- Senhor Sesshoumaru! Senhor Sesshoumaru!

            Rin veio correndo na minha direção e me abraçou, chorando, mesmo eu estando coberto com sangue de vários humanos tolos. Apenas pousei a mão sobre sua cabeça, esperando a explicação daquela choradeira.

- O senhor Jaken... Ele...

            Tudo a minha volta ficou nublado, mas foi clareando aos poucos, junto com o sol que surgia das brechas das árvores. Levantei, sem fazer barulho, e fui procurar minha companhia humana. Não foi difícil, fazia 7 anos que Jaken morrera e, como todos os anos, Rin estava juntando flores para deixar na lápide.

- Senhor Sesshoumaru! - A jovem sorriu - Veja que flores lindas temos este ano!

            Rin se tornou uma adulta muito atraente para uma humana, tenho que admitir. Seus cabelos negros como alcatrão não ficavam mais presos num penteado ridículo, agora ela os deixava soltos, caídos sobre o quimono vermelho que eu lhe dera de presente. Seus corpo estava mais maduro e sua voz, mais suave; mas mantinha um rosto inocente, apesar do olhar sereno e lábios rosados.

- Aqui... - Tomei um Lírio branco do buquê que ela carregava e o prendi em seus belos cabelos, num coque.

            A garota agradeceu com um sorriso meigo, típico dela, e me puxou pela manga, até eu me inclinar para ela poder beijar meu rosto. Sentei-me aos pés de uma árvore, observando minha pequena humana colher mais flores, como se isso fosse algo divertido - nunca vou entender os humanos. Um cheiro familiar invadiu a atmosfera, um odor nada agradável.
            O monge que acompanhava meu irmão, Miroku, estava de passagem, acompanhado de uma raposa youkai - Kirara, se eu não me engano - mas nenhum sinal do resto do grupo. Ele estava velho, mas mantinha uma aparência bonita para as humanas. Resolvi ignora-lo, ele não nos viu e Rin pareceu não o reconhecer.
            Um buquê de flores foi colocado no meu colo, maior que do ano passado e, de longe, mais colorido.

- O que achou, senhor Sesshoumaru? Rin fez um bom trabalho?

            Palavras não eram necessárias, apenas me levantei, entregando as flores à Rin, e a tomei em meus braços, para levá-la a velha montanha, onde Jaken morreu. A morte de Jaken foi algo que realmente afetou a Rin, acho que ela via aquele youkai insignificante como "mãe", mas Jaken morreu protegendo-a - nisso ele ganhou meu respeito.
            Paramos próximo ao local, coloquei minha pequena humana com cuidado no chão e a observei correr em direção ao bastão de duas cabeças, onde o corpo de Jaken estava apodrecendo. Rin fez um tapete de flores envolta do bastão e então, ajoelhada no chão, começou a rezar.

- Sabe... - Ela deu uma pausa - Fico pensando se, depois que eu morrer, alguém me trará flores e rezará por mim.

            Eu não gostava de pensar nisso, era ruim vê-la como uma frágil humana, mas afirmei que seu túmulo teria os mais diversos tipos de flores todos os anos.
            Esperei a jovem acabar a oração e voltar para perto de mim, com seu sorriso doce estampado no rosto. Pensei no quanto eu estava sendo egoísta em guardar aquele sorriso só pra mim, logo eu, um youkai superior que despreza humanos - não era a primeira vez que eu pensava nisso e sabia que um dia eu teria que dizer isso à Rin.

- Hoje é seu aniversário, não é?
- É sim, senhor Sesshoumaru.
- 19 anos, já é uma mulher, não precisa mais de minha proteção.
- Ahn? - O sorriso da garota sumira - Como assim? O senhor Sesshoumaru não quer mais a Rin por perto?

            Fiquei em silêncio, assistindo as lágrimas nascerem aos poucos naqueles olhos serenos que eu tanto adorava e protegia. Eu não me importava em machucar seus sentimentos, seria melhor para ela viver com sua espécie fraca. Ela era bonita e sincera, de um jeito encantador e não idiota, talvez ela até encontrasse um amor, alguém que a fizesse sorrir de verdade.

- Não.