Os 68 Jogos Vorazes escrita por Dux


Capítulo 1
O Quinto Dia...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/201431/chapter/1

Cinco dias. Dez de nós vivos. Quatorze de nós mortos. Os jogos estavam intensos naquele ano. O que mais havia impressionado os tributos havia sido o terreno escolhido em si para aqueles jogos. Metade da arena era uma enorme e quente savana, e a outra metade era uma profunda selva tropical. Havia encantado alguns de nós que tivemos a capacidade de nos adaptar e sobreviver, ou pelo menos aqueles de nós que havia passado um pouco de nosso treinamento se dedicando a habilidades de sobrevivência. Era a diferença básica entre os tributos “normais” e os carreiristas. Eles poderiam ser superiores a grande maioria de nós nas habilidades com armas e luta, mas sobreviver na arena em si era algo que necessitava muito mais do que só lutar e caçar tributos.


Eu tinha uma certa vantagem natural já, sendo do Distrito 7, pelo menos na metade da arena que estava coberta com aquela densa floresta tropical, cheia de barulhos estranhos e plantas que nunca tinha visto antes em minha vida. Em casa, estávamos acostumados com árvores como pinheiro, não com essa variedade estranha de vegetação. Se eu fechasse os olhos agora, poderia quase ver meu irmão me assistindo agora, na televisão, tão curioso a respeito da vegetação quanto eu estava no primeiro dia dentro da arena.


Não que nós estivéssemos esquecidos de todo o resto só por causa de alguma planta diferente. Aqueles ainda eram os Jogos Vorazes, e por ser um ano mais velho que eu, meu irmão não pode se voluntariar para me salvar como disse como disse que faria. Se ele faria de verdade ou não, eu não sabia mas duvidava um pouco. Era algo raro demais para acontecer, e para isso era necessário sorte demais. E vamos admitir, aqueles que têm sorte de verdade, não teriam que se preocupar tanto assim em irem para os Jogos.


Mas mesmo eu estando ali, dentro da arena, contra nove outros tributos, eu poderia sentir sorte do meu lado. Sabia que era algo além de minhas habilidades, pois as oportunidades pareciam se encaixar bem demais para ser algo que dependesse totalmente de mim. Tudo havia começado na, quando um dos carreiristas havia sido o primeiro tributo dos jogos a ser morto. Nos últimos quatros jogos, todos os vencedores haviam sido carreiristas, e este fato junto com a morte do garoto do Distrito 1 nas mãos da garota do Distrito 11, parecia ter quebrado um pouco com a confiança deles, o que permitiu com que mais de nós pudéssemos pegar equipamentos e alimentos, e pela primeira vez em alguns anos, os jogos seriam um pouco mais “justos”, se é que isso era possível. Ainda na Cornucópia, além da morte do garoto do Distrito 1 e da garota do Distrito 11, o garoto do Distrito 6 e as garotas dos Distritos 3, 5, 10 e 12 haviam sido mortos ali também. Ao final do primeiro dia, os garotos dos Distritos 3, 9 e 10 haviam se juntado a lista.


Eu lembro de ter assistido a cena, lembrando bem de como eu havia me arriscado demais tendo avançado para pegar aquela mochilas perto da Cornucópia. Uma delas eu sabia que continha machadinhas, pois podia ver as cabeças de algumas saindo do topo da mochila, e eu sabia que queria elas. Sendo do Distrito 7, eu já tinha um talento com machados que não fiz questão de esconder tanto, já que era um fato esperando todo os anos nos jogos. Mas eu contava com o talento da força física, já que trabalhava puxando cargas. E não era fácil carregar e transportar dezenas de troncos de árvore e quilos de papel para diferentes seções do nosso enorme Distrito. Exigia músculo, afinal era um trabalho manual. Não pense que tínhamos caminhões de carga ou coisas assim não, o máximo que chegávamos a ter era alguns cavalos para as carruagens, afinal não era um Distrito rico.


Pelo menos era bem difícil alguém passar fome. Até os mais pobres tem pelo menos um pequeno chalé para morar, e algum tipo de emprego nos campos. Eu tinha o privilégio de chegar a ser forte até, e ter alguns talentos, podendo dedicar meu tempo de treinamentos e preparação para adquirir uma ou outra habilidade nova que pudesse me ajudar. Sabia que já iria entrar na arena com uma boa perícia com machados e machadinhas, e a minha força física. Algo que sempre tive curiosidade de saber, devido ao contato que tinha com aquilo, eram sobre insetos. E no treinamento para a arena, nós tivemos a oportunidade de aprender sobre insetos comestíveis. Eram mesas com potes e tanques de vidros, cada um com o mais variado tipo de inseto e larva, todos vivos ainda. Os mais variados modelos de troncos velhos e podre ficavam do outro lado, onde a instrutora ensinava quais eram os melhores locais e métodos para obter aquelas pequenas criaturas, e também nos informava de seu valor nutritivo, além de quais deles poderiam ser até maléficos para o nosso consumo.


