'- Acho que ele está te procurando. – continuou Juliet. Agora sim, o livro extra grande tamanho família caiu no meu pé outra vez. Mas eu consegui segurar minha língua, em parte por causa do olhar furioso da Madame Pince, em parte porque agora eu podia ver Tiago (muito meigo, olhando em volta) e podia ver também que Sirius, Pedro e Remo se aproximavam dele.

'- Shh. – fiz pra Juliet, andando cuidadosamente nas pontas dos pés para trás da estante, de modo que nenhum dos quatro pudesse me ver apesar de eu poder ver os quatro.

Parei no meio do caminho, entretanto, ao perceber que Juliet não vinha comigo. Me virei e sussurrei:

'- Venha! Por que você está parada aí?

Juliet apenas me olhou por um segundo e veio andando normalmente, falando:

'- Eu simplesmente não vejo necessidade de andar que nem desenho animado.

Indignada, desfiz a minha pose de "eu sou espiã" (certo, totalmente desenho animado) e falei:

'- Eu não estava andando que nem desenho animado.

'- Lily. – Juliet disse, falsamente carinhosa. – Nós não somos as Panteras, ok?

'- Uma garota não pode sonhar? – perguntei, chateada, seguindo-a até onde pudéssemos ouvir os rapazes, atrás de uma estante.

Tiago, Sirius, Remo e Pedro tinham escolhido uma mesa isolada, e mesmo assim conversavam muito próximos e em voz baixa. Eu me pergunto porque, se a conversa era tão importante, eles estavam em um lugar publico. E foi o que perguntei, aos sussurros, para Juliet, que, tendo uma vasta experiência no que diz respeito a conversas particulares e secretas que ninguém deve ouvir, seja no modo de fofocas quentíssimas ou finais de relacionamentos, me respondeu:

'- Quanto menos você quer que ouçam, em um lugar mais agitado você deve ir. Assim, se alguém quiser ouvir, encontrará dificuldades.

'- Certo. – eu disse, me virando pra eles de novo. Mas logo me voltei outra vez para o lado, falando:

'- Mas dessa forma eles estão se contradizendo, oras. Eles seguiram essa regra, mas estão no lugar mais isolado e calmo do lugar publico que escolheram.

Bom, a paciência de Juliet tinha acabado, então ela apenas me ignorou, de modo que eu voltei toda a minha atenção para a conversa ultra-mega-secreta-top-confidencial dos Marotos.

'- Mas como ela lançou foguetes? Ela é maluca? – perguntou Pedro.

Maluca, eu!

'- Não. Quero dizer, ela é meio maluca, sim, de um jeitinho legal... – disse Sirius.

Eu não sou maluca!

'- Ela foi bem cuidadosa, na realidade. – Olha, é o Tiago falando! – Ela disparou um tipo de foguete que não deixa rastro, de modo que o lobisomem não iria até ela, e sim até o local da explosão, mais longe dali.

Dá-lhe Tiago! Defensor das ruivas soltadoras de foguetes com um super plano genial e incompreendido por trás!

'- Mas e se houvesse alguém lá? Embaixo de onde os fogos estouraram, quero dizer. – perguntou Remo, angustiado.

Alguém poderia, por gentileza, dizer a ele que eu sabia perfeitamente que ali há um descampado, tipo assim, há séculos?

'- Há um descampado naquela área. Inabitado há muito tempo. – falou o Tiago.

Obrigada, querido.

'- E se alguém do povoado ouvisse e resolvesse averiguar? Acabariam dando de cara com um lobisomem transformado e sedento de sangue! – replicou Remo. Credo, parece até que ele queria que alguém o encontrasse! Bem, talvez ele realmente quisesse. Vai ver ele estava com fome, afinal. Ou talvez ele seja apenas muito sensato.

Bom, mas ele podia ficar tranqüilo. Depois dos ataques comensais, ninguém daria a menor bola para fogos de artifício trouxas sobre um descampado. E ninguém ficaria tentado a tirar o pijama quentinho e sair de perto da lareira confortável para verificar, pode apostar.

'- Aluado, você acha mesmo que depois dos ataques comensais alguém ligaria para fogos trouxas em um descampado?

Tiaguito, nossa telepatia está a mil!

Então, Remo, quero ver! Faz outra pergunta! Faz! Faz! Vamos ver quem vai vencer! Você não é páreo para o Casal-Mente-Unida, admita!

'- Tiago, você nem sabe se a Evans pensou nisso tudo! – riu Pedro.

Diz pra ele que você sabe que eu pensei tudo isso porque estamos ligados por uma relação formada num plano superior, uma coisa nobre nascida no espírito, e que não tem lugar no plano metafísico, a não ser para uns amassos, se quiser, é claro, foi o que eu disse para o nó da minha gravata, até notar que eu não estava de uniforme, e portanto não usava a gravata. Então, quando eu estava decidindo meu próximo interlocutor – os concorrentes eram uma traça de livros e os meus cadarços – percebi que a conversa começou a tomar outro rumo, e o que o Tiago disse foi:

'- Não é só porque estou apaixonado pela Lílian que meu senso de julgamento está adulterado.

Sirius e Remo, pelo que pude ver entre "Os trigos verdes da mata amarela" e "Quem procura, perde tempo", se entreolharam divertidos.

E o que era pra ser uma séria conferência sobre problemas marotos secretos se tornou, de repente, um debate sobre a minha humilde pessoa.

'- E então, como foi a noite com a nossa pequena ruivinha? – perguntou Sirius, com um sorriso cachorro.

Meu rosto queimou, mas ninguém viu, claro.

