Estava tudo escuro, senti que estava sentado. Pensei que tudo aquilo podia ter sido um sonho, Annabeth, o plano sr D. e Luke, por um minuto queria que aquilo fosse um sonho. Mas então me lembrei dela, não queria que Annie fosse apenas um sonho. Abri os olhos e, para minha felicidade, eu não estava sonhando.

Annabeth estava com as mão amarradas no canto ao meu lado, mas mesmo assim estava longe. Ela olhava derrotada o chão. Já Luke estava do outro lado do quarto quase desmaiado, ele tinha perdido muito sangue.

- Precisamos nos soltar e sair daqui. - disse olhando para Annie.

- Não tem como. - ela disse com uma voz triste.

Não consegui acreditar em suas palavras.

- Tem que ter Annabeth. Não podemos desistir agora!

Ela me fitava. Parecia com medo e confusa. No fundo eu senti raiva, afinal era por ela que estávamos ali. Não podíamos desistir assim!

- Cadê aquela Annabeth corajosa que me salvou naquela noite? Mesmo sabendo que seria arriscado e perigoso, você foi até o fim!

Ela não ia desistir, eu não ia permitir isso, não agora.

- Olhe até onde chegamos, seria como nadar pelo mar inteiro e morrer na praia!

Annie não me disse nada, apenas olhava para o chão. Devia estar apavorada, só não queria demostrar. E se não conseguíssemos, ela seria prisioneira pelo resto de sua vida, e eu não poderia fazer absolutamente nada para ajudar.

- Nós vamos conseguir sabidinha, temos que conseguir. E olhe para Luke, temos que estancar aquele sangue,  se continuar desse jeito, ele vai morrer!

Agora Annabeth olhava para ele. De repente, ela levantou a cabeça e olhou para mim, pareceu ter uma ideia.

Começou a dar chutes no ar, não entendi o que ela estava tentando fazer, mas depois, quando ela conseguiu que uma de suas botas saíssem me lembrei: a adaga.

Claro! Eles tiraram as minhas armas, mas nem pensaram em revistar Annabeth.

A adaga tinha caído no chão, ao lado de seu pé. Ela a pegou, com os pés mesmo e começou a girar o corpo, ficando de frente para mim. Então Annie estivou o pé o máximo que ela pode, tentei me mover, mas as cordas estavam realmente apertadas. Um pouco mais e esforço e consegui alcançar a adaga.

Cortei as cordas que me prendiam. Dei uma leve massageada nos pulsos e fui soltar Annabeth. Ao soltá-la, ela me deu um abraço. Me pegou de surpresa, mas eu a abracei também, gostava de sentí-la em meus braços.

Nos soltamos e fui até Luke. Ele mal conseguia ficar de olhos abertos. Annie rasgou mais um pedaço de sua saia, que agora estava pouco acima dos joelhos, e a amarrou bem forte na coxa dele. Cortei as cordas que o prendiam e tentei ajudá-lo a se levantar, mas Luke não conseguiu ficar de pé.

Olhei para Annabeth e vi que ela estava paralisada olhando pela pequena janela. O céu estava escuro, e eu pude ver o clarão dos relâmpagos, uma enorme tempestade se aproximava.

- Ele descobriu! - ela disse.

E eu sabia de quem ela estava falando, aquele ele era seu pai! Provavelmente, estava furioso.

- É... melhor vocês irem. Não temos tempo! - ouvimos a voz fraca de Luke cortando nossos pensamentos.

Queria protestar, mas Luke estava certo, não tínham tempo à perder.

Annabeth e eu saímos correndo. Precisámos encontrar sr D. logo e fazer alguma coisa para impedí-lo. 

Passamos pelos vários compartimentos e nada, nem sinal do sr D., até qie fomos até o convés. O céu parecia estar ainda mais negro, o ventro soprava tão forte que parecia cortar. Pude ver vários raios entre as nuvens. O mar estava agitado, como sempre ficava nesses dias de tempestade. Não encontrei sr D.

Então senti algo encostar em minhas costas. Me virei rapidamente, Annabeth também, e nos deparamos com dois homens, deviam ser capangas daquele velho, estavam apontando duas armas para nós.

- Sabe Jackson, desde a primeira vez que eu te vi, imaginei que você fosse um problema. Mas está começando a me surpreender! - ouvi a voz do velho Dioníso.

Nos viramos e lá estava ele, nos olhando atentamente.

Ele deu um passo à frente e chegou perto de Annabeth. Ele começou a alisar seu rosto. Fui dar um passo para impedí-lo de tocá-la, mas um dos homens segurou meu braço e encostou a arma em minha costa. Meu sangue estava fervendo!

- Até que você é bonita! - sr D. disse ainda com as mãos nela.

Annie estava com medo do que ele poderia fazer, e, sinceramente, eu também estava.

Sr D. chegou mais perto, mas Annabeth foi esperta e cuspiu em sua cara. Fazer o que se minha sabidinha é demais? 

Mas agora sr D. a olhava com raiva. Um enorme estrondo cortou o ar. Um trovão.

- Parece que seu querido papaizinho descobriu a localização da filha!

Agora quem estava com raiva era Annabeth. Pude ver o ódio que brotava de seus olhos cinzentos, mais tempestuosos que o céu de hoje.

- Sabe o que é mais interessante? - aquele velho começou a falar de novo - Ele nem sequer teve coragem de aparecer para defender seu reino e salvar sua filhinha, que tipo de... homem ele é?

Annabeth bufou. Parecia que ela estava prestes à explodir.

- Não fale assim do meu pai! - ela gritou.

Ouvimos outro trovão, bem mais alto e forte do que o anterior.

