Os fios pendurados em seu corpo, os tubos de oxigênio, a bolsa de sangue, os vários arranhões em seu braço... Tudo fazia me sentir pior, menos esperançosa. Chorava em pensar que nunca mais ia ver o seu sorriso. Chorava em pensar que talvez ele fosse embora daqui.

Corri em direção a cama, não sabia o que imaginar depois daquilo. Agarrei a mão de Lee Shin... Ah, como ela esta gelada. Parecia que a vida estava escapando aos poucos de si. Todos podiam ver, um pobre garoto ali, deitado naquela cama, naquelas condições; O pai de Lee Shin saiu dali, se sentiu desconfortável demais. Minhas lágrimas logo começaram a cair uma por uma... Lentamente, como uma goteira. Tão salgadas, tão quentes. Parecia a única coisa que realmente tinha vida ali. O tempo passava, e eu não conseguia parar de chorar, cada vez chorava mais e mais. Minha cabeça doía e minhas costas pediam descanso de ficar ali sentada, na mesma posição.

Fico me perguntando porque ele tinha que vir atrás de mim. Porque? Me levanto da cadeira, me espreguiçando, secando as lágrimas. Mais uma vez queria fingir que aquilo era só um sonho... Ou melhor, um pesadelo. Que tudo estaria bem depois que eu acordasse... Mas não, eu não poderia enganar mais a mim mesma. Aquilo estava acontecendo, Lee Shin estava naquelas condições por minha culpa.

Olhei para trás, dando um último suspiro. Pensando que ele iria abrir os olhos. Mas nada disso aconteceu. Dei um tempo para o pai de Lee Shin conversar com ele. O pai dele ficou horas lá. Eu estava apenas na sala da recepção, esperando o tempo passar. Estava tão deprimida a ponto de não comer nada. Estava pálida, fraca... Mas nada disso se comparava a ele. Eu não podia desistir, Lee Shin estava lá lutando.

Vi o pai de Lee Shin indo embora. Estava com óculos escuros, para esconder o rosto inchado. Mas num hospital, com tantas vidas indo e vindo, já é de se esperar alguém chorando e colocando óculos escuros para esconder o rosto. Voltei para o quarto do Lee Shin. Me deprimi mais ainda, por ver que ele não tinha mudado de posição. Continuava lá que nem uma estátua.

Me sentei gentilmente na cadeira, demonstrando um pouco de cansaço. Segurei a mão do Lee Shin tendo esperanças que eu poderia esquentá-las. Conversei com ele, mesmo sabendo que ele não iria responder. Conversei sobre como nos encontramos, sobre como nos implicávamos um com o outro, sobre nosso primeiro beijo, sobre como me sentia, sobre como era minha reação a cada abraço, a cada beijo, a cada olhar. As horas tinham passado, já com um pouco de sono, peguei meu ipod e botei para tocar uma música baixinha...

– Lee Shin – Falei baixinho enquanto as lágrimas caiam, e adormecendo enquanto a música tocava.

Sempre exatamente o mesmo céu e sempre o mesmo dia.

A única coisa que é diferente, é que você não está aqui.

Eu pensei que tinha te deixado ir sem restar qualquer coisa.

Não, não. Eu ainda não fui capaz de te deixar ir.

Desejando por você, eu estou desejando por você.

Porque eu estou desejando por você, eu te chamo e te chamo por mim mesmo todos os dias.

Sinto sua falta, estou sentindo sua falta.

Porque eu sinto sua falta, agora eu apenas chamo o seu nome como um hábito.

Mesmo hoje...

Dia a dia, eu sinto como se eu estivesse morrendo.

Então o que posso fazer?

Amo você, amo você.

Eu amo você!

Sem sequer ser capaz de te dizer isso, eu tive que te deixar ir assim.

Desculpe, me desculpe.

Você pode me ouvir?

Você poderia ser capaz de ouvir a minha confissão atrasada?

Eu amo você!

Acordei no outro dia com alguém mexendo em meus cabelos... Imaginei que era uma das enfermeiras para ver se eu estava bem. Abri os olhos lentamente, tentando aos poucos me acostumar com a claridade que invadia o quarto, fechei-os novamente. Quando escutei AQUELA voz, chamar meu nome. Só poderia estar louca, ou sonhando ainda, ele estava no ‘’sono profundo’’. Tinha medo de olhar e me decepcionar novamente, mas ao ouvi meu nome sendo chamado roucamente e baixinho de novo, não tive dúvidas. Abri os olhos com esperanças, e sim, eu sabia. Era ele, sorrindo, um sorriso fraco, me chamando. Minha única reação foi sorrir de volta para ele, estava surpresa. Logo as lágrimas caíram,. Na verdade mais pareciam uma cachoeira. Sorri de alegria, chorei de alegria, e o abracei forte.

– Ai... – Falou timidamente.

– Ah, me desculpa...é que... – Sorri sem graça para ele e encarei o chão. Realmente tinha me esquecido que ele estava machucado. Estava tão feliz por ele ter acordado que ainda não tinha conseguido parar de chorar.

– Sua boba, não chora. – Disse baixinho, com sua mão limpando as lágrimas do meu rosto.

– Eu fiquei tão preocupada, eu pensei que... – Ele colocou seu dedo indicador em meus lábios impedindo-me de falar mais alguma coisa

– Júlia, você acredita em anjos? – Falou sorrindo.

