Entrelinhas escrita por ariiuu


Capítulo 7
Por que somos companheiros - Mediano Jaya


Notas iniciais do capítulo

Olá galerinha ^/
Estou eu aqui com mais um capítulo da fic. Não preciso explicar o motivo da demora, porque é o mesmo: Viagem, trabalho, trabalho, trabalho, falta de criatividade e trabalho u_ù/
Neste teremos desentendimentos sérios, novas observações, flashback e revelações inesperadas. Espero que gostem :]



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Capítulo 07 – Por que somos companheiros. [Mediano Jaya]

– Luffy, Zoro, mudança de planos... Acabem com eles!

– Não podemos fazer isso...

– O quê? – A ruiva fitava o capitão de forma perplexa.







O terceto trafegava pela cidade rumo ao navio. A ruiva pisava duro. Os punhos estavam fechados, a feição carrancuda e rangia os dentes enquanto resmungava coisas em baixo tom. Luffy e Zoro estavam ensangüentados por parte da briga no bar na cidade contra o bando de Bellamy, mas definitivamente, Nami não entendia o porquê daquela reação pacífica dos dois companheiros. Quando a mesma tentava entender a intenção deles, sentia seu cérebro esquentar, e uma impaciência descomunal tomar conta de seu raciocínio.

– Uhuhuhuuuu, olha lá Nami! Uma barraca de balões! Vamos levar um pro Chopper?? – O inocente capitão que nem mesmo parecia ter saído de uma briga contra piratas, corria em direção a tal barraca enquanto o espadachim atentava para o rosto da navegadora que já estava completamente vermelho de raiva. Ele concluía que ela estava a ponto de entrar em erupção a qualquer momento.

– Eu juro que ainda vou matar vocês dois um dia...

– Você devia esquecer isso e aceitar as decisões do Luffy...

– Aceitar? Eu queria pelo menos entender por que vocês agem de forma tão imprevisível! Eu não tenho nem direito de contestar as decisões malucas que vocês tomam!

– É melhor você se acalmar. Vamos voltar logo pro navio...

– Vocês não se importaram com o que passei! Eles riram da minha cara quando perguntei sobre a ilha do céu! Aqueles malditos piratas... Tomara que sejam capturados pela marinha e açoitados até a morte!!! – A ruiva estava com os braços cruzados e bufava de raiva. Ela reclamou durante minutos sem olhar para trás, até reparar que tudo estava silencioso demais. Foi então que se deu conta de que Zoro não estava mais ali.

– Aquele idiota saiu na frente?! – Olhou para os quatro cantos e tentou imaginar para onde o companheiro teria ido.






– Tenho a impressão que já passei por aqui antes... – O espadachim havia de fato se perdido, pois em meio às reclamações de Nami, o mesmo passou a caminhar devagar e acabou se distraindo com a movimentação da cidade. Nem mesmo percebeu que estava ali sozinho, sem os dois companheiros.

– Aonde você pensa que vai?!

Quando Zoro se virou, sentiu sua cabeça sendo arremessada contra o chão no mesmo instante.

– SEU IDIOTA! Já estou cansada de ficar te procurando por todos os lados quando se perde!!! De que adianta ter todos esses músculos sendo que nem sabe por onde anda!!!

Zoro só sentia a dor da vigorosa bofetada na cabeça latejar de forma intensa. Seus olhos lacrimejavam como conseqüência.

– Se você tivesse ficado calada naquele momento, talvez não tivesse saído de perto de você! – Rebatia de forma grosseira, com o clássico ranger de dentes serrilhados.

– A culpa é sempre minha, não é mesmo? Estou farta de estar envolvida nas decisões idiotas que vocês tomam!

Uma longa pausa pairava ao redor de Zoro e Nami. O semblante de ira do moreno havia se desfeito, dando lugar para uma nova expressão que parecia ser indecifrável naquele momento.

– De novo isso? Se nosso ritmo não te agrada, você é livre pra fazer o que quiser pelo oceano... – O espadachim virava de costas para a navegadora.

– O que quer dizer com isso? – Contestava indignada, temendo que tal afirmação confirmasse suas teses.

– Luffy não vai mudar... Você devia saber disso melhor do que ninguém...

