― Cheguei! – Anunciou assim que adentrou a residência onde morava, a casa aparentava estar diferente de sempre, sem as brigas de seus pais e sem a voz de taquara rachada de sua irmã, pensou por segundos que eles tenham saído, mas percebeu uma luz acesa que parecia vir do quarto de seus pais, se aproximou e a cada passo podia ouvir a voz deles, não pareciam estar brigando, aliviou-se, pelo menos um dia sem aqueles gritos infernais naquela casa. Escorou-se por segundos na porta, fechando os olhos e logo os abrindo, prestando atenção no que ouvia.

― Até quando esta garota vai ficar aqui? – Assim que ouviu, não conseguiu entender, naquela casa era só sua mãe, seu pai a Ami e ela mesma, ficou ali ainda escutando, será que tinha alguém a mais naquela casa?

― Por que voltar com este assunto? Eu já disse que ela vai continuar aqui, afinal ela é minha filha. – O que ele quis dizer com afinal ela é minha filha? E afinal, que papo era aquele?

― Sua filha, não minha  e eu já não a quero mais aqui ou você não percebeu?

― Perceber o que? Mulher, você estar ficando louca. – Admitiu o marido, vendo sua mulher começar a ficar mais irritada e aumentar o tom da voz.

― Você é que esta ou você não percebeu ou esta se fazendo, esta garota ta ficando mais parecida com sua mãe biológica, você realmente não percebe que isso o fará voltar para a outra? Eu a quero fora da minha casa.

― Ela não tem nada haver com isso, com suas alucinações, ela não tem culpa dos meus erros na adolescência. – Ami era adotada ou ela? O que era aquilo? Onde aquela conversa iria chegar?

― Se você não a expulsar eu mesmo faço isso, não a quero aqui.

― A Amu é minha filha e não irá sair daqui, quem paga o aluguel é você? Quem paga todas contas? Sou eu quem banco esta casa, então por favor, desista desta idéia ou você vai para o olho da rua. – Sem querer deslizou sua mão até a fechadura, abrindo a porta, fazendo com que seus pais notassem sua presença, não pode conter as lágrimas, afinal, aquilo que acabara de ouvir, era uma prova de que sempre fora enganada? Sua mãe não era sua mãe? Aquela imagem protetora que lhe passara todos anos era somente sua imaginação ou uma farsa? Como eles puderam lhe enganar?

― Você... Estava escutando? – Ouviu seu pai perguntar-lhe um pouco surpreso.

― Pai, diz que o que eu ouvi, era mentira, diz... – Olhou para os dois apenas vendo-os negar com a cabeça, sua visão ficou mais embaçada, as vozes pareciam estar diminuindo até uma hora que não pode ver mais nada nem escutar... Havia desmaiado.

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Seus olhos abriam lentamente para tentar se acostumar com a luz que vinha em sua face, começou a ouvir vozes e logo as reconheceu, era de seu pai e de sua mãe, logo que perceberam ela estar acordando começaram a irem sua volta, podia ver o nervosismo de seu pai, o mesmo tremia as mãos enquanto segurava a sua.

― Amu, você esta bem? – Sua voz parecia preocupada, sentira um pouco de culpa, se não tivesse bisbilhotando seu pai e sua mãe, não teria nada acontecido, não estaria sentindo uma traição, não sentiria aquela angustia e poderia continuar reclamando de tudo, poderia tudo continuar como antes, certamente havia tido uma grande decepção.

― P-pai... Eu quero saber...

― Saber o que? – Ele perguntou, mesmo já sabendo do que se tratava.

― A verdade, eu quero saber pai. – Olhou para ele, esperando que ele desse inicio a explicação.  – Você e a mãe, são meus pais de verdade?

― É melhor te explicar depois. – O viu virar-se para então fitar sua esposa, a quem tanto na infância chamara de mamãe, a sua heroína.

― Eu quero saber agora, não quero que me enrole mais.

― Quando chegarmos em casa eu te conto, vai ser melhor... Aliás, tem uma pessoa que veio aqui, esta preocupada, e fazia um bom tempo que não via vocês juntas, vou dar uma saída.- Abriu a porta da sala que se encontrava e saiu, logo pode ver Rima adentrar a sala.

― Oi Amu. – Deu um sorriso fraco, com medo de ser ignorada e mandada embora.