- Aceite garota, seu pai é um convarde!

O vento começou a soprar ainda mais forte.

- Calado! - ela disse entre os dentes.

Sr D. riu sarcásticamente.

- Ou você vai fazer o que? Cuspir em mim de novo?

Então Annabeth fez algo que me surpreendeu. Ela girou seu próprio corpo muito rápido e deu uma joelhada na barriga do homem que a estava segurando, fazendo-o cair no chão.

O homem que estava atrás de mim apontou a arma par ela. Mas Annie foi mais rápida e deu um chute em sua mão, fazendo a arma voar, logo depois lhe deu um chute nas partes mais sensíveis dos homens. Doeu em mim!

Quando vi que sr D. ia chamar mais gente, peguei uma garrafa de rum que estava caída no chão e atirei em sua cabeça. Acertei em cheio. Ele caiu no chão na hora.

- Sempre quis fazer isso! - disse à Annabeth.

Ela riu e começou a puxar um dos caras para dentro do navio. Peguei um dos braços do sr D. e um do outro homem e os puxei para dentro. Os levamos para o quarto onde estávamos presos mais cedo.

Ao chegar lá, nos deparamos com Luke já de pé. Ele estava apertando o pano amarrado na coxa. Ficou feliz e surpreso ao nos ver trazendo aqueles três homens desacordados.

- Que bom que está melhor. - eu disse a ele.

Luke apenas sorriu.

Amarramos sr D. e os outros dois e partimos para o convés. O navio balançava bastante, o mar devia estar cada vez mais bravo, e o pai de Annabeth também.

Chegamos no convés e Luke se adiantou:

- Atenção marujos, tivemos uma mudança de planos. Deem meia volta, vamos voltar para casa, agora!

Começaram a cochichar, acho que os marujos não sabia exatamente o que fazer. Mas logo todos voltaram a se mexer e então sentimos o navio começar a virar.

Luke veio para perto de nó.

- Acho que agora vocês podem me explicar melhor... isso!

Annabeth me olhou como se pedisse permissão para falar, mas me lembrei de Thalia, ela era sua irmão, Luke tinha o direito de saber o que tinha acontecido.

- Iremos Luke, mas antes... temos que falar uma coisa, sobre Thalia! - quando eu disse isso, senti que ele se enrijeceu.

- O que aconteceu com ela? Ela está bem?

Olhei para Annabeth, não tinha como dar aquela notícia de forma... suave.

- Ela fugiu... com Nico! - Annie disse.

Mas por incrível que pareça, Luke não pareceu supreso.

- Thalia nunca fez o tipo princesa, ela também nunca quis um príncipe, nunca deu atenção para nenhum deles. E ela gosta de Nico. Se for isso que ela realmente quer e a fizer feliz, acho que temos mais é que aceitar sua decisão. - ele disse.

No fundo estava certo. Se Thalia ficasse no palácio e se casasse com um príncipe, ela nunca seria feliz. Assim como Luke, que jamais seria feliz se ficasse com Rachel.

- Voltando ao assunto do... - Luke interrompeu meus pensamentos.

Já estava quase me esquecendo disso.

- Bem - Annabeth começou - naquele dia... que o outro navio de vocês pegou fogo, eu estava perto e... sem querer ouvi você e o sr D. conversando sobre ir à Ilha Marques. Fiquei com medo do que meu pai poderia fazer caso isso acontecesse.

Luke escutava tudo atentamente.

- Após salvar Percy, nós conversamos e ele concordou em nos ajudar.

- Mas se você é uma sereia, e a sua... a sua... - assim como eu na primeira vez, Luke não conseguiu pronunciar "calda". Devia estar muito confuso.

- Fiz uma troca, eu tinha três dias para descobrir qual era o plano e tentar impedí-los. Daqui a pouco meu tempo acaba e... - Annie olhou para mim, ela parecia triste. Entendi porque. Seria difícil nos vermos de novo. Depois de tudo que passamos juntos, doía muito pensar que eu estava prestes à perdê-la.

- Quanto tempo? - Luke perguntou um pouco sem graça.

- Uma hora, talvez menos. - senti que sua voz estava cheia de tristeza.

Luke abaixou a cabeça. Ele também não queria que ela partisse.

Estávamos todos no convés, o vento ainda soprava forte e gelado.

Annabeth caminhou até a proa e ficou lá, apenas observando enquanto nos afastávamos da Ilha Marques. Resolvi chegar mais perto. Parei ao seu lado.

- Nós conseguimos. - ela disse.

Apesar de termos conseguido, ela não estava feliz, e no fundo eu também não estava.

Então fiz o que estava com vontade de fazer desde que saímos daquele quarto: eu a abracei, e ela me apertou o máximo que pode. Queria que o tempo congelasse ali. Eu queria abraçá-la e não soltar mais. Eu a queria aqui, comigo, pra sempre.

- Nunca vou me esquecer de você Percy!

Quando ouvi isso, senti meus olhos se enxerem de lágrimas. Queria segurá-las, mas simplesmente não pude.

- Eu também nunca vou me esquecer de você Annabeth. A minha sabidinha!

Ela riu.

- O meu cabeça de alga!

Ficamos lá, apenas abraçados e chorando, muito. Mas fomos interrompidos por um comentário no minimo estranho.

- Parece que você conseguiu Annabeth!

Levei um susto. Quem dissera isso era um mulher, mas eu não reconheci a voz. Annabeth por outro lado, olhava de um lado para o outro, ela pareceu conhecer quem havia dito isso. 

Fiquei confuso, porque, fora Annabeth, não havia mais nenhuma mulher no navio!