Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 1
Prisioneira sem perceber




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– Cebola, eu não te entendo. Finalmente surge uma oportunidade pra me derrotar e você tira o corpo fora?

– Olha, Mônica, se eu tiver que te derrotar, será de forma limpa e transparente. Não quero que tenha juízes no meio para interferir nessa decisão.

– Que bobagem! Os juízes julgam e decidem quem são os melhores, ora essa!

– Eu não vejo assim. Nem sempre eles são imparciais e sempre deixam suas opiniões atrapalharem o julgamento. Assim não dá.

– Ah, que coisa! Você está enrolando demais, viu?

– E você está impaciente demais. O que custa esperar? Poxa, Mônica, você só está pensando em si mesma. E eu? Acha que isso está sendo fácil para mim?

– Não foi isso que eu quis dizer...

– Mas está dizendo. Será que tudo tem que ser só quando você quer? Respeita meu tempo, caramba!

– Só que esse seu “tempo” está levando tempo demais! Você já se tocou que daqui a pouco vamos estar no último ano do colégio?

– E daí? Relaxa, Mô! A gente não vai deixar de se ver quando sair do colégio. Ainda temos todo o tempo do mundo! Vamos fazer tudo com calma e devagar, sem colocar o carro na frente dos bois, certo?

– Ainda não sei...

– Sabe sim. Você sabe muito bem que eu te amo, não sabe? – ele a olhou com doçura, afagando seus cabelos.


Ela sentiu as pernas moles e acabou esquecendo a raiva e frustração.


– Eu também te amo, Cebolinha. Mas isso está demorando tanto...

– Eu sei. E isso está me deixando chateado também, mas você entende meus motivos, não entende?

– Entendo...

– E entende também que eu preciso disso para a gente namorar sem nenhum problema, certo?

– Certo...

– Bom. Então relaxa. Vai ficar tudo bem, você vai ver.

– Se você diz.

– Claro! Confie em mim!


Cebola lhe deu um beijo suave na boca e foi embora, deixando-a parada no meio da rua, ainda sob efeito do que tinha acontecido. Quando ele se foi, Mônica começou a sentir um aperto desagradável no peito, algo que ela não soube definir.


Ela foi para casa pensando no que tinha acontecido. Aquela era a quarta (ou seria a quinta?) chance de derrotá-la que o Cebola perdia. Algumas vezes ele dizia que o desafio era medíocre demais. Não, para derrotá-la tinha que ser algo grande, especial. Ele não queria nada fácil. Outras vezes ele reclamava da presença de juízes.


Aquilo já estava começando a ficar chato para ela, mas não havia outro jeito. Ele a amava e tinha dito aquilo, então era preciso esperar e ter paciência. Afinal, nem tudo tinha que ser só do seu jeito.


“Acho que ele tem razão... eu sou mandona demais! Ele não tem que me namorar só porque eu quero. Não, isso não. Tenho que mudar meu jeito...”


Ainda assim, aquele aperto no coração continuava. Por quê? Apesar da situação desagradável, ele tinha sido carinhoso com ela, dando a entender que a amava e que também sofria com aquela demora. Então não havia nenhum risco de perdê-lo. Se bem que aquela sensação ruim não era medo de perdê-lo. Era outra coisa que ela não conseguia definir.


– Mô? Ei, espera! – ela virou-se para trás e viu Magali correndo na sua direção. – Escuta, você e o Cebola não iam participar do concurso?

– Ele não quer.

– Não? Por quê?

– Porque tem juízes e ele quer me derrotar sem ninguém nos julgando. Algo assim.

– Ai, que saco! Cada hora ele inventa uma desculpa diferente!

– Não é desculpa não, Magali. Acho que ele só quer esperar uma oportunidade perfeita para me derrotar, algo que não deixe dúvidas. Você sabe como isso é importante para ele!

– Sei lá, para mim isso tá cheirando a enrolação. Mas se você não se importa de esperar.

– Não, eu não me importo mesmo. Ele me ama, quer ficar comigo e sei que vai acabar dando um jeito de me derrotar e aí a gente vai namorar sem problemas.


Magali torceu o nariz sem dizer mais nada. Ela até entendia as razões do Cebola, mas na sua opinião aquilo estava demorando mais do que deveria. O que ele estava esperando afinal de contas? Por que não fazia algo para derrotar a Mônica e assim poder namorar com ela? Ele não parecia sequer estar tentando.


