The Messenger escrita por Lúcia Hill


Capítulo 3
Capítulo 2 - I got a feeling inside of me.


Notas iniciais do capítulo

Um encontro inesperado ás vezes pode acontecer quando nem imaginamos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/203701/chapter/3

Aquele maldito silêncio estava deixando Joe atordoado e maluco, esfregava a mão na perna da velha calça jeans batida. Sentia que sua pressão estava alta e seus neurônios a ponto de explodirem, trocava de canal feito um doido.

Os mesmo e antigos programas da típica TV americana, documentários, desenhos para crianças sem miolos, dentre outras de classificações piores.
Preciso tomar uma dose. — pensou rapidamente.

Até os campos de batalha eram mais apreciativos que aquele tedioso quarto sujo. Levantou-se lento e monótono, pegou o molho de chave sobre o pequeno criado mudo perto do sofá e seguiu rumo à porta, com uma respiração pesada e ofegante.

O velho bar Billie Mustang Sally, na Rua Carson, 59, era o ponto perfeito para encher a cara até não poder mais e o único a ficar aberto até tão tarde, podia sentir o vento gelado soprar com força contra seu rosto.

"Imprestável cabo Armstrong" — ainda podia ouvir aquelas vozes agudas e vorazes que atormentavam sua cabeça constantemente.

Joe encostou-se a uma árvore e apertou a cabeça, tentando fazer com que aquelas vozes sumissem de sua mente, o que seria quase que impossível de acontecer. Assim que conseguiu reunir forças e tomar o controle de sua mente, prosseguiu até o bar, que ficava logo de esquina.

— Malditas vozes. — praguejou, cuspindo de lado.

Ao abrir a porta do estabelecimento, pode notar que era um pouco escuro e vazio. Reparou que o balcão continha apenas um casal na ponta e uma moça na esquerda.

Caminhou lentamente até o local, sentou-se um pouco longe da garota, para não bancar uma de espertinho. O velho Billie se aproximou de Joe, com cara de poucos amigos.

— O que vai querer, meu caro rapaz? — questionou-o.

— Um Martine. — pediu.

Rapidamente, o velho Billie colocou a garrafa de Martine sobre o balcão, derramou a dose do líquido amarelo dentro do copo; o néctar dos deuses! O jovem, de forma lenta e tranquila, pegou o copo e o virou, tomando todo o líquido, limpou a boa com a costa da mão direita e fez uma careta pelo efeito do líquido.

Uma suave música Blues tocava no ambiente, deixando ainda mais monótono e relaxante. Ao se virar para encarar a jovem ao seu lado, espantou-se ao reconhecê-la.

— Não é educado ficar encarando, meu jovem. — disse o velho Billie, enquanto limpava alguns copos.

Joe se voltou para encará-lo. Era até patética a cena, arqueou a sobrancelha, meio confuso com aquela repreensão tão espontânea.

— Como? — questionou.

— A forma que está encarando-a, não é a forma certa de flertar com uma jovem dessas bandas. — pausou por alguns minutos, mas logo prosseguiu. — Não vai querer se meter com a pobre. — por fim, disse.

Joe arqueou a sobrancelha, meio perplexo, logo questionou.

— E por que não?

Billie soltou uma longa risada, deixou o copo que estava entre as mãos e se aproximou do jovem a sua frente.

— Ora, pois tem que respeitar as viúvas. Pobre Claire, sempre sorridente. — soltou um longo suspiro, prosseguiu. — Agora, tão calada pelos cantos.

— Soube primeiro que você, meu caro. — balbuciou.

O velhaco fez uma careta, sem nada entender, logo o rapaz explicou que era do exército e tinha essa maldita tarefa, de ir anunciar a morte dos jovens americanos que estavam no Iraque.

Os minutos iam se passando lentos e tediosos. A jovem mal se mexia, permanecia encarando o pequeno copo de Uísque a sua frente. Era deprimente, até podia se enxergam nela.

Arriscou um convite.

— Acompanhar-me-ia em outra dose? — questionou Joe, encarando-a.

Claire voltou-se na direção do rapaz e balançou a cabeça, de forma positivo.

— Sou... — antes que pudesse se apresentar, ela o interrompeu.

— Já sei quem é você, pra que apresentações formais? — repreendeu-o.

Joe sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha, pela forma que a jovem o interrompera. Era bem típico de o sargento Foster deixá-lo falando sozinho ou corrigi-lo na frente dos demais.

— Não vá pensando que irei pra sua cama, só por que estou bêbada. — vociferou.

— Nem me passou pela cabeça. — respondeu.

A jovem o encarou de cima a baixo duas vezes, apontou a cadeira mais próxima para ele se sentar, soltou os longos cabelos negros e disse.

— Se for assim, aceito.

