Angelus Daemonicus escrita por Persephonne


Capítulo 4
Capítulo 4




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No dia seguinte Daniel acordou e ouviu uns barulhos no quarto de Rhaine (que era o dele, mas Daniel estava dormindo na sala). Vozes. No geral, era dela, mas mudavam de tom. Ele abriu a porta do quarto dela.
— ...Pois o mundo será livrado, pela concha... Eu não sou uma concha! O mundo tremerá pelo nosso poder... Os antigos sabem. Eles sabem o que irá acontecer. Não, ele não vai conseguir. Não vai te proteger... Não! Ele é nobre! Ele é nobre... nobre escória...
Daniel olhava para Rhaine. Ela estava andando pelo quarto, falando e gesticulando. A voz saía em tons diferentes. Ele permanecia impassível.
— ...Quantos serão hoje? Muitos, muitos deles. Apenas sangue. Ele irá aos princípios proibidos...
Ele saiu e fechou a porta silenciosamente. Rhaine tinha uma guerra interior, e estava perdendo. E ele estava sem pistas para seguir. Talvez as únicas pistas fossem as coisas que estavam dentro dela.
Sangue... Relutante, Daniel decidiu que era a hora de voltar ao local onde tudo começou.
***
E então, mais uma vez, eles estavam no carro, Daniel fumando um cigarro e dirigindo, e Rhaine ao seu lado, calada, olhando pela janela do carro.
— Nós vamos ver um conhecido meu. – ele disse. – Eu tenho que pegar umas coisas, pra poder falar com um outro conhecido. Ele vai ver o que as suas vozes querem.
Ela concordou com a cabeça rapidamente.
Daniel sabia que tinha que ir àquele tal prédio, mas não iria enquanto Rhaine estivesse agitada. Esperaria ela se acalmar.
Logo ele parou em frente a uma feira coberta. Os dois desceram e Rhaine o seguiu pelas bancas e lojas até um beco entre 2 lojas, onde ao invés de uma parede havia uma cortina tosca, que era mais um cobertor pendurado que qualquer outra coisa. Pararam ali, e ouviram uma voz feminina.
— Olá, Daniel.
Uma mulher apareceu atrás deles. Tinha cabelos preto-arroxeados, olhos violeta e usava uma jardineira folgada, com uma blusa preta por baixo.
— Lorelei. – ele acenou discretamente com a cabeça.
— O que você quer aqui?
— Falar com Airee.
— Você vai abrir alguma coisa?
— Pode-se dizer que sim.
— E agora está dando uma de babá.
— Ela é uma cliente.
— E você leva clientes para o campo?
Ele apenas se virou e passou pela cortina de cobertor, com Rhaine e Lorelei seguindo-o.
Atrás da cortina havia um espaço grande, com diversos móveis, várias estantes, com vidros contendo líquidos, pós e outras coisas. Uma forte luz vermelha preenchia o lugar.
Uma mulher parecida com Lorelei apareceu, só que tinha cabelos e olhos verde-limão.
— Airee. – Daniel cumprimentou educadamente.
— Daniel, você não cansa? Algum dia você vai se atrapalhar, abrindo portais assim.
— Você apenas tem que me vender. – ele falou, acendendo um cigarro. – Não palpite.
— Para onde agora?
— Para baixo. Vou falar com o Caído.
— Ele deve estar puto com você, depois daquela aposta.
— Eu ganhei honestamente, ok?
— Tá bom. Você ainda vai se foder com isso. – ela suspirou, indo pegar uma maleta preta de couro que parecia pesada. – E não fume aqui, têm tecidos e coisas inflamáveis.
— Adeus, Airee. – ele sorriu e pegou a maleta, voltando por onde entrou. Andou um pouco e se virou para Rhaine. – Olhe, eu... – mas ela estava parada em um dos corredores, olhando pra ele com olhos vazios. – Ah, agora não.
Ela gritou de dor e caiu de joelhos. Bem na hora em que Daniel notou os anjos se aproximando.
— Ah, não. Rhaine, mova-se.
Mas ela apenas o olhou, com os olhos mais claros do que nunca.
— A concha irá para o seu lugar de origem.
— Vocês estão me enchendo com essa história de concha. – Daniel andou até ela, a pegou pelo braço e a levantou, mas ela se soltou dele.
— A concha não será profanada pela sua imundice! – ela falou na sua voz angélica.
— Cale a boca e volte para de onde saiu! Traga ela de volta. – ele falou ao anjo que usava o corpo de Rhaine.
Mas ela avançou com as mãos no pescoço dele. Daniel só conseguiu controlar a fera com um feitiço atordoante e a arrastou, junto com a mala até o carro. Enquanto eles saíam de lá, os anjos ficaram pra trás.
Ele correu com o carro pelas ruas até não ver mais Esnobes. Rhaine estava catatônica do seu lado, pelo efeito do feitiço atordoante.
Algo tinha que ser feito para controlar esses lapsos. Ela ficava assim na maioria das vezes quando haviam anjos por perto. Como seria perto de demônios? Sim, o sangue demoníaco dela era o que tinha em menor proporção, mas ainda assim ele (o demônio) queria sair. Rhaine estava desvanecendo, cedendo.
Foi aí que ele teve uma idéia. Ele conhecia uma pessoa que talvez pudesse ajudá-la. Estava mesmo nas redondezas... e além do mais, Daniel precisava de um ponto energético bom para abrir o portal. Talvez não fosse uma boa idéia falar com o Caído. Ele poderia lembrar que Daniel era esperado lá embaixo, e também não devia estar muito feliz por ter perdido aquela aposta. Talvez Amaduscias, ou Nergal, fossem mais amigáveis.
Ele parou na frente de uma casa antiga. Pegou uma Rhaine inconsciente no colo e bateu na porta da casa número 16. Um garoto de uns 20 anos atendeu. Ele tinha cabelo castanho curto, e usava um casaco de moletom preto com uma bermuda e chinelos.
— Daniel?
— Oi, Ed. Posso entrar? Estou com uma situação meio difícil aqui.
Edward Fleming, um demônio e psicólogo demonológico, foi para o lado e deixou o amigo entrar na sua casa, segurando a jovem de cabelos vermelho-fogo. Fechou a porta e se virou, olhando Daniel deitar Rhaine no sofá mais próximo.
— Eu preciso que você mantenha as coisas dentro dela. – ele falou.
— Quê? – Eddie perguntou, abobado.
— Eu não posso falar muito, mas eu estou descobrindo umas coisas, sobre os anjos.
— Ah, Daniel. – Eddie lamentou, bebendo um gole do copo de uísque que segurava.
— Sem essa. É sério. Olha... – Daniel contou apenas o necessário a Ed. O quanto menos ele soubesse, melhor. - ... Então, eu quero que você mantenha Rhaine no poder do próprio corpo.
— É ela quem tem que fazer isso.
— Então ajude-a.
— Daniel, calma. Qual é a situação dela?
— Beirando insanidade. – ele falou, amargo. – As coisas dentro dela estão querendo sair, e ela está cedendo.
— E o que é que eu posso fazer?
— Você que é o psiquiatra! Qualquer coisa que a ajude ficar no comando do próprio corpo!
— Desde quando você se importa tanto com os seus clientes?
— Faça o seu trabalho, Ed. – ele falou, acendendo um cigarro.
— Certo. Então faça o seu.
Daniel suspirou, e desfez o feitiço. Rhaine abriu os olhos e olhou pra ele.
***


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