As duas continuaram andando e a conversa mudou de rumo. Era fim de novembro e as férias iam começar em menos de uma semana. Depois, seria o ultimo ano na escola. Uma pena que o tempo tivesse passado rápido demais.


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Cebola ficou sentado no banco da praça, pensando em tudo o que tinha acontecido. Aquilo tinha sido por pouco! Por um instante ele pensou que não fosse conseguir convencer a Mônica. No fim, tudo saiu como ele tinha planejado. Aquela não era a melhor hora para ele derrotá-la e começar um namoro. Ainda havia muitas coisas a se fazer.


Ele se curvou, apoiando os cotovelos sobre seus joelhos e ficou olhando para o chão, pensativo. Seus amigos já lhe avisaram para não fazer a Mônica esperar demais. Que bobagem... há mais de um ano ela esperava por ele, pacientemente e sem se interessar por outro. Quando ela parecia se interessar levemente por alguém, ele sempre aparecia, mostrando que a amava, dizendo coisas românticas e fazendo gentilezas. E isso sempre funcionava. Ela esquecia do outro rapaz e continuava tendo olhos só para ele.


Namorar a Mônica era algo especial e ele queria que fosse no momento certo. Tudo tinha que ser perfeito. E daí que ela estava esperando? No fim, eles acabariam namorando mesmo, então não havia problemas em esperar alguns meses ou até anos. Primeiro ele precisava fazer algo grandioso. Derrotá-la pura e simplesmente não era o bastante.


Seus pensamentos foram interrompidos quando Cascão chegou e sentou-se ao seu lado. Após alguns minutos de silencio, seu amigo começou:


– Cara, eu não tô entendendo nada!

– Não tá entendendo o quê?

– Por que na hora de derrotar a Mônica, você tirou o corpo fora?

– Por causa dos jurados...

– Ah, larga de ser besta, careca! Eu não sei por que você tem tanta nóia com os jurados!

– Não é nóia. Eu só quero uma chance perfeita de derrotar a Mônica. Tem que ser tudo limpo, transparente, que dependa só de mim e não da decisão de outras pessoas. É isso.

– Fala sério... eu ainda não sei como a Mônica não desencanou e partiu pra outra. Oportunidade é que não falta!

– È de mim que ela gosta, ora essa! Toda vez que ela tenta olhar para outro garoto, acaba sempre olhando para mim no final.

– Isso porque você fica em volta dela toda vez que outro garoto tenta aproximar. Aí quando ele se afasta, você deixa a menina no vácuo de novo. Palhaçada isso!

– Não é palhaçada nenhuma! Como é que eu vou derrotar a Mônica para namorá-la se ela já estiver namorando com outro?

– Fala sério... você bem que tá merecendo isso mesmo...

– Deixa pra lá. Não tem como você entender a complexidade da minha forma de pensar. Os gênios são sempre incompreendidos.

– Se ser gênio é ser pirado, ainda bem que eu só passo de raspão.

– Humpt! E também tem outro motivo de eu não ter aceitado participar da competição.

– Tem?

– Aquela viagem que eu vou fazer nessas férias, esqueceu?

– Ah, sei. Eu ainda acho que você ficou doido. Você vai ficar as férias inteirinhas estudando no exterior? E a gente? E a Mônica?

– Você também vai viajar e tem um monte de eventos de parkour e videogame. Quanto a Mônica, ela vai ter que entender que isso será bom para mim.

– Ela pode até entender, só não sei se vai gostar de ficar dois meses sozinha.

– Bah, ela não vai ficar sozinha. Tem a Magali e as outras amigas dela.

– É... e tem um monte de cara com olho comprido nela também. Não bobeia não ou você pode correr o risco de voltar e encontrar ela namorando com outro!

– Isso não vai acontecer. Ela vai me esperar como sempre tem feito.


Cascão resolveu não falar mais nada. De que ia adiantar? Cebola sempre reclamava da Mônica, mas ele também era teimoso como uma mula. Talvez pior do que ela. Várias vezes ele torcia para que a Mônica desencanasse do Cebola e partisse para outra. Dava pena vê-la esperando por ele daquele jeito, sem poder resolver a própria vida.


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