explosivo e uma reputação que a precedia, parte mito, parte verdade, mas ao certo, apenas Takashi a entendia. Eram amigos sim, não tão íntimos, mas conversavam, principalmente nas rede sociais.

- Shou... Você está me machucando... – Takashi se desvencilhou do amigo com os olhos assustados.

- Shou pega leve. – Nao se aproxima um tanto preocupado.

- Fique fora, isso é particular.  – Shou responde secamente.

Tora também se aproxima, as brigas entre os dois já estavam passando dos limites. Saga olha para todos, seus olhos marejados, soltou-se abruptamente do amigo de tantas traquinagens e correu.

- O que há com você? Enlouqueceu? Não bastava infernizar a vida do garoto, agora vai agredi-lo também? – Nao falava baixo, com olhar duro, enquanto Tora dispersava alguns curiosos que pararam para ver a cena.

- Não... Eu jamais... – Shou corre as mãos nervosamente pelos cabelos e olha para o amigo. – O que foi que eu fiz...?

- Ferrou com tudo, como tem feito nos últimos meses. O que está acontecendo com vocês? Parecem até “marido e mulher” do tanto que brigam. Todos na turma já repararam.

Um silêncio mortal caiu entre eles, Shou abaixou a cabeça e mirou o tênis, não sabia o que dizer. Shou não sabia sequer o que sentia, uma revoada de besouros ocupava seu estômago no momento. Ele apenas sabia que tinha que encontrar Saga.

Resoluto, apanhou sua mochila e a de Saga, que na fuga a deixara para traz. Andou o resto da tarde a sua procura. Saga havia deixado o celular na mochila, então não tinha como sequer deixar uma mensagem. Tentou sua casa, mas Koga-sama informou que ele não havia voltado da escola.

Escurecia quando Shou resolveu voltar para casa. O garoto estava desolado. Sua mãe, percebeu e deixou a frase de reprimenda pela metade.

- O que foi meu chibi? – a mãe se aproximou do filho que tinha lágrimas nos olhos e o abraçou.

Shou chorou toda a sua frustração. Seu coração adolescente doía. Ele não queria brigar com o amigo. A mãe o acalmou e o colocou na cama. Shou fechou os olhos, em algum momento de cansaço, dormiu. Dormiu um sono conturbado, cheio de brigas, gritos, discussões e medo. Acordou com a campanhia tocando, suado e com a respiração inserta. Momentos depois sua mãe entrava em seu quarto.

- Filho, Sakamoto-san está lá embaixo. Takashi não voltou para casa.

Shou levantou-se de um salto. Desceu as escadas apressadamente. Parou no último degrau, encontrou o mesmo olhar duro e triste de dez anos atrás. Sakamoto-san jamais sairia do seu luto. Shou viu desespero somado às feições do pai do amigo que conhecia há muito tempo. Shou aproximou-se fez uma reverência e permaneceu por um segundo de cabeça baixa, a vergonha o corroia.

- Sabe onde está meu filho? – Sakamoto perguntou e Shou sentiu o chão lhe faltar abaixo dos pés.

- Não... E a culpa é toda minha. Briguei com ele... – o garoto tinha a voz
embargada e lágrimas que segurava corajosamente.

- Outra vez... – Sakamoto-san, vira os olhos, respira fundo. – Tem alguma idéia de onde ele possa estar?

- Procurei por todos os lugares que conhecemos, liguei para todos os nossosamigos... Eu não sei mais onde procurar... Sinto muito senhor...

- Tem certeza filho? – interveio a mãe.

Shou encostou-se na parede e deixou que seu corpo escorregasse. Apoiou a testa nos joelhos flexionados. Era a imagem da desolação. Shou queria voltar no tempo, não diria nada ao amigo, não brigaria com ele. Estava tão arrependido. ”

Eu nunca vou me esquecer daquele dia. Nevava lá fora.  Meu coração congelava só de pensar com o que poderia ter acontecido com meu chibi. Foi a madrugada mais amarga e fria da minha vida, mamãe não conseguiu que eu voltasse a dormir, Sakamoto-san se retirou com meu pai, que resolveu ajudar a procurar Saga. Eu mais parecia um animal enjaulado, afundava o chão da sala com meu celular e o de Saga na mão, e vigiava o telefone da sala.