– A questão não é ess-

– PARE DE RECLAMAR! Você tem feito isso desde antes de chegarmos à ilha! – Exaltado, Zoro transparecia uma aura insurgente em demasia. Seu olhar letífico de longe assustava qualquer um que passasse perto de si.

Nami ficou calada por alguns segundos, e sua mente tentava processar alguma frase decente como resposta, mas não conseguiu entender por que o moreno havia se irritado por algo tão banal. Ele não costumava dar importância para qualquer reclamação da mesma, e então a incógnita em desvendar o porquê pareceu consumir o pouco de paciência que lhe restou, a ponto ter uma imensa vontade de estrangular Zoro com todas as suas forças.

– Você tem razão... Não posso controlar a mente estúpida de vocês que é incapaz de processar qualquer tipo de raciocínio lógico, porque são imbecis demais para entenderem o que digo. – A ruiva sorriu gentilmente ao término da frase e instantaneamente o espadachim lhe lançou um olhar ainda mais mortífero do que o primeiro. Era nítida sua aversão pelas últimas palavras da navegadora.

– Nami... Por que está mesmo conosco? – O moreno indagava, esperando que as próximas palavras da ruiva comprovassem o que lhe vinha à mente naquele instante.

– Isso não é óbvio? Vocês salvaram minha vida das mãos de Arlong e também tenho meus sonhos... Por que acha que seguiria idiotas como vocês até aqui? – A navegadora respondia indelicadamente.

– Heh... – Zoro sorriu descarado.

– Qual é a graça?

– Eu sabia que era mesquinha, mas não pensei que seu egocentrismo fosse tão elevado assim... – Os olhares de ambos cruzaram por um tempo considerável. Zoro mantinha o olhar firme e intimidador, enquanto Nami transparecia perplexidade e receio.

– Você está dizendo que só me importo comigo mesma?

– Acho que só agora você chegou a essa conclusão, não é mesmo? – O moreno rebatia sem nenhuma indulgência. Ele sabia que aquela divergência não chegaria a lugar algum se o mesmo a deixasse apenas falar o que queria.

Nami era orgulhosa. Ela não aceitava que nem mesmo um companheiro lhe dissesse sobre seu jeito de ser. Ou talvez nem ela mesma tivesse percebido tal observação como aquela. Questionou-se internamente se Zoro realmente estava certo. Será que todos os anos agindo friamente como uma ladra a mando dos tritões, havia lhe deixado tão egocêntrica e auto-suficiente a ponto de ter seu real caráter transformado? Era tão individualista assim? E por que ninguém havia lhe dito isto antes? – Por que somente ele havia notado isto justo agora? – Interrogava a si mesma, como se tal afirmação soasse como uma das maiores ofensas que já tivesse ouvido ao decorrer de todos aqueles anos.

– Eu... Eu não sou egocêntrica da forma como diz que sou... – A ruiva manteve a cabeça baixa. Apertou os punhos e passou a respirar levemente ofegante. Zoro atentou para a postura alterada da companheira.

– Então isto não deveria te incomodar tanto, afinal... Se não pensa só em si mesma, por que está suando frio depois de ter lhe dito isso? – As palavras de Zoro brandiam como pontas de espadas que eram miradas diretamente nas feridas mais profundas da ruiva. Seus antigos conflitos internos eram ressuscitados na mesma hora.

– O que você sabe sobre mim, Zoro? – Nami expressava sua cólera suprema através do olhar de fúria, como se naquele momento estivesse na frente de seu pior inimigo. Tais olhares de repulsa e gana eram exclusivamente direcionados para Arlong, e nem mesmo ela esperava chegar aquele ponto com uma pessoa que se dizia seu companheiro.

– Não sei muito, e não tenho tanto interesse em desvendar nada sobre você... – Retorquia ríspido.

– Então se não sabe, não diga coisas como essas! – A navegadora bradava indignada. – Quem ele pensa que é para dizer tais coisas assim sendo que não sabe quão doloroso foi o meu passado? Como ele pode ter tanta certeza que sou assim sendo que não me conhece tão bem? – Os pensamentos da garota bombardeavam, lhe deixando violentamente exasperada.

