Alem Da Parafilia escrita por Ciborgue Folks


Capítulo 1
Pegadas




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Ah! Era extasiante viver a dor inerme da morte, arrebatando-lhe o maior orgasmo de exultação que seu masoquismo o permitia ter. A explosão tornando efêmero o que já era passageiro, o desvairo de um rosto pétreo se evanescendo... Porque era tudo para o seu danna, e até a lembrança do pretexto lhe era alterada ao vento com o por que. Tão hipotéticos por quês.








Pegadas na areia narravam fábulas sob o crepúsculo. O vento álgido abocanhava o sopro candente que incandescia a aurora de Suna, rastejando aos pés de andarilhos, lambendo as madeixas de tons cálidos. E o vento memorizava cada minúcia que se pronunciasse firme, cada belo traço que fazia do mais jovem o mais velho e, portanto, o mais velho mais jovem. Não sôfrego, apenas suave, para não varrer as pegadas da areia. Para não varrer a história.

- Hei danna, para onde estamos indo, hm?

E o mais jovem, tão velho e austero, deixou que o vento levasse mais isso consigo. Questões sem respostas. Filosofias de Descartes.

- Pensei que não fôssemos bem vindos em Suna.

Depois de raptar seu Kazekage, não eram mesmo. Sasori não iria responder. Ele queria deixar o vento levar consigo seu silêncio. Silêncio que perseguia com tanta avidez.

- Danna, eu não sei se você percebeu, mas não tem ninguém nesse lugar, hm.

Os passos então acuaram, voltaram-se aos que estavam atrás de si. Passos estes tão pequenos que poderiam ser os de uma criança.

- Pensei que demoraria menos para perceber.

Alguns daqueles olhos, pares de celeste anis tão vivos e joviais, inflamaram como rubras queimavam suas bochechas, e Sasori desejou saber o porquê de Deidara deter aquela cor escarlate. Cor de seus cabelos. Mas o silêncio exigia respeito e, por Deus, era tão efêmero que ele poderia odiá-lo.

Deidara, por sua vez, amava o silêncio que tudo tinha haver com sua essência – amava torná-lo efêmero. Porém naquele momento, frente a frente com seu mestre, queimando-se da cabeça aos pés feito uma fruta flambada, desejou que fosse eterno.

- Para o que está olhando?

Diante da pergunta o mais velho, tão mais jovem, repuxou um sorriso irônico para que seus pensamentos não gritassem.

A Suna era tão quente. Sasori era tão frio.

Ele não poderia se deparar mais insano, mais demente. Pois seus olhos que antes viam contidos um assimétrico pedaço de madeira, agora despertavam um brilho lascivo. E ele não poderia sentir-se mais sujo ou alucinado, pois seus devaneios oblíquos estavam além da parafilia, além da psicanálise. Abraçar uma árvore e afirmar que ela era a mãe de seu mestre fazia mais sentido – e nem tentaria contar quantas vezes fez isso.

- Pare de me olhar assim.

Deidara então alargou seu sorriso. Ah, ele era tão insanamente louco que poderia sentir prazer somente com uma ordem. Sentia-se tão humano e carnal quando seu danna lhe dava ordens.

- O que está esperando danna, hm? – além do mais, precisava que ele prosseguisse caminhando.

Estava tão além da religião.

- Que desfaça essa cara de lunático, antes que me induza a pensar besteiras.

E então Deidara alargou ainda mais seu sorriso, se assim plausível, pois não acreditava no impulso que estava delegado a ter por tamanha volúpia que se aplacava em seu corpo esguio. Não sabia das ínfimas do motivo, e nem sequer tinha uma razão, mas sentia-se como Édipo, tão dilacerado pela vontade e pela moral. “A porra”, diria, porque de todos os seres que residem esse mundo, ele era o mais amoral que se regia por aí.

- Pensei que demoraria menos para pensar, hm.

Seu corpo maior projetou-se para frente, porque era isso que ele ansiava com tão sufocante veemência desde o princípio. Porque desde o momento que viu seu mestre pela primeira vez em sua forma, ainda que como marionete, desejou-o de forma a duvidar de sua própria ideologia. E, por Deus, quantas vezes seduziu-o sem o menor êxito, pensou em seu corpo semi-morto tão além de si. Sasori. Praticamente uma árvore.

Pois beijou-lhe, e beijou-lhe mesmo para não querer saber. Beijou-lhe com tanta voracidade que sentiu seu corpo cândido inteiro entrar em denso transe, quase dormência e Deus sabe quanto tempo tencionara aquela cena em sua mente, e quantas vezes a evadira. Mas vendo-o ali com os cabelos desgrenhados de vento e a expressão de nada... Deus sabe o quanto ele se segurou como um anjo encarcerado. Mas ele era tão infindável.

Sentiu-se ser arranhado como se pudesse ser assassinado a lesões superficiais. Sentiu-se fortemente impelido. Nada, contudo, o fazia desejar o maior delírio a que conseguisse chegar, pois sabia ele que se fosse imposto afastar-se, já estaria morto ali mesmo.

E em força e encanto, a marionete lentamente foi cedendo, agarrando-se ao seu traço mais humano. Sasori sabia que jamais em sua vida de alentos, nenhuma única vez, olhou Deidara com outros olhos que não a de um mestre a seu aprendiz e somente isso. Mas sabe-se lá como ele conseguia domá-lo e dobrá-lo quando quisesse, logo assim, de primeira. O Iwa era a mulher mais perfeita que já viera a conhecer; um homem.

Quando se viu a pensar “homem”, ainda sentiu a vertigem da realidade lhe chicotear com força, mas os lábios irresistíveis de Deidara o puxavam como uma serpente. Puxou seu corpo com tanta ferocidade contra si, que sentiu seus ossos rangerem, e beijou-lhe a ponto de arrancar-lhe a alma.

Naquela noite, Sasori amou-o com tanto ódio que poderia induzir-lhe um coma. Por Deus, sentiu gostos e ouviu sons que não teria mais garbosos em sua maldita vida eterna. Naquela noite enterrou-se tão fundo em desejo, tão forte e firme que sentiu a vertigem da morte engoli-lo. E então, logo como começou, seus olhos candentes apagaram-se como o fenecer de um frágil vaga-lume, lentamente.

No dia seguinte fora a redenção do pecado de Lilith – que convém chamar de luxúria. Efêmero foi a matéria que se julgava eterna, assassinado por seu próprio parentesco. Lamúrias infernais cobriram o incendiário, e o que mais desejava em sua vida era a anistia.

Tornou-se efêmero o que efêmero já era; em fidelidade qualquer vista, e disto pouco se lembra.










Agora duas abantesmas caminham sobre as areias de Suna, donos de pés de andarilhos. O vento que soprava tão taciturno, nada tem mais a dizer que uma insana história de amor.

- Hei danna, para onde estamos indo, hm?

E Sasori corrompeu seu silêncio, sentindo-se vivo o suficiente para escutar um coração real batendo contra seu peito.

- Para longe Deidara. Para onde não poderão nos encontrar.

Para onde suas pegadas pudessem fazer marcas na areia novamente.



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Notas finais do capítulo

Epifania. E a unica definição para essa coisa louca ter chegado na minha mente assim, as 11:00 da noite (hora de criança estar na cama meu povo u.u).



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