Angelus Daemonicus escrita por Persephonne


Capítulo 2
Capítulo 2




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2

Os olhos eram azuis.

Na sua casa, que ficava no interior de um ferro velho, e com a garota agora limpa e descansada olhando pra ele, Daniel notava que os olhos dela não eram brancos como ele tinha pensado, mas azuis, um azul claríssimo, que de longe realmente parecia branco.

Olhos típicos de anjos, ele pensou.

O cabelo realmente era daquela cor. Um vermelho-sangue brilhante, que iam até o meio das costas dela. Não estavam manchados, como ele tinha pensado.

E ela não tinha nenhum ferimento. Na ocasião em que Daniel tinha a achado a garota estava ensopada em sangue, mas ela não tinha nenhum ferimento para contrastar com a pele branca como neve.

Agora, ela usava umas roupas que ele tinha emprestado. E olhava pra ele com aqueles olhos.

- Qual o seu nome? – Daniel perguntou. Estava com um cigarro aceso na boca.

- Rhaine. – ela respondeu com uma voz fraca.

- Qual é a sua última lembrança antes de eu te achar?

- Eu... não sei. Só lembro de... estar lá. Só isso.

- E você não viu ninguém mais... vivo antes de mim?

- Não. – ela respondeu. – E você?

- Daniel Pryde. Não precisa me temer se eu não precisar te temer.

Ele sentia que havia algo muito errado com ela. Não perigoso, mas errado.

- Você não precisa me temer. – ela falou rapidamente. Parecia levemente preocupada com o que ele achava.

- Certo. Quantos anos você tem?

- 16. Você?

- 35. Você quer alguma coisa pra comer? Eu tenho algumas torradas, e chá.

- Eu aceito. – ela sorriu fracamente.

Daniel sabia o que tinha que fazer. Não queria, mas a sua humanidade o obrigava. E depois, ele não tinha um caso interessante há muito tempo.

Quando ele botou as torradas e o chá na mesa que Rhaine estava, aproveitou e sentou de novo na frente dela.

- Rhaine, eu vou te ajudar. Eu vou descobrir porquê você estava naquele lugar, porquê lá estava daquele jeito. Mas você também tem que me ajudar. Eu vou te levar em um lugar hoje de tarde, para começar a investigar.

- Aonde?

- É apenas um exame de sangue. Nada demais. E aí eu vou te deixar em um lugar seguro, até eu terminar de descobrir isso tudo.

- Não! – ela choramingou. – Eu não posso ficar sozinha! Eu apenas terei eles para ouvir, e isso seria um tormento...

- Eles? – Daniel ergueu uma sobrancelha.

- As vozes. Elas me falam coisas horríveis, eu as ouço desde... desde quando me lembro (que é ontem de noite). Você não pode me deixar sozinha, por favor.

Ele apenas olhou pra ela. Rhaine notou, quando Daniel levantava o braço para fumar um trago do cigarro, finas cicatrizes brancas, marcas no braço dele. Mas foi só por um momento, logo ele tinha arrumado a manga, escondendo a pele.

Ela apenas olhou pra ele.

***

Ela não estava possuída, ele sabia disso. Daniel não sentia nenhuma entidade estranha em Rhaine, além dela mesma. Ele a levaria para o exame, para saber o que ela era. Porquê com certeza Rhaine não era (só) humana.

Eles estavam indo para a cidade grande no carro e xodó de Daniel, um Cadillac preto conversível. Rhaine, sentada do lado dele, olhava pela janela melancolicamente. Ele usava o seu sobretudo preto e fumava um cigarro, perdido nos seus pensamentos.

Como ela não tinha notado os... detalhes dele? Talvez ela achasse que todos os humanos tivessem chifres, cauda e presas, já que Daniel era a única criatura viva que ela já tinha visto de perto até agora. E aquela história de vozes? Rhaine não parecia esquizofrênica, mas também não estava possuída.

- Daniel, quem são aqueles? – a voz dela o despertou. Ela apontava para uma calçada, onde várias pessoas andavam apressadas. Mas algumas estavam paradas, olhando fixamente para o carro enquanto ele passava. Todos esses que encaravam eram homens e usavam ternos.

Anjos. Rhaine definitivamente tinha algo a ver com eles. E agora, eles sabiam que Daniel estava com ela, o que não era legal.

- Assim que eu descobrir mais coisas, vou te falar. – ele disse, acelerando mais um pouco.

Depois de meia hora, eles chegaram num prédio comercial. Daniel queria ser discreto, mas os cabelos de Rhaine não ajudavam. Antes de entrarem no prédio, ele deu uma olhada na rua, aliviado por não ter nenhum anjo ali.

Eles entraram num elevador e foram para o quinto andar, apartamento 513. Daniel bateu 3 vezes na porta de madeira com a tinta verde descascada. Um homem usando um jaleco branco atendeu, e ao ver Daniel arqueou as sobrancelhas.

- O que você traz hoje? – perguntou enquanto deixava a dupla entrar.

- Bom dia para você também, Rat. Esta é Rhaine, ela precisa de um exame de sangue.

- Ela está acordada.

- Eu sei.

- Você nunca os traz acordados.

- Ela é só uma garota. – Daniel levantou as sobrancelhas para Rat, de modo que Rhaine não o visse. Era o sinal de “depois a gente conversa”.

Ela estava muito nervosa. Daniel acalmá-la enquanto a deitava na cadeira. Rat pegou o braço direito dela, fez os procedimentos e pegou a seringa.

- Você não precisa olhar. – Daniel falou, tentando acalmá-la. – Você pode fechar os olhos.

Ela fechou, mas no momento em que agulha tocou a sua pele, Rhaine pulou da cadeira, tirando as coisas do seu braço e afastou Rat e Daniel. Ficou em pé.

Mas aquela não era Rhaine.

Não era a menina assustada que Daniel tinha resgatado. Ela estava altiva, os olhos brilhantes e frios, e furiosa.

- Como ousam profanar a concha! – a voz dela estava diferente, metálica. – A concha não deverá ser profanada, a qualquer custo...

Mas aí Daniel já tinha posto um feitiço para fazê-la ficar inconsciente. Rat tirou uma amostra do sangue dela.

- Quando os exames ficarem prontos eu vou querer uma explicação. – O homem de cabelo loiro falou.

- Eu não te devo nada, Rat. Cuide da sua vida. – Daniel falou, acendendo um cigarro.

- Claro que deve. E quer parar com isso? Credo, quantos cigarros você fuma por dia?

- Alguns. – Daniel falou, sério. – Quer andar logo?

- Certo. Você sabe como é o padrão. Meia hora até um resultado completo.

- Se você calasse a boca, eu já saberia o que há com ela. – ele falou, irritado.

- Certo, certo.

E então Daniel foi sentar numa cadeira, pensando no que estava acontecendo. Vigiava Rhaine, sem jamais tirar os olhos dela.

***


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