“Eram quase três da manhã, quando Shou se lembrou do parque que havia em frente a escola primária, que eles freqüentaram. A srat. Mitiko muitas vezes os levava até lá e contava suas histórias, ele se lembrou, porque Saga adorava ficar olhando para as cerejeiras em flor. Era sempre um momento mágico.

Nesse momento, a porta se abre e Sakamoto-san e Kazamasa-san entram desanimados.

- Pai sei onde ele está! – disse apressadamente pegando seu casaco e calçando as botas.

Os adultos seguiram o garoto que correu pela rua ignorando a neve e a madrugada. O parque ficava a poucas quadras dali. O coração de Shou se apertou, se ele estivesse ali, estaria congelado a essa hora. Então parou na entrada do parque. Respirou fundo tomando fôlego, seu pai e Sakamoto-san demoraram um pouco a chegar, esbaforidos com a corrida no frio da madrugada.

Shou andou a passos lentos. Até o ponto em que costumavam ficar. Aos poucos uma figura amontoada em um banco foi se materializando na escuridão enquanto a distância era vencida por Shou. Sakamoto correu quando entendeu que poderia ser seu filho. Shou parou a poucos passos, quando percebeu que o mais velho segurava o garoto nos braços. Kazamasa, saiu do seu torpor e correu para casa, precisa pegar o carro o mais rápido possível.

Shou ficou esquecido na pracinha, não teve coragem de se mover, nem quando Sakamoto passou por ele. Ficou por ali, algum tempo sentado no banco com a cabeça baixa. Estava desolado. Mil pensamentos ruins passava pela mente do garoto. “Sua culpa”. Essas palavras martelavam em sua cabeça. Saga poderia estar morto a essa hora, e ele estava ali, inerte. Não tinha coragem de se levantar e encarar os fatos. Nem mesmo o frio penetrava a culpa que envolveu o garoto.

Não percebeu os passos apressados em sua direção. Sua mãe... Sempre ela.  A jovem senhora sentou ao lado do filho. Aninhou-o em seus braços e sussurrou calmamente.

- Vai dar tudo certo... Mamãe está aqui, sempre estarei a seu lado. –
Kohara-sama, embalou o filho com uma canção que o acalmava quando em noites de tempestade ele acordava assustado. Então a doce voz daquele anjo inundou sua alma...

“Olha, estamos entrelaçados

A voz do amigo ecoou no coração

Com lágrimas, não se enxerga o caminho

Levante-se agora! Olhamos para o mesmo céu

Não estamos sós

Não precisa carregar tudo

Conta com os outros, acredite agora nos laços

Eles não se desmoronam, não desaparecem”

- Conta comigo filho...

Kazamasa-sama conseguiu levar o filho para casa depois disso. Mas não o incentivou a dormir, foram direto para o hospital. Ela sabia que Shou tinha que encarar seus próprios demônios mais cedo ou mais tarde. Ele tinha que resolver o que sentia dentro do peito. Ela sabia. Ela sempre soube, desde o dia em que pusera os olhos no amigo do seu filho, eles estavam predestinados. Riu-se quando imaginou ter visto por um instante um fio vermelho brilhante unindo os dois. Mas seu coração de mãe sabia que aquele era o começo de muito sofrimento. Ela temia por seu filho.

No hospital encontraram Kazamasa e Sakamoto andando de um lado para outro, Kazamasa-san era um dos poucos amigos que Sakamoto tinha. Em poucas palavras Kazamasa-san explicou a esposa que eles não sabiam ainda o estado do garoto. Aguardavam o médico.

Depois de uma longa hora, que mais pareceu um século para Shou, uma enfermeira, com um uniforme imaculadamente branco e uma prancheta na mão, veio trazer notícias.  

- Sakamoto-san? – ela perguntou se aproximando do grupo. O homem se adiantou e ela continuou. – Seu filho está fora de perigo, está descansando, mas o senhor pode vê-lo agora. Ele está medicado, vai dormir logo, não o force sim?

Sakamoto apenas assentiu e acompanhou a enfermeira. Shou desabou na cadeira, “graças a Kami você está bem!” pensou segurando as lágrimas, não poderia chorar, não na frente de seu pai.