– Tsc... Você só sabe fazer barulho... – Zoro considerava a atitude de Nami completamente infantil. Sua reação em meio à recém descoberta da involuntária pose que a mesma esbanjava diante da tripulação havia lhe ocasionado indignação e consequentemente rejeição ao fato do egocentrismo estar presente em seu caráter. Desde que conhecera Nami, ela tem se mostrado uma garota determinada, destemida e ousada. Não era uma donzela em perigo, embora fingisse ser uma. Era um instinto natural da ruiva não ficar parada esperando que alguém lhe salvasse, e ele apreciava esta qualidade nela. Não possuía força física, mas sua coragem era inestimável, porém... Se havia algo nela que mais lhe chamava a atenção, era a forma como conseguia dominar muitos à sua volta por causa de seus próprios interesses. Ela podia ser significantemente artificial, contrafazendo suas ações para chegar a seus alvos facilmente e descartando qualquer um à sua volta. Apesar da aparência delgada, sua personalidade áspera sobrepujava sua exterioridade. E suas últimas reações eram inequívocas. – Ela não precisava confirmar minhas suspeitas de um modo tão óbvio assim. – Pensava ele.

– Zoro... Você já perdeu alguém importante em sua vida? – Perguntava de modo sussurrado.

– Creio que sim. Por quê?

– Então você me entende... – A ruiva levantou o rosto e olhou fixamente para o companheiro.

O espadachim encarou seriamente a navegadora por alguns segundos. Seu olhar severo aos poucos se transformou em um sorriso sutil. Nami ficou sem entender.

– Eu não consigo te ver como uma garotinha tão sensível, Nami... – O moreno desdenhava do comentário dramático da companheira.

– Se vai escarnecer do que digo, é melhor pararmos essa discussão idiota.

– Vejo que finalmente se convenceu que sua postura é infantil.

– Infantil? Me revoltar com sua afronta sem sentido significa agir como uma criança? Em que mundo você vive Zoro? Você só está preocupado com suas próprias ambições e ainda acha que tem alguma moral pra me censurar? – Rebatia incivil.

– Você apenas podia parar de se lamentar... Quando embarcou conosco devia saber que a vida de pirata não seria um mar de rosas... Mas todos esses anos você apenas brincou de ser uma, não é? Agora que tem de viver assim, acusa todos à sua volta por que não consegue aceitar a si mesma...

Nami sentiu uma forte constrição no estômago. Os olhos arregalaram e seu coração involuntariamente passou a palpitar mais rápido. Era muito mais do que raiva que sentia diante daquela situação. Tal sensação era com certeza semelhante às situações que passara ao lado de Arlong, como se estivesse revivendo o sentimento de injustiça que ainda permanecia vivo em algum canto obscuro de seu coração.

– O que você entende sobre lamentação? – Nami resmungou baixo a questão, até voltar a se alterar.

– Não tem idéia do quão árduo foi minha vida durante todos esses anos!!! Tive que engolir todo o meu orgulho em prol da vida de todas as pessoas da vila!!! Era um fardo muito pesado e simplesmente tive de carregá-lo sozinh-

– O que você entende sobre orgulho? – Interrompia as justificativas da ruiva de forma abrasiva. Nami podia sentir que quanto mais tentava explicar, menos ele entenderia, ou talvez nada que lhe dissesse podia de fato convencê-lo do porquê de seus atos. Somente o olhar enfadonho do espadachim era suficiente para coagi-la mais uma vez. Zoro era muito impiedoso dependendo da circunstância, e por mais que ela quisesse descobrir o porquê, sentia-se incapaz de transpor a imensa barreira que havia entre os dois. Se perguntava do por que somente ele podia fazê-la se sentir tão imperceptível nessas horas. Por que ele conseguia dominar a situação ao seu modo, lhe mostrando que podia estar errada.

– Não tenho idéia de como sua vida pode ter sido ruim, mas abaixar a cabeça para o inimigo é inaceitável para mim. Se não consegue entender nada sobre orgulho e honra, é melhor pararmos essa discussão estúpida por aqui.