Fez um gesto ao dono do estabelecimento, pedindo para que lhe servisse outra rodada.

— Você é um ex-soldado? — questionou-o.

— Sim, digamos, mas pode me chamar de Joe. — pediu.

A jovem, em uma virada só, engoliu todo o líquido amarelo do pequeno copo, depositou-o em sua frente e limpou a boca.

— Claire Foster. — disse, estendendo sua mão.

Joe segurou-a firme, podia sentir como ela era quente e macia, um rápido sorriso aflorou-se no canto da boca do rapaz. Aquela conversa foi longe, algumas risadas até saíram, enquanto as horas se adentravam ainda mais pela madrugada.

Aquela era a primeira vez que Joe se sentia tão confortável em uma conversa, pois há tempos que odiava trocar palavras rápidas com estranhos.
Mas Claire não lhe era estranha, até pareciam amigos de data, aquela jovem era um verdadeiro delírio divino, que deixava qualquer homem jogado aos seus pés.

— Devemos ir. — disse a jovem, um pouco alterada.

Joe concordou, logo retirou uma nota de 100 dólares da carteira e deixou sobre o balcão, ajudou-a a se levantar e seguir até a porta. Ambos caminharam na mesma direção. Era impressionante como, naquela cidade, a madrugada era fria e, durante o dia, era escaldante.

O assunto havia acabado durante o percurso até o velho prédio onde Joe morava.

— Entre, irei pegar a chave do carro para te levar até sua casa. — disse o rapaz, gentil.

Claire encarou-o, confusa, porém não o questionou e seguiu. Eram três lances de escadas até o pequeno apartamento nº 45.

Era bagunçado e bem apertado, mas quando se tratava de um jovem solteiro, estava no paraíso. Ele pediu a ela que sentasse por um minuto.

— Este é seu paraíso masculino? — perguntou.

Joe caiu nas risadas ao ouvir aquelas palavras meio embaralhadas, por causa do efeito do álcool. Claire deitou-se no velho sofá azul e fixou seus olhos no teto.

— Não, mas deveria ser. — disse próximo do sofá.

A jovem permaneceu encarando-o, de uma forma estranha, mas marota, até parecia que um anjo havia caído em seu sofá, com aquele sorriso tentador.

— Permita eu perguntar uma coisa. — pediu a jovem.

Joe sentou-se na pequena poltrona a sua frente e a encarou. Por um breve minuto, tudo lhe passou em mente, porém, balançou a cabeça de forma lenta, dando-lhe a permissão.

— Você não sentiu saudade das mulheres durante a guerra?

O rapaz estranhou, mostrou um sorriso sem jeito e rápido.

— Claro, todos sentimos. — grunhiu.

Claire levantou-se meio cambaleante e se aproximou do rapaz. Sentou-se em suas pernas e segurou o rosto dele entre as pequenas e macias mãos, fazendo-o encará-la.

— Por que até agora não me cantou? — questionou-o.

Joe quase engasgou com sua própria saliva.

— Por que tenho respeito pelo que está passando. — disse.

Claire praticamente desabou em meio às lágrimas, precisava colocar aquilo pra fora antes que ficasse doente e isolada no canto. Joe, mesmo tendo perdido sua sensibilidade nos campos de Bagdá, sabia que nada melhor que as lágrimas para limpar uma alma aprisionada em seu próprio desespero.

O rapaz se levantou e a envolveu em um longo e forte abraço. Claire era praticamente dominada pelos soluços, rapidamente os braços da jovem enlaçaram a cintura de Joe.

— Chore. — murmurou Joe, com a cabeça encostada sobre o alto da cabeça da jovem.

Sem questionar ou protestar, Claire desatou em lágrimas, presa nos braços de um desconhecido, por fim, pode controlar-se e começar a se recompor.

— Sente se melhor, não é? — perguntou Joe, ajoelhado.

Claire, sem dizer nada, segurou a cabeça do rapaz e, de forma lenta e suave, aproximou seus lábios dos dele, aquele fora o beijo mais molhado e maravilhoso que Joe recebera. Rapidamente, as mãos dele envolveram o pescoço da jovem, puxando-a pra si.

Era estranho estar ali, beijando uma desconhecida total, em seu pequeno apartamento. Os lábios do jovem não se negaram e renderam-se em uma dança suave e deleitosa, mas, como em um pulo, Joe afastou-se e balançou a cabeça.

— Não é certo, isso é errado, não devemos. — disse, desculpando-se.

A jovem permaneceu cabisbaixa e pensativa, sabia que fora errado aquele desejo impulsivo, nem se quer conhecia o rapaz. Ela levantou-se e, com passos desaninhados, caminhou até a porta, desaparecendo e deixando-o sozinho com sua consciência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Boa Leitura!