Castanho versus castanho

Vermelho versus azul

Choque versus medo.

O ar congelado, o som desaparecido. Duas respirações descompassadas, duas expectativas fortes. Fortes, quase esmagadoras, pairando no ar que de repente parecia tão pesado que eles mal conseguiam absorver.

Um par de olhos castanhos procurou outro ponto para se fixar. E o sorriso, aquele típico sorriso vitorioso? Sumira com sua voz.

– E eu te amo.

Ela tinha ouvido direito?

Aquilo era quase insano. Anos, anos e anos, de silêncio, dúvida e separação. Uma enorme barreira de ódio, que ela levou eras pra construir, ruindo rápido e em silêncio quase como se se entregasse. E as máscaras? Uma enorme coleção, da raiva à indiferença. Todas no chão. Caídas e inúteis. O que ela mostrava em seus olhos era a mais pura surpresa, nua e profunda, acessível.

Ela odiava se expor!

E agora, como se não bastasse seu olhar, suas brincadeiras, seus consolos, ele agora usava palavras para desmascará-la.

Porque ela amava e era amada.

E sentia a dor disso. Uma dor profunda, aguda, a dor dos orgulhosos. Tão maluca e tão real, atingindo não seu coração, mas talvez a força vital que o fazia bater, se concentrando em algum ponto aleatório e indescritível, inalcançável.

Traição. Aquilo que ela passara tanto tempo escondendo e protegendo, era atacado internamente.

Mas o que era aquilo? Não só dor por estar desarmada. Havia uma grande alegria, forte e incandescente, a ascendendo e esquentando, como fogo nas veias.

E talvez... Paz?

Sim. Aquele era o fim de sua guerra interna. Não precisava mais se esconder, não precisava mais se conter e proteger-se. Não precisava nem mesmo atacá-lo. A sensação de calmaria foi tão forte que uma onda suave a varreu, relaxando cada músculo calmamente, trazendo finalmente o ar pra dentro.

A paz dos orgulhosos.

E três sentimentos, que não podiam ser mais distintos, dominavam-na, percorrendo seu corpo, chocando-se e lutando. Tão feroz e apaixonadamente, que uma única lágrima errante caiu, ziguezagueando em sua bochecha corada, sumindo rápido, mas deixando a marca brilhante e gelada para trás.

– Eu te amo também – murmurou, quase que para si mesma, e sentiu dois braços leves a envolverem. Era engraçado – aquela sensação de estar nua que ele mesmo provocava com o olhar, era anulada por seus braços. Eles a protegiam tão bem quanto a armadura, mas eram mais confortáveis em muitos modos.

Não houve um beijo naquele momento. Houve algo muito menos invasivo, mais silencioso e confortável. Seus corpos se uniram, enlaçados pelos braços. Dois corações palpitando apressados e sem nenhuma harmonia, mas juntos – cada um em seu próprio ritmo. Outras lágrimas confusas desceram, mas logo pararam – ela era boa em resistir à dor. E afinal, esta nem mesmo chegava a predominar, não sobre a paz tão relaxante. Não sobre aquele momento sonhado e aguardado – ridículo, porém verdade.

Mas agora ela estava nele, e sentia – o calor e a segurança, até a própria respiração.

Ela odiara por tanto tempo, amara por tanto tempo, passara por tanta coisa, que agora palavras se tornavam decorativas, quase fúteis. Palavras são expressavam.

Tudo estava ali, em suas respirações, naquele abraço, os olhos fechados, no ar que compartilhavam.

Palavras não descrevem, tanto que sua mente só conseguia repetir duas:

Te amo.