Promessa escrita por Guardian


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

A narração vai alternar entre o Nowaki e o Hiroki (sempre quis escrever com eles *----*), e eu espero que gostem ~



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Eu aprendi...

... Que algumas vezes tudo o que precisamos é de uma mão para segurar e de um coração para nos entender;


~x~



(Nowaki)

Ainda era cedo.

Isso era bom, de certa maneira. Acabei sendo dispensado mais cedo do que o normal, e agora que andava ao ar livre, ter apenas a brisa fresca da manhã fazendo companhia aos meus pensamentos era um tanto quanto tentador.

Eram raras as vezes que eu não me sentia preenchido pela pressa e ansiedade de chegar logo em casa, após o turno noturno no hospital. Ou após qualquer período, para falar a verdade. Eram raras as vezes que eu me sentia apreensivo em voltar rápido, mesmo que eu quisesse vê-lo o mais cedo possível.

Por algum motivo, as coisas andavam estranhas entre nós. Não ruins – não, nem de longe -, mas estranhas. Como posso dizer?... Era como se finalmente, após todo o tempo que se passou desde que nos conhecemos, estivéssemos na mesma... Sintonia. É, acho que seria mais ou menos isso. Os picos de felicidade e inseguranças da nossa realação, já não eram mais tão constantes; ao meu ver, agora, não estávamos mais tão distantes um do outro quanto antes. Aos poucos eu ia me tornando um homem merecedor de ficar ao seu lado.

A pergunta que deve ser feita então deve ser: se tudo está indo tão bem, por que eu eu estou apreensivo? E a resposta seria que eu não tenho certeza se eu a sei. Uma... Sensação, talvez. É difícil de explicar, mas essa apreensão, eu sentia que não tinha a ver com Hiro-san. Eu apenas ordenava que minhas pernas se movessem devagar, sem nem ter consciência do motivo, de alguma forma sabendo que hoje eu não deveria fazer igual todo dia, que eu não deveria correr movido pela saudade e vontade de vê-lo. Não hoje.

Não sabia como ou por quê. Só sabia e pronto.

E ignoro o quão confuso isso possa parecer.

E já que era assim, resolvi aproveitar o trajeto já tão conhecido, e repentinamente mais longo. Andava devagar, observando as vistosas folhagens das altas árvores que acompanhavam a direção do caminho que eu sempre fazia, com todo o esplendor que o início da primavera prometia para aquele período do ano. Seria ainda mais bonito se tivessem plantado algumas cerejeiras também, e então elas poderiam florescer daqui alguns dias...

...

Por falar nisso, foi mais ou menos nessa época que eu o vi pela primeira vez, não foi? Quando o encontrei chorando naquele parque.

Apesar de ter vivido a infância toda no orfanato, não tenho muito do que reclamar. Eu sou grato pelo rumo que minha vida tomou.

Talvez a única coisa da qual eu posso falar seja, afinal, diretamente relacionada à ele. Eu sempre me senti... Sozinho, de certa forma. Mesmo quando havia pessoas ao meu redor, pessoas que se importavam comigo e das quais eu gostava, era como se houvesse uma grande barreira que me impedia sentir de verdade entre eles. Isso até toda essa história começar.

Não gostaria de usar expressões como “Hiro-san me completa, é como se eu finalmente encontrasse o parte que faltava em mim”. Um, porque ele ficaria muito bravo caso soubesse que eu fico considerando essas frases melosas tão usadas em filmes de romance. E dois, porque não foi bem isso que eu quis dizer antes.

Em poucas palavras, ao início disso tudo, eu ganhei uma meta. Uma meta que eu estava disposto a me esforçar ao máximo para alcançar, porque o prêmio por ela seria o maior que eu poderia desejar. Era o trajeto necessário para eu poder ter ao meu lado, alguém que nem se dando conta disso, dissolvia a tal barreira e inconscientemente me envolvia. E também, para eu me considerar merecedor de ocupar este lugar.

Eu sei que naquela hora, eu fui egoísta ao jogar o peso daquelas palavras em seus ombros, mesmo sabendo dos sentimentos pendentes que ele tinha na época.

Eu te amo.

Apenas três palavras. Mas com essas simples palavras em me comprometi a não ficar sozinho no meio da multidão outra vez, a não deixá-lo chorando sozinho no parque, nem em qualquer outro lugar, nunca mais. Talvez um pouco melodramático demais, verdade, mas esses foram os meus pensamentos daquela época. E essa maneira de pensar não mudou em sua essência desde então.

...

Não sei o que meu subconsciente está planejando com essa estranha sensação de câmera lenta na simples ação de voltar para casa, mas está me fazendo pensar demais...

Soltei um suspiro e voltei a andar. Ahn? Quando eu tinha parado?

Mas mal dei dois passos e eu pude ouvir um barulho estrondoso e sentir uma forte pressão nas minhas costas.