'- Foi... boa. – falou Tiago, pensativo, abrindo um sorriso. Ei! Pode parar com esses pensamentos pervertidos sobre a minha pessoa, Potter! Agora mesmo!

'- Levou mais algum fora? – perguntou Pedro, enquanto Sirius gargalhava alto.

'- Claro que não, Rabicho. O Pontas agora tem medo de chamar a Lílian pra sair... – respondeu Sirius, ainda rindo.

Certo, eu as vezes posso ser meio perigosa em meio aos meus ataques de loucura, mas não precisa ter medo!

'- Claro que não. – respondeu Tiago. – Faz tempo que eu não a chamo pra sair.

Isso é bem verdade. Se eu não me engano, a ultima vez que ele me convidou para sair foi... no dia em que eu descobri que estava apaixonada.

O destino é engraçado, não?

'- Mas vocês saíram... – lembrou Pedro, pensativo.

'- Mas eu não tinha convidado ela. Na verdade, ela que me chamou. – respondeu o Tiago.

'- Ih, tá se achando agora, hein... – riu Sirius. Eu, obviamente, não gostei disso. Oras, assim ficava parecendo que era só ele parar de me convidar pra sair que eu caia aos seus pés! E não era bem assim.

'- Você disse ontem que o dia tinha sido otimo. Mas não disse o que aconteceu quando vocês foram pra Hogsmeade. – disse Remo, abrindo um sorriso maroto, idêntico aos sorrisos de Sirius, Tiago e Pedro. É um sorriso branco, bonito, meio de lado, cheio de segundas intenções, e incrivelmente sexy também.

Só que, naquele momento, eu achei um pouquinho assustador também.

'- Ah... – fez Tiago, manhoso. – Não sei se quero compartilhar essa informação com vocês...

'- É! Até parece! Você é louco pela Evans faz séculos! O que quer que tenham feito, você vai acabar contando. – debochou Pedro.

Gente. Ele é louco por mim há séculos!

Eu acho. Quero dizer, será que tem outra Evans na escola?

'- Desembucha. Você conseguiu o que queria? – perguntou Remo.

'- Fala serio, Aluado! – riu Sirius. – O que ele quer é casar com a Evans, e acho que eles não ficaram noivos ontem.

Que saco, por que eles não falam direito? Tipo "Ele quer é casar com a Lilian Evans, dezessete anos, sétimo ano da Grifinoria, aniversariante no dia vinte e três de setembro, ruiva, olhos verdes, um e setenta de altura, cinqüenta e dois quilos."?

Oh céus. Ele quer casar comigo?

'- Mas vocês se beijaram? – perguntou Pedro, parecendo ansioso. Houve um pequeno momento de silêncio, expectativa e tensão, no qual o mundo inteiro pareceu congelar instantaneamente à espera das palavras que poderiam mudar o curso de milhares de vidas, de geração a geração – é, eu tenho tendências a exagerar, e daí? - , no qual Tiago parecia se divertir com o suspense. Então ele respondeu:

'- Bem... pode-se dizer que ela se contradisse ontem, quanto ao quinto ano, quando disse que preferia comer vidro a me beijar por livre e espontânea vontade.

Ei, eu disse mesmo isso!

Será que foi antes ou depois de dizer que eu preferia comer ovos fritos no cabelo de Snape a beijar Tiago?

'- Não acredito! – exclamou Sirius, dando um tapa na mesa, com um sorriso enorme no rosto.

'- É, meu caro. As coisas finalmente estão se encaminhando com a Lílian. – disse Tiago, satisfeito.

'- Quem sabe agora você consegue esquecer ela. – falou Pedro.

'- Esquecer? – bradou Sirius. – Depois de tudo isso? Cara, - acrescentou, voltando-se para Tiago. – se você tentar esquece-la depois de tudo o que passou, eu juro que te dou um murro!

'- Mas sabe... – começou Remo, pensativo. – Talvez Pedro esteja certo. Talvez Tiago queira esquece-la. Já conseguiu o que queria. Talvez seja como as outras garotas. Depois de um mês, ele as esquece.

Não. Não, não, não. Isso não iria acontecer. Não podia acontecer. Tiago não podia fazer isso comigo. Ele não faria uma coisa dessas.

Por outro lado... Ele sempre foi assim. Um galinha que esquecia as meninas depois de um mês, quero dizer. Que conseguia o que queria e caia fora. Ele tinha sido assim até ter levado o primeiro toco da vida dele. Vindo de mim.

Desde então, ele começou a me perseguir. Primeiro, creio que para encher o saco. Depois, por honra e orgulho. Até o dia em que eu, como todas as garotas da escola, cai nas garras de seu charme. E me tornei só mais uma.

Eu sei, ele disse que estava apaixonado. Mas... E se ele tivesse se apaixonado por todas? E se ele só pensasse que tivesse se apaixonado, simplesmente porque eu era a única garota que o recusava?

E se, agora que ele me ganhou, eu o perdesse?

De repente, percebi que minhas mãos estavam tremendo, e minhas pernas ficaram bambas de uma hora pra outra. Meus olhos começaram a arder, e eu me afastei da prateleira, com o coração batendo forte demais. Com apenas uma noção de que Juliet estava ali, comecei a sair do corredor que duas estantes formavam. Mas eu estava meio alterada, e bati em alguém.

Alguém que carregava muitos livros. Livros que caíram com muito barulho. Barulho que chamou atenção de quem estava perto.

Sem me importar muito, continuei andando, quase correndo. Não queria que ele me visse chorando.

Atrás de mim, ouvi Juliet dizendo, com uma voz falsamente alegre e descontraída:

'- Melanie! Que coincidência te encontrar na seção de... er... "Lixo impresso"!