– Você não devia comparar-

– Já devia ter percebido que não faço acepção de pessoas, Nami. – Mais uma vez a ruiva era interrompida pelos argumentos justificativos que faziam sentido somente para o espadachim. Era obvio que não podiam comparar as adversidades que ambos passaram em suas vidas. Nami abaixaria a cabeça para os tritões quantas vezes fossem necessárias para o bem de todos. Já Zoro não aceitaria perder em nenhuma de suas batalhas em prol de seu grande objetivo de se tornar o melhor espadachim do mundo. Grande objetivo que se tornou ainda mais importante desde que duplicou o fardo por parte de sua promessa com Kuina. O inimigo podia ser milhões de vezes mais forte, porém ele jamais fugiria, preferindo a morte após a derrota. Sua honra como espadachim estava acima de qualquer outro sentimento, excedendo até mesmo a razão se fosse necessário.

A navegadora manteve-se cabisbaixa e ficou em silêncio durante um tempo vultoso. Engoliu tudo a seco, vendo todo o orgulho que restara ser destruído em pedaços. Definitivamente, aquele estava sendo um dia onde se sentiu completamente humilhada, e a essas horas, ser motivo de riso por causa de uma simples pergunta sobre a ilha do céu, de longe soava como ofensa. Tentou de todas as formas não se deixar abalar com toda a dissensão, porém foi em vão. Mas se tinha algo que fazia bem, era fingir. Zoro poderia até notar, mas ao menos ela quebraria todo o clima ruim.

– Certo, vamos parar de agir como crianças, sair logo daqui e encontrar Luffy. – Ela sorriu jovialmente em resposta. Zoro não entendeu. A ruiva jamais admitiria perder em nenhuma das discussões que travavam. Aquela atitude era completamente estranha, ao ver do espadachim, porém, mais uma vez ela deixava sua artificialidade falar mais alto.






Zoro, Nami e Luffy chegaram ao navio e se reuniram com o resto da tripulação. Nami ainda estava alterada pelo fato de ser piada pelos piratas da cidade. O acontecimento servia como uma perfeita camuflagem para expressar também toda a raiva que estava sentindo do seu companheiro. Ninguém havia percebido... Menos Zoro.






– Montblanc Cricket... Você realmente me surpreende Robin...

– Como disse antes, não foi difícil conseguir essas informações, navegadora-san. – A arqueóloga respondia com um sorriso suave. Apesar de ter sido uma agente oficial da Baroque Works e que fazia dupla com o vilão de Alabasta, era fato que a morena tratava todos do navio com grande acatamento, sempre com um sorriso no rosto. Para ela, parecia que nada era dificultoso.

– Por que está desanimada? Você não deveria estar com raiva? – A morena indagava repentinamente. Era notável a feição atenuada da ruiva. – E como assim deveria estar com raiva? Está tão na cara? – Pensava a ruiva.

– Ah... Bem... Só que toda essa situação me deixou um pouco... Pra baixo, sabe...? E se realmente não existir a ilha do céu? – O semblante deprimido da garota chamou a atenção da morena. Mesmo tendo pouco tempo de convivência com a navegadora, Robin não se convenceu de que todo aquele desânimo foi causado por uma confusão tão banal como aquela que ocorreu na cidade.

– Tem certeza que é só isso que está te deixando assim? Aconteceu mais alguma coisa para você estar tão abatida? – As perguntas da companheira arrancaram uma feição de espanto na ruiva. Na hora, a morena confirmou que suas suspeitas estavam certas, afinal, ela era muito observadora e Nami... Muito transparente.

– Ahahahahaha, imagine! Não aconteceu nada demais na cidade... Não precisa se preocupar comigo, Robin... – A navegadora sorriu carinhosamente e a arqueóloga não pareceu se convencer com o que a mesma acabara de afirmar. Lançou-lhe um olhar desconfiado, e obviamente Nami percebeu.

– Certo... Espero que consiga resolver seus problemas sozinha, mas se precisar de algo, me chame. – Robin deixou Nami sozinha na alcova. O navio rumava para o norte da ilha, à procura do descendente de Nordland.






Após toda a descoberta e interação com Montblanc Cricket, a tripulação já se encontrava na floresta, e todos procuravam pelo pássaro Southbird. Nami, Sanji e Usopp corriam de vários besouros. O trio esbarrou em Zoro e Robin que vinham do lado oposto.