E eu havia adorado as aulas, pude ver logo de cara que era uma das estações menos visitadas dos jogos, e realmente era difícil ver alguém nos jogos chegar a consumir insetos, mas eu havia passado todos os dias ali me alimentando daquelas coisinhas. Outra habilidade que havia adquirido também era de usar cordas. Antes, só sabia usar elas para amarrar cargas em si e nas carruagens, já conhecendo então alguns tipos de nós mais firmes. Mas durante o treino, pude aprender a usar a corda como um laço, para capturar meus oponentes, algo que achei interessante, e decidi me dedicar.


Era melhor me dedicar a aprimorar habilidades que tinha pelo menos um pouco de leve conhecimento já, como havia dito meu mentor. E suas instruções haviam sido valiosas dentro da arena. Como ele havia previsto, eu havia me tornado um dos alvos dos tributos. Tanto para inimigos como para aliados. No terceiro dia da arena, o garoto do Distrito 8 havia tentando me atacar, mas acabou se anunciando um pouco cedo demais. Logo, eu havia enviado duas machadinhas em sua direção. Uma havia passado reto ao lado de seu corpo. A segunda havia se enterrado profundamente da face do rapaz, o matando na hora. Foi neste dias em que pude obter mais do que minhas machadinhas e os insetos que colhia. Pude fazer uso da corda que ele carregava, além de alguns outros itens que ele carregava, como um isqueiro, uma bomba de fumaça, e algumas facas. Infelizmente eu era um desastre em luta com facas e adagas, ao contrário do meu aliado que apareceu no dia seguinte.


Havia sido no começo do quarto dia. Estava perto de um rios que percorria a floresta da arena formando um caminho bem confuso, tornando quase impossível de seguir ele por sua extensão completa. Estava em cima de uma árvore que contava com muitos galhos e permitia um bom esconderijo. Eu só havia conseguido me colocar dentro dela por causa de uma de minhas machadinhas, podendo cortar alguns galhos estratégicos dentro da árvore, para permitir um melhor apoio. E de lá, pude ver o garoto do Distrito 5 passar correndo, como se fugindo de algo. E por alguma razão, ele havia percebido minha presença. Eu só pude ver ele pois estava olhando para o rio, pois ele se mexia sem fazer praticamente som nenhum. Vi então o motivo pela qual ele corria surgir logo atras dele. A garota do Distrito 9, que tinha quase o mesmo tamanho que eu, estava lá, segurando uma clava, gritando com o garoto, e com um longo corte em seu braço. - “Seu garoto insolente! Achou que ia poder roubar de mim sem eu perceber? Vai me pagar por essa!” - Mas ela não teve tempo de fazer nada.


O garoto puxou de seus bolsos uma zarabatana já carregada, e tudo que foi necessário foi um sopro somente, para aquele dardo envenenado cortar o ar e acertar dentro da boca da menina do Distrito 9. Ele tinha como um de seus talentos a furtividade, e era um acrobata natural. Quando meu mentor perguntou se eu pensei sobre aliados, ele havia sido um dos quais eu havia apontado como um potencial aliado, mas infelizmente ele não havia considerado o garoto um parceiro decente para mim. Mas aquele era o momento perfeito para a criação de uma aliança e assim havia sido.


Ainda escondido, consegui laçar o garoto, o que me deixou numa posição favorável a discutir a aliança, mas havia aumentado a desconfiança nele. Seu nome era Hoyt, e após quase uma hora de discussão, havíamos chegado a bom termos, e formados então uma aliança. Havia sido na base de negociação mais do que qualquer outra coisa. Ele não queria nem saber dos meus insetos, mas ficou maravilhado pelas facas e adagas. Já eu estava simplesmente em ter alguém com as habilidades como as dele do meu lado, afinal ser discreto não era meu forte. Ele sabia também se camuflar muito bem, algo que me deixou mais interessado ainda em aproveitar as suas habilidades.


Já deveria ser próximo ao meio dia, duas horas da tarde daquele dia, e Hoyt estava terminando de pintar um pedaço de meu corpo para se mesclar com as árvores, assim como ele já havia feito com ele mesmo, usando lama, musgos, folhas, e até algumas frutas amassadas que ele havia de fato roubado da garota do Distrito 9. Estava indo tudo bem, quando então um pára-quedas prateado caiu perto de nós, passando pelas folhas das árvores sobre nós, espantando os pássaros dali. Nós pensávamos que fosse algo que pudesse nos ajudar a viver alguns dias a mais, como sacos de dormir, mais água ou alimentos, mas era algo muito, mas muito mais especial.