― Rima... – Olhou uns instantes para sua amiga a frente, queria se desculpar, afinal, se não fosse por sua culpa as duas não teria brigado, olhou para ela que estava sem graça. – Tudo bem? – Percebeu que ela sorriu, provavelmente gostaria de falar antes, mas tinha vergonha por causa do mal entendido.

― Sim... Er... Desculpa, Amu... Eu não queria ter discutido com você.

― A curiosidade matou o gato, eu quis fuxicar demais, e acabei nos afastando, por causa de uma curiosidade besta... Desculpe, Rima.

― Paz? – Perguntou a outra vendo somente Amu afirmar, não pode se conter de sorrir. – Mas agora, o que você foi aprontar para estar aqui?

― Ouvi coisas que não podia, hehe.

― Só você mesmo, uhaushua. – Riu a loira, fazia tempo desde que não conversava com Amu, conversar com sua amiga depois de certo tempo, fez parar com o peso que carregava em sua consciência. Novamente a porta se abriu e era o médico avisando que já estava de alta, não demorou muito para estar pronta e ir encontrar com todos fora da sala.

― Então, vamos? – Perguntou aproximando-se de todos, sua irmã não estava ali, provavelmente seus pais haviam deixado ela na casa de sua avó ou alguma amiga já esperando tirar-lhe para não escutar aquela conversa, eles sabiam o quanto a caçula iria sofrer e ficar confusa se ouvisse a conversa que logo eles teriam. Não demorou muito para chegar a sua casa e quase que a ultrapassa-la por falta de atenção, se despediu de Rima que já havia ficado sabendo que Amu queria ter um tempo a sós com seus pais, a amiga já havia lhe dito, mas não o motivo. Entrara dentro de casa e sentou-se no sofá, vendo seu pai fazer o mesmo enquanto sua mãe terminava de fechar a porta.

― Deu. – Chegou a mulher sentando-se, finalmente estavam os três lá, de cara a cara, na verdade, Amu sentia medo do que iria ouvir, mas para ela, seria melhor saber a verdade do que tentar se iludir com palavras que sabia que não teriam mais efeito como antes.

― Filha...

― Primeiro eu quero saber por que me esconderam? E tudo o que me esconderam... Por favor...

― Amu, você na verdade não nasceu de uma gravidez desejada, sua mãe biológica era famosa e uma atriz muito bela, pensava que se engravidasse ficaria com o corpo deformado e que isso iria prejudicar sua carreira, no inicio ela pretendia abortar, mas eu insisti para que não fizesse isso, era meu sonho ter filhos e quando eu soube da noticia da gravidez foi a maior felicidade, mas para ela não... Ela se afastou durante um tempo de sua profissão, cada vez ela foi ficando mais aborrecente e sempre arranjava um modo para me humilhar, afinal eu sempre fui um homem pobre, era provável que se alguém descobrisse seria um escândalo na mídia, ela uma atriz, uma pessoa de alta classe saísse com um ninguém como eu, nesta época eu comecei a beber e virei dependente do álcool, tanto que parei numa clinica de reabilitação, fiquei alguns meses lá para finalmente conseguir me recuperar e logo que sai, conheci Midori, ambos nos apaixonamos, mas antes que eu pudesse terminar tudo com sua mãe que estava no oitavo mês de gestação, ela descobriu e assim que você nasceu ela me deu você para criar e pediu para que eu sumisse de sua vida, tanto eu como Midori decidimos então morar juntos, para você não sofrer achando que foi abandonada, Midori resolveu ser sua mãe e lhe cuidar, por isso te escondemos a verdade, para evitar seu sofrimento. – Podia ver o rosto de sua filha que estava encharcando de lágrimas e inchado, ela nunca havia pensado em algo como aquilo e de uma hora para outra teve de ouvir tudo de uma vez só.

― Você pretendia me enganar até quando? Sempre?

― Para evitar seu sofrimento, entenda, foi pelo seu bem. – Respondeu aflito.

― E você acha que eu não estou sofrendo? Você acha que esta me poupando de mágoas? ... Claro que não.

― Perdoe-nos.

― E eu posso saber... Eu posso saber o nome dela? – Pelo menos queria saber algo sobre ela, queria saber mais sobre a mulher que lhe deu a vida.

―Tomiko... Seu nome é Tomiko Yuiki.