– Pelo visto, vocês também não acharam o pássaro... – Sanji perguntava para a dupla, enquanto Nami e Usopp encostavam-se numa árvore, tentando recuperar o ar após correrem durante minutos.

– Não, Cook-San. – A morena sorriu ao ver a cena do trio com dificuldades ao respirar.

Zoro ouvia um barulho suspeito atrás da árvore onde os companheiros descansavam e acabou por ir se certificar o que era.

– Este pássaro maldito está brincando com a nossa cara! – Sanji chutava a árvore onde Nami e Usopp permaneciam encostados e então, vários lagartos caíram em cima dos mesmos após o choque. A navegadora e o atirador se encararam por dois segundos antes de captarem a mensagem de que estavam cobertos por insetos negros, grudentos e melados.

– AAAAAAAAAH! TIRE ESSAS COISAS ASQUEROSAS DE CIMA DE MIM! – A ruiva corria de um lado para o outro desesperadamente, se debatendo pelos ares. Já Usopp manteve-se parado e passou a retirar os insetos calmamente¹.

– Não se preocupe Nami-San! Eu te protegerei! – E lá estava o loiro, correndo e tremendo ao mesmo tempo, indo na direção da companheira para ‘espantar’ os lagartos que estavam em cima da mesma. O alarme da garota foi tão grande que ela nem notou que Sanji estava por perto, continuando os movimentos bruscos velozes que fizeram instantaneamente os insetos voarem por todos os lados.

– YAAAAAAAAA!!! – A garota dava pontapés abruptos no ar freneticamente, e sentiu que seu pé acabou esbarrando em algo, após constatar que todos os lagartos haviam caído. Ela se acalmou, respirou fundo e então resolveu abrir os olhos.

– Hã? Sanji-Kun? Por que está se contorcendo desse jeito no chão?

– N-nami... San...n... – Os olhos em forma de coração continuaram, mas a expressão era de dor.

– Ora... Você nocauteou a protuberância intrigante dele. – Robin dizia calmante, porém segurando o riso.

– Pobre Sanji... – Usopp cruzava os braços e balançava a cabeça em reprovação.

– Joooooooooooh - O canto do pássaro soava alto pela floresta e automaticamente todos olharam para cima, mirando cada galho das árvores em volta.

– Bem, acho que não podemos mais perder tempo aqui. Vamos continuar procurando por ele.

– Você está certa Robin-Chwan. Vamos voltar a procurar por esse pássaro de merda. – Sanji se levantava com dificuldades e acendia um cigarro, tentando conter as lágrimas após o incidente.

O cozinheiro e os outros passaram a percorrer a floresta mais uma vez, mas Nami ouviu um ruído, além de ter constatado que Zoro não estava ali com os outros.

– Aquele idiota... Vamos nos separar se ele se perder...

– Zoro?! É você que est- AAAAAH!

– Nami? – O espadachim estava coberto dos mesmos lagartos que caíram sobre a ruiva.

– Por que essas coisas abomináveis estão grudadas em você?? – A cara de repulsa da navegadora era notável.

– Elas apenas caíram em cima de mim quando esbarrei nessa coisa aqui. – Apontava para cima, e uma espécie de colméia estava pendurada num dos galhos da árvore. Provavelmente havia uma destas em cima dela e de Usopp no momento em que o loiro chutou o tronco.

– Aaaaaaargh! Isso é nojento! – Ela tentava entender por que lagartos sairiam de dentro de uma colméia. Aquilo não fazia o menor sentido.

– Hã?! Por acaso é em você que eles estão presos? Se não gosta de insetos então saia daqui.

– Seu idiota! Por acaso você saberia andar por essa floresta sem ninguém por perto? – A carranca do moreno não se desfez, ainda mais depois de se lembrar que dependera de Robin para circular pela floresta sem se perder. Definitivamente ele ainda não conseguia confiar nela.





– Estamos andando em círculos ou é só impressão minha? – Indagava um pouco desinteressado pelo fato de estarem perdidos, afinal, isto era uma das maiores habilidades dele: Se perder facilmente.

– De quem é a culpa por estarmos aqui? – A ruiva contestava com furor.