Dentro dele, estava um machado de batalha de um metro e meio, com duas lâminas, uma de cada lado, feito de algum tipo de metal e extremamente afiado. Do outro lado, duas zarabatanas profissionais, ambas de calibre cinqüenta e carregadas de dardos, todos organizados por cor, cada um contendo um tipo de veneno e efeito diferente. Era um presente incrível, obviamente eles haviam conseguido patrocinadores bons, pois estes presentes eram extremamente caros. E por isso, questione o porquê daquele presente surgir daquela maneira para nós, de forma aleatória.


Essa edição dos Jogos Vorazes já estava sendo considerada especial desde que os tributos receberam as suas notas. Todas as vinte e quatro delas estavam entre oito e onze, e isso havia mexido com todo o público, que desde então esperavam que esses Jogos Vorazes fossem bem mais violentos do que os outros. E seria uma tarefa difícil, já que ambos os últimos jogos haviam tido carreiristas do Distrito 1 como vencedores, chamados Gloss e Cashmere, e eles haviam sido muito bons, mantendo o público sempre entretidos. Mas a confiança dos carreiristas na minha edição estava frágil. Não só eles já haviam perdido o garoto do Distrito 1 ainda na Cornucópia, como sabiam que tinham competidores com notas tão boas quanto a deles, e no caso de alguns, até mais altas.


Eu estava pensando, admirando na verdade o grau de complexidade desse e dos últimos jogos, mas mal pude trocar um olhar com Hoyt após terminar de recolher o conteúdo do pára-quedas, quando um grito cortou o ar. Rapidamente eu e Hoyt nos aproximamos de onde ouvimos o grito, vendo que ele vinha logo depois dos limites da selva com a savana. Nós chegamos bem próximos, nos escondendo atrás de árvores, mas absorvendo a cena bizarra.


O garoto do Distrito 2 estava segurando a garota de seu Distrito, enquanto a garota do Distrito 4 dava socos em sua face, e cortava com uma faca. A garota gritava em dor, e tanto eu como Hoyt sabíamos que ela estaria morta em alguns minutos. Mas até onde será que iria essa tortura da garota? Era errado. Os jogos já não eram sádicos o suficiente? Sem falar da traição de seu parceiro de Distrito, assim como dos Carreiristas. Algo estava claro, o grupo de Carreiristas já haviam quebrado sua aliança, e estavam aproveitando a oportunidade para eliminar o máximo de seus competidores.


Mas eu não pude deixar. Algo em mim não permitiu que ela tortura continuasse, já era demais que ela teria que morrer e havia sido traída, não tinha que sofrer mais. Não que eu gostasse dos Carreiristas, eu estava pronto para matar todos os seis deles na arena, e pelo visto teria a oportunidade de matar um ou dois. Após lançar três machadinhas em direção ao trio, comecei a correr, empunhando meu machado de batalha pronto para lutar, tudo antes que Hoyt pudesse me impedir. Eles haviam percebido minha ação, e haviam se esquivado das machadinhas. A garota avançou em mim com sua faca, enquanto o garoto parecia procurar algo em seu lado, como uma arma. Mas minha atenção estava focada na garota.


Ao chegar a uma certa distância de seu corpo, arrisquei e passei o machado na lateral, cortando o ar de esquerda para direita. Ela se esquivou para trás, mas pude ver então que seu rosto virou de volta para o garoto do Distrito 2, enquanto esse soltava um grito tão forte que fez até com minha atenção saísse de minha rival.


Ele estava gritando no chão, com uma espada deitada ao seu lado, e vários dardos pelo seu corpo. Pelo menos uns oito dardos, com três deles na face do garoto. Pelo visto a minha aliança com Hoyt estava mais forte do que a deles, e ele havia aparecido para me ajudar, mesmo que eu suspeitasse que ele não quisesse estar ali naquele momento. Mas mesmo que ele pudesse evitar combate, ele havia acabado de matar o Carreirista do Distrito 2.

O ataque dele parecia ter mexido com a garota do Distrito 4, que não estava esperando que seu parceiro caísse assim. Ao tentar correr para o lado e socorrer seu colega que estava em seus últimos suspiros de vida e gemidos de dor, eu aproveitei a oportunidade para lhe dar um chute no peito. Ela caiu no chão, de lado, ainda segurando sua faca, mas não tinha o porque. Eu subi meu machado por cima de minha cabeça, e levado até o pescoço da menina, decapitando ela.


Eu e Hoyt agora estávamos ali, com três Carreiristas mortos a nossa frente. Dois deles ainda estavam vivos, em algum local da arena, provavelmente tendo fugido. Após recolher tudo do útil que eles tinham, e adquirirem mais recursos do que precisariam, partiram de volta para dentro da selva deles. Dezessete de nós mortos. Sete de nós vivos. Mais alguns dias dentro da arena...



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!