Vi apenas o chão se aproximando e...




(Hiroki)

Levantei da cama sem nenhuma vontade, quase me deixando dominar pela preguiça que só a manhã de um dia de folga era capaz de causar. A única coisa que me fazia mover minhas pernas para fora da cama quente e confortável era o pensamento de que hoje era meu dia de fazer o café-da-manhã e que Nowaki devia chegar com fome após passar a noite toda no hospital.

Bocejando, fui para a cozinha e comecei a fazer o que devia ser feito. Deixei a TV da sala ligada apenas como barulho de fundo.

Incrível como realmente parecíamos um casal agora... Quem diria que aquele rapaz estranho surgido do nada continuaria aqui, ao meu lado, após tanto tempo? Ele apareceu em um dos piores períodos da minha vida, quando tudo ao meu redor parecia cinza aos meus olhos e frio à minha percepção. E então, de forma absolutamente inesperada, se fizeram presentes seus vivos olhos azuis e sua quente mão para mudar tudo.

Até hoje não consigo evitar de pensar na forma completamente aleatória que deu início a tudo isso! Se qualquer pessoa encontra outra, desconhecida, chorando sozinha em um parque, o normal seria ignorar ou então perguntar educadamente se podia fazer algo e ir embora em seguida, não é?

Mas ele não.

Ele foi logo agarrando minha mão e me puxando com ele!

E não foi só isso...

A mudança no barulho que vinha da sala me chamou de volta para a atmosfera que por um momento eu havia me esquecido, perdido em lembranças e pensamentos. Aquele não era o som que anunciava notícias inesperadas entre os programas?

Curioso, larguei a frigideira que tinha acabado de pegar no armário, e fui para lá. Qual seria a tal notícia?

Quando parei em frente ao aparelho de TV, a repórter estava noticiando um acidente não muito longe daqui, onde aparentemente um carro havia colidido com outro, envolvendo até mesmo alguns transeuntes. O acidente havia acontecido há não muito tempo, e ainda não haviam conseguido identificar todos os envolvidos.

Ahh, era horrível quando acontecia esse tipo de coisa... Mas algo que eu realmente respeitava era a eficiência e rapidez da mídia informativa japonesa. Esse tal acidente tinha ocorrido há o quê, dez minutos? E eles já estavam lá, noticiando. Era mesmo muito...

...

Ahn? Espera, eu conheço esse lugar... Não é mesmo muito longe daqui, é um dos lugares que já viraram nosso ponto de encontro no caminho que...

...

No caminho que o Nowaki sempre faz.

Não!

Seria possível que...

...

Não, não, não. Acalme-se, droga! É cedo, ele devia estar saindo do hospital quando isso aconteceu! É, é claro que ele não estava envolvido naquilo, ele estava bem, ele logo estaria entrando por aquela porta sorrindo e... E...

Ele estava bem... Não estava?

Ah, que droga! Se eu estava tão preocupado, era só ligar pra ele! Isso mesmo, eu ligaria e ao ouvir sua voz, esse peso de medo no meu estômago sumiria na hora.

Peguei o celular em cima da mesa de centro, ainda ouvindo vagamente a voz da repórter, mas sem prestar mais nenhuma atenção, e com os dedos repentinamente gelados e um pouco inflexíveis, pressionei o número na discagem rápida.

– Não... Atende – deixei escapar em um sussurro de medo e choque, ao ouvir a mensagem da caixa postal pela terceira vez.

Não...

Sem nem pensar duas vezes, enfiei o aparelho no bolso, peguei as chaves do apartamento e o casaco, e saí. Por sorte lembrei de tirar o avental um pouco antes de trancar a porta e sair correndo.

Por quê?! Esse não era o horário de sempre dele! Era para ele estar chegando naquele ponto só agora, então por quê?!

Nowaki...

Corria sem nem enxergar as pessoas pelo caminho, sem me importar com as quais eu trombava, sem ligar para mais nada que não fosse chegar logo naquele lugar. Em vão ou não, eu continuava tentando ligar para o número do Nowaki. Sempre com o mesmo resultado.

Parecia que a cada vez que eu ouvia a voz dele em “Não posso atender no momento”, era acrescentado um peso extra dentro de mim.

Nowaki foi aquele que me estendeu a mão, como uma ponte para o apoio e segurança que ele me ofereceu. Aquele que mesmo sem saber quase nada sobre mim, compreendeu meu sofrimento causado por meus sentimentos não correspondidos. Aquele que pronunciou as palavras que eu mais necessitava ouvir, e ainda mais, de maneira absolutamente sincera. Aquele que como seu próprio nome, chegou como um furacão em minha vida e mudou tudo.

Ele não pode...

Ele fez mais por mim do que pode imaginar, e agora, a mão que ele me estendeu e o coração que me ofereceu, são inteiramente meus e eu não pretendo abrir mão deles. Muito menos desse jeito!