– Você vai começar a reclamar de novo? – A voz do espadachim havia mudado e consequentemente a feição da navegadora também. Toda aquela discórdia desnecessária conseguia neutralizar facilmente seu bom humor. Era difícil continuar fingindo que estava tudo bem entre eles. Não queria ouvir de novo aquelas palavras duras que o mesmo dizia. Sua mente andava em círculos. Ela não sabia o que dizer. Estava tão apreensiva com tudo aquilo que simplesmente resolveu espantar todos aqueles argumentos que soariam insignificantes para ele, como se sua mente fosse um papel em branco que precisava ser urgentemente rabiscada. Ela tentou. Tentou de todas as formas culpá-lo sobre todas as vezes que as coisas não iam bem. Mas não conseguiu. Falhou miseravelmente na tentativa de alimentar qualquer tipo de rancor contra ele. Para ela, era impossível tal missão depois de se relembrar da primeira vez que conversaram seriamente, ainda no East Blue. As palavras do moreno ainda ecoavam nitidamente em sua mente.

* Nami Flashback*²

Ilha Syrub (Terra natal de Usopp)

– Esta ilha não é grande coisa mesmo... Mas se houvesse algum lugar que tivesse um tesouro escondido...

– Uma ladra que rouba e não usufrui do próprio tesouro... Interessante...

– O que quer dizer com isso?

– Você parece ser bem habilidosa em furtar tesouros de piratas... Provavelmente faz isso a nos, certo?

– Aah... Sim...

– E você não parece roubar pequenos tesouros...

– Aonde quer chegar?

– Um grande propósito...

– Como é?

– Sua ambição fez com que sobrevivesse até hoje por conta própria, não é mesmo?

– E-eu não estou entendendo por que está me fazendo tantas perguntas que não fazem sentido, mas seja como for, você sabe porque estou com vocês.

– Eu sei. E não confio em você.

– Eu é que não posso confiar em aberrações de outro mundo como você e Luffy!

Após o término da frase, a garota surpreendeu-se com o sorriso maroto e espontâneo do moreno. Ele parecia uma verdadeira máquina de matar, ainda mais depois de testemunhar a cena em que o mesmo se cortara de propósito na luta contra o tal acrobata do bando de Buggy. Mas também não esperava que até mesmo alguém como ele pudesse sorrir de modo infantil e tão demasiadamente... Angelical.

*Fim do Flashback*



E então após se recordar de uma de suas primeiras conversas alegóricas com o espadachim, ela concluía que os versos imponderados em relação à mesma começaram logo quando se conheceram. Aquilo já havia lhe irritado antes, mas agora...

Zoro espantou-se com o súbito movimento da garota. Ela virou-se para o mesmo rapidamente, encarando-o com um olhar firme. Estavam há poucos centímetros um do outro e seu semblante intransigente ocasionava o olhar cáustico do espadachim.

– Sabe o que mais odeio em você?

– Tudo? – Indagava irônico.

– Errou! Odeio seus julgamentos precipitados, sem ao menos entender o porquê da situação.

– Eu não preciso entender ou julgar nada. Você é quem tira conclusões precipitadas sobre minhas palavras.

– Isso porque elas são humilhantes! Já parou para pensar que você pode machucar as pessoas com elas?

– O que eu disse te machucou?

Nami ficou sem fala. Como ela, justamente ela que era tão imperiosa, cuja personalidade era indestrutível podia ser facilmente machucada com assuntos como aqueles? Relembrou-se da vez em que conversaram após o ocorrido em Arlong Park, onde o mesmo escarneceu de um fato que negaria: Ela era uma pessoa sentimental. Ainda que ele tenha se contradito, dizendo que não a via como uma garota sensível. Quando o assunto pendia para o passado com os tritões, a ruiva tornava-se instantaneamente sensível sim, e passava a usar uma máscara perfeita para camuflar seus complexos e traumas do passado com toda a pose arrogante. Tudo parecia óbvio e supérfluo demais, e talvez reconhecesse que naquele momento se sentia envergonhada. E tudo porque ele era o único capaz de lhe dizer sobre seus piores defeitos. Sobre todas as suas fraquezas. Talvez porque ele era o único capaz de notar e lhe dizer tudo o que ela não queria ouvir, e sem nenhuma compaixão. Talvez porque se sentia desprezada por ele, mais do que qualquer outra pessoa com quem teve certa proximidade. Talvez porque a relação dos dois era enigmática e singular demais e ela não sabia mais como conduzir.