- O que houve? O que você fez com seu amigo? – o olhar do pai era severo.

- Eu...

- Meu bem, agora não. Foi uma briga de criança, logo eles se acertam de novo. – Kazamasa-sama interveio carinhosa puxando o marido para outro canto. – Tudo vai ficar bem.“

Saga ficou no hospital quase uma semana, eu ia até lá todos os dias, e uma das enfermeiras me dizia como ele estava. Não tinha coragem de entrar em seu
quarto, muitas vezes ficava sentado no corredor de cabeça baixa. No dia em que recebeu alta, ele me flagrou no corredor.

“- Me disseram que eu tinha um guarda-costas no corredor. – Saga disse calmamente, Shou deu um pulo, assustado, não o viu se aproximar. – Eu não acreditei, então vim conferir. – o garoto tossiu um pouco.

- Saga... – Shou estava embaraçado, não sabia o que dizer. – Deveria estar fora da cama? – não conseguia sequer olhar para o amigo.

- Vai brigar comigo por isso também? – Saga, tocou o queixo do amigo, fazendo com que o encarasse.

- Não, nunca mais. – uma lágrima escapou dos olhos do garoto.

Saga o abraçou, meio desajeitado no inicio, mas depois perceberam que seus corpos se encaixavam tão bem, Shou se sentiu tão inteiro naquele abraço, que desejou que o mundo parasse naquele momento.”

Eu não sei como pude machucar Saga. Mas eu cumpri minha promessa, eu nunca mais brigaria com ele. Nosso relacionamento ficou mais forte e mais intenso depois daquele dia, eu sabia que o amava, mas jamais poderia dizê-lo, seria a ruína da família, e eu estaria morto minutos depois que meu pai soubesse de tal coisa.

Meses depois resolvemos montar uma banda, eu o Saga o Nao, o Tora, e o Hiroto, apesar da diferença de idade éramos amigos e estávamos sempre juntos. Começamos a ensaiar na garagem do Saga, visto que o pai dele quase nunca estava em casa. A música nos unia cada vez mais, discutíamos sim, muito, mas sempre acabava em risos, Nao estava sempre a espreita, bastava um olhar e nos dávamos conta do que estava acontecendo.

Todos já haviam sacado que aquilo era mais que amizade. Então eu resolvi que colocaria um basta naquela insanidade.  Com a banda se apresentando em eventos na escola, algumas festas, nossa popularidade aumentou no colégio, então eu resolvi que tiraria proveito da fama. Comecei a sair e namorar algumas garotas. Meu pai ficou até feliz com isso. Minha mãe me lançava olhares que para mim, naquele momento, eram indecifráveis. Ela sabia que no fundo eu sofria com tudo aquilo.

Jamais esquecerei o olhar de Saga quando me flagrou beijando Aya. Era um misto de tristeza, e ódio, não, era decepção mesmo. Aya compreendeu o que se passava. Ela sorriu e me mandou atrás do amor da minha vida.

Ele se afastou sem dizer nada, mas dessa vez não foi se congelar no parque, era primavera e o parque explodia em tons de rosa. Eu o encontrei lá sim, era para lá que ele sempre ia.

“- Que bom que não está nevando... – Shou disse calmamente enquanto sentava-se ao lado de Saga.

Silêncio...

- Eu sei que tenho agido como um imbecil...

- A vida é sua Shou, faça como quiser. – interrompeu bruscamente, enquanto se levantava para ir embora.

Shou levantou também. Segurou Saga pelo braço, com a mão livre segurou seu rosto e o beijou. Brevemente. Ternamente. Um momento único. Cheio de magia. Uma lágrima escorria pelo rosto do loiro, e outra do moreno, gêmeas no sentimento de medo e paixão.

- O que está fazendo...?

- Oras... Você disse que a vida é minha e que eu deveria fazer o que eu quisesse, apenas obedeci... Tenshi... Amo você...”

Saímos do parque naquela tarde para a casa dele, naquela hora estaríamos sozinhos. Conversamos longamente, tínhamos medo sim, era tudo tão novo e desconhecido, e ao mesmo tempo não, pois o sentimento esteve ali todo o tempo, apenas dormia...



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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!
E claro me deixem saber disso!!! Revs por favor! rsrsrs
Jinhos da Belle