Já estava me aproximando do lugar - não tão cercado de pessoas por causa da hora - com a vista embaçada pelas lágrimas de medo e ansiedade que eu não conseguia impedir de sair.

Procurei em volta qualquer sinal dele, mas eu cheguei bem em tempo de ver a última das ambulâncias se afastando em alta velocidade na direção contrária de onde eu vinha.

– Nowaki... – não consegui reprimir. Eu queria gritar, mas do que adiantaria? Ele poderia me ouvir?

...

– Hiro... San?




(Nowaki)

O que Hiro-san estava fazendo aqui?

Corri até onde ele estava, sem se mover, de cabeça abaixada e encostado em um dos baixos muros que havia no lugar. Parecia que ele não tinha me visto.

Parei à sua frente e depositei minhas mãos em seus ombros, ainda chamando-o, mas mesmo assim ele demorou um pouco para erguer o rosto, e quando o fez, fez de maneira tão lenta que comecei a me preocupar de que houvesse algo muito errado com ele.

– Hiro-san, está tudo bem? Hiro-san?

Por que... Ele estava chorando?

A expressão dele estava estranha, ele parecia, se não me engano, não acreditar que eu estava ali, bem na sua frente.

– No... Nowaki? – ele falou meu nome de forma tão surpresa, que eu fiquei sem reação – Nowaki! – ainda mais quando ainda mais lágrimas formaram-se em seus olhos e ele apertou meus braços com força, como se para conferir se eu era real. O que tinha acontecido?!

– Hiro-san? O que...

E então, claro, a despeito de sua atitude desamparada, ele me bateu. Normalmente eu sabia o motivo de levar um desses, mas desta vez eu confesso que estava totalmente perdido.

– Seu idiota! – ele encostou a testa no meu peito, impedindo que eu visse seu rosto. Muito estranho... Ele não gostava de manter essa proximidade quando estávamos na rua, mesmo que no momento não houvesse mais ninguém por perto, isso não é algo que ele faria. Normalmente – Se estava vivo, por que não atendeu a droga do telefone?!

Ahn?

– Apareceu aquela notícia do acidente, e quando eu liguei ninguém atendia e... – sua voz diminuía o tom a cada palavra pronunciada, e eu sentia suas mãos segurando com força minha blusa.

O acidente?

...

Ahhh...

– Estava preocupado comigo? – afaguei gentilmente seus cabelos, e não pude evitar sorrir com aquilo. Ele viu a notícia, e ao eu não atender suas ligações, ele veio correndo até aqui para procurar por mim. Como eu poderia não sorrir e não ficar feliz com isso?

Mas de repente suas mãos não mais torciam o tecido da minha roupa, e eu levei mais um de seus golpes.

– Não fique me tratando como criança! – ele exclamou, ainda com alguma lágrimas acumuladas nos cantos dos seus olhos, as últimas talvez, e o rosto extremamente vermelho - E então? Por que você não atendeu o celular?!

– Ah, isso... – tirei o aparelho do bolso da calça. Na verdade, as duas partes do que um dia foi conhecido como um telefone celular – Quebrou.

– Ahn? – sua expressão confusa chegava a ser engraçada, mas é claro que não era hora para eu rir. Contentei-me apenas com um sorriso então.

– No meio do caminho um homem trombou comigo e o celular acabou quebrando quando caiu no chão – na verdade ele quebrou quando o dito homem caiu com tudo em cima dele, depois do coitado do aparelho cair do meu bolso com a trombada que levei nas costas – Foi na mesma hora que eu ouvi o barulho do acidente mais à frente de onde estava. Eu ia voltar pra casa assim que terminasse de ajudar a mover os feridos.

– Que... Quebrou... – eu achei, pelo modo como ele disse isso, que ele não tinha acreditado em mim, mas então aconteceu o improvável. Ele começou a rir. E que me corrijam caso eu esteja errado, mas parecia uma risada gostosa, de alívio.

O puxei para mais perto, o abraçando. Hiro-san não me afastou nem nada, pelo contrário. Aproximou-se mais e abafou sua risada em meu próprio corpo, sem cessar. Fazia cócegas.

Ainda bem...

De um jeito estranho, que eu não entendia e achava que nunca entenderia, sem sequer perceber, algo me pressentiu de que algo aconteceria esta manhã. Se eu tivesse voltado rápido, no ritmo de sempre, eu estaria entre as vítimas daquele acidente.

Se eu não tivesse andado tão lentamente, eu teria quebrado minha promessa. Eu o teria deixado chorando sozinho outra vez.

Ainda bem...



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Notas finais do capítulo

E então? Ficou bom? Fofo? Chato? Bom, eu me esforcei ~
Ah, e se alguém que não leu, se interessar, tem outra fic com um verso do poema. "Ignorar é Inútil", MelloxNear.