– Zoro... Acho melhor nos afastarmos... – Ao término da frase, a ruiva automaticamente abaixou a cabeça.

– Não acho que isso seja possível, Nami. – Um silêncio assombroso pairava no ar. Ele simplesmente não completou a frase e a ruiva sentia que a aflição da dúvida não a deixaria permanecer calada.

– Por causa do Luffy?

– Por que somos companheiros.

Cada estilhaço declinava em meio ao chão que antes servia de alicerce para a grande muralha que estava diante de ambos. Ela podia ver cada fragmento cair bem diante de seus olhos. Embora tudo pudesse ser enxergado de outros ângulos pelo moreno, a interpretação era a mesma.

– Seu idiota... – A ruiva resmungava baixo, juntamente com um leve sorriso no rosto.

– O que você diss-?!

Quando Zoro deu por si, Nami já havia lhe empurrado contra chão e se jogado em cima dele, agarrando o colarinho de sua camisa.

– Prove! – A recente atitude intrépida da garota surpreendeu o espadachim de uma forma que não foi possível esconder a expressão sobressaltada do mesmo.

– Heh... Você ainda quer provas? Não consegue apenas confiar em mim...? – O sorriso petulante do mesmo convinha no ímpeto de apaziguar o lado abrasivo da garota. Nami permaneceu na mesma posição, apertando o colarinho do companheiro. A expressão que antes era de indignação tornou-se delicadamente branda e serena. Zoro podia facilmente observar os lábios da ruiva curvarem e formar um sorriso completamente distinto de todos os outros que ele já presenciara nela. Era suavemente amena, demasiado afável, transparecia benevolência, e tudo isto era direcionado apenas para ele, embora não entendesse o porquê da mesma sorrir daquela forma, tão repentinamente.

– Por mais que eu queira... Não consigo sentir raiva de você... – Ela dizia calmamente, quase suspirando. – Você é péssimo em fazer uma garota te odiar...

– Eu não teria tanta certeza... Você me odeia de qualquer forma. – Desviou o olhar para os lados, tentando entender como a ruiva não lhe odiava, sendo que sempre brigavam. Aquela revelação era tão surpreendente que em sua concepção, se alguém fizesse uma enquete perguntando qual membro do navio ela mais detestava, ele com certeza ganharia.

– Se você não estivesse me devendo mais de um milhão de berries, não te odiaria tanto assim... – A expressão da companheira era pulcra... Confina. Os olhos semicerrados, transparecendo um vigoroso brilho que contrastava com a escuridão da noite. Estava ficando desconfortável para o espadachim permanecer naquela posição que parecia lhe entorpecer pouco a pouco. Se ela era uma bruxa, então seus sortilégios estavam fazendo efeito naquele exato momento.

– De novo essa dívida? Não tenho condições de pagar esse valor...

– Quem espera sempre alcança. Sei que um dia você ainda vai me pagar, com juros e correção...

– E esses juros vão continuar correndo?

– Por que você se importaria com isso?

– Por que nunca sei o que esperar de você?

– Não Zoro... Eu é que nunca sei o que esperar de você... – O soprar do vento levava consigo a desarmonia que cercava ambos. Eles podiam facilmente entender através de seus olhares que o dissídio havia lhes dado trégua. Uma trégua significativa.

O moreno constatava naquele diálogo que a extensão entre ele e a ruiva havia diminuído gradativamente naquele instante. Talvez muito mais do que presumia. Eles não se encontravam mais em extremidades opostas. Andavam no mesmo ritmo e lado a lado.

Zoro admitia para si mesmo que o fato de Nami não lhe odiar da forma como pensava lhe tranquilizara. Talvez por que não quisesse ser odiado por ela por ser a pessoa com a qual mais tivera contratempos. Talvez porque vê-la se queixando de qualquer outra coisa era mais aceitável do que reprimir a todos, por parte das situações absurdas que Luffy os colocava e que ele facilmente consentia pelo fato de honrar seu compromisso como espadachim do navio e por confiar plenamente em seu capitão. Talvez porque ela era a mais enérgica, perspicaz e orgulhosa, depois dele, obviamente. Ou talvez por que simplesmente ela era Nami e ele se sentia dentro de um imenso labirinto onde a saída não existia, pelo fato de estar ao lado dela. Era instigante, quase como brincar com fogo. E como ele adorava desafios, o convívio com ela lhe servia como um prato cheio, ainda mais em situações triviais, as quais ele menos se abrangia e que ela simplesmente conseguia transformar o ambiente num lugar mais interessante. Ela era de fato uma companheira importante, e ele não se recordava de se sentir estranhamente intrigante perto dela. Possivelmente ele estava louco e todas aquelas conclusões eram ambíguas demais para suportar, temendo que suas próximas reações não seguissem sua linha lógica de raciocínio. E já havia passado da hora de cortar o efeito da magia.

– E quando pretende sair de cima de mim? – Após o término da frase, a navegadora franziu o cenho.

– Uma linda garota está bem em cima de você e é assim que você reage?

– Linda garota? Me diga onde ela está...? – O olhar de desdém que decorria do mesmo afetava em cheio mais uma vez o orgulho da ruiva. Era impressionante como ele conseguia facilmente destruir todo o clima em poucos segundos e com poucas palavras. E sabia que estas coisas mexiam com a auto-estima da ruiva, portanto seria divertido incitá-la dessa maneira. O moreno sentia necessidade de tudo aquilo, pois já fazia parte de sua rotina, embora sempre acabasse com galos na cabeça.

– Você está pensando em morrer hoje? Está...? – Várias veias apareciam na testa da navegadora. Era a segunda vez que ele lhe tratava como uma garota comum e sem atrativos. Na realidade, comum era elogio. Ela sentia como se o apelido ‘Bruxa’ tivesse um fundo de verdade toda vez que lhe denominava assim. Colocou os pensamentos em ordem e concluiu que não valia a pena aceitar as provocações do moreno. Largou o colarinho que agora estava amassado devido à pressão que antes fizera. Levantou-se rapidamente, posicionando-se de costas para o espadachim e ele fez o mesmo logo em seguida, dando alguns passos do lado oposto.

– Vamos procurar pelo pássaro...

– ...

– Me siga se não quiser se perder...

– ...

– Será que vamos conseguir até o amanhecer?

– ...

– Aonde será que Sanji-Kun e os outros estão?

–...

– Hey, você está me ouvind-AAAAAAAAHH!!!

– Esbarrei em outra maldita colméia.

– QUE NOJOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!


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Notas finais do capítulo

¹ Quem não viu o contraste de reações de Nami e Usopp quando os mesmos foram caçar o pássaro? O cúmulo foi o Sanji, que acabou mostrando um lado feminino, com medinho de insetos xD
² Gostaram do mini-flashback que inventei no arco do Capitão Kuro? Eu estava pensando num capítulo especial pro futuro, e decidi que faria isso baseado num dos momentos mais incríveis entre Zoro e Nami que ocorreu no arco do Buggy, ainda no East Blue, quando se conheceram. Quem não se lembra da cena épica em que os mesmos se encararam pela primeira vez? Zoro salvando Nami que havia acabado de se ferir tentando parar o pavio que mandaria Luffy enjaulado pelos ares... Amantes do casal: Sei que vocês amam essa cena, e eu também xDD
BOMBA: Eu não tenho a mínima idéia do que fazer para o próximo capítulo... Normalmente sempre chego aqui dizendo o que terá nos próximos, mas não estou tendo nenhuma boa idéia ultimamente... Minha cabeça está uma bagunça... Tem horas que a criatividade nos abandona e nos deixa à mercê de várias dúvidas de como prosseguir com uma fanfic... Isso se deve porque estou tentando ser perfeccionista demais em não deixar nenhum ponto sem nó por aqui... Mas enfim, o próximo capítulo acontece em Skypiea... Então alguma coisa muito importante entre nosso casal tem que acontecer... Eu só não sei o quê! Me perdoem xDD
E é isso. Espero reviews.
Até a próxima.