– Eu... Eu acho que sim.

– Sabe, eu nunca senti tal coisa como ontem. Por um tempo parecia tudo escuro, profundo e interminável na minha mente. Eu realmente senti está perdendo tudo de mim, tive medo, ouvia os médicos falarem da minha situação. Isso me assustou, me desesperou. Foi quando você apareceu, parecia que todos os meus medos foram deixados em segundo plano. Sua voz, tinha sido como um ecstasy para mim. Me deu forças, para realmente acreditar, para realmente esquecer meus medos e continuar. Você foi como meu anjo aqui na terra, sem que eu chamasse, você já estava ali ao meu lado. Me fazendo esquecer dos meus medos, me fazendo sentir vivo novamente. Eu ouvia você chorar e sim, eu queria estar ao seu lado, te abraçar, te pedir para não chorar por mim, e sim sorrir. Obrigada, meu anjo por tudo! Me desculpa por magoá-la.

– Você não tem que me pedir desculpas, e sim eu, me desculpa! Tudo isso que aconteceu com você foi por minha culpa. Eu não sou um anjo. Apenas... Obrigada, obrigada por se apoiar em mim, e acreditar em mim e não desistir para estar aqui agora.

– Teimosa!

– O que?

– Sim, teimosa! – Fez um bico.

– Lee Shin, qual o seu problema? Você mal se recuperou e já está implicando comigo.

– Não era isso que eu queria ouvir, e sim as palavras que me disse ontem.

– Do que você ta falando? – Não acredito, ele realmente escutou tudo que eu disse ontem... Meus sentimentos por ele...

– Bem... Você não é idiota, mas já deve ter percebido.

– Idiota é você, garoto!

– Tsc, saiba que você ainda não pode me tratar assim eu estou doente.

– Você que ta abusando.

– Você nunca vai mudar né? - Falou zombando de mim.

– Não, nunca!

Seus olhos castanhos me olhavam com tamanha avidez, mal parecia que aquela pessoa estava em sono profundo a um dia atrás. Ela ainda estava fraco, mas era o mesmo Lee Shin de antes. Simplesmente não conseguindo mais encarar o seu olhar, e o silêncio que se decorreu. Aproximei-me dele, e dei um leve selinho. O que o deixou bastante surpreso de inicio, mas logo sorriu.

– Eu te amo, anjo!

Assim como eu tinha o pegado de surpresa, ele tinha feito o mesmo comigo. Aquelas palavras me deixaram sem reação, meu coração acelerou de tal forma que fiquei com medo de que ele pudesse ouvi-lo. Como se soubesse o que eu estava pensando, ele segurou minha mão e colocou sobre o seu coração. Estava tão acelerado quanto o meu, e sim, ele não mentia, seus olhos transpareciam tamanha sinceridade. Me senti uma idiota por ter duvidado dele. A Luana poderia ter sido o seu primeiro amor, mas agora ele me amava, me amava de verdade.

Sem tirar os olhos dele, me aproximei o bastante para sua respiração batesse em minha boca. Continuávamos sem tirar os olhos um do outro. Um olhar intenso e apaixonado. Acariciei seu rosto de leve, sorriamos que nem bobos. Foi quando selei seus lábios aos meus. Uma lágrima escorreu pelos meus olhos, a sensação era totalmente diferente de ontem, o senti tão perto, tão vivo e tão quente me fez arrepiar por inteira, só pela lívida idéia que eu podia ter o perdido me fez beijá-lo mais intensamente.. Foi um beijo longo, intenso e apaixonado.

Assim que partimos o beijo ainda não conseguimos tirar os olhos um do outro. Se aquilo fosse um sonho mesmo, eu rezava para Deus que nunca acabasse. Pois a felicidade que eu estava experimentando era imensa.

– Eu te amo! – Disse ficando imediatamente corada.

Ele sorriu, e em troca me deu outro beijo. Dessa vez um beijo doce e carinhoso.

– Eu disse! Você finalmente admitiu que gosta de mim.

– Claro que não, eu não admiti nada disso.

– Admitiu sim, finalmente! Eu ganhei.

– Bobo, isso não é um jogo. E se for assim você perdeu... Porque eu não disse que gostava de você.... e sim que te amava! - Sentia meu rosto quente, a esse ponto eu já devia estar um pimentão de tanta vergonha. – Eu ganhei.

Estava tão boba e feliz, que nem percebi que meu ipod ainda tocava, a música agora era outra. Uma que me fez sorrir, pois ela simplificava totalmente nos dois.

O início começou coincidentemente para nós.

No começo, eu não sabia que isso era amor, em pensar que isso um dia seria amor de verdade.

Meu coração continua batendo e batendo.

Quando você olha pra mim, continua sorrindo sem saber.

E antes que você sequer percebesse, se apaixonou por mim.

Você se apaixonou por mim, se apaixonou por mim, derretida em meu doce amor.

Você se apaixonou por mim, se apaixonou por mim, hipnotizada pelo meu olhar encantador.

Olhe meus olhos (See My Eyes), você se apaixonou por mim.

Mesmo quando esse momento passar, vou amar você para sempre.

Sem nem mesmo perceber, eu também me apaixonei por você.