O Tempo Irá Dizer escrita por analauragnr


Capítulo 36
Excursão




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Capítulo 36 - Excursão

 

Magali e Quinzo foram até a sala de estar, sentaram no sofá lado-a-lado, ele fitava o rosto dela, afagando as mãos de Magali. Aparentemente estava muito calmo, mas por dento estava querendo quebrar todos os ossos do Cascão, gritar com Magali, xingá-la, brigar feio com ela....Mas não fazia isso, seria um enorme vacilo, pois ela poderia terminar com ele facilmente.Não suportaria a separação, amava-a. Correção, era obcecado por ela. Não admitia que nenhum garoto se aproximasse dela, mesmo sendo um simples amigo, qualquer que fosse. Ás vezes odiava ser daquele jeito, algumas de suas ações lhe davam repulsa... Mas aquilo era incontrolável, estava além de seu consciente, além de seu racional. Quando notava, já havia feito.

 

O silêncio permanecia entre eles, Magali fitava o tapete azul-marinho que ocupava quase toda a sala. Ele, com uma das mãos, levantava o rosto da namorada rente ao dele, e pronunciava lentamente:

 

- Magali, você sabe que eu te amo muito...

 

- Eu sei Quinzo, sei mais do que qualquer uma – dizia como uma resposta-pronta, pois era comum dele fazer esse tipo de comentário.

 

- Ah – grunhiu ele – Então o que foi aquilo com o Ca... – a palavra falhava, ardia dizer aquele nome.

 

- Pára com isso! Já está me dando nos nervos! Já foi, não tem como alterar isso... Prometo que não irá se repetir!

 

- Jura?

 

- Juro. Mas, afinal, o que você ia dizer a mim?

 

- Ah! – refletia um pouco – Primeiro eu queria pedir desculpas por ser tão rude com você na escola. Por favor, me perdoe. Não fiz de propósito!

 

- Eu te perdôo, mas tente ser gentil da próxima vez!

 

- Sim. Bem, também queria falar com você. Nós namoramos há dez anos, meus sentimentos por você são os mesmos. Eu notei que de uns tempos para cá nossa relação está muito monótona.

 

- Porque você a torna monótona...

 

- Na verdade, nós dois. O máximo que fizemos até hoje foi andar de mãos dadas, ficarmos abraçados e... Nunca nos beijamos....

 

- Então o selinho é o que para você? Uma dança groelândiense?

 

Ele ria com a piada de Magali.

 

- Não, claro que selinho é um beijo. É, mas não é. Não sei se me entende... Os nossas bocas se juntam e nada mais

 

 - Não entendo porque você está me dizendo isso...

 

- Estou dizendo agora – estralava os dedos, a mão fechada em punho – Bom – disse se recompondo – a gente nunca tentou mais do que isso.

 

- Está querendo dizer que...

 

- Sim. Exatamente!

 

- Mas Quinzo!! Eu não sei se estou pronta, eu...

 

- Então um dia... – presumia.

 

- Um dia. – assentiu Magali.

 

Magali não queria beijá-lo naquele instante. Seriam milhares, milhões de informações, diversos sentimentos, sensações, desejos, anseios. Não, bastava por hoje. Chega! Pensava consigo mesma. Parecia que tudo que acontecera nesse dia a esmagava, uma dor forte e incessante. Derramava uma lágrima, a qual fora enxugada por Quinzo, que a colocava em seu peito, aninhando-a.

 

- Calma Magali. Vai passar, vai passar. Shhh,shhh...

 

- Ah, Quim!

 

- Magali, posso perguntar uma coisa, qualquer que seja?

 

- Diga – respondia monotonamente.

 

- Você namora comigo?

 

- Mas eu já namoro...

 

- Caham!! Quero dizer, quer namorar comigo, oficialmente?

 

- Oficial... Como assim?

Ele pegava uma pequena caixinha aveludada e entregava para a namorada. Magali, sem muito interesse, abriu-a. Seu olhar de surpresa a contagiou quando notara que era uma aliança de compromisso. Era um lindo anel de prata, com as seguintes inscrições: Magali e Joaquim.

 

- Ah, são lindas Quinzo...

 

- Então isso é um sim?

 

- Talvez...

 

- Como talvez? Olhe, prometo não tirar esse anel, nem para tomar banho...

 

Magali ria consigo mesma. Ao ouvir Banho, recordava-se de Cascão. Se fosse com ele, talvez a promessa fosse que tomaria banho todos os dias e passaria a gostar disso. Ela ria cada vez mais no seu interior. Isso a alegrava, fazendo-a esquecer que Quinzo ainda estava ali.

 

- Deixe de ser bobo. Só não acho que...

 

- Ah, Magali. – ele pegava um dos anéis e colocava no seu dedo, contra a sua vontade – Coloca logo isso, eu sei que quer mais do qualquer coisa.

 

- Quinzo...

 

- Não precisa agradecer. Bom, eu já estou indo. Tchau. E, ah! Não tire isso, ok? Isso tem muito valor para mim.

 

(BLA BLA BLA...não vou fazer isso seu idiota. Não sou obrigada. Blé!) pensava Magali.

 

Ele despedia-se com um selinho, andava depressa, sem olhar para trás. Magali levantava-se do sofá, andava vagarosamente, atravessando a sala, entrando pelo corredor. As pernas estremeciam, ameaçando desabar. Tudo fora muito rápido: A ligação, o “quase-beijo” e a aliança. Muito para sua cabeça. Muita responsabilidade, seu coração fora posto a prova. Uma ajuda mal-feita para com sua melhor amiga, um romance à beira do precipício, causada pela aliança mal-feita. O que mais faltava? O que mais iria acontecer de ruim? Parecia que todas as piores coisas que iria acontecer em sua vida ocorreram no mesmo dia, um após o outro, sem “coffee break”.

 

Era um teste de resistência sentimental? Os pés não agüentaram mais, ela havia desabado pelo chão, as lágrimas escorriam em sua face ruborizada, as mãos trêmulas de nervosismo. Ajoelhava para tentar reprimir a dor que a afligia, apoiava as mãos no joelho, deitara seu rosto nos braços. Por que com ela? O que ela havia feito de errado? O que? Ela fitava sua mão direita, e lá estava a aliança prateada. Ela chorava mais. Como vivia essa vida ilusória? Namorava um rapaz que no máximo considerava-o como amigo, enquanto seu coração palpitava por um sujinho que a enlouquecia.

 

O dia chegava ao seu fim, as nuvens escondiam a lua crescente. Deixavam a rua sombria, a não ser pelos postes que ali estavam, iluminando as calçadas e as ruas.

 

-- SEXTA-FEIRA 8:40 No pátio da escola —

 

O professor de Ciências conversava com a turma, enquanto Magali devaneava, não tirando os olhos dele:

 

- Pessoal, queria informar-lhes uma coisa! -  a classe conversava muito no momento – SILÊNCIOOO – todos se assustaram, calando-se – Melhor assim! Caham! Bom, como eu estava dizendo, vocês irão agora mesmo visitar um laboratório e lá vocês verão de perto como é uma célula, além de muitas outras coisas. Andem COM CALMA... – Antes que terminasse de dizer, a turma corria aceleradamente, parecia um bando de búfalos fugindo de um predador. Em menos de cinco minutos, todos se encontravam no pátio, ouvindo as instruções do professor e um instrutor do laboratório que ali estava presente:

 

- Como o professor Bernardo me informou, vocês se interessaram veemente pelas células e sobre seu funcionamento. Fiquei impressionado pelo interesse de vocês! Bem, antes de entrarmos no ônibus e ir ao laboratório, escolherei aleatoriamente cada um de vocês para se separarem em duplas. Conforme eu for anunciando seus nomes, dêem um passo a frente. Primeira dupla: Carmem e Jeremias.

 

Os dois deram um passo a frente e entraram no ônibus.

 

- Denise e Reinaldo.

 

- Mas fofis, eu não vou sem ser com o Cebola.

 

- Garota, como disse estou escolhendo aleatoramente, não tenho culpa que...

 

- Exijo que ele vá comigo!!

 

- Denise – interrompia Bernardo – iremos ao laboratório para pesquisar e aprender e não namorar, a senhorita me entendeu?

 

- Ta bom profi....

 

A risada tomou conta da turma, deixando a garota ruiva completamente irritada, empurrando Reinaldo a seu lado para entrar logo no ônibus, para não ouvir as zombações alheias.

 

- Continuando – dizia o instrutor – Joaquim e Titi. Ana e Xaveco.

 

Todas as duplas caminhavam em direção ao ônibus, entretidos conversando sobre a excursão. Ouvia-se burburinhos ao longe.

 

- Magali e Cascão.

 

(Ah não, eu não vou com esse bestão!! Não mesmo... Então eu vou pedir para ir junto com a Mô...não!! espera, pode ser até bom ir a Mô e o Ce, vai que rola um climinha... hihi)

 

- Vamos logo, cabeçuda, se não a gente se atrasa!! – dizia Cascão, segurando-a pelo braço.

 

- Bom, a última dupla: Mônica e Diego.

 

(Diego, quem é Diego? Ah, é... o Cebolinha, como pude me esquecer...)

 

(Não acredito que ele falou o meu nome... AFF)

 

- Vamos logo Mônica, não quero perder esse passeio por nada. Apesar de que com sua pança o ônibus vai chegar tort..AI? – antes que terminasse a frase, Mônica o beliscava.

 

- Olha como fala comigo, Diego, seu moleque!

 

- Ora, sua!! ... Ah, deixa pra lá, vamos logo!!

 

Cebola e Mônica adentraram de cara amarrada, os dois fitando um ao outro, brigando através dos seu olhares penetrantes, raivosos e profundos.No ônibus, as duplas sentavam-se na mesmo assento, pois ajudaria o instrutor quando chegassem ao laboratório para a pesquisa.

 

No caminho para o laboratório, Magali puxava Cascão para perto de si, encostando seus lábios no ouvido dele. O sujinho ouvia atentamente para tudo que ela dizia, parecia algo muito, muito importante. Correção, importantíssimo, crucial! Continuava a escutar as doces palavras de Magali, elas penetravam como uma cantiga de ninar, reconfortando-o.

Ao terminar o que tinha a dizer, ele assentia, piscando para ela.

 

Fim do 36º capítulo